Cap. 016
Uma semana depois
Desde aquele dia terrível em que eu e Pedri brigamos, uma semana se passou. Uma verdadeira tortura.
As atividades do clube retornaram há dois dias e eu praticamente não tive a oportunidade de colocar meus pés no CT. Matteo está totalmente empenhado nos detalhes da pesquisa e eu preciso estar ao seu lado para lhe auxiliar e explicar tudo em mínimos detalhes. Porém, hoje eu já deixei claro que gostaria de ir acompanhar o pós treino, preciso tentar conversar com Pepi e resolver essa situação o mais rápido possível.
Nessa última semana nós dois não nos falamos. Ele não respondeu às minhas mensagens e muito menos atendeu as minhas ligações. Ok, eu poderia ir na casa dele tentar conversar, né? Sim, não só podia como fui. O problema é que nas minhas duas tentativas fui avisada de que ele não se encontrava em sua residência. Odiei o fato de ter dirigido até lá pra nada duas vezes.
Gavi e Ferran tentaram conversar comigo ontem, mas o fato de Matteo e eu estarmos em reunião frustrou todas as tentativas dos meninos.
Nesse meio tempo, eu me vi obrigada a ter que atender as ligações da minha mãe. Acho que nunca recebi uma bronca tão grande quanto a que levei no último final de semana.
Claro que eu não contei nada sobre eu e Pedri para ela, se quando já estávamos bem ela surtou e não gostou dele, nem gostaria de imaginar qual a reação dela se soubesse da nossa discussão logo após aquela chamada de vídeo. Mesmo eu estando errada, minha mãe iria culpar ele e tentar fazer com que eu fosse a vítima. Por isso preferi não comentar nada sobre isso, disse apenas que acabei me enrolando muito com a volta das atividades no clube e depois de reclamar comigo em umas 5 línguas diferentes, ela finalmente compreendeu.
Me dirigi até o CT onde os rapazes se encontravam no pós treino assim que Adrián me entregou a ficha com a descrição do camisa 8. Sorri de canto ao ver minha oportunidade se formar ali, só preciso encaixar as peças e encontrar as melhores palavras para tentar conversar com ele.
Enquanto eu caminhava pelo lugar, de longe já pude sentir os olhares da grande maioria dos jogadores e de outros profissionais recaindo sobre mim. Na verdade eu já estava esperando isso, desde o escândalo do meu relacionamento com Pedri eu não havia dado as caras por aqui.
- O que você está fazendo aqui? - Ergui meu olhar que até então estava atento às informações do Pedri e pude ver Sophia com sua melhor cara de desprezo.
- Eu não sei se te informaram, mas eu trabalho aqui. - A garota revirou os olhos e voltou a falar.
- Achei que depois da diretoria saber que você e o Pedri andaram fazendo sabe Deus o que, iriam te demitir. Quer dizer, é isso que acontece quando as regras são quebradas, ou pelo menos deveria acontecer.
- Não que seja da sua conta, ou muito menos que eu te deva alguma satisfação, mas Laporta e Matteo, os meus superiores, já conversaram comigo em relação a tudo isso e já esclarecemos tudo. Não passou de um mal entendido. - Ela riu com certo deboche e eu permaneci com a mesma expressão séria no rosto.
- Lamento não ter sido verdade, seria bem engraçado ver sua cara depois de ser demitida por ter transado com um cara que só quer sexo e nada mais. Iria perder a dignidade e o emprego em uma única tacada. - Olhei para a loira indignada com suas palavras e já estava pronta para rebater a mesma quando Ferran apareceu chamando por mim.
- Clara, você está responsável pelo Pedri hoje, certo? - Concordei minimamente enquanto permanecia encarando Sophia. - Ótimo, ele está reclamando de uma dor no quadríceps e acho melhor você dar uma olhada.
Desviei o olhar para o jogador à minha frente e olhei para a ficha em minha mão, Matteo tinha descrito algo em relação a esse tipo de lesão nele.
- Eu já estou a caminho Ferran, obrigada por avisar. - O espanhol assentiu e continuou me esperando. Antes de sair, pois agora mais do que nunca eu precisava encontrar Pedri, virei outra vez na direção da Sophia. - Lamento frustrar suas expectativas, mas eu não sou apenas uma estagiária como antes, somos iguais em contrato Sophia.
A loira revirou os olhos e eu acompanhei Ferran que observava tudo sem falar uma palavra.
- Ele não teria o mal gosto de ficar com você, e se o fizesse, com certeza seria o mais escondido possível. Aquele homem não se daria o descuido de deixar que todos ficassem sabendo que ficou com algo desse nível. - A provocação daquela idiota mexeu com meus nervos, mas eu não lhe daria o gostinho de perder o controle aqui, porque é exatamente isso que ela quer que aconteça. Sem contar que nada do que ela está falando é verdade. Eu sei que Pedri não ficaria comigo se realmente não quisesse algo, ele mesmo já me deu todas as certezas possíveis. Além de que, quando tudo acabou sendo exposto, ele ficou do meu lado até onde conseguiu. Sophia é apenas uma pessoa amarga tentando descontar suas frustrações em cima dos outros.
