04. eu posso ser o teu novo apoio

— Mas que porra de barulho é este?! — Yuta sai do quarto que nem flash. Um vento passou por si, fazendo os seus cabelos vermelhos balançarem. Dois vultos passaram pelo corredor, descendo as escadas em alta velocidade.

O que aconteceu agora? Já não basta um desconhecido aqui dentro?!, pensou Yuta de mau humor. Acorda sempre de mau humor, não tem como evitar. Possivelmente, só os beijos carinhosos de Winwin eram o suficiente para o humor melhorar, mas não se encontrava acordado. Agora quem costumava acordar primeiro era Yuta.

Nakamoto desceu as escadas pela barulheira que acontecia no andar debaixo. A sua cabeça começou a doer pelo barulho brusco. Iriam acordar o Winwin e não seria nada bom.

Winwin era a pessoa com um humor terrível quando acordava com barulho.

— O que está acontecer?! — berrou. O bar que antes estava um pouco desorganizado, agora parecia o quarto do Ten durante a semana (ou todos os dias mesmo) — Mas que merda?! — olhou ao redor de boca aberta, não acreditando na desarrumação total.

— Paraaa, Ten!

— Não! Deixa-me dar-te um beijo na bochecha!

— Nãããããão! Vai ficar marcado pelo batom, otário! Saí! — fugia de Ten.

Suspirou. Yuta suspirou. Respirou, expirou. Contava: 1... 2... 3... 4...

— Parem de correr seus filhos da puta! — berrou, fazendo com que ambos parassem. Taeyong tentava afastar a cabeça de Ten da sua. Já Ten estava quase encima de Taeyong, todo torto. A posição não era nada confortável — O que pensam que estão a fazer?! Viram o que acabaram de fazer?!

— Quem acordou-me?! Quem?! — Winwin apareceu, por fim, esfregando os olhos com os dedos. Sua expressão não era nada amigável. A fera acabou de ser acordada.

Eles acordaram o diabo.

(...)

— Porque eu tenho sempre de repetir a mesma coisa?! — cada um estava sentado numa cadeira, alinhados. Sicheng era o único em pé. Yuta, Taeyong e Ten estavam de cabeça baixa ouvindo Winwin reclamar. Yuta e Ten sabiam como era a situação. Taeyong era o único que não, porque era novo por lá.

— Eu não fiz nada — relembrou Yuta.

— Mas ajudaste no barulho quando tentaste "melhorar a situação" — fez aspas com os dedos — Bastava apenas teres pegado numa cadeira e teres dado na cabeça de cada um!

— Desculpa, bebê — encolheu os ombros. Yuta mentiria se não dissesse que estava com raiva daqueles dois imbecis. Acordaram o seu bebê, e agora quem estava levando na cabeça também, era ele.

— E tu, Ten?! Porque não avisaste o Taeyong?! Se ele soubesse, muito provavelmente, iria fechar-te na casa de banho e nunca mais sairias de lá.

— Avisar-me do quê? — todos olharam pra ele — Avisar-me de como ele é totalmente um assanhado quando acorda? Muito obrigado pela informação atrasada.

— Desculpa. Não me lembrei desse pequeno detalhe — pediu Yuta — Tu, Ten! Podias ter perfeitamente ter feito isso, né?!

— Mas vocês sabem de como eu esqueço-me das coisas! — fez birra — Ainda posso te marcar? — fez voz fininha e uma expressão fofa que Tae achou super estranha.

Taeyong pegou na cadeira e afastou-se um pouco.

— Quando é que ele melhora? — perguntou ao casal Yuwin.

— Quando ele tomar um banho gelado — contou Yuta.

— Com este frio?! — mostrou-se incrédulo.

— Não te deixes enganar. Ten é feito aprova do frio  — respondeu de volta. Levantou-se da cadeira e foi até Winwin passando o seu braço direito pelos ombros do outro — Vá. Vamos tomar um banho e, — Yuta apontou para Taeyong — Vê-se dás-lhe banho gelado, ok? Ele vai passar por essa fase drogada depois. Não se esqueçam de arrumar tudo.

