G-eneroso
Um homem apaixonado, um pai zeloso
Logo, a sala se encheu de risadas e brincadeiras. Mimiko e Nanako começaram a puxar o pai para o tapete onde tinham espalhado brinquedos e jogos. Suguru, sem hesitar, se entregou à diversão, esquecendo temporariamente as preocupações e os pensamentos confusos que o atormentavam, mesmo que Lizie tivesse se unido ao grupo para jogar. De longe. Li tirava fotos secretamente antes de retornar a cozinha. A empresária observava a dinâmica familiar, depois do famigerado boa noite, não tiveram tempo de conversar ou justificar o real motivo de estar ali.
-- Vamos brincar de esconde-esconde, papai! -- Sugeriu Nanako com entusiasmo, enquanto Mimiko já corria para encontrar um esconderijo. Geto concordou animadamente, e a casa se encheu com os sons alegres de uma tarde de brincadeiras em família, ao qual Lizie participou de todas.
-- Crianças agora vão com a senhora Li, está na hora do banho. -- Com as palavras de Suguru, Lizie se levantou e pegou a bolsa, deixando-o confuso.
-- Vim com as crianças. -- Se justificou sorrindo e ele se aproximou tocando a destra e foi como se uma descarga elétrica percorresse o corpo de ambos, assim como a saliva descendo com dificuldade por ambas as gargantas.
-- Então fique! -- Suguru foi intenso, capturando os olhos dela de primeira. -- Quer dizer, aceite um vinho ou uma xícara de café.
-- Vou aceitar o vinho dessa vez. -- Piscou lentamente e ele respirou pesado.
-- Nesse caso você sabe onde fica. -- Lizie passou na frente, mas manteve uma leve distância, não queria estar tão perto se re-envolvendo com ele.
Ambos entraram no escritório e ela respirou fundo, nada havia mudado, nem mesmo os quadros que escolheu quando ainda eram casados.
-- Então quer dizer que minhas filhas te convenceram? -- Suguru se encostou na porta cruzando os braços, enquanto Lizie foi até o bar improvisando bebidas, no fim decidiu optar pelo básico.
-- Elas são bem convincentes e fofas. -- Caminhou até o homem entregando um copo.
-- Está suave...
-- Sim, querido, você ainda precisa cuidar das suas filhas ou elas ficarão com a mãe? -- Suguru conhecia muito bem esse jogo, no fundo, queria pergunta o mesmo a respeito do sobrenome dela.
-- Estou completamente solteiro, Lizie. Minhas filhas nunca tiveram mãe. -- Não precisava de tantas informações, mas as queria e a mulher observou calmamente levando o copo aos lábios e desfrutando a bebida calmamente.
-- Hum... Obrigada pela bebida. -- Sorriu pondo o copo sobre a mesa e ele respirou fundo.
-- Espera Takahashi, fique para o jantar. -- A voz dele possuía um desdém tão incontido que não passou despercebido e para ela sempre foi divertido vê-lo perder a compostura.
-- Pergunte o que quiser. -- Se apoiou na mesa cruzando as pernas e por deus, como Suguru queria tocá-la, mesmo que fosse momentaneamente para ter mais contato e apenas isso.
-- Desde quando se casou? -- Sempre direto e sem rodeios, algo que Lizie apreciava com vigor.
-- Há seis anos. -- Pode notar o semblante de desgosto dele, provavelmente a recriminando mentalmente por seguir em frente dois anos após o divórcio enquanto ele ainda estava sofrendo, mesmo que não tivesse direito sobre a forma que ela deveria ou não viver a própria vida, infelizmente não conseguia impedir seus pensamentos egoístas e até mesmo enciumados a respeito da mulher.
-- E imagino que o senhor Takahashi deva estar na sua mansão...
Lizie riu tapando os lábios, parecia até birra de criança.
-- Na verdade, ele está dormindo nas moradas do céu. -- Ela respondeu sem se incomodar com o que causaria no moreno. -- Agora se não tiver mais perguntas eu tenho que ir, deixei tudo nas costas do Nanami...
-- Com foi que se conheceram? Quer dizer, quando estávamos casados mal tínhamos tempo para sair.
