Capítulo 22: A Sala
· Andrew narrando ·
Reunião... mais reunião... discussão, controvérsias, aquilo só andava em círculos. Amberly foi a primeira a dormir no meio da reunião que ela chamava de 'tédio'. Foram umas 3 horas e meia diretas de reunião. Janet assistia tudo em silêncio, foram poucas as vezes que ela deu sua opinião em algo. Meu pai me perguntava coisas quase toda hora, foi cansativo, eu nunca sabia como responder. Me sentia envergonhado. O filho do líder, o estudioso, o responsável, não tinha resposta para aquilo no momento. Ao contrário de Janet, Floyd, meu pai e Wes, eram os que mais discutiam, chegava uma hora que eu nem sabia mais porquê estavam brigando. Eu gosto de me sentir por dentro das coisas que estão acontecendo no momento, mas odeio quando não consigo prestar atenção.
Acordei Amberly no final da discussão, pra saber o que ela achava disso tudo, ela só concordou e voltou a dormir sem nem saber o que acontecia, as vezes eu sentia que foi um alívio ela não ter ido para a escola durante a adolescência. Nenhuma decisão certa foi tomada, mas aquelas discussões valeriam bastante no futuro. Logo veríamos Erik, Shou, Kirari e o resto dos capturados.
Cada um tinha uma importância ali, mesmo eu não fazendo a menor ideia do porquê eu e Amberly estávamos lá. Floyd é responsável pela parte de pesquisa, engenharia e, até mesmo, medicina; Wes é responsável pela segurança, por causa de seus poderes criando barreiras imagináveis; Janet é uma investigadora, uma agente, uma espiã, nada passa despercebido, mas ninguém nunca a vê as vezes; meu pai é, obviamente, o líder, o cara que comanda tudo aquilo, o soldado, o lutador. Amberly e eu estávamos de enfeite no meio daqueles soldados de guerra.
Depois da reunião, Floyd me perguntou se eu queria conhecer direito o laboratório. Eu acho que eu ficaria muito bem ao lado dele, trabalhando com o que eu gosto, ciência, física, matemática. Estava muito tarde, então marcamos para amanhã, ele sabe que Amberly precisa da minha ajuda. Aliás, tive que cutuca-la forte para à acordar, parecia um urso em hibernação. Não julgo-a, aquilo estava realmente um saco.
─ Já acabou? ─ Tinha sido a primeira coisa que ela tinha falado depois de acordar. Respondi suavemente que sim, a tortura já havia acabado. ─ Ah, ótimo. Vamos embora desse lugar horroroso. ─ Ela se levantou e foi andando para fora enquanto se esticava.
Acompanhei-a no caminho do quarto. Já estava muito tarde, minha tia e meu tio nunca deixariam eu ir dormir nesse horário se eu estivesse em casa. As vezes eu sinto saudade, sabe, de ir para a escola ou a minha vida normal. Mas acho que tudo isso no final vai acabar bem, deve valer a pena correr esse risco para um futuro melhor, tanto pra mim quanto para Amberly. Eu meti a Amberly nisso, nada podia mudar agora, tudo que eu podia fazer é deixar ela bem. Mas... falando a verdade, meu coração se aperta quando lembro dos doces momentos com minha tia, Lilá. Meu tio nunca foi muito próximo, mas nos divertíamos quando podíamos. Eu queria que Amberly tivesse aproveitado isso junto a nós.
─ Você acredita? ─ deu uma longa pausa para bocejar. ─ Quase 4 horas ouvindo aquela gente gritando.
─ Eles não estavam gritando. ─ Discordei.
─ Falando alto, assim ta bom para o senhor? ─ debochou.
─ É, ta bom. ─ Um caminho bem curto eu diria. Quando me dei conta, já estávamos abrindo a porta do quarto.
Amberly logo se jogou na cama, que soltou um barulho parecendo que iria se quebrar, e dormiu pouco tempo depois. Tomei um banho e sentei em minha cama também, mas sem vontade de dormir, não conseguia tirar a imagem do cara na cadeira elétrica da minha mente, ou da reação de Amberly e da preocupação de Janet. Tive que segurar muito o estômago para não vomitar, o silêncio tornava meus pensamentos agonizantes. Aquilo me assustava.
Lembro de estar sentado na cama da minha casa, aquecido do frio das nevascas nessa mesma época do ano. Minha tia sempre fazia chocolate quente pra mim e assistíamos a um filme tão tosco que chegava a ser engraçado. Meus tios me criaram como um filho. Meu tio, Michael, sempre contava de suas brigas entre ele e meu pai, seu irmão mais velho, na infância. De acordo com ele, meu pai sempre vencia, já não era muito de se esperar. Sempre era o mais dedicado, sempre o primeiro. Papai teve que ser muito severo consigo mesmo para ser o que é hoje, o chefe da base da resistência mutante de Manhattan. Mas o mais curioso, era que meu tio nunca teve poder algum.
Queria apenas ouvir música, minha playlist que eu sempre ouvia de madrugada, mas não podemos ter celulares e todos os computadores aqui são de alta proteção. Tinha saudade da minha bateria, da minha guitarra, meu piano e até mesmo meu violino, esses são uns dos instrumentos que eu sei tocar. Tinha saudade da paz que eu sentia no corpo tocando. Devia ter um violão pelo menos por toda essa base.
Precisava de algo para esvaziar a mente, deixar toda tristeza de lado. Saí por aí procurando um violão, estava muito tarde pra isso, mas eu realmente queria sentir algo agora. Estava escuro, não dava pra enxergar muita coisa. Criei uma adaga para iluminar o caminho, tinha sorte de ter a luz sempre comigo pra qualquer momento. Fui entrando em várias salas até chegar a uma com varias coisas cobertas por sacos pretos de lixo, tudo muito empoeirado. Quando liguei as luzes, me dei conta que eram coisas abandonadas propositalmente. Me aproximei e vi que uma das fotos que estavam ali eram da minha mãe, ela e meu pai. Meu pai aparentava uma coisa que eu nunca vi vinda dele, ele sorria, ele estava feliz.
Toda aquela experiência nova acabou quando comecei a sentir alguém se aproximando, entrando na sala. Me virei tão rápido que nem eu imaginava que podia ser tão veloz, mas tudo que vi foi meu pai e sua expressão furiosa. Eu acho que eu não deveria ter entrado aqui.
─ O que veio fazer aqui, garoto? Não viu que é proibido entrar aqui? ─ Ele apontou pra placa colada na porta.
─ Estava muito escuro... eu não vi, me desculpe ─ Dei uma última olhada na foto e logo me virei para lidar com as consequências.
─ Se eu te ver aqui novamente eu mesmo acabo com você e com sua irmã, aquela puta. Está me ouvindo? ─ Ele esbravejava enquanto me puxava pela gola da camiseta. Não acho que ele nos tratava como filhos, mas sim como soldados.
Quando percebi ele já havia me jogado para fora da sala. Tinha coisas ali que eu definitivamente não sabia. Mas precisava saber. Eu tenho o direito de ter acesso a coisas da minha mãe, que eu nem cheguei a sequer olhar. Mas uma coisa eu sei, entraria lá de novo querendo ou não.
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