— Porquê que tem de ser eu a dar-lhe banho? — perguntou corando de leve — Porque não dão vocês? Acabei de o conhecer!

— Ouvi dizer que já viste-o só de toalha — arregalou os olhos — Então não vai haver problema nenhum, certo? — riu de lado. Yuwin foi desaparecendo aos poucos.

— Merda. Como que ele sabe...?

— Dá 'pra ouvir tudo, idiota. Se eles decidirem foder enquanto estás aqui, boa sorte para conseguires adormecer com os berros do Winwin — resmungou Ten, rindo logo depois.

— Ah, cala a boca, cala — levantou-se e preparou-se para levar Ten consigo para o andar de cima, por mais que quisesse deixá-lo no meio do bar sozinho, abandonado, choramingando.

— Vem calar — riu — Quantas vezes tenho de repetir? — e parece que Ten virou bipolar. Ri, depois fica sério do nada. Taeyong teria mesmo de suportar estes comportamentos todas as manhãs?

Infelizmente, sim. Teria.

(...)

Depois de várias tentativas de dar banho num Ten cheio de sono e com bipolaridade on point, Taeyong acabou por ficar todo molhado e um tomate. Porque teria de ser justo ele para dar banho em um imbecil? Só porque havia visto-o de toalha uma vez, não significaria que queria ver de novo!

Mentira. Taeyong queria.

Não iria aproveitar-se da situação e mordiscar o lábio enquanto via Ten apenas de boxer sem problema nenhum. Taeyong fez isso sim, mas disfarçadamente. Teria ficado com aquele problema no meio das pernas outra vez? Talvez, não sei. Mas só de ver a água gelada percorrer os fios do cabelo do Ten, chegando até o seu pescoço, os seus ombros...

— Aí, caralho. Veste-te logo.

— Para de olhar então — resmungou. O Ten assanhado desapareceu e deu espaço para aquele Ten que Taeyong havia conhecido no dia anterior.

Gostava de ambos os modos.

— Como ainda temos de arrumar o bar inteiro, porque o senhor Ten-Chittaphon-sabe-se-lá-que-nome decidiu dar uma de pintor de manhã. Né, otário — abanou a cabeça para Ten, que o julgou com o olhar — Vou descendo.

— Para de queimar a minha paciência inexistente e vai começando. Já vou.

Taeyong saiu do quarto e fechou a porta. Estava com ódio. Estava com ódio de Ten ser assim e assado. Estava com ódio de Ten ser assanhado. Estava com ódio logo no primeiro dia no bar. Iria queimar muitos neurónios e já estava alertado para qualquer coisa.

Assim que desceu as escadas, percorreu um caminho até uma porta de madeira castanha. Abriu e deparou-se com uma dispensa com produtos de limpeza. Pegou numa vassoura e num apanhador e saiu de lá.

Assim que voltou para o centro, suspirou. Haviam tirado quase todas as mesas do sítio à porrada, fizeram com que o microfone e o tripé caíssem no chão. Tinha uns copos partidos aqui e ali, quando Taeyong decidiu fugir do Ten. Não soube o porquê de terem percorrido o bar de uma ponta a outra, mas só sabia que não queria ficar com um batom com o formato de uns lábios (lábios de Ten) em vermelho na pele. Tinha em mente que demorava para sair.

Deixou de pensar no trabalho imenso que tinham de limpar e deixar tudo direitinho no lugar e começou ao trabalho.

Começou por pegar nos vidros e deitou no lixo. Varreu, deixou as mesas no lugar, cadeiras de cu para o ar para poder passar o chão a pano. Tratou de limpar as mesas, balcão e janelas. Pegou no tripé e no microfone e colocou no sítio, direitinho.

Quando deu por ele, tinha limpado o bar sozinho. Era quase fim da tarde e Ten não tinha aparecido.

— Hey, Taeyong! — Chittaphon apareceu do nada. Estava sorridente, cabelo lavado e roupas apertadas.

Onde ele vai?

