Cap. 021
Dia 18 de dezembro. Meu aniversário. 23 dias após o aniversário do Pedri.
Particularmente, desde quando o meu irmão mais novo nasceu e completou seu primeiro aniversário, eu não tive mais festas ou quase nunca ganhei presentes de aniversário. O fato de Henrique completar aniversário na primeira semana de fevereiro fez com que o meu aniversário de 4 anos se tornasse o último que eu tive. Todos sempre se preocupavam com os preparativos para o aniversário dele e de certa forma esqueciam um pouco de mim. Eu demorei um pouco para entender que nossas condições financeiras dariam apenas para uma festa. Nesse caso, a do meu irmão.
Com o tempo eu acabei me acostumando com essa ideia e aprendi a viver sem qualquer tipo de comemoração, acho que até me sinto melhor desse jeito. Hoje, posso enfim dizer que tenho 22 anos. Finalmente 22.
Além desse pequeno detalhe, minha família chega hoje aqui em Barcelona e logo mais irei buscá-los no aeroporto. Nem acredito que o tio Marcelo vai conhecer Barcelona de verdade!
Minha mãe já me ligou no momento em que eles estavam prestes a embarcar e me avisou que ligaria no momento em que chegassem. Óbvio que antes disso estarei lá para buscá-los. Meu apartamento não é muito grande, mas o meu quarto tem espaço suficiente para colocar um colchão e a sala também vai servir como um "quarto" improvisado em momentos como esse. Pedri insistiu muito para eles ficarem em sua casa, convenhamos que é bem maior e com vários quartos, mas eu não aceitaria isso. Até porque minha família pode ser um pouco complicada quando quer, principalmente com ele.
Meus olhos abriram vagarosamente e aos poucos eu fui despertando de vez. Ontem passei o dia inteiro fazendo faxina e organizando tudo para a hospedagem deles, quando fui dormir já estava muito próximo das 23h. Zico se espreguiçou sobre o tapete ao ponto em que eu me levantei e estiquei meus braços. Preciso resolver algumas coisas e voltar para casa antes da hora do almoço.
Não demorei muito para me arrumar e organizar a pequena bagunça que fiz no meu quarto, e para adiantar um pouco, eu pretendo comer algo enquanto estiver resolvendo minhas coisas.
No momento em que abri a porta, quase caí de costas ao tomar um susto. Tudo bem que ver seu namorado com um buquê enorme das suas flores favoritas parado na sua porta em plenas 7h da manhã não seja algo para se assustar, mas o fato de que eu não estava esperando nada disso me deixou assustada.
— Você deveria estar dormindo, sabia? — A voz de Pedro invadiu meus ouvidos e eu o olhei nos olhos. — Eu ia invadir sua casa e te acordar com um monte de beijos.
— Por que está aqui nessa hora? Ainda é muito cedo.
— Clara, é simplesmente o seu aniversário. Vamos comemorar isso o máximo que pudermos. — Droga, eu tinha esquecido completamente desse detalhe. Pedri não havia desistido de me fazer viver esse dia como se fosse algo muito especial. — Nem adianta fazer essa cara, aqui, escolhi as mais bonitas que encontrei.
Olhei para o buquê de rosas brancas e sorri sem mostrar os dentes, elas realmente são lindas. Peguei o buquê de suas mãos e as trouxe para perto do meu rosto.
— Obrigada Pepi, são perfeitas. — O espanhol sorriu e segurou meu rosto me dando um beijo casto nos lábios.
— Feliz aniversário mi amor. — Abracei o homem à minha frente enquanto deitava minha cabeça sobre seu peito. Podia ouvir seu coração bater e eu amo essa sensação. — Onde ia tão cedo?
— Eu fiz uma limpeza na casa ontem e percebi que faltava algumas coisas, pretendia comprar agora de manhã para deixar tudo pronto para buscar minha família mais tarde.
— Corazón, é seu aniversário. Precisa aproveitar seu dia e não ficar totalmente indiferente a ele não se dando prioridade. — Dei de ombros e caminhei até a cozinha onde deixo um jarro, não que eu coloque alguma flor aqui, mas tenho vários objetos de decoração guardados. — São quase 13 horas de voo, eles só vão chegar no aeroporto quando já for quase noite. Temos tempo suficiente para aproveitar o seu dia e só depois se preocupar com esse detalhe.
— Detalhe? Estamos falando da alimentação deles.
— Já ouviu falar em pedido rápido em restaurante? — Pedro agarrou minha mão e começou a me puxar. — A gente dá um jeito, agora vamos fazer esse ser o melhor aniversário da sua vida. Pronta para viver um dia especial?
— Quer que eu diga o que você quer ouvir ou a verdade? — Pedri revirou os olhos e segurou meu rosto deixando um beijo lento em meus lábios.
— Precisa comemorar seu aniversário igual a todas as outras pessoas. Não dá pra ser indiferente sobre isso.
— Eu posso ser indiferente sobre isso. Você sabe muito bem disso. — Pedro concordou enquanto abria a porta do carro para mim. Ele sabe exatamente os motivos que tenho para não gostar de comemorar esse dia.
— E pode aproveitar depois de tanto tempo também. Hoje o dia é todo seu e estou disposto a realizar todos os seus desejos. Quero compensar você por todas as vezes que passou sem comemorar, desde quando você tinha 3 anos. — 18 aniversários não são como 18 minutos, são anos e memórias que eu jamais irei esquecer. — Para onde quer ir? Pode escolher qualquer lugar.
— Qualquer lugar mesmo? — O espanhol concordou e eu mordi a ponta de minha unha.
— Tem algum lugar em mente?
— Na verdade, eu tenho.
O delicioso cheiro de café misturado com as massas folhadas da melhor padaria do bairro me deixavam totalmente atordoada. Essa é a minha padaria preferida na vida inteira e eu quase nunca tenho tempo de vir aqui, até porque ela é sempre muito cheia e algumas vezes já cheguei a ficar horas na fila para conseguir um único copinho de café com um bolinho.
