Capítulo 12: O Treino

Andrew

─ Eu nunca pensei que veria algo assim por aqui, mas vocês me surpreendem a cada dia ─ Janet deixara escapar um riso, que, por sua expressão, parecia que éramos uma piada para ela. ─ Os irmãos VanCite se superam novamente.

Minha curiosidade me matava. Ouvir os mortos? Então Amberly poderia ser a primeira, e unica, pessoa no mundo que conseguisse conversar com Freddy Mercury normalmente. Claro que era difícil, conversar com os mortos, e ainda era perturbador. Mas imagina como seria interessante ter uma conversa com nossa mãe, por exemplo. Apenas Janet podia ajudar ela a utilizar tais poderes, mas Amberly conseguiria? Acho melhor eu dar uma pausa em minha empolgação, já estava ficando vermelho de tão maravilhado.

Minha irmã ainda se recuperava das vozes enquanto eu pensava em quais poderiam ser os poderes de Janet. Durante sua experiência com os mortos, fiquei curioso e entrei na mente de Amberly por curiosidade. Não era um paraíso, parecia mais uma entrada para o inferno onde todos queimam e gritam. Vai ser mais complicado do que planejei.

─ E quais são seus poderes, Janet?─ questionei e Janet mirou seu olhar de desaprovação em mim, como se eu nunca tivesse feito essa pergunta.

─ Não é da sua conta ─ reprovou.

─ Seria justo saber. Você sabe os poderes de todo mundo ─ insisti.

─ Quando tiver o mérito de saber, talvez eu te conte ─ andou até Amberly, me deixando de lado.

Depois de encerrarmos essa conversa, Janet começou a dar uma aula teórica sobre poderes, me perguntava se ela fazia isso com todos. Ela descrevia todas as consequências de nossos poderes e porquê deveríamos tomar cuidado. Ela também nos incentivou a começar os treinos desacompanhados. Assim poderemos nos conhecer, e nos proteger, quando estivermos sozinhos. Ainda tinha toda aquela complicação com os poderes que podemos executar sozinhos. Era isso que mais me preocupava.

Notei que alguém abrira a porta, usando a senha. Era apenas Erik vindo até nós com uma bandeja com comida e algumas bebidas. Amberly quase o derrubou quando tentou usar seu teletransporte pela primeira vez, pelo menos conseguiu manter todo mundo em pé. Parecia que Janet, pela primeira vez, olhava orgulhosa para ela, mas logo mudou sua expressão.

─ Vocês perderam o café da manhã, então resolvi trazer até vocês. Parecem ocupados ─ bem gentil da parte dele. Ninguém nunca fez algo assim pra mim e muito menos para Amberly, que já atacava a bandeja como uma fera faminta. ─ Vai com calma aí, princesa ─ ele riu e Amberly o encarou confusa e com um pedaço de pão na boca.

─ Princesa? ─ questionamos o apelido.

─ É assim como o resto das pessoas chamam vocês ─ eu e Amberly nos entreolhamos. ─ Você sabe, por serem filhos do Trent ─ ele coçou a nuca. ─ Não vai querer nada, Andrew?

─ Vou deixar pra ela.

─ O café tem cafeína? ─ Amberly perguntou ainda comendo.

─ Não. Por que? ─ Erik questionou.

─ Eu sou alérgica ─ disfarçava enquanto pegava o café.

Erik olhava Amberly de um jeito que nunca vi ninguém mais olhar. Um jeito quase que apaixonado. Logo que ele percebeu que eu vi, se encolheu por vergonha. Se despediu, depois de Amberly já ter devorado tudo, e voltou de onde quer que ele tenha surgido.

Depois de um pouco de tempo eu já conseguia fazer as tais adagas de luz aparecerem facilmente na minha mãe. Meu único problema era que minha mira era péssima. A sensação que Janet emitia parecia que seus olhos sangravam toda vez que eu errava. Talvez se eu estivesse numa batalha acabaria acertando algum dos nossos sem querer. Dava vergonha apenas de pensar se meu pai assistiria a isso um dia. Enquanto isso, Amberly descansava esperando sua vez.

Janet, logo depois de varias falhas, veio me ajudar ao invés de observar. Ela criticou minha mira várias vezes, minha postura, meu jeito de jogar a adaga, tudo que podia falar mal ela falou. Citou que preferia dar aula apenas com Amberly em algum dia, o que eu achei estranho, mas acho que vale a pena.

─ Estão liberados ─ Janet anunciou.

Voltamos para quarto, já que não tínhamos nada mais pra fazer. Começamos a bater papo sobre, basicamente, tudo. Amberly contara como nosso tio, irmão de nossa mãe e pai adotivo dela, se interessava por futebol. Muitas das coisas que ela viveu durante a infância eu nunca teria coragem de enfrentar. Me impressiono ouvindo os relatos, alguns bem constrangedores, mas nos divertimos pelo resto da manhã.

─ Como você sabe o que pode comer e o que não pode durante a gravidez? ─ perguntei levando um copo com água até a boca. Ela sorriu meio triste enquanto olhava para um ponto fixo, como se tivesse lembrasse de algo.

─ Eu tenho uma história complicada, Andrew, coisa que você nunca entenderia ─ dizia tentando evitar lembranças. ─ Eu gosto de você, só não acho que eu esteja preparada para responder essa pergunta ─ a essa altura, mil coisas já se passavam pela minha cabeça, mas respeitava a escolha dela em não me contar. Não vou fazer questão dela dizer algo que não quer.

Quando nos demos conta do tempo que passamos ali, saí um pouco para pegar algo para comermos. Catei umas frutas, comida enlatada e uns doces que sobraram. Me encanto de como ninguém pega mais do que deveria, todos sabem que todos passam necessidade, não há conflitos por comida ou roupas. A noite, depois de Amberly já estar dormindo, fui para o terraço olhar a cidade. Observei os carros passando, as luzes dos apartamentos desligando, enquanto uma brisa leve e fria fazia minha roupa colar na pele. Desde que cheguei, aquilo era o mais perto da minha antiga paz que conseguia conquistar. Mesmo que não pudesse ficar muito ali, eu precisava ficar um pouco sozinho do lado de fora.

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