— Vou à cidade buscar copos novos e uns aperitivos para comermos. Queres vir comigo? — ele lê mentes?

Radiante. Chittaphon estava demasiado radiante só para ir à cidade que Taeyong não sabia da existência até agora. Isso significaria que podia-se apanhar rede lá?

Uma lâmpada acendeu na sua mente.

— Claro — sorriu — Preciso é de um banho. Limpei tudo sozinho porque o senhor fez o favor de não ajudar-me a limpar!

— Desculpa. Estive a ver com o Yuta e o Winwin o que faltava aqui no bar para os clientes. Eles comem e devastam tudo.

— Só uns quinze minutos. É rápido.

Taeyong subiu e tomou o seu precioso banho.

(...)

— Quanto tempo demora para chegar nessa famosa cidade que eu não sabia que existia até à bocado? — Taeyong perguntou assim que saíram do bar e seguiu Ten até à parte detrás do estabelecimento. Havia uma "casinha" muito pequena que não havia reparado quando deparou-se na estrada.

Ten carregou num botão qualquer num comando pequeno e o portão abriu.

Uau. Uma garagem.

— Uma hora, mais ou menos — abriu o lado do condutor e entrou. Taeyong nem hesitou em fazer o mesmo, sentando no assento ao lado de Ten.

— Uma hora?! — não se preocupou em esconder a surpresa — Na verdade, é melhor do que nada. Também, no meio do mato...

— Ei. Nada de falar do mato, ele dá-nos dinheiro suficiente para sobreviver — alertou. Ten não demorou muito para sair da garagem e começar a conduzir em direção da cidade.

— E daí? Como é morar no meio do mato?

— Muito melhor do que numa cidade cheia de internet e essas coisas. Não é muito o meu estilo. Sempre preferi uma vida sem essas coisas virtuais.

— Ok, boomer. Vais me dizer que não sabes mexer num computador? — desafiou.

— Claro que não! Nunca tive uma coisa dessas na minha vida. Nunca vi.

Taeyong tentou não rir.

— E numa câmara fotográfica?

— Eu vi a tua. Mas não sei mexer.

— A parte da câmara fotográfica é compreensível. Não é toda a gente que sabe mexer direito numa. Mas agora num computador, Ten — começou rir de leve, olhando-o.

O silêncio instalou-se e detestou. Mas decidiu calar-se um bocado para apreciar Ten Chittaphon. Os cabelos pretos cresceram, os seus olhos negros atentos à estrada que nem uma navalha afiada, a curvatura do nariz, e por fim, os seus lábios fininhos. Taeyong mentiria se dissesse que não sentia vontade de beijá-lo. Claro que é mentira! Ele queria muito parar o carro e dar uma de playboy, mas segurava-se a cada minuto que passavam juntos dentro do carro por causa das roupas apertadas do Ten.

Estava tudo mais apertado do que o normal.

— Porque olhas-me como se me quisesses comer? — soltou, fazendo Taeyong parar de babar e colocar-se direito no banco.

Ten, seu doído.

Como assim? Porquê isso do nada? — tentou disfarçar o seu nervosismo.

Não estava a conseguir.

— Eu consigo sentir a maneira de como olhas-me, Tae — alternou o olhar entre a estrada deserta e um Taeyong Lee super nervoso ao seu lado.

— Sonhas muito, Ten — tentou respirar direito.

— Talvez.

Silêncio.

Quantas vezes Taeyong tem de dizer que odeia o silêncio? Muitas mesmo. O Ten nunca aprendia.

— O que vais comprar além dos aperitivos e copos novos? — tentou trazer assunto. Quanto mais silêncio, mais nervoso ficava.

— Vou ver se compro mais tabaco — acelerou.

Ten ficava muito atraente a conduzir, pensou Tae. Então, com aquelas calças...

Para de babar, homem — riu.

— Deixa de fumar, Chittaprr.

— Ah, não. Chittaprr de novo não! — Tae riu.

— Tem piada, Ten!

— Não, não tem! E porque começaste a chamar-me isso? — riu nervoso.