-- Ah, essa pergunta querido ficará para outra hora. Dá um beijinho nas meninas por mim, elas são realmente adoráveis. -- Sorriu, se esquivando, de certa forma Lizie sentia que não deveria estar ali tão a mercê do homem ao qual pediu divórcio.
-- Nesse caso te levarei até a porta. -- Ela respirou lentamente aceitando, Suguru de maneira gentil abriu a porta e ambos seguiram em silêncio pelo corredor, Lizie queria dizer-lhe mais, queria contar sobre o que fez ao longo desses anos e até mesmo compartilhas de sua presença, Geto não estava muito diferente, tinha tantas perguntas indevidas em sua mente a sanar, além de querer bem mais dela.
O fato é que um relacionamento interrompido, é uma história não terminada. Por mais que os protagonistas estejam seguindo em frente ao seu próprio modo, sempre haverá aquele olhar fugaz para o que se viveu e desejou continuar.
Ao pararem na porta ela sorriu calmamente, Lizie observou melhor os traços do homem com que um dia já foi casada, apesar de cansado Suguru continuava incrivelmente belo, portando um mistério no olhar e na face sempre séria, onde os sorrisos só eram dados aos mais próximos ou quando o moreno resolvia ser debochado. Lizie se pegou sentindo vontade de tocá-lo, de estar ali mais próxima o abraçando e compartilhando do calor que uma vez foi seu. Geto, por outro lado, a todo momento se continha para não a ter, visivelmente ambos não esqueceram sequer um momento de vivência, mas não estavam dispostos a deixa o orgulho e as inseguranças de lado. Quando Geto abriu a porta Lizie foi a primeira a sorrir sem jeito pela proximidade se sentindo uma adolescente perto de sua primeira paixão e então tomou conta da situação, os saltos que a deixavam a altura dos ombros largos de Geto, a destra se apoiando no peito do moreno onde as unhas longas e bem tingidas de branco residiam e acima de tudo o olhar fixo nos dele, a garganta seca devido à ansiedade e por fim os lábios tingidos de batom que encostaram na bochecha do homem, a mão pesada do homem se adiantou em tocá-la apertando a cintura com força e se prendendo no olhar tão escuro e profundo quanto o dele. A Takahashi sentiu o peso do ar que mais parecia estar faltando quando o homem apoiou o braço no arco da porta aberta, como se fosse o instinto e os impulsos de sua mente agindo no lugar da racionalidade, entretanto, o barulho das crianças descendo as escadas enquanto conversavam quebrou a ideia, fazendo com que se afastasse de Lizie e a mesma sorriu, pois, não negou nenhuma das reações dele.
-- Até a próxima Geto. -- A mulher se virou de costas seguindo até o elevador calmamente enquanto era apreciada a distância, definitivamente Suguru daria um jeito de reaver o que perdeu.
[...]
O quanto um pequeno encontro pode ser avassalador ao ponto de deixar dois seres humanos se questionando sobre o tempo perdido?
Enquanto a reunião na empresa do moreno decorria, ele encarava fixamente um ponto qualquer, seus pensamentos vagavam para além das paredes da sala de conferências, voltando-se para o passado e para as escolhas que o levaram até aquele momento. Ele se perguntava se havia uma maneira de reaver o que havia perdido, se havia uma chance de reconciliação e redenção, sim, redenção. No fundo, Suguru sempre se questionou por que não lutou mais pelo próprio casamento, mesmo que essa união não fosse solitária e em um suspiro se deu por vencido, deixando aquela batalha contra os próprios pensamentos para depois.
"Minhas filhas gostaram dela..." Foi o último pensamento que pairou na mente do moreno enquanto os executivos ao seu redor discutiam números e estratégias, Suguru se via preso em um turbilhão de emoções. A presença de Lizie tinha desencadeado certas lembranças que ele não podia ignorar.
No final da reunião, quando os outros saíram da sala, Suguru permaneceu sentado em sua cadeira, perdido em seus pensamentos. Ele sabia que teria que agir, que teria que encontrar uma maneira de consertar o que estava rebentado. E assim, com determinação renovada, ele começou a traçar um plano para mostras a Lizie que ainda poderia ter o casamento que tanto almejavam.
Lize ainda estava inerte a tudo o que aconteceu, na noite anterior, após estar tão próxima de Geto não conseguiu dormir direito e agora suspirava na fila da cafeteria esperando para pegar o pedido rápido.