Mas é claro que, com o Pedri me acompanhando, as coisas foram bem mais fáceis. Ele só precisou conversar com o gerente e pronto, estamos sentados em uma mesa reservada enquanto eu posso apreciar minuciosamente o meu café sem açúcar e uma massa folhada recheada com morango e chocolate.
— Obrigada por me trazer aqui corazón, acho que fazem meses desde a última vez que vim aqui. — Comentei enquanto tapava minha boca.
— Não agradeça, aliás, se é seu lugar favorito por que não vem sempre?
— Falta de tempo? Não é muito confortável esperar tanto para conseguir comer. — Ele concorda.
— Clara, você tem certeza que não quer que sua família se hospede na minha casa? Lá é bem maior e acho que seria mais confortável para todos. — Segurei sua mão e toquei o anel que ele usava.
— Eu agradeço de verdade, mas eu não acho que eles vão querer aceitar sua proposta. Além de que eles são bem complicados quando querem.
— Não acho que são complicados, cada pessoa é única. Eles só devem ter personalidades fortes. — Encarei suas írises e mordi brevemente a borda da xícara.
— Pense em 10 de mim. Essa é a personalidade da minha família junta. — Pedri riu enquanto negava.
— Devem ser uns queridos. Mas tudo bem, se você resolver mudar de ideia e eles se sentirem confortáveis, estarei com as portas abertas.
— Obrigada Pepi.
— Fico feliz te deixando feliz, mi amor. Amo você.
— Também amo você. — O espanhol segurou minha mão e deixou um beijo na parte superior da mesma. Bom, até aqui meu dia está sendo incrível. Tudo bem que nem chegamos às 9h ainda, o que importa é que já estou adorando passar esse momento com ele.
Em tantos anos, aparentemente essa é uma ótima segunda-feira. 18 de dezembro pode nem ser tão ruim assim no fim das contas.
Havia terminado de ler "Cinquenta tons de liberdade" a cerca de quase uma hora enquanto estou sentada no desembarque do aeroporto de Barcelona. Minha família deve chegar a qualquer momento.
Meu dia até momentos antes de vir para o aeroporto, foi muito leve e gostoso. Pedro se preocupou com os mínimos detalhes para que pudesse ser o mais agradável possível para mim. Infelizmente, por ser um dia útil da semana, ele precisou ir treinar na parte vespertina, e isso justifica sua ausência na espera da chegada dos meus pais.
Por se tratar de um caso especial, Matteo me liberou por dois dias para acomodar minha família. Porém, na quarta já estarei de volta pois o clube irá enfrentar o Almería por La Liga.
Minhas pernas balançavam para frente e para trás à medida em que eu me distraía observando-as se movimentar. Não sei se foi apenas uma impressão minha, mas quando conversei com minha mãe pelo telefone antes deles embarcarem, posso jurar que ela estava apreensiva e preocupada com algo. Ela me parecia nervosa demais para alguém que está viajando para Espanha para rever a filha que não vê pessoalmente há mais de 1 ano.
— Clara? Puta que pariu, Clara! — A voz de Henrique ressoou pelos meus ouvidos e rapidamente levantei a minha cabeça tentando encontrá-lo em meio às pessoas que saíam pelo portão de desembarque. Assim que consegui por meus olhos no meu irmão mais novo um sorriso enorme se formou em meus lábios, além de poder estar vendo meu irmão pessoalmente, tio Marcelo está sendo trazido na cadeira de rodas com a ajuda do Henrique.
Corri na direção deles e meu irmão travou a cadeira de rodas antes de me agarrar em um abraço apertado e me erguer do chão. Por mais que seja mais novo que eu por 3 anos, Henrique Guimarães é bem mais alto do que os meus meros 1,64.
— Você está linda! Esperou por muito tempo? — Deixei um beijo na testa dele que sorriu com meu gesto.
— Obrigada, você também não está nada mal. — O mais novo revirou os olhos. — Não faz muito tempo, não se preocupe. Onde estão mamãe e papai? — Henrique travou o maxilar e coçou sua nuca desviando o olhar para longe do meu rosto.
— Eles estão pegando as malas. — A voz do tio Marcelo me fez olhá-lo e sorrir sem controle algum. — Olá minha linda.
— Tio... o senhor não tem ideia do quão feliz eu estou por estar aqui. — Senti minha vista embaçar e algumas lágrimas escorreram por minhas bochechas.
— Também estou imensamente feliz por vê-la depois de 5 anos Clarinha. Você está ainda mais linda do que eu lembrava. — Sorri em meio às lágrimas e me ajoelhei ao seu lado. Seus incríveis olhos castanhos esverdeados continuavam com o mesmo brilho de antes, mesmo depois de ter sofrido o acidente, ele nunca perdeu esse brilho no olhar e é isso que me deixa mais feliz. — Veja, já consigo mexer os meus dois braços.
— Isso é incrível! O senhor já sente algo na coluna ou nas pernas? — Questionei e ele ergueu sua mão esquerda para enxugar algumas das minhas lágrimas.
— Ainda não, mas o médico que fez a minha cirurgia disse que é normal que eu demore alguns meses para sentir meus membros outra vez. Vou precisar de muitas sessões de fisioterapia! Mas para minha sorte, minha sobrinha é a melhor fisioterapeuta da área, estou certo?
— Nem é para tanto, eu só gosto de me empenhar no que faço.
— E eu não duvido disso em momento algum. Mas e então, não vai me dar nenhum abraço? — Sorri outra vez e com cuidado me deixei envolver pelos braços definidos do meu tio. Por mais que tenha parado de fazer exercícios físicos, Marcelo nunca abriu mão de sua alimentação saudável e de certa forma conseguiu manter sua boa forma. — Estava morrendo de saudades linda.
— Eu também estava. Estou tão feliz de saber que o senhor realmente está aqui! Acho que nunca estive tão feliz!
— E seu namorado? Ele não deveria estar aqui? — Henrique questionou procurando Pedri por todo lugar.
— Ele não pôde vir, teve que ir treinar nesse horário, mas estamos pensando em sairmos todos juntos para um jantar ainda essa semana, antes de resolver o nosso Natal e ano novo.