— Quando decidiste chamar-me de neném e Taetae de manhã. Tu és muito assanhado quando acordas, minha nossa — riu — Tem graça, mas...

— Houve situações que eu próprio criei e aproveitei pelo sono. Para a próxima faço sem ser de manhã — pistolou.

Taeyong parou no momento.

— Agora deixaste-me na dúvida...

— Do quê?

— Não digas essas coisas. O meu coração é frágil — fez drama e deixou a sua mão no peito.

(...)

— Amém, chegamos — Taeyong sai do carro e suspira — Acho que fiquei mais quadrado do que era — esticou-se.

— Deixa-te disso. Estás perfeito — Tae olhou para trás e viu Ten atrás de si, andando para não sei onde.

— Olha, tu paras de me elogiar, por favor. É constrangedor.

— Não menti, por isso — deu de ombros.

Ten queria fogo. Ten queria provocar. Ten queria alguma coisa, e Taeyong não é lerdo para perceber. Tem medo, muito medo. Nunca beijou ninguém. Tinha medo de fazer algo de errado com Ten e ele chutá-lo dali pra fora.

Não seria capaz. Seria?

— Ei! Onde vais?

— Vou só ali e já venho. É rápido — tirou dinheiro do bolso suficiente para comprar o que era necessário e deu ao Taeyong — Podes comprar por mim, por favor?

— Mas, Ten...? — e Chittaphon saiu da sua beira sem dizer mais nada.

Estava tudo muito estranho. Porque ele quis que Taeyong comprasse as coisas por si? Taeyong estava curioso. Super curioso com o que ele disse: "Vou só ali e já venho", "É rápido". Rápido teu cu, otário.

Taeyong iria segui-lo e cuscar? Mas é claro. Se não, não se chamava Taeyong Lee!

Seguia Ten com cautela. Desviava nos sítios certos, não fazia muito barulho. Taeyong podia virar espião. Sorriu com a ideia estúpida que teve no momento. Não estava na hora de pensar sobre isso.

Ten parou. Ten parou do lado de fora de um café sem muita movimentação. Taeyong ficou a encará-lo com a famosa expressão de interrogação. Era engraçada, mas de momento não era. Começou-se a perguntar, outra vez, o porquê de Ten estar com roupas tão apertadas... E, um rapaz apareceu. Um rapaz super mega altíssimo e com um corpo belo, apareceu. Uau. O queixo de Taeyong caiu de novo. Também usava roupas apertadas.

Virou parada de gays ali, foi? Taeyong deveria estar ali também. Fazendo parte da festa.

Sim, Tae estava a começar a ter ciúmes. Sem dúvida.

Queria ouvir o que estavam a falar. Queria saber quem era aquele cara super atraente ao lado de Ten. Queria saber qual seria o relacionamento deles.

'Pra quê, Taeyong? Porquê?

— Porque quiseste encontrar-me mais cedo do que o normal? — riu malicioso.

— Devíamos parar, Wong — soltou de uma vez, cruzando os braços.

A cara de idiota do cara alto foi muito perceptível.

— Posso perguntar o porquê? — tentou demonstrar-se não afetado. Ele estava muito afetado. Ten iria deitá-lo fora assim? Quando lhe apetecesse? Lucas estava triste, desiludido.

— Porque eu não quero mais. Na verdade, não posso. Não tenho tempo — Tae apercebeu-se da falta de desculpas da parte do Ten. Eles estavam terminando alguma coisa? Porque Ten estava enrolando demais?

— Ten, para — o tal Wong ou Lucas não sei quê mudou de postura. A sua voz não falhou uma única vez, mas a sua expressão era uma de abatido.

Eles tinham algo? Se tinham, Taeyong começou a sentir-se mal. Não deveria, até porque, supostamente, se estiverem colocando um ponto final num relacionamento, Ten tomou essa decisão sozinho, certo?

— Diz logo tudo de uma vez — encostou-se na parede e deixou as mãos debaixo dos bolsos da calça.

— A partir de agora não vou ter mais tempo para isto. Para nós.