No fundo, a cacheada se arrependeu de ter assinado aqueles papéis de divórcio logo após soltar a caneta. Lizie sempre amou Suguru Geto, mas um casamento frio onde os objetivos de ambos os afastava devido ao trabalho estava bem distante dos seus planos e para piorar tudo ficou mais intenso quando o viu com as crianças, o coração disparou ao assisti-lo junto as filhas, uma vez que sempre desejou ter uma família ao lado dele. Suguru Geto aparentava ser um bom pai e no âmago de sua alma, sentiu que se precipitou e que se tivesse aguardado mais um pouco, seria ela a estar vivendo essa experiência ao lado dele.
Mas ninguém vive de passado não é mesmo?
Lizie sabia que não podia se prender nessa fantasia, ela tinha que seguir em frente, mesmo que seu coração ainda estivesse preso ao homem que amava. Respirando fundo, ela fez o pedido na cafeteria, determinada a enfrentar mais um dia de contratos e reuniões, onde o seu poderio apenas crescia.
[...]
Nanami a encarava inconformado, para começar a nova copeira temporária o deixava extremamente desconfortável por ser a sua cina e depois, a falta de tato e atenção de Lizie para um assunto que deveria ser sério o fez perceber que ela precisava realmente de um tempo.
-- Lizie você nunca misturou pessoal com profissional e agora está perdida. -- O Kento foi direto, sendo amigo da mulher há anos, não via motivos para enrolar.
-- Digamos que só preciso de férias Nami. -- chamou pelo apelido carinho que o fez revirar os olhos.
-- Minta melhor Takahashi. Enfim, a universidade concedeu o aval e agora a filial das gerências de babás é nossa. -- Lizie sorriu com a resposta dele.
-- Isso é ótimo, agora vamos aumentar o salário delas, ser universitária e fazer meio período é dose, assim elas ganham pelo contrato e através da empresa e ainda geram mais recursos e engajamento para a Takahashi's Company. -- Elevou a mão passando no centro como se houvesse uma faixa imaginária ali.
-- Com esse fechamos um sexteto de serviços e ainda tem que gerenciar o seu lado organizacional.
-- Ah, isso, eu farei nas minhas férias que, estão vencidas há dois anos. -- Lizie relaxou na cadeira e Nanami sorriu minimamente.
-- Tira logo essas férias antes que o setor de empresas cresça ainda mais e tenha que postergar. Eu até entendo que não tenha tirado férias quando fundou a empresa e por conta dele, mas agora? Takahashi faleceu há anos e você fica se matando enquanto eu só quero me aposentar. -- Resmungou.
-- Deixa de ser ranzinza Nanami! Não viu quem está trabalhando de copeira hoje? -- Nesse momento o loiro se levantou e ajeitou a gravata, seguiu até a porta e abriu rudemente:
-- Tira logo essas férias, Lizie! -- E assim se foi, a mulher revirou os olhos conforme encarava a agenda de compromissos do dia até que viu um horário demarcado em vermelho por sua estagiária.
-- Reunião com o senhor Geto às dezesseis horas. -- Lizie suspirou, realmente estava pensando em tirar férias, mas não imaginou que teria que lidar com Suguru, principalmente pelos sentimentos bagunçados.
[...]
Geto não ousou reclamar do fato de ter que ficar até mais tarde para encontrar com ela, a mulher que estava massacrando seus pensamentos.
-- Suguru, a senhora Takahashi está aqui. -- Ao ouvir a secretária ele endireitou a postura, arrumou os poucos fios fora do local, a cacheada em poucos minutos estava parada a frente de sua porta, utilizando um belo terno azul-marinho com saltos pretos e nas mãos a bolsa de empresária que ornavam perfeitamente com o look escolhido e para ele, ela estava simplesmente perfeita.
-- Lizie, entre por favor. -- A voz de Suguru soou firme, mas também carregava uma leve tensão. Ele tentou disfarçar seus sentimentos enquanto a observava entrar na sala. Lizie parecia radiante como sempre, mas havia uma sombra em seus olhos que Suguru não conseguiu ignorar e não seria indelicado o suficiente para descobrir que ela passou a noite praticamente em claro.
-- Oi, Suguru. -- Lizie sorriu educadamente enquanto se aproximava da mesa dele. Ela estava vestida de forma profissional, mas seus olhos revelavam uma mistura de preocupação e determinação.