- Não liga pra o que ela disse Clara, Pedri não é esse tipo de muleque idiota que ela deve estar acostumada. - As palavras de Ferran me tiraram de meu mundo de pensamentos.
- Eu sei que não, ele é de longe um dos caras mais incríveis que eu já conheci. - Sorri boba e logo encarei Ferran enquanto raciocinava, ele sabia de algo. - Você sabe a verdade?
- Que vocês estavam juntos em Portugal e que mantinham um relacionamento secreto até brigarem semana passada? Sei um pouco. - Odeio o senso de humor desse garoto.
- Ferran, isso é sério, ele deve ter falado algo para você nesse tempo - Pensei alto - Eu... você acha que eu tenho alguma chance de conversar com ele e tentar me explicar?
- Posso ser sincero? - Concordei e de longe já pude ver o corpo de González deitado sobre uma das macas. - Você pode tentar. Pedri só está chateado com toda a situação. Você pisou feio na bola com ele.
- Não foi minha intenção, eu juro. - Encolhi os ombros e Torres passou um de seus braços ao redor dos mesmos.
- Eu sei, não acreditei nele quando ele me ligou de madrugada chorando dizendo tudo o que tinha acontecido. Caralho, eu acabei o relacionamento e ele quem estava chorando? Isso não faz sentido!
Minha expressão de espanto ao ouvir Ferran dizer que Pedri ligou de madrugada chorando fez com que meu coração errasse as batidas.
- Não diz pra ele que eu te contei isso.
- Ele nem responde minhas mensagens Ferran, acha que vai querer saber se conversou comigo sobre isso?
- Clara, vocês vão se resolver. É apenas questão de tempo. - Respirei fundo e mentalmente torci para ele estar certo. Finalmente chegamos até onde o camisa 8 estava e até então ele não havia notado minha presença. - Ei cara, trouxe sua fisioterapeuta.
- Pensei que tinha se perdido pelo CT. - Falou sem tirar as mãos do rosto.
- Da próxima vez eu te deixo com dor seu ingrato. - Pepi tirou as mãos do rosto e sua fala sumiu no mesmo instante que seu olhar se encontrou com o meu.
De repente um nervosismo surgiu em mim. Senti um frio na barriga inexplicável e minhas mãos ficaram geladas. É a primeira vez que o vejo depois de tudo o que aconteceu.
Seu corpo parecia estar congelado ao mesmo instante que a tensão tomou conta de nós. Seu rosto não mentia, as olheiras abaixo dos olhos e sua feição de cansaço apertavam meu coração.
Parecia que o tempo ao nosso redor havia congelado. Minha visão estava tonta e absolutamente nada se passava em minha cabeça. Tudo o que eu preciso fazer é tomar coragem para conversar com ele.
- Oi Pepi...
- Pedri, me chama de Pedri. - A frieza em sua voz me fez querer chorar outra vez, mas ele tem todos os motivos do mundo para estar agindo dessa forma. Por isso, pensei comigo mesma e preferi agir com total profissionalismo por agora.
- Tudo bem, desculpa. Hoje eu fui designada a cuidar de você, Ferran me disse durante o caminho que está sentindo dor, pode me mostrar onde? - Ele não falou nada, apenas levou a mão até o local. O quadríceps, o local onde ele já teve outras lesões e o que o afastou por vários jogos. - A dor está aqui há muito tempo?
- Senti hoje, no final do treino, quando fui chutar a bola. - Concordei e toquei levemente sua pele, a musculatura daquela região estava um pouco tensa, mas não posso dar um diagnóstico sem antes ver alguns exames. E é exatamente isso que irei fazer agora.
Enquanto eu analisava os exames que acabei de fazer em Pedri, o jogador olhava fixamente para o chão esperando que eu lhe explicasse o que aconteceu e se de fato aconteceu algo.
- Não foi nada grave, mas eu não recomendo que você faça muitos esforços. O seu quadríceps está um pouco mais frágil que o ideal, devido a série de lesões que já teve na mesma área. É um pouco comum que não tenha se recuperado 100%.
- Não vou poder jogar então? É isso que quer dizer?
- Não necessariamente, porém eu não aconselho. Esse incômodo, por agora, não é nada demais. Uma sessão de massagem, alguns analgésicos e gelo devem resolver a pequena dor. Mas não posso arriscar dizer que você pode jogar 90 minutos seguidos e estar em condições físicas para os próximos jogos.
- E se eu jogar apenas um tempo? - Eu amo ver o quão uma pessoa é apaixonada pela sua escolha profissional. Eu consigo ver isso em seus olhos, a maneira que ele fica preocupado em saber se vai poder ou não jogar apenas mostra o quanto ele ama fazer o que faz.
- Preciso passar tudo para o Matteo, não posso arriscar te dar essa resposta sem consultar meu superior antes. Desculpe.
- Tudo bem. Mas pelo o que você disse eu posso continuar, porém sem esforços brutos ou muito grandes. Certo?