— Ainda não acredito que meu cunhado é um jogador de futebol famoso! Porra, os moleques vão surtar quando eu mostrar minhas fotos com ele.
— Vai com calma, não vai ficar perturbando ele para tirar fotos.
— O que? Clara, é literalmente o Pedri González e o elenco do Barcelona. Eu vou ser obrigado a tirar uma foto com cada um deles, nem que eu invada o campo pra conseguir isso! — Tio Marcelo riu e eu neguei. Meu irmão consegue ter quase o mesmo nível de teimosia que eu quando quer verdadeiramente algo.
— Clarinha, preciso te pedir uma coisa. — Marcelo chamou minha atenção outra vez e eu assenti enquanto segurava em sua mão.
— Pode falar tio, o senhor sabe que sempre farei o possível para ajudar.
— Não é necessariamente algo para mim, é mais por você e por minha irmã.
— A mamãe? Mas o que tem ela?
— Bom, lembra que seu pai teve aqueles problemas com sua mãe quando vocês eram crianças, não lembra?
— Que eles passaram uns dias separados e depois se resolveram, claro que sim. Mas o que isso tem haver? — Antes que o tio Marcelo pudesse prosseguir com sua fala, Henrique o interrompeu.
— Então, Thiago traiu nossa mãe e uma semana antes da nossa viagem para Barcelona a filha dele apareceu acompanhada pelo juizado de menores na porta da nossa casa. A mãe dela foi presa por algo e agora nosso pai está com a guarda dela. — Senti meu corpo fraquejar e tio Marcelo apertou minha mão tentando me passar alguma força.
— Henrique, qual parte de, vamos contar aos poucos, você não entendeu? — Meu tio repreendeu meu irmão que deu de ombros e me olhou totalmente confuso.
Uma irmã? Traição? Que caralho está acontecendo aqui?
— Clara! — Ouvi a voz de Thiago Guimarães em meus ouvidos e virei em sua direção, mas meus olhos estavam totalmente vidrados na garota de cabelos encaracolados puxando uma mala de rodinhas logo atrás dele.
Me pus de pé outra vez e os braços do meu pai me envolveram em um abraço não retribuído de minha parte. Os olhos castanhos, iguais aos meus, da garota mais nova observavam tudo à sua volta e só pararam em algo quando pousaram em mim. Ela é uma cópia exata de mim aos 16 anos. As poucas diferenças estão em seu tom de pele e alguns traços de seu rosto, que devem ser de sua mãe.
— ¿Quién me va a explicar cuál es esta historia de hermana? (Quem vai me explicar que história de irmã é essa?)
Fechei a porta do meu apartamento e passei as mãos pelo meu cabelo. Havia acabado de subir com o meu tio e meu irmão, meus pais e a tal garota que descobri a pouco ser minha irmã ainda não chegaram aqui, eles preferiram pegar um Uber até o meu apartamento, até porque não iria caber todos no carro que eu havia pego emprestado com a Angel.
— Clara, não vale a pena se estressar com isso. Maninha, hoje é seu aniversário! Temos que comemorar. — Meu irmão tentou reverter a situação. O clima entre nós estava totalmente estranho depois dessa história.
— Desculpe Henrique, mas se havia a mínima chance de eu comemorar o dia de hoje ela morreu no momento em que aquele homem nos traiu de tal maneira.
— Minha linda, não é certo que você se prive de comemorar o seu dia por erros de outra pessoa. Além de que a Isabelle não tem culpa alguma nessa história. — Observei os olhos do meu tio e acabei concordando, ele está certo na parte em afirmar que ela não tem culpa alguma, mas é impossível que eu possa ignorar totalmente a falta de caráter do meu pai e tudo que ele já fez. É como se absolutamente tudo voltasse à tona outra vez.
— Nem nos meus pensamentos mais idiotas eu poderia imaginar ter que passar por uma situação como essa. — Não sei se é pior o fato de que terei que resolver toda essa situação hoje ou o fato do Pedri ter me mandado mensagem que estaria aqui em alguns minutos pois havia acabado de sair do treino.
A campainha fez seu barulho habitual e eu respirei fundo antes de ir até a porta. Assim que o fiz, minha mãe sorriu amarelo e estendeu os braços para mim, e por mais que eu estivesse magoada com toda essa situação, não iria conseguir ignorar minha mãe.
Deixei que os braços de Flávia me apertassem contra si e fechei os olhos ao deitar minha cabeça em seu ombro.
— Estava com tantas saudades do seu cheiro meu amor. Minha menininha está tão linda e agora já está com seus 22, Deus, quando foi que você cresceu tanto assim e se tornou essa mulher tão linda? — Deixei que um sorriso se formasse em meus lábios e apertei minha mãe contra mim. Senti tanta falta de seu toque nos últimos meses.
— Também estava com saudades mãe, a senhora conseguiu ficar tranquila durante a viagem?
— Fique tranquila, a viagem foi ótima. — Sua expressão fácil de cansaço não nega o quão difícil está sendo para ela passar por essa situação, mesmo que ela não diga nada, consigo ver em seus olhos.
Um pequeno movimento no corredor me chamou atenção, a tal Isabelle carregava algumas malas e se distraía facilmente ao observar a decoração do corredor.
— Dona Flávia, onde eu deixo as malas? — Questionou baixo evitando olhar diretamente para mim.
— Clara vai te mostrar. — Olhei para minha mãe que fez um gesto para que eu obedeça sua ordem. Respirei fundo e peguei algumas malas ajudando a garota mais nova a carregá-las até o meu quarto.
— É o seu quarto? — A voz quase inaudível da garota me fez prestar atenção nela assim que deixamos as malas perto da minha escrivaninha.
— É sim. — Ela observou atentamente os cantos e seus olhos haviam pairado sobre meu pequeno mural de fotos com meus amigos e meu namorado.
— Sua vida parece ser muito boa aqui em Barcelona, sempre quis conhecer Madrid, pelas fotos que eu vi é muito perfeita. — Fechei os olhos com força e mordi meus lábios, não posso descontar o que estou sentindo em relação a tudo isso nela. — O papai disse que você é médica, trabalha em algum hospital?
