Capítulo 18: Perseguidos

· Andrew narrando ·

            Minha respiração estava pesada. Sentia que meu coração estava quase saindo pela boca, eu iria matar alguém aquela noite, EU IRIA MATAR ALGUÉM AQUELA NOITE! Até seis meses atrás eu não imaginava que estaria nessa situação, nenhum garoto como eu imaginaria estar fazendo isso. Minhas pernas tremiam, não estava preparado pra fazer algo assim sozinho e agora. Eu tinha uma adaga em minha mão, sentia que estava preparado, podia criar mais quando quisesse, só precisava saber usar. Talvez não seja tão difícil como imagino.

            Estava agachado encostado na parede quando os quatro caras haviam se separado, estava muito mais fácil de chamar a atenção deles sem ser pego agora. Eu tinha vantagem, eu conhecia a base melhor que eles. Eles dão medo porque são caras enormes com armas enormes, mas não parecem ser estratégicos. Não adianta ter armas boas se não sabem usar.

            Eu tinha medo do fracasso, medo de errar, medo de ferrar com tudo e com todos. Eu nunca tive um treinamento que fosse parecido com essa situação e minha mira não era uma das melhores. Janet tem ficado ocupada com seus assuntos e eu não consigo treinar sem ela, o treinamento do meu pai é mil vezes pior.

            Tudo estava meio escuro. Uma das lâmpadas piscava freneticamente do corredor atrás de mim, parecia um filme de terror, não vi muitos filmes de terror na minha vida, mas tenho uma ideia de como deve ser. Me movi para atrás até o corredor da luz piscante, era uma boa armadilha para quem vinha, como as leoas que pegam de surpresa suas presas na caça, pulam de surpresa quando ao menos esperam.

            O primeiro cara já vinha atento, preparado, com o dedo no gatilho, eu só precisava que ele viesse um pouco mais perto pra eu poder pegar ele de surpresa. Fiquei preocupado se ele me visse mais rápido do que eu pegasse ele. Quando ele finalmente chegou ali pulei em cima dele e apertei seu pescoço por trás, era a maneira mais silenciosa que me veio à mente. Ele emitia uns grunhidos implorando por ar fresco, mas foi fácil acabar com ele. O primeiro já foi eliminado.

            Escondi seu corpo no canto de uma das salas ali perto, não vão achar tão cedo. Quase fui pego por um dos caras no caminho, mas consegui fugir pelos corredores antes dele me ver. O cara que quase me viu seria o próximo, minha próxima vítima.  Curiosidade: eu aprendi a fazer mata-leão na escola, já que meu tio queria que eu aprendesse artes marciais, mesmo eu não sendo muito a favor da violência.

            Fiquei agachado no corredor que eu estava. Não conseguia olhar pro resto do corredor atrás de mim por causa da escuridão, mas não acho que alguém possa aparecer ali. Eu estava concentrado demais pra me preocupar com outra coisa, mas havia uma coisa que não saía da minha cabeça: onde estava os outros? 

            Senti alguém me pegando por trás e apontando algo circular nas minhas costas, era o ferrolho da arma. Haviam me achado. O armado me segurou com apenas um braço por trás e prendeu meus braços tipo num abraço apertado, só que com uma arma apontada nas minhas costas. Pouco tempo depois eu só senti sangue escorrendo pela minha camiseta, braço e pescoço. O sangue não era meu, eu não sentia nada, me soltei do cara e olhei pra trás, era o meu pai.

            ─ De nada ─ ele disse desfazendo uma espada. Seu poder era criar qualquer tipo de arma e foi com isso que atravessou o cara. Agora estou mais coberto de sangue do que já estava. ─ Temos que ir atrás dos outros. ─ Ele disse se virando saindo com uma expressão não muito preocupada.

            ─ Mas ainda temos mais um aqui ─ cochichei.

            ─ Ele está morto ─ ele olhou pra mim pelo canto do olho e voltou a andar.

            Acho que foi a primeira vez que vi os poderes do meu pai em ação. Sentia empolgação quando descobria o que os outros poderiam fazer, uns mais úteis que os outros, mas todos tem utilidade em casos de invasão como hoje.

· Amberly narrando ·

            Eu tentava correr, correr como qualquer outro aqui. Não dava pra compreender o que estava acontecendo, tudo estava acontecendo muito depressa, tão rápido que nem eu conseguia entender. Eu estava me cansando rápido demais pro meu gosto, começava a passar mal no meio do caos, suar frio. Me mandaram descer para o subsolo, a única vez que desci lá foi para treinar. Eu só fui seguindo o resto de todos os mutantes dali, cada vez mais aglomeração. Tínhamos que entrar em um galpão, mais subsolo ainda, como aqueles porões para as pessoas se esconderem na guerra. O cheiro abafado ali era marcante.