- Isso mesmo. Não vejo problema em seguir nessa rotina, mas claro que com um cuidado a mais. - Concluí. - Vou terminar seu tratamento de recuperação e em seguida vai estar liberado. - Ele maneou a cabeça concordando e voltamos para a sala principal.
Enquanto eu fazia cada passo necessário para que seus músculos ficassem o mais relaxados possível, nem uma palavra foi dita pelo espanhol. E com certeza eu já disse inúmeras vezes o quanto eu odeio o silêncio em situações como essas.
As pessoas olhavam para nós dois sem nem tentar disfarçar. Não sei com qual objetivo, já que por mais que existisse algo entre nós, nunca iríamos deixar isso atrapalhar o nosso lado profissional.
- Pedri... - Chamei por seu nome o fazendo parar. Mal disse que havia terminado e ele já pulou da maca para se afastar.
- Você já fez tudo. Esqueceu de algo? - Disse ainda de costas.
- Eu... eu preciso conversar com você.
- Desculpe, mas aqui não é lugar para conversas que não sejam do nosso trabalho. - O amargor em cada palavra dele me partiam o coração cada vez mais, ele precisa me deixar explicar, mesmo que seja a última coisa que ele queira.
- Eu sei, você tem razão. Mas é muito importante e você não responde minhas mensagens e nem...
- Olha Clara, acho que já entendi que de sua parte nunca houve certeza absoluta sobre nada. Eu entendo, você tem suas prioridades e eu nunca fui uma delas. - Acho que a bolada que ele me deu quando nos conhecemos doeu menos que essa resposta.
- Me deixe explicar, por favor. Eu juro que não vou tomar muito do seu tempo. - Pedro fechou os olhos e cruzou os braços.
- Seja o mais breve possível. - Meu coração acelerado me fez tremer mais do que deveria.
- Nós dois... - Quando consegui dizer duas palavras, meu corpo foi puxado com força me deixando assustada e confusa ao mesmo tempo que o olhar de Pedri em mim demonstrava o mesmo que eu. - Espera, por que você está me puxando sem me explicar?
- Tem um jogador rolando e chorando de dor depois de uma queda feia, Matteo quer você lá com urgência e sem muita enrolação. - A voz ofegante de Adrián mostrava que ele veio correndo atrás de mim. Olhei para Pedri que deu de ombros e gesticulou com a cabeça para que eu fosse com ele.
- Adrián, pode me dar apenas 2 minutos? Preciso resolver algo muito importante com o Pedri.
- Não precisa, eu passo na farmácia para comprar o remédio que você me disse e vou colocar gelo no local do incômodo. Obrigado pelo profissionalismo, Clara. - Ele se virou e saiu dali o mais rápido que pode. Senti meus olhos arderem e os cocei para que as lágrimas não caíssem. Droga, minha única chance depois de uma semana acabou de ir água abaixo.
Maldita hora para alguém se machucar tão grave assim. Juro que minha vontade agora é dar dois socos na perna de quem me atrapalhou. Parece que o universo não quer que eu me reconcilie com Pedri de maneira alguma, sempre que tento falar com ele algo dá errado.
Aparentemente eu só vou conseguir conversar com ele se nós dois estivermos trancados no mesmo cômodo e sem ninguém para nos atrapalhar por perto.
- Ele ficou bem depois disso? - Ferran me perguntou logo após eu explicar tudo o que aconteceu com a minha tentativa falha de explicar tudo ao Pedri.
- Quem, o jogador de La Masia? - Ele assentiu. - Está ótimo! Aparentemente aquela criança nunca pisou de mau jeito na vida! O escândalo que ele fez quando o Matteo abaixou perto do pé dele me deu vontade de ir lá e torcer o tornozelo dele de verdade pra ele sentir uma dor e ter um motivo de verdade para gritar.
Ferran e Gavira se entreolharam e começaram a rir sem controle enquanto eu ficava mais puta. Eu simplesmente perdi minha melhor oportunidade porque aquele pirralho deu uma "revelada" no pé? Juro que se o Adrián não estivesse comigo quando vimos o resultado dos exames eu mesma teria deslocado o pé dele para que minha chance perdida tivesse realmente um motivo plausível.
- Tudo bem, acho que você não está em uma boa fase mesmo. - Gavi comentou enquanto bebia seu suco. Ambos me convidaram para um lanche com o mesmo intuito de saber como minha conversa com Pedri havia acabado e decidimos vir juntos a uma lanchonete reservada próxima ao CT.
- Eu quero muito resolver isso de uma vez por todas, não estou mais suportando ficar tanto tempo longe dele. - Comentei observando meu café.
- Calma, você já tentou ir na casa dele? - Gavi sugeriu.
- Duas vezes, e nas duas me disseram que ele não estava em casa quando claramente estava.
- Droga, ligar com outro número? - Ferran deu a ideia.
- Comprei 3 chips novos e toda vez que ele ouvia minha voz desligava.