— Ele não falou de mim? — Ela deu de ombros enquanto observava um porta retrato com uma foto minha junto do Pedri e o Zico.
— Ele não quis entrar em detalhes, só falou que eu iria gostar de você.
— Sou fisioterapeuta. E não trabalho necessariamente em um hospital, faço parte do departamento médico do Barcelona. — Ela me encarou com os olhos arregalados e em seguida olhou para o mural se aproximando um pouco mais.
— Você trabalha com os jogadores do Barcelona? — Concordei e ela pareceu se animar. — Caramba, nunca imaginei que você fosse tão incrível. — Observei a garota parada na minha frente e neguei para mim mesma, Thiago Guimarães realmente tem um terceiro filho. O filho que minha mãe nunca pôde lhe dar.
— Você ainda estuda, certo? — Ela concordou. — Já sabe o que quer fazer?
— Gosto da ideia de estar ligada com o mundo, mas não sei bem, talvez jornalismo.
— Sabia que eu quase escolhi o jornalismo esportivo? — Ela parecia estar fascinada. Não com o fato de estar em Barcelona ou seja lá o que for, mas ela estava fascinada comigo. Seus olhos castanhos brilhavam e mal piscavam enquanto me fitavam com atenção.
— É sério? — Concordei. — E por que desistiu?
— Sabe o meu tio Marcelo? — Ela assentiu. — Desde quando eu era criança ele me mostrou o mundo dos esportes e me fez amar muito o futebol. Quando eu tomei a decisão de que iria fazer a prova da Universidade de Barcelona eu havia passado em jornalismo na faculdade do Rio de Janeiro, mas resolvi arriscar e acabei passando e fazendo o que eu realmente queria naquele momento. Foi minha melhor decisão.
— Uau, você é muito boa na área para ter conseguido trabalhar no Barcelona. O nosso pai disse que conseguiu quando ainda tinha 21 anos.
— É, eu praticamente estava no fim do meu pós quando consegui, mas tive ajuda de um amigo também. — Ela assentiu e se aproximou do mural de fotos onde tenho fotos com a Angela e o Lucca e com alguns dos jogadores também, inclusive fotos do dia em que Pedro me pediu em namoro.
— Eu ainda tenho uns anos para pensar. Diferente de você, eu não sou tão inteligente para terminar a escola 2 anos mais cedo. — Ri com seu comentário e neguei.
— Só comecei a estudar muito nova. Mas não pense assim, cada pessoa tem o seu tempo individual.
— Clara, o pai tá chamando você. — Henrique apareceu na porta avisando sobre. Respirei fundo e Isabelle esperou que eu saísse do quarto para me acompanhar.
— Nós precisamos ter uma conversa. — O Sr. Guimarães indagou assim que eu apareci na sala.
— Eu concordo, mas não agora. Todos estão cansados da viagem longa e devem estar com fome também. Primeiramente irão descansar e comer, e em outro momento teremos essa conversa. A sós. — Indaguei e tio Marcelo sorriu, de certo aprovando minha atitude. — Tio Marcelo e Henrique podem ficar no meu quarto por enquanto, aqui na sala tem o sofá cama e vou pegar um colchão para a Isabelle, não havia me preparado para 5 pessoas.
— Não precisa se preocupar com isso, vamos ficar em um hotel. Você é uma mulher compromissada agora e precisa ter privacidade.— Sorri com amargura ao ouvir seu tom de desdém e assenti, meu pai como sempre, conseguindo me deixar desconfortável com suas palavras.
— Antes de ir para o aeroporto eu pedi comida para vocês, está na cozinha. Podem ficar à vontade. Preciso resolver uma coisa do meu trabalho, mas acho que no fim da noite ou possivelmente amanhã bem cedo estarei de volta para encontrar um bom hotel para você.— Falei com total amargura enquanto pegava minha bolsa e o meu gato, sei o quanto meu pai não gosta de felinos e irei levá-lo comigo até o lugar que pretendo ir. Coloquei o Zico na caixinha de viagem dele e antes de sair meu tio chamou minha atenção.
— Se divirta com seu namorado e seus amigos, não se preocupe com a gente, tudo bem? — Concordei minimamente e me inclinei para poder receber um abraço e um beijo na testa. Me despedi das pessoas ao meu redor e tranquei a porta atrás de mim colocando todo o ar tenso para fora dos meus pulmões. Meu único desejo nesse momento era de sentar e chorar até tudo se resolver, mas não dá para fazer isso.
Desci até o térreo do prédio no exato momento em que Pedri adentrou o local. Segurei sua mão e o puxei para fora novamente, o espanhol questionou minha atitude repentina e parou após sairmos do edifício me obrigando a parar também.
— Ei, calma. O que aconteceu? Sua família não está na sua casa? Por que está aqui? — Abracei seu corpo e o jogador me envolveu em seus braços acariciando meus cabelos e parte das minhas costas.
— Por favor, me leva pra qualquer lugar longe daqui. Eu preciso pensar um pouco. — A confusão que o rosto dele transparecia ao tentar entender o motivo das minhas atitudes só me deixavam ainda mais angustiada.
— Tudo bem corazón. Tem algum lugar que queira ir? — Neguei enquanto ele concordava. Coloquei a caixinha do Zico no banco traseiro e entrei no banco da frente, ao lado de González.
De verdade, eu amo o fato pelo qual ele não quis me questionar neste momento sobre o que está acontecendo. Apenas atendeu ao meu pedido.
Ele definitivamente é a pessoa certa.
O cheiro do mar e o barulho das ondas me fez fechar os olhos e ao menos parte do que eu estava sentindo parecia ter ido embora com a brisa do oceano.
Pedro me trouxe para o apartamento do seu amigo, o mesmo que ele me trouxe no nosso primeiro encontro.
Já está começando a escurecer e o vento frio deixa minhas bochechas geladas. Sentei no chão da varanda e observei as ondas se quebrarem em seus próprios movimentos. Preciso urgentemente colocar meus pensamentos em ordem ou irei surtar! Que excelente maneira de passar o meu aniversário.