            Estava tudo uma bagunça. O desespero dos outros deixava me fazia sentir um aperto no coração, crianças e bebês chorando, pessoas berrando em procura daqueles que se importam, o barulho dos passos acoava pelos meus ouvidos, que imploravam por silêncio. Parei de correr e olhei pra todo lado procurando Andrew. Não conseguia ver muito bem por causa da minha altura, havia muitas pessoas muito mais altas que eu ali. Tentei voltar pra cima para procurar Andrew, mas a multidão não deixava. Acabei sendo empurrada no chão pela multidão. Fiquei lá caída me recuperando, precisava descansar. Umas três pessoas devem ter pisado na minha mão sem querer. Não os culpo, além do mais quem estava no chão era eu, eu só não conseguia levantar e não entendo o por quê. 

            Uma garotinha se aproximou de mim, segurando um ursinho de pelúcia, e tentou me ajudar a levantar, sem falar nada. Ela vestia um vestido branco bem solto e uma blusa de lã roxa feita a mão, mesmo não estando frio.

            ─ Onde estão os seus pais? ─ Perguntei tentando levantar.

            Ela não me respondeu, mas me ajudou do mesmo jeito. Ela devia ter uns 7 ou 8 anos, não tinha como ter certeza. Ela tinha cabelos negros, como o céu a noite quando apagamos todas as luzes. Zayne uma vez me levou para o topo de uma casa em um bairro que íamos frequentemente um pouco depois de fugirmos juntos, foi lá que eu vi como é o céu quando não se tem mais luz, a coisa mais linda que tinha visto em 8 anos. Os olhos da garota eram puxados e cada um de uma cor, um verde e outro castanho claro, quase amarelo, sua pele quase tão pálida quanto a neve, talvez aquela garota nunca tivesse saído daqui desde que nasceu.

            ─ Qual seu nome? ─ me levantei com ajuda dela.

            ─ Mei ─ ela respondeu com uma voz doce de criança.

            ─ Mei, você tem que se esconder, vai atrás de alguém pra te ajudar agora ─ saí andando de volta pra cima, para achar Andrew. Olhei para trás e vi Mei ainda parada, mas pouco tempo depois ela se virou para ir embora.

            Consegui sair do subsolo escondido. Nem parecia o mesmo lugar, tudo estava tão calmo... quieto... 

            Até que comecei a ouvir passos, passos bem barulhentos. Andei com as mãos em frente a barriga pela base esperando que isso me defendesse do que vier pela frete, não acredito que eu esteja completamente segura. Subi as escadas e fui para meu quarto. Andrew não estava la. O quarto estava todo desarrumado, mas não fui eu quem tinha mexido nas coisas antes de sair, alguém havia passado por lá. Acho que não foi uma boa ideia ter saído de la, tenho que voltar. Fui entrando em corredores, controlando minha respiração antes que o desespero tome conta de mim, mas nunca conseguia voltar pelo caminho que vim.

            Droga, estava perdida, e ainda mais com gente querendo me matar. Comecei a correr, mesmo sem rumo, dava pra ouvir o barulho dos passos ficando cada vez mais forte. Eles estavam chegando.

            Antes que eu percebesse, alguém me pegou pelo lado com uma das mãos em frente a minha boca, me impedindo que gritasse, e a outra mão agarrava meu corpo. Meu coração chegava a errar as batidas, não podiam ter me pegado. A pessoa que me pegou entrou junto comigo dentro de um dos túneis de ventilação, nos escondendo dos homens que logo passaram ali perto. Quando ele me soltou pude finalmente olhar em seu rosto. Parecia um garoto, eu provavelmente já tinha visto ele por lá, tinha cabelos negros, curtos e cacheados, ainda não conseguia ver seu rosto por falta de iluminação.

            ─ Por que fez isso? ─ me virei para ele que ainda se escondia na sombra.

            ─ Meu nome é Wes, Wes Ramirez, e você não deveria estar aqui ─ se apresentava e logo pude vê-lo quando deixou seu rosto na luz. ─ Amberly, o que está fazendo aqui?

            ─ Como sabe meu nome?

            ─ Todo mundo sabe o seu nome. ─ soltou um riso soando óbvio, eu era filha do líder.

            ─ E como saímos daqui? ─ perguntei. A patrulha de homens ainda estava por lá e não iriam sair tão cedo.

            Wes começou a mexer as mãos como se estivesse preso a uma barreira que não conseguia escapar, mas acho que no lugar de escapar da barreira ele estava criando uma. O poder de Wes era criar imagens diferentes da realidade, como uma barreira que nos escondia sem que percebessem. Ele tinha a pele morena e olhos castanhos como os meus, essas foram suas únicas características de seu rosto que consegui prestar atenção.

            Depois que conseguimos enganar a patrulha, eu e Wes voltamos ao subsolo. Meu pai e Andrew estavam lá. Andrew me olhava preocupado e ansioso para perguntar se eu estava bem, já meu pai, me encarava com vergonha. Se fosse pra eu continuar nesse lugar, queria que ele não estivesse aqui para me olhar desse jeito.

            Quando fui até os dois, Andrew me abraçou carinhosamente, mas parecia que ele estava com medo de me quebrar no meio. Fui até meu pai, esperando que ele dissesse algo, mas ele preferiu fingir que eu não estava lá.

            ─ Quero que fiquem de olho na Amberly ─ ele ordenou para uns caras do lado dele e logo saiu de perto.

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