- E depois vocês falam que eu sou o mais cabeça dura dos três. - Pablo comentou surpreso com minhas palavras.
- Eu realmente não sei o que fazer, já tentei tudo que pensei e não consegui resolver nada.
- E se a gente te ajudar? - Gavi sugeriu enquanto olhava para Ferran.
- A gente? O que a gente pode fazer pra ajudar eles? - Torres perguntou e eu olhei para o Gavi. Se nem Ferran sabe como fazer isso, só resta ao Pablo dizer o que pensou.
- Simples, a gente liga pra ele dizendo que precisamos conversar com ele em algum barzinho ou restaurante e na verdade quem vai estar lá é a Clara. - Falou simples.
- Seria uma ótima ideia se vocês não fossem ter um jogo tão próximo e eu não tivesse passado alguns remédios para ele por conta do incômodo. Ele está de repouso para que a dor não se transforme em uma lesão mais grave.- Gavira bateu a testa na palma de sua mão e Ferran deu de ombros.
- Acho que só te resta continuar tentando mandar mensagens ou arriscar uma conversa no CT. - Deitei a cabeça sobre a mesa e resmunguei só ouvir Torres falar, e o pior é que ele não mentiu. Pedri poderia ser um pouquinho menos cabeça dura. Eu sei que não estou certa, mas se ele ao menos me deixasse explicar tudo seria um pouco mais fácil.
- Tudo bem meninos, obrigada por tentarem ajudar de qualquer forma.
- Não vamos desistir, se eu pensar em algo melhor prometo te ligar Clara. - Gavira falou enquanto segurava minha mão.
- Eu vou tentar conversar com ele, quem sabe ele não resolve pelo menos te ouvir em algum lugar mais calmo. - Ferran acrescentou.
- Espero muito que sim, só preciso que ele me escute, mesmo que depois ele não queira continuar com o que tínhamos.
- Vai dar certo Clara. - Gavi disse convicto e totalmente seguro em suas palavras. - Nós vamos ter que ir agora, o Xavi marcou uma reunião com os convocados e precisamos estar presentes logo.
- Marcou? Eu não lembro... - Ferran parou de falar no mesmo instante em que Pablo ameaçou partir para cima dele com um garfo. - Ah, é claro! Tinha esquecido da reunião hoje. Desculpa Clara, nós precisamos ir agora.
- Tudo bem, mas eu não estou sabendo de reunião alguma. Vocês tem certeza que é realmente hoje?
- Temos. É algo pessoal com os jogadores, por isso você não deve ter sido informada. Enfim, quer carona? - O mais novo sorriu travesso enquanto erguia a chave do carro.
- Boa sorte, se chegar viva em casa me liga depois. - O camisa 7 comentou enquanto caminhávamos para fora do estabelecimento.
- Muito engraçado Ferran. - Gavira mostrou o dedo do meio para Torres que riu.
- Meninos, parem de agir como crianças pelo amor de Deus. Obrigada pelo convite Gavi, minha amiga ficou de me encontrar aqui perto, lamento, mas terei que dispensar sua carona dessa vez.
- Tudo bem. Fique bem e não beba muito outra vez. - Sorri sem graça e ambos me deram um abraço antes de se encaminharem até seus carros.
Angela havia me ligado hoje mais cedo pedindo que assim que eu saísse do CT, ligasse avisando para que ela viesse me buscar. Pelo o que entendi, minha amiga quer minha ajuda com alguma coisa em relação a um projeto seu.
Claro que eu não iria negar esse pedido, até porque eu amo ajudar ela em suas criações e seria um ótimo passatempo para conseguir tirar Pedro de meus pensamentos.
Ao menos por algumas horas.
- Você tem certeza que a casa é realmente essa, não é? - Angela me perguntou pela décima vez.
- Gavi me passou a localização e aqui mostra que estamos no lugar certo. Vem logo. - A loira apertou a bolsa em sua mão e caminhamos em direção a porta da casa do Ferran.
Havíamos planejado uma noite das garotas para hoje. Quer dizer, apenas eu e ela com o máximo de besteiras e filmes que pudéssemos consumir antes de cair no sono no meio da sala.
Já estávamos nos preparando para iniciar tudo quando o Gavi me ligou totalmente assustado pedindo que eu viesse até a casa do Ferran.
Não entendi muito bem o que aconteceu, mas aparentemente o Ferran caiu da escada e acabou se machucando. Mal está conseguindo apoiar o pé sobre as almofadas de acordo com Pablo.
Por sorte, Angel estava com seu carro e se ofereceu para me trazer. Eu só lembro de ter pegado meus equipamentos e calçado minhas havaianas, estou usando um dos meus shorts curtos de tecido e uma blusa de alças com estampa "Brasil". Meu cabelo preso em um coque e meu rosto sem maquiagem alguma, pela gravidade que Gavi havia contado pelo telefone, deve ter sido algo realmente sério.
- Ainda bem que você chegou, Clara. O Ferran está no quarto dele. - Fomos recepcionadas por Gavi.