— Quer conversar sobre o que aconteceu agora? — O jogador me perguntou enquanto se sentava ao meu lado.
— Pra ser sincera eu só queria sumir. — Disse e ele me observou. — Mas guardar isso para mim não é o melhor e hora ou outra você vai saber.
Suspirei enquanto virava em sua direção e olhei para os seus olhos.
— Eu descobri a menos de 1 hora atrás que tenho uma irmã mais nova.
— O que? Mas eu já sei do Henrique, Clara. — Disparou totalmente confuso.
— Não Pepi, é realmente uma irmã. Além do Henri, existe outra irmã, e mais nova que nós dois. — Pedri estava totalmente confuso, da mesma forma que eu fiquei mais cedo, ainda no aeroporto. — Quando eu tinha 6 anos eu lembro de uma briga que os meus pais tiveram e ele saiu de casa, minha mãe ficou péssima com tudo e chegou a ficar internada por toda a situação, o tio Marcelo que cuidou da gente. Depois de quase 2 meses o meu pai voltou para casa e eles acabaram se resolvendo, mas como descobrimos agora, ele achou que seria uma boa ideia ter o tão esperado terceiro filho dele. — Minha linha d'água estava enchendo de lágrimas ao lembrar de toda a situação.
Desde criança eu e meu pai não temos mais a mesma relação de antes, de certa forma o meu amor por ele foi diminuindo conforme suas atitudes conosco, e principalmente comigo. Lembro de uma vez que o Henrique quebrou um vaso sem querer e ele me bateu por julgar ser culpa minha não ter prestado atenção no meu irmão. Eu tinha 5 anos. Ele nunca tinha encostado um dedo sequer em mim. Dias depois foi o meu aniversário de 6 anos, ele não deu a mínima e alguns dias depois saiu de casa. Aquele foi o pior aniversário que eu já tive em toda a minha vida, foi o pior fim de ano para todos nós. Minha mãe passou ele internada no hospital.
— Thiago Guimarães sempre cobrou de nossa mãe um terceiro filho, outro garoto, ele nunca quis ter filhas, mas para a infelicidade dele teve duas. — Cocei meus olhos e desviei o olhar para meus dedos, Pedri apenas me ouvia atentamente. — Minha mãe descobriu alguns problemas logo depois de ter o meu irmão e precisou passar novamente por uma cirurgia para retirar o útero. Esse terceiro filho nunca poderia existir vindo dela, então pelo visto ele achou propício ter um filho com outra mulher e, aparentemente, nunca iríamos descobrir se a mãe da minha irmã não tivesse sido presa por algo e ele ser o tutor legal dela. — Algumas lágrimas escorreram pelas minhas bochechas no momento seguinte.
— Eu sinto muito Clara, posso imaginar o quão difícil deve ter sido passar por tudo isso. Mas não cabe a você se cobrar pelas atitudes de outras pessoas. — Ergui minha cabeça outra vez e olhei para o rosto do espanhol. — As atitudes dele dizem sobre o caráter dele, não o seu. E a sua irmã é só mais uma "vítima" no meio de tudo isso, ela não tem culpa, assim como você também não tem, do Thiago ter sido esse babaca.
— Eu só queria entender Pepi, ele nunca nos amou? Droga, minha mãe sempre amou tanto ele, sempre fez de tudo para ser a melhor esposa possível e o que recebeu em troca? Uma traição. Deus, não entendo o porquê dela estar com ele até hoje.
— Às vezes as pessoas se submetem a situações como essa por medo. — Suas írises estavam focadas no mar a nossa frente enquanto estávamos sentados um de frente para o outro. — É melhor se conformar com o que tem no momento do que não ter nada. Mesmo que ficar, signifique se destruir aos poucos. Dizem que o amor resiste a tudo, mas o amor só resiste se vier de ambas as partes e as duas metades estejam dispostas a perder de certa forma para poderem ganhar de outra.
Pedri estava imerso em suas próprias palavras, acho que isso diz muito sobre ele também. Não apenas sobre a situação em que estou vivenciando com minha família nesse momento.
— Sabe, eu entendo sua mãe. Ela deve amar o seu pai mais do que ama a si mesma, por isso deve estar ignorando o fato de ter sido traída. — Seu olhar perdido nas ondas a nossa frente me fizeram encolher meu corpo e observá-lo. — Amar alguém é estar disposto a entregar uma arma carregada a outra pessoa e torcer para que ela nunca dispare, mas em certos casos, mesmo que o disparo seja devastador, ainda tentamos entender o lado da outra pessoa e aceitar suas desculpas.
— Pepi... está tudo bem? — O meia atacante piscou algumas vezes e olhou para mim. Seus lindos olhos castanhos chocolate estavam meramente marejados, o que me deixou um pouco preocupada com ele. Será que fiz algo que o deixou magoado?
— Está, claro que está. Eu só... lembrei de algumas coisas do passado. — Ele virou o rosto passando as mãos sobre seus olhos e voltou a me olhar com um sorriso amarelo nos lábios. — O que eu quero dizer é que você não pode se culpar e culpar pessoas que não poderiam controlar a situação, sua irmã por exemplo. Algo que nós dois concordamos é que uma boa conversa sempre é o melhor caminho para resolver tudo.
— Eu sei, mas agora eu não quero conversar com ele. Não consigo olhar diretamente em seus olhos, é como se tudo o que ele já fez que de certa forma me magoou volte a realidade e me machuque outra vez. — O atleta anui seu semblante e estica a mão em minha direção para que eu possa segurá-la.
— Eu sei que não é fácil. Sei que você está magoada com toda a situação, e eu entendo que nesse momento, conversar com ele seja sua última vontade. E eu respeito totalmente isso, quero poder ajudar você a se preparar para essa conversa e ainda mais te fazer ter um aniversário bom pra variar. — Sorri com sua última colocação. — Minha linda, pode me prometer que vai respirar fundo e conversar sobre o assunto com ele? E principalmente, que vai parar de querer tomar a culpa dele para você mesma?
— Eu prometo. Não vai ser fácil ignorar tudo o que eu tenho entalado e que gostaria de jogar na cara dele, mas eu vou tentar não ultrapassar os limites. — González sorriu e beijou a ponta dos meus dedos.