— Vou fingir que isso não é uma desculpa para dizeres que não me queres possuir mais — provocador. Tae apercebeu-se disso. Seria muito mal e desrespeitoso se Ten soubesse que Taeyong estava ouvindo tudinho, ou seja, estava invadindo a sua vida pessoal.

Era suposto estar comprando o que lhe foi pedido.

— É verdade. Não quero mais. Desculpa — suspirou — Fica bem.

Ten estava saindo da parada gay. Taeyong nunca correu tanto na sua vida inteira para chegar na loja outra vez e comprar o que era suposto.

Abriu a porta da loja ofegante. A atendente olhou para si com cara de "vou te comer". Cagou e andou. Começou à procura da comida, dos copos e foi até ao caixa.

— Correste a famosa maratona é? — perguntou. Evasiva, atrevida. Taeyong não gostou muito. Maquilhagem exagerada, batom saindo da linhagem da boca, contorno super marcado.

Taeyong queria fugir.

— Apenas passe tudo e me deixe em paz.

— Ok, apressadinho.

— Agradecido.

— Estás somente de passagem? — terminou de passar os copos e os alimentos no leitor — És novo por aqui?

— Olhe, eu ficaria muito grato se parasses de me fazer perguntas pessoais, querida — sorriu cinico — Vais demorar ou não?

— Calma, Taeyong — Ten apareceu atrás de si — Ela é uma atendente muito evasiva mesmo. Tem pouca vergonha na cara — chegou-se ao balcão e sorriu cinico também.

— Onde que tu estavas? — virou a cara para olhá-lo. Estavam próximos, muito próximos. O tom de voz de Taeyong pareceu hipnotizada.

Tudo estava diferente.

— Fui comprar tabaco — passou o braço pelos ombros de Tae e aproximou-se mais — Quanto fica, Lia? — sorriu ainda mais, fazendo festinhas no ombro de Taeyong para acalmar-se.

A expressão de nojo da famosa Lia era bem perceptível. Ela ditou o preço e Taeyong pagou com o dinheiro que Ten havia-o dado antes.

— Desculpa por ter-te roubado a paixão — Ten inclinou-se sobre o balcão, chegando perto da Lia — Mas eu estou primeiro — sussurrou, mas foi o suficiente para Taeyong ouvir também e arregalar os olhos — Tem uma boa tarde, Lia — pegou nas sacas, no braço de Taeyong e saiu da loja, todo alegre.

Deu um saco para Tae carregar e caminharam até ao carro. A frase de Ten martelava na sua mente. Martelava, martelava e martelada.

— O que foi, Taeyong? Aconteceu alguma coisa?

Taeyong queria bater no Ten. Queria bater-lhe, bater, bater, bater e bater até ele parar de dizer aquela frase. Estaria ficando louco? Talvez. Ten tinha esse poder em si. Teria? Tinha. Desde que se conheceram, Taeyong sentia-se diferente a cada vez que o assunto tinha haver com Ten 'pra lá, Ten 'pra cá. Tudo tinha Ten Ten Ten Ten. Tudo.

— Não. Não aconteceu nada — engoliu em seco — Vou só fazer uma chamada, já volto — devolveu o saco e caminhou na direção oposta do carro.

Taeyong precisava de respirar fundo. Muito fundo. Precisava de espaço. Precisava de um tempo só para si. Os acontecimentos de vinte e quatro horas atrás, os acontecimentos de agora, precisava de um momento só para si para poder relaxar decentemente. Podia estar a "ultrapassar tudo" de cabeça erguida, mas tudo que queria era um momento sozinho para poder chorar e chorar. Era tudo muito novo para si, parecia estar tranquilo por não saber onde estava, mas estava morrendo por dentro. Queria ajuda. Precisava da ajuda de Ten, não demoraria muito para pedi-la.

Só tinha de ligar para o Jaehyun ou Johnny para eles saberem que estava tudo bem, que não precisavam-se preocupar consigo por não ter dado nenhuma notícia por muitas horas seguidas.