- O que aconteceu? Como ele caiu da escada? - Perguntei enquanto caminhávamos pela casa gigante do camisa 7.
- Eu sei lá, ele só disse que ia buscar alguma coisa lá em cima e escorregou ou tropeçou, só ouvi a queda e depois o grito de dor. - Subimos as escadas rapidamente e entramos em um corredor muito bem decorado.
- É melhor ligar para o Matteo, ele pode...
- Clara, você precisa ajudar ele agora! Qualquer coisa eu ligo para o Matteo e explico tudo. Mas agora é melhor você mesma ver o estado do pé dele. - Angela deu de ombros e continuou andando ao meu lado. No meio de tanta correria eu acabei deixando meu celular no carro dela. - Aqui é o quarto dele, pode entrar. - Concordei e segurei a maçaneta.
- Ferran, Gavi me ligou pedindo que eu viesse aqui te ajudar. - Assim que adentrei o quarto me senti totalmente confusa, a cama estava vazia. - Pablo, você tem certeza que ele está aqui?
- Absoluta. Talvez ele tenha ido para o banheiro, sei lá. - Andei um pouco para longe da porta, se ele não está conseguindo apoiar o pé nas almofadas, como chegou no banheiro? Ouvi a porta ser puxada com força e um barulho de chaves me deixou preocupada. - Gavi? O que aconteceu?
- Oi Clara. - Escutei a voz do Ferran do outro lado da porta e minha mente ficou completamente confusa. O que está acontecendo?
- Ferran e Gavira, se isso for uma brincadeira de mal gosto eu juro que vou deixar vocês sem jogar por uma temporada inteira. - Deslizei sobre os meus calcanhares na direção daquela voz. Pedri. Pedri está parado a pouco mais de 3 metros de mim, agora me encarando fixamente. - Me diz que você não tem nada haver com isso? - Perguntou sem me olhar totalmente.
- O que? Eu vim aqui porque o Gavi me ligou dizendo que o Ferran tinha se machucado. - Pedro fechou os olhos e respirou fundo.
- Gavi também me ligou dizendo que o Ferran tinha recaído e estava muito mal. Filhos da mãe. - O espanhol passou por mim e deu alguns socos contra a porta. Eles haviam nos enganado para trazer ambos até aqui e depois trancar a gente em um quarto.- Abram a porta.
- Desculpa Pedri, não vai rolar. Sugiro que aproveite algumas horas aí dentro com a Clara. Aproveitem e conversem um pouco. - Ferran disse. - E pelo amor de Deus, não transem na minha cama.
Um soco forte foi disparado contra a porta me fazendo dar um pulo pelo susto.
Controlei um pouco a minha respiração que estava mais desregulada que o normal e me aproximei um pouco da porta.
- Angela? Angel, convença esses dois a abrirem a porta por favor. - Falei o mais calma que consegui no momento.
- Clara, eu juro que não sabia de nada disso, mas vocês precisam conversar e essa é a única maneira que eu vejo. Desculpa, mas eu estou junto dos meninos nessa. - Ótimo, se nem minha amiga quer me ajudar, o que eu faço agora?
Ouvimos os passos dos três se afastando de onde estávamos e Pedri respirou fundo se afastando de mim. Coloquei minha maleta no chão e forcei um pouco a maçaneta.
- Não adianta forçar, é mais fácil você quebrar essa maçaneta do que conseguir abrir. - Tirei minhas mãos da mesma e cruzei os braços. O clima entre eu e ele era péssimo. - Está com seu celular? Podemos ligar para alguém vir abrir aqui.
- Eu... deixei ele no carro da minha amiga. - Mordi o lábio inferior e ele passou a mão pelo rosto.
- Ótimo, agora vamos ficar aqui até aqueles dois idiotas decidirem abrir a porta. - González andou pelo quarto e eu o observei. Assim como eu, Pedro estava vestido casualmente. Uma bermuda moletom, uma camiseta na mesma cor e uma sandália nos pés.
Agora tudo faz sentido com aquela cena hoje mais cedo na lanchonete, por isso Gavi inventou aquela tal reunião, ele tinha pensado em tudo isso. Droga, eu deveria ter imaginado que isso tudo era algum plano deles.
Mas já que estamos aqui e aparentemente não vamos sair tão cedo, acho que devo aproveitar a oportunidade.
- Pedri... - Chamei por seu nome o fazendo erguer a cabeça. - Acha que pode me escutar agora?
- Clara, eu não sei se... - Me aproximei um pouco dele e toquei levemente em seu braço.
- Por favor, mesmo que você queira encerrar tudo entre nós dois depois. Eu só quero que você me permita explicar tudo. - Sua expressão estava séria, ele não sabia muito bem se continuava me ignorando ou se deixava sua mágoa de lado por um tempo. - Por favor, Pepi.
- Tudo bem, o que tem para me dizer? - Ele sentou sobre a cama e fez um gesto para que eu me sentasse próxima a ele e assim eu o fiz. Respirei fundo enquanto finalmente tomava coragem para conseguir lhe dizer tudo.