— Tudo bem, está mais calma? — Respirei fundo enchendo os meus pulmões de ar e o cheiro salgado do mar a poucos metros de nós, de certa forma pareceu relaxar o meu corpo.
— Estou, só foi muita informação de uma única vez. E pra variar ele também quer tentar "amenizar" — Disse enquanto fazia aspas com os dedos — fugindo dela. Meu pai vai ficar hospedado em algum hotel enquanto estiverem aqui em Barcelona.
Meu comentário, seguido por uma risada amarga se minha parte, fez com que Pedri segurasse meu queixo e erguesse meu rosto para olhá-lo.
— A proposta para eles ficarem na minha casa ainda está de pé. Com certeza será bem mais em conta do que passar tantos dias pagando por hospedagens. — Anuo um pouco e antes que eu pudesse negar, mais uma vez sua oferta, o espanhol corta minha fala. — Tenho outras casas, corazón. Eles podem se hospedar em uma.
— Não quero te incomodar com isso...
— Você nunca me incomodaria meu amor. — Suas írises tinham um brilho diferente, um pouco mais tristes do que o costume brilho contagiante que estou acostumada a ver. Algo não está certo. — O que acha do apartamento? — Diz, mudando totalmente o foco do nosso assunto principal.
— Desse apartamento? — Ele concorda voltando a olhar para o oceano. — É lindo. Muito grande na verdade, acho que cabem cerca de uns 20 do meu aqui. — Ele ri enquanto concorda. — Bom, não sei muito bem sobre os outros cômodos, pois só conheci brevemente a sala e essa varanda com uma vista perfeita. Mas só por isso ele já seria um lugar perfeito. — Pedri sorri satisfeito com a minha resposta. — Mas por que está me perguntando isso?
— Queria saber se você gostou do presente. — Meus olhos quase saltaram do lugar ao ouvir suas palavras. Como assim presente?
— O que você...
— Exatamente o que você acabou de ouvir. — Um sorriso travesso surgiu em sua boca. — Eu sei o quanto você adora ter contato com o mar porque isso te lembra do seu país. Além de que você já estava querendo encontrar um novo lugar para morar.
Semicerrei os olhos, eu não me lembro de ter comentado sobre isso com ele.
— Eu descobri sozinho, quer dizer, bisbilhotei seu computador e fiz algumas perguntas para os seus amigos que me confirmaram sobre minha desconfiança. — Parecendo que podia ler meus pensamentos, ele respondeu a dúvida que havia se formado em minha mente a poucos segundos atrás. — Não vou aceitar um não como resposta. Até porque não tem como reverter o que já foi documentado.
— Como assim?
— Bem, meu amigo, o antigo dono do apartamento decidiu que vai se mudar para a Inglaterra e iria vender esse apartamento. Como nós dois gostamos daqui e o seu aniversário estava próximo, uni as peças e pronto! Cheguei a conclusão perfeita de que esse seria o seu presente, e já está no seu nome. Não tem o que fazer.
Não, de jeito nenhum eu posso aceitar isso! Uma coisa foi eu ter aceitado — Mesmo que a contragosto — a viagem para Portugal, outra totalmente diferente é um apartamento. Não é como ir na padaria comprar um pão e encontrar 10 reais no chão, estamos falando de um apartamento grande! Um que acomodaria, no mínimo, metade da minha família inteira.
— Eu não posso Pedri. Eu realmente agradeço, mas isso é demais. É um apartamento! — Pedri segurou minhas mãos e se levantou, me ajudando a ficar de pé logo em seguida.
— Você não tem que aprovar isso, já está feito. — Disse com firmeza e eu deixei meus ombros caírem me dando temporariamente por vencida. Ele foi muito esperto em fazer toda a documentação por minhas costas, porque é óbvio que se eu soubesse dessa ideia maluca nunca o deixaria fazer isso.
— A gente vai conversar sobre isso também. Não pode sair por aí comprando apartamentos e distribuindo passagens para Portugal para todo mundo.
— Você é minha namorada, é claro que vou te dar tudo o que eu puder. — Falou enquanto me abraçava. — Conversaremos, mas eu não aceito devoluções.
— Pepi...
— Não vamos discutir, você quer que eu te leve para casa? Ou para qualquer outro lugar? — Seus olhos fixados em meu rosto me fizeram suspirar, minha mente está com um turbilhão de pensamentos neste momento.
— Não quero ir para casa, ao menos não hoje, eu preciso pensar um pouco antes de conversar com eles.
— Então vamos para minha casa. Ainda temos que comemorar o aniversário da mulher mais perfeita desse mundo. — Sorri fraco enquanto negava.
— Droga, eu tinha esquecido do quão insistente você é. — Pedri sorriu e beijou minha testa.
— Quero te ver bem, se terei que insistir para isso, assim eu farei.
— Tudo bem, vamos para sua casa assistir algo e passar toda a madrugada comendo.
— Esse seria o seu aniversário perfeito?
— Só de estar ao seu lado já está sendo o aniversário perfeito.
— Então eu acho que podemos melhorar um pouco mais.
Por quase 5 anos seguidos, os que estou aqui em Barcelona, em todos os meus aniversários, eu e meus dois melhores amigos sempre passamos o dia inteiro juntos. Fazíamos uma "festa" apenas para nós três e era isso.
Esse ano as coisas mudaram de certa forma, ambos já estamos atuando em nossas carreiras e isso significa que mal temos tempo para ficarmos fazendo nada juntos.
Hoje de manhã, quando peguei no meu celular pude ver as mensagens me desejando um feliz aniversário dos meus amigos. Como sempre, sendo os primeiros a me mandarem essas coisas bregas que me deixam completamente emotiva. E claro que esse ano também pude contar com as mensagens do meu namorado, Pepi foi super carinhoso ao me desejar os parabéns e coisas positivas.
— Corazón, coloca um sorriso nesse rostinho. — A voz de Pedri me trouxe à órbita novamente. — Já estamos chegando em casa.
— Prometo que vou melhorar depois.