Suguru indicou uma cadeira em frente à sua mesa para que Lizie se sentasse. Ele tentou manter a compostura enquanto iniciava a conversa.
-- Obrigado por concordar em se encontrar comigo. Sei que sua agenda deve estar lotada. -- Suguru falou, sua voz um pouco mais suave agora, fingindo que nada havia acontecido na noite anterior. Lizie assentiu, mantendo o sorriso, mas seus olhos revelavam uma seriedade subjacente.
-- Sem problemas, Suguru. Estou aqui para ajudar no que for necessário. Afinal, estamos lidando com o bem-estar de suas filhas. -- Ela respondeu, sua voz soando firme, decidida e suave.
Suguru se recostou na cadeira, ponderando sobre como abordar o assunto delicado que o trouxera até ali.
-- Lizie, eu estava pensando sobre o que a sua empresa oferece. Na verdade, sobre contratar uma babá para ajudar com as meninas. -- Ele começou, desviando o olhar por um momento antes de voltar a encará-la.
Lizie o observou atentamente, esperando pelo que ele tinha a dizer.
-- Eu entendo a importância de ter ajuda, especialmente com a minha agenda lotada, mas eu simplesmente não consigo me sentir confortável em confiar a vida das minhas filhas a uma mera desconhecida. -- Geto confessou, sua expressão revelando a preocupação genuína que ele sentia.
Lizie assentiu compreensivamente, sua expressão suavizando um pouco.
-- Eu entendo, Suguru. É natural se preocupar com a segurança e o bem-estar das crianças. -- Ela respondeu, escolhendo suas palavras com cuidado. -- Mas talvez haja uma solução que possa conciliar suas preocupações com a necessidade de assistência.
-- E qual seria? Minha governanta está muito idosa e não posso deixar que continue a gerir tudo, então se tiver uma pessoa de sua confiança para me indicar pelo menos para assumir as funções de Li ficarei agradecido.
Lizie suspirou, a cabeça maquinando contra e a enchendo de ideias que sabia que seriam péssimas, a mulher deveria tirar férias, foi esse o combinado com Nanami e ao invés disso estava prestes a se amarrar ainda mais e tudo por que simplesmente não estava interessada em pôr outra mulher dentro da casa de Geto, mesmo que essa situação não lhe diga respeito.
Lizie cruzou as pernas e endireitou a postura, tirou da bolsa um envelope azul-marinho tão escuro quanto seu terno e o deslizou pela mesa em direção ao moreno.
-- Eu estava pensando que, considerando minha experiência em gerenciamento de lar, eu poderia assumir um papel mais ativo na organização e cuidado das meninas enquanto estou aqui. Dessa forma, você teria alguém em quem confiar que já conhece e se preocupa com suas filhas, mas seria apenas por vinte e oito dias. Esse tempo seria mais do que o suficiente para que conhecesse uma boa babá e adquirisse o mínimo de confiança, o que acha?
Suguru considerou as palavras de Lizie, percebendo que ela estava oferecendo uma solução prática e sensível para seus dilemas. Ele sentiu um certo alívio ao pensar na possibilidade de contar com a ajuda de alguém em quem não via problemas em deixar adentrar sua casa, sua vida e acima de tudo o seu coração e talvez seja por esse último quesito que tomou a decisão.
-- Isso é uma excelente ideia. Eu realmente aprecio sua disposição em ajudar. -- Suguru finalmente sorriu, sentindo-se grato por tê-la ao seu lado mais uma vez e se tudo corresse como o planejado em breve a teria de volta em sua vida.
Enquanto discutiam os detalhes de como essa nova dinâmica poderia funcionar, uma sensação de esperança começou a florescer em seus corações. Talvez, juntos, eles pudessem encontrar uma maneira de equilibrar as demandas da vida profissional e enquanto para Lizie a ideia se equiparava a uma tentativa de sentir como seria se não tivessem se divorciado ou se por todos os percalços que passou não tivesse perdido o bebê, mas essa é uma lembrança para outro momento e para Geto equivalia a uma segunda chance ao qual não desperdiçaria, daria um jeito de reter Lizie em suas mãos e com cuidado zelaria de maneira amorosa pela vida de suas preciosas filhas.
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