- Eu sinto muito por ter agido de maneira tão idiota e egoísta com você.- Seus olhos estavam fixos em mim e sua feição permanecia séria. - Eu não deveria ter te tratado como se você não fosse nada para mim porque você é, você significa muito para mim.
- Mesmo que eu seja, você não demonstrou nada disso quando disse aquelas palavras. Tem noção do quão idiota eu me senti naquele momento? - Abaixei o olhar de seu rosto e suspirei.
- Eu sei que não justifica minhas atitudes e tão pouco minhas palavras, mas eu fiquei muito nervosa com toda aquela situação. De fato tinha muita coisa em jogo ali, mas eu só me importei com uma parte dela, a parte material, eu não te coloquei como prioridade naquele momento e esse foi o meu pior erro.
- Como você mesma disse, não justifica suas atitudes e nem suas palavras. Tem ideia do que eu pensei naquele momento?
- Que eu só estava com você por interesse? Você disse, e eu entendo completamente que você...
- Não Clara, eu só disse aquilo da boca pra fora. Eu sei que você não é nada daquilo, mas eu senti que você nunca gostou de mim da mesma forma que eu gosto de você. Eu tentei te acolher no momento que, seja lá o que nós temos, entrou em algo delicado e se tornou frágil, e o que você fez? Me culpou por toda a situação e não me permitiu que nós dois passássemos por aquilo juntos. A forma que você tratou a gente como se não fossemos nada me doeu muito mais do que eu esperava.
- Pepi... - Segurei uma de suas mãos e o espanhol fez uma pequena menção de tirá-la, mas acabou permitindo que eu o tocasse. - Eu gosto de você, gosto muito de você. E a forma como eu reagi a tudo aquilo tentando te culpar por uma coisa que não estava em nosso controle total foi mais por reação a um trauma que eu ainda não consegui superar totalmente. Eu errei muito com você, você me tratou muito bem e sempre me demonstrou que realmente queria estar comigo enquanto eu sequer tive coragem de enfrentar meus pais.
Acariciei seus dedos e senti os mesmo apertando levemente os meus me fazendo sorrir de canto.
- Eu comentei com você uma vez sobre o meu ex lá do Brasil, quando eu e ele namorávamos a minha maturidade para estar em um relacionamento era totalmente inexistente e ele se aproveitou daquilo para me manipular da forma que ele queria. Por ele ser mais velho que eu e jogador da base de um time carioca, ele tinha uma certa relevância com o público, e depois que ele conseguiu transar comigo o jeito que ele me tratava mudou. - Respirei fundo. - Tudo só piorou quando nosso relacionamento vazou para a mídia no início da carreira profissional dele como titular no time principal, ele passou a brigar comigo por absolutamente tudo e ia em incontáveis festas onde ficava com várias ao mesmo tempo. O pior momento que eu vivi ao lado dele foi na minha última semana no Brasil, meu tio já tinha perdido os movimentos no acidente e eu havia conseguido a bolsa para a UAB. Quando ele descobriu que eu estava planejando minha mudança e pretendia acabar o que tínhamos, ele partiu pra cima de mim, eu já tinha visto ele estressado outras vezes, mas naquele dia foi diferente, ele estava fora de controle e me bateu. Tenho certeza de que ele só não abusou de mim e não me bateu mais porque um dos amigos de time dele chegou exatamente no momento em que ele estava fazendo tudo, graças a ele eu consegui sair daquela situação.
Pedro tinha sua atenção totalmente focada em mim, sua mão que antes segurava levemente a minha, agora a apertava com certa força.
O meu relacionamento com o Vitor foi uma das piores coisas que eu já vivi em toda a minha vida, felizmente eu pude sair daquilo e seguir em frente com minha vida. Porém eu sei que muitas mulheres não têm a mesma sorte que eu.
Contar sobre tudo o que o Vitor me fez, agora, já não me deixa tão apavorada quanto antes. Mas assim que toda a situação aconteceu eu simplesmente tive crises de pânico só de lembrar do nome dele.
- Você... você fez alguma denúncia em relação a isso, não fez? - Ergui minha cabeça e neguei.
- Eu não poderia, se eu fizesse, eu estaria envolvida em um processo jurídico e não iria conseguir viajar para Barcelona na outra semana. Sem contar que ele iria pagar a fiança e estaria livre no dia seguinte. Meus pais até tentaram levar tudo para um processo judicial alguns meses depois, mas como esperávamos não deu em nada. - Mordi meu lábio inferior e desviei o olhar de Pedro. - É por isso que meus pais não suportam a ideia de eu estar envolvida com outro jogador, e sempre ficam agindo como se eu fosse uma garotinha de 5 anos quando digo que conheci algum homem.
Pedro segurou meu queixo e ergueu minha cabeça para encarar seus olhos.
- Corazón, eu não sou a porra do seu ex namorado. - Ouvir sua voz me chamar de corazón depois de 1 semana inteira me deixou arrepiada e fez meu coração acelerar. - Eu nunca faria mal algum a você.
- Eu sei que não faria, mas todo o meu medo me deixou toda insegura em relação a qualquer relacionamento e acabei tendo aquela reação com você. Me desculpa por não te contar isso antes, desde o início eu deveria ter explicado sobre essa parte do meu passado. Teríamos evitado muitas coisas.
- Clara, eu quero que saiba que eu te entendo. Não foi um episódio fácil e com certeza nunca vai sair da sua mente, mas você não pode permitir que o seu passado atrapalhe o seu futuro e muito menos o seu presente.
- Sei disso, Angela me disse algumas coisas e eu percebi que quando te tratei como se não fosse nada para mim eu agi como o Vitor fez comigo. Eu não tinha o direito de tratar você daquela maneira. - Seus dedos acariciaram meu rosto.
- Isso não pode se repetir, Clara. As pessoas não tem culpa do que aconteceu com você. Não pode deixar que isso afete sua vivência com as outras pessoas. Se fosse ao contrário, você gostaria que eu tivesse agido da mesma maneira? - Neguei e ele suspirou. - É exatamente isso, você não se colocou no meu lugar e fez tudo aquilo. Me machucou muito te ver me tratando daquela forma.
- Me perdoa, eu nunca quis machucar você. Eu só agi por impulso e sem pensar.
- Me promete uma coisa então? - Permaneci olhando para ele esperando que continuasse com suas palavras. - Sempre que estiver com medo ou qualquer coisa te incomodar, me prometa que virá falar comigo para resolvermos a situação?
- Então você me perdoa?
- Você pode prometer e realmente cumprir isso?
- Posso. Claro que posso corazón, confio em você de olhos fechados. - Ele sorriu e tocou a ponta do meu nariz com o seu polegar.
- Está perdoada mi corazón. - Pedro me puxou para si e me envolveu em um abraço apertado. O peso que eu tinha sobre meus ombros parecia ter evaporado completamente para longe de mim.
Agora sim eu posso sorrir verdadeiramente outra vez. Pedri já faz parte da minha rotina, esses dias longe dele me deixaram totalmente atordoada.
- Obrigada corazón. - Fiz carinho em seu nariz com a ponta do meu e o espanhol me deu um selinho demorado. - E eu quero que saiba que nós somos algo, não sei explicar exatamente o que somos, mas nós somos.
- Minha futura senhora González? - Sorri com sua fala e concordei. - Mal posso esperar para que de fato seja totalmente minha.
- Pepi, eu também quero pedir desculpas por ter sido uma babaca com você quando disse que tudo era fácil. Claro que eu sei que você passou por muita coisa antes de chegar até onde chegou.
- Não se preocupe, eu sei que o seu tio é uma das suas prioridades e eu te admiro por isso. Vamos fingir que não dissemos coisas ruins um para o outro, e vamos apenas tirar aprendizados com isso e evoluir nossa maturidade. Tudo bem?
- Tudo ótimo! Acho que nunca amei tanto alguém quanto eu amo você. - Ao ouvir minhas palavras, nós dois congelamos. Eu acabei de dizer que amo ele. Deus, eu disse em voz alta que amo ele!
- Você... eu ouvi direito? Você acabou de dizer que me ama? - Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios e eu senti minhas bochechas arderem.
- Eu disse. Eu amo você Pedro. - Pepi agarrou minha cintura me puxando para o seu colo e me apertou contra si. O espanhol segurou meu rosto e aproximou nossos lábios dando início a um beijo repleto de saudades.
- Eu também amo você, Clara. - Propagou entre nosso beijo e eu acabei sorrindo boba. Não esperava que iria conseguir dizer essas palavras a ele agora. E muito menos que ele também seria recíproco quanto a elas. - Juro que se tivesse um anel aqui eu te pediria em casamento agora.
Ri com suas palavras e acariciei seu rosto.
- E eu aceitaria sem exitar. - Deixei um selinho em seus lábios.
- Acha que eles vão demorar muito para abrirem a porta?
- Sinceramente? Não faço ideia. Mas eu pretendo ficar grudada em você até eles lembrarem que nos prenderam aqui. - O jogador riu de canto e deitou sobre a cama me puxando para si. - Estava morrendo de saudades de você.
- Nem me diga, esses dias longe de você foram bem agoniantes. Só queria sentir seu cheiro de novo. - Seus dedos percorreram meus lábios enquanto ele olhava para parte do meu rosto. - A diretoria te chamou? O que aconteceu?
- Matteo me ligou no mesmo dia, marcaram uma reunião comigo no dia seguinte. Pensei que iriam me demitir, acho que nunca tive tanto medo de perder um emprego como tive na última semana, não ia conseguir ficar sem te ver todos os dias, até quando eu não quisesse.
- Então quer dizer que você enjoa de mim por me ver no CT senhorita Guimarães? - Ele começou a fazer cócegas pelo meu corpo e eu não pude segurar minhas risadas. Odeio sentir cócegas. - Mas o que aconteceu depois?
- Laporta disse que não seria a primeira vez que isso acontecia, mas eles acreditaram, eu acho, que não passamos de bons amigos. Ele também disse que não abriria mão dos meus serviços com o clube e já assinei o contrato como fisioterapeuta da equipe.
- É sério? Você conseguiu a vaga definitiva?
- Não só a vaga definitiva, como também a antiga vaga do Matteo. Laporta e Matteo me deram a promoção da minha vida e agora eu só estou abaixo do Matteo.
- Mi vida, isso é incrível! Você conseguiu alcançar seus objetivos! Porra, estou muito orgulhoso e feliz por você! - Ouvir aquelas palavras vindas dele me deixaram extremamente feliz.
- Novo apelido? - Sorri enquanto mordia meu lábio.
- Sabes que és mi vida mi amorcito.
"Você sabe que é minha vida, meu amor."
- Você que é mi vida, obrigada por não ter desistido de mim.
- Nunca desistiria de você. Mas agora temos o nosso trato, certo?
- Claro. Farei o possível para não quebrar ele, você sabe que eu sou um pouquinho desastrada.
Uma risada escapou de seus lábios.
- E é por isso que eu me apaixonei por você. Quer casar comigo agora?
- Eu quero. Mas também quero uma aliança e flores. - Disse com uma expressão séria e ele fingiu anotar na palma da mão.
- Anotado mi amor. Vou comprar um campo de flores e uma joalheria inteira para você se quiser.
- Bobo.
Enquanto o tempo passava e nós esperávamos a boa vontade dos nossos amigos, eu e ele permanecemos deitados conversando sobre os dias que passamos longe um do outro.
Eu sentia meu coração bater cada vez mais forte sempre que lembrava que nos resolvemos. Não sei quando me tornei tão dependente assim dele, mas não consigo mais ver meus dias sem ter esse homem ao meu lado.
Tudo com ele é incrível. Ele é perfeitamente incrível.
A luz do sol já havia invadido o quarto de Ferran e eu e Pedri já tentamos abrir a fechadura com alguns objetos que encontramos na minha maleta e no quarto.
Não fazemos a menor ideia de que horas possam ser, nenhum de nós estamos com celular. Por sorte os treinos costumam ser um porco mais tarde e só por isso estamos mais tranquilos, porém eu estou morrendo de fome, quer dizer, ambos estamos pois desde ontem a noite não comemos nada.
- FERRAN! - Gritei por seu nome outra vez e me joguei sobre a cama novamente. Já tinha gritado tanto que minha garganta chegava a irritar um pouco.
- Aquele idiota deve ter saído e esquecido de nós dois aqui. Juro que vou matar ele quando sair daqui. - Sentou-se ao meu lado.
- Será que a Angela foi embora?
- Ela ficou lá fora com os meninos, não foi? - Concordei. - Será que ela iria embora e te deixaria?
- Muito provavelmente não, ela não me deixaria aqui sem ter certeza que estou bem. - Pepi me olhou com um sorriso malicioso e eu neguei enquanto ria.
- Você sabe que pode ter rolado, né?
- Se depender da Angela, eles perdem o interesse nela antes mesmo de saberem que tinham.
- Por que? Com todo respeito, ela é uma mulher bonita.
- Eu sei, mas relacionamento não é muito o forte dela. O último cara que tentou ficar com ela hoje é nosso melhor amigo.
- O tal Lucca quis ficar com ela? - Ergueu uma das sobrancelhas. - Então ele já quis você também?
Ri enquanto assenti e vi Pedro fechar a cara.
- Ele não tinha se assumido gay, isso foi no início, assim que nos conhecemos.
- Espero que ele realmente não queira mais nada. - Inclinei meu corpo para mais perto dele e deixei um beijo demorado em seus lábios.
- Lucca está em um relacionamento sério com um cara há alguns meses. Fique tranquilo, mi amor, a fruta que eu gosto ele chupa até o talo.
Antes que Pedro pudesse falar qualquer coisa, alguém destrancou a porta me fazendo pular da cama.
- Mil perdões, a gente dormiu assistindo um filme e eu só acordei agora. - Ouvi a voz totalmente sonolenta de Angela e a loira sorriu igual uma criança perturbada quando nos viu próximos. - Deu certo? Vocês se resolveram? Posso voltar a planejar o casamento?
Pedro riu e eu senti minhas bochechas arderem, o fato da minha melhor amiga ser extrovertida é que sempre fala o que pensa sem ao menos cogitar se aquilo é bom ou ruim.
- Que horas são? Onde estão Pablo e Ferran? - Pepi perguntou enquanto descíamos as escadas.
- Gavi foi embora ontem. - Eu e o espanhol nos entre-olhamos e seu olhar malicioso me fez ter vontade de rir.
- Ficou sozinha com o Ferran, Angel? - Ela mostrou o dedo do meio.
- A gente assistiu um filme e comeu uma pizza na SALA e pegamos no sono lá. - Sua afirmação me fez rir.
- E onde o Ferran está?
- Foi levar as coisas do café da manhã para a cozinha, aliás são 9h da manhã.
- Pensei que estavam