— Espero que não descumpra sua promessa, me ouviu? — Fiz um biquinho e ele adentrou a garagem de sua mansão. O silêncio instalado no local e a escuridão do interior da casa me fizeram suspirar, ao menos aqui irei conseguir pôr minha mente no lugar.
— Pepi, seus pais virão para Barcelona nas festas de fim de ano? — Perguntei enquanto caminhávamos em direção a casa.
— A gente ainda não resolveu, eles gostariam que fossemos para as ilhas Canárias, mas não podemos esquecer que a viagem não faria bem para a recente cirurgia do seu tio.
— Então, o que isso quer dizer?
— Que eles virão até aqui. Só estamos terminando de conversar com alguns parentes que também irão passar as festas conosco para que possam viajar ainda esta semana. — Concordei enquanto ele abria a porta para mim. Eu carregava a caixa onde o Zico estava e Pedri estava com minha bolsa em seu ombro.
— Droga, pode ascender a luz? Não estou enxergando nada.
— Você já nem enxerga direito no claro. — Mostrei meu dedo médio para ele que riu e se encaminhou até o interruptor. Ele não está totalmente errado, minha visão não é das melhores quando estou sem meus óculos ou minhas lentes, mas não sou tão cega a esse ponto.
No momento em que as luzes se acenderam eu quase deixei a caixa de transporte com o meu gato cair ao me assustar com várias pessoas aparecendo do nada gritando "surpresa" e estourando aqueles negócios de confete praticamente na minha cara.
Olhei para todos ainda assustada e pude identificar vários rostos conhecidos. Angel, Lucca, Ferran, Adrián, Gavi, Araújo, Raphinha, Taia, João Félix, Cancelo e vários outros jogadores do elenco estavam aqui. Até mesmo a Aryella veio, não sei como o Pedro conseguiu trazê-la, mas de certa maneira gostei bastante.
— Você não...
— Só se eu fosse um completo idiota de deixar seu aniversário sem uma única festa que fosse, né? Pedi ajuda aos seus amigos e ao Raphinha e a Taia. Espero que tudo esteja do seu agrado meu amor. E antes que eu esqueça, feliz aniversário corazón!
Minha cabeça estava totalmente confusa, em que momento todos concordaram em fazer uma festa surpresa para mim e eu sequer desconfiei de algo?
— Clara! Feliz aniversário gatinha! — A doce voz de Aryella ecoou pelos meus ouvidos. Pedri segurou a caixa do Zico em suas mãos e permitiu que a morena me envolvesse em um abraço caloroso.
— Ella, quando você chegou aqui? — Perguntei um pouco confusa.
— Bem, agora eu definitivamente me mudei para Barcelona. Vamos incendiar essa cidade no que depender de mim. — Sorri e neguei. Ela seria um ótimo sinônimo para "rolê apocalíptico".
— Por Deus, foi tão difícil ter que ignorar você todo o dia. — As vozes de Lucca e Angel me chamaram atenção.
— Quero deixar claro que essa ideia de ser seca com você foi toda do Pedri! — A loira comentou erguendo as mãos para cima. — Vem aqui. — Angel me abraçou forte e deixou um beijo no topo da minha cabeça. — Feliz vida meu bem!
— Tenho muito orgulho de poder dizer que você é minha melhor amiga, você é espetacular Clara! — As palavras de Lucca me fizeram apertá-lo contra mim.
— Tudo bem, vou precisar roubar a nossa aniversariante por alguns minutos. Precisamos deixar as coisas dela no quarto e suponho que você também queira se trocar, estou certo? — Pedri comentou e com total razão, estava com um vestido justo e um casaco moleton desde hoje cedo. Praticamente não parei nem para almoçar direito antes de ir para o aeroporto.
Enquanto subíamos para o quarto, cumprimentei algumas pessoas que estavam aqui. Todos muito simpáticos e me dando os parabéns, desde os meus 4 anos eu mal lembrava de como era ter uma festa de aniversário, e principalmente nunca se passou pela minha cabeça que alguém me faria uma surpresa.
Adentramos o quarto onde Pedri soltou meu gato que logo se esticou e começou a explorar o novo ambiente que se encontrava no momento.
Nesses últimos meses eu acabei deixando algumas roupas minhas aqui e consequentemente ele também deixou no meu apartamento. Isso facilita muito quando eu decido do nada passar a noite após um jogo aqui ou quando ele aparece de surpresa na minha casa.
Peguei um vestido tubinho preto e rapidamente o vesti. Em meus pés calcei um salto não muito alto e retoquei minha maquiagem que acabou saindo em alguns lugares devido ao grande alvoroço do dia de hoje.
— Linda, pode vir aqui um pouco? — Olhei para o espanhol que segurava duas caixas grandes em suas mãos.
— O que é isso?
— Bem, eu pensei muito sobre o seu presente até chegar na decisão final, e como eu sei que ninguém poderia dar algo parecido com isso tive certeza de que seriam ótimos presentes.
— Pedri, você literalmente acabou de me informar que existe um apartamento de luxo no meu nome. Quem me daria algo parecido com isso? — Ele riu e bateu ao lado na cama para que eu me sentasse e assim eu o fiz.
— Isso aqui é um pouco menos valioso que um apartamento, mas acho que você vai gostar. — Peguei a grande caixa de suas mãos e o olhei com as sobrancelhas arqueadas. O que deve ser?
Abri o grande laço da caixa e retirei uma grande quantidade de papel que cobria o objeto que estava mais no fundo. Um sorriso se formou em meus lábios, tenho certeza que meus olhos devem estar brilhando neste momento. Espalmei as mãos sobre a bola de futebol e uma pequena risada escapou dos meus lábios ao notar a marca de um lábio de batom perfeito estar ali.
É a bola que ele acertou no meu rosto no dia do jogo em que nos conhecemos.
Ele realmente a guardou consigo.
— Pepi...
— Bem, é algo especial para nós. Pensa que se eu não tivesse te acertado, provavelmente nunca estaríamos aqui agora. Foi uma bolada para o nosso bem. — Ri com suas palavras e neguei, quase tive uma fratura grave no nariz naquele dia.
— Não acredito que você realmente guardou isso. — Comentei enquanto avaliava minuciosamente o objeto em minhas mãos.
— Eu já havia te falado que a guardei comigo, não tinha?
— Já sim, mas particularmente eu pensei que só estivesse brincando.
— Então, agora você pode ver que não é uma brincadeira. — Mordi meu lábio inferior e olhei para ele. — Quero que fique com ela enquanto não estivermos publicamente juntos. Desse jeito você vai se lembrar que mesmo que as coisas estejam erradas, o que sentimos um pelo outro sempre foi mais forte. Desde a primeira vez.
Deixei um sorriso escapar e concordei. Acho que estou parecendo uma idiota.
— Tudo bem, esse aqui é o seu outro presente.
— Mais um? Pedri, é sério...
— Abre logo. Você reclama demais. — Olhei para ele indignada e o espanhol apenas me entregou a caixa. Revirei os olhos e retirei a tampa de papelão dando de cara com uma camisa do Barcelona dobrada.
— Por que está me dando uma camisa do Barcelona? Sabia que já tenho uma?
— Exatamente por isso, você tem poucas. Olhe direito. — Retirei a primeira camisa e logo abaixo haviam outras, tanto desta quanto de outras temporadas que González havia jogado com o clube catalão.
Segurei a primeira em mãos e pude ver que estava autografada.
— Agora você também pode colocar ela no seu arsenal de camisas autografadas, não acha? — Deixei uma risada escapar e meus olhos viajaram para algo escrito na parte inferior, próximo ao autógrafo.
"Para mi mejor fan, debes saber que desde el primer intercambio de miradas ya supe que sería tu fan número 1."
( Para a minha melhor torcedora, saiba que desde a nossa primeira troca de olhares eu já sabia que seria o seu fã número 1. )
Toquei delicadamente sua caligrafia e logo ergui o olhar para observar seu rosto. Os olhos brilhando enquanto me observavam atentamente.
— Sabe o que eu acho? — Ele negou. — Acho que você é a melhor coisa que já aconteceu comigo. Obrigada por tanto Pepi.
O atleta me puxou para si e me envolveu em um abraço caloroso. Dentro do meu peito eu podia sentir como se o meu coração fosse pular para fora a qualquer segundo.
— Não precisa agradecer, sempre foi e sempre será você mi corazón. — Aproximei nossos lábios devagar enquanto Pedri me puxou para sentar em seu colo. Me posicionei bem sobre ele que não custou a finalmente selar nossas bocas. Eu estou completamente viciada nos lábios desse garoto.
— Amo você.
— Eu também amo você.
Em anos eu nunca pensei que pudesse me divertir e ter um ótimo aniversário ao mesmo tempo, mas esse ano está sendo sem sombra de dúvidas um dos melhores dias da minha vida.
A organização que fizeram para essa festa ficou incrível, o tema principal estava misturado entre várias coisas brasileiras e trazia como principal o churrasco com cerveja na laje aos fins de semana. Eu simplesmente amei!
Meus saltos estavam jogados em algum lugar qualquer da casa enquanto eu, Taia, Aryella e Raphinha dançávamos um pagode em grupo. Melhor energia possível.
O sorriso que havia estampado o meu rosto desde quando voltamos aqui para baixo não saiu por momento algum do meu rosto. E sinceramente, no que depender de mim irá permanecer por bastante tempo aqui.
Angel me puxou para perto dela me deixando confusa, ela não gosta de pagode, por qual motivo iria me fazer parar agora?
— Preciso te contar uma coisa.
— Precisa ser agora? A gente ia convencer os meninos a dançar um forró. — A loira riu e assentiu. — Tudo bem, o que é tão importante?
— Lembra que o Lucca nos disse que estava de rolo com um carinha que conheceu naquele dia da balada? — Concordei tentando associar cada palavra dita pela loira. — Eu descobri quem é ele e de quebra consegui tudo o que ele fez para te indicar diretamente ao cargo dentro do Barcelona.
Meus olhos viajaram diretamente para o rosto da loira que transparecia calma.
— E o que está esperando para me dizer?
— Lucca está envolvido com o filho do Sérgio. Foi desse jeito que ele conseguiu fazer com que você conseguisse a vaga de estagiária tão facilmente. O filho do Sérgio convenceu o pai de que conhecia uma excelente profissional que poderia substituir a vaga de vice que estaria em aberto com o Matteo.
Meus olhos só não saíram do lugar porque é impossível, mas a minha expressão de surpresa é, com toda certeza, irreversível. Em que momento isso tudo aconteceu e eu simplesmente não percebi?
— Afinal de contas, quem é o filho do Sérgio?
Eita minha gente, do nada um filho do Sérgio aparecendo na jogada? Quem será o querido?
Antes de tudo, quero desejar um feliz dia das mulheres para todas as minhas leitoras. Vocês são incríveis e lembrem-se sempre que são fortes o suficiente para alcançar tudo aquilo que um dia sonharam.
Eu gostaria de explicar uma coisa para vocês em relação ao desenvolvimento dessa história. Para quem não faz ideia, antes de postar aqui pelo Wattpad eu era escritora lá pelo Instagram, e meu gênero por lá era o Dark Romance. Quando eu decidi escrever sobre um tema diferente foi bem estranho para me adaptar, mas aos poucos eu consegui desenvolver melhor essas ideias. Porém, o que vem me ocorrendo ultimamente é um bloqueio criativo, em partes por me perder na própria ideia e um pouco também por não achar que esteja indo bem.
Espero do fundo do coração que vocês possam compreender um pouco essa situação, às vezes eu consigo escrever 3 ou mais capítulos em uma única semana, mas também posso passar 3 semanas para escrever um único capítulo. Enfim, aos poucos as coisas irão fluir e espero contar com todos vocês. Cada voto e comentário nos capítulos me deixa muito feliz e é isso que motiva a continuar escrevendo.
Espero que gostem 💙
Até o próximo capítulo!
📝 Não esqueçam de comentar e deixar o seu voto no capítulo! 🤍
Beijos de luz,Kalisa.
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