Pegou no aparelho e ligou o ecrã. Estava prestes a ligar para o Jaehyun, quando o seu nome aparece em grande na tela pedindo uma vídeo chamada.

Sorriu por ter rede, finalmente, e puder falar com os seus amigos.

Oh, filho da puta! — riu feliz. A recepção do seu melhor amigo não mudaria nunca — Onde andaste?! Sem dar notícias durante vinte e quatro horas? Não foi assim que te eduquei, caralho! Voltas já 'pra casa!

Sempre muito amigável, não é mesmo? Também senti muitas saudades tuas, Jaehyun.

Sentiste uma ova! Tu queres é ver-te livre de nós! Aí!

— Para de mandar vir com ele, desgraçado! — Johnny tentava tirar o aparelho da mão de Jaehyun, e conseguiu — Olá, bebê.

Olá, gigante — sorriu e acenou com a mão esquerda — Está tudo bem aí?

Isso pergunto eu! — reclamou Jaehyun de fundo.

Deixa-me falar! — reclamou Johnny em seguida — Espero que estejas bem. Se precisares de alguma coisa, é só ligares, ok? Amamos-te muito — começou a dar beijos na câmara, repetidamente.

— Obrigado pela preocupação, sério. Espero que esteja tudo bem aí também, seus lamechas!

Ooh, deixa-me falar de novo, Johnny! — pegou no aparelho outra vez e aproximou-se da câmara — Se desapareces mais uma vez, eu juro-te que vou aí e parto-te ao meio, otário! Até andas de lado! — Johnny pegou o aparelho de volta e deu um último bye bye e desligou.

Taeyong começou a rir pela felicidade que ambos proporcionavam-lhe. O sorriso alegre foi tornando-se num desajeitado e as lágrimas fizeram-se presentes. Taeyong não era de chorar, mas em situações como esta isso era incontrolável. Não conseguia manter uma estrutura por muito tempo. Acabava sempre por desmanchar-se. Era só uma questão de tempo até isso não acontecer mais vezes. Estava feliz por ter conversado com os seus melhores amigos, amava-os mais que tudo no mundo.

Guardou o aparelho no bolso e voltou para o carro.

Alcançando a traseira do carro na sua visão, conseguiu ver Ten fumando pela primeira vez. Agora iria passar uma viagem de uma hora com cheiro a tabaco.

— Que lindo. Até ofusca.

— Eu sei. Beleza de outro mundo.

— Ironia.

— Eu sei. Odeio.

— Larga essa merda.

— Só por seres anti-viciado, não significa que mandes em mim. Eu faço o que eu quiser — tragou.

— Pelos vistos optaste por pagar 'pra ter cancro ou morrer mais cedo — suspirou — Imbecil, tu. Minha nossa — começou a andar para entrar no carro.

— Olha só quem fala. Também tomaste essa decisão.

— Pois, tomei. E não me orgulho disso — abriu a porta, mas olhou para Ten outra vez e deixou o braço esquerdo sobre o teto do carro — Mas optei por querer viver sem nenhuma doença e ter uma vida fodida por um simples vício.

— Sabes muito bem que não é um simples vício.

— É, eu sei. Mas preferia nem ter sabido nem sofrido para entender — calou-se e sentou-se de vez no banco do carro.

Ten chutou as mini pedras que estavam perto de si. Taeyong tinha razão. Sabia que ele tinha razão. Odiava-se por discutir por estas coisas agindo ser o dono da razão. Sabia que Taeyong era o dono da razão, só não queria admitir. Não conseguia largar o vício, não conseguia.

— Eu não consigo largar o vício — ditou assim que entrou no carro.

— Eu posso ajudar-te. Tu sabes disso. Eu consegui largar.

— Como?! Não é fácil!

— Sei muito bem que não é fácil. Parece uma guerra interna, literalmente, entre nós e o teu organismo. É péssimo. Mas é bem melhor do que ganhar cancro, Ten.

— Preciso de um novo apoio — suspirou, deixando a sua cabeça bater no volante.

— Eu posso ser o teu novo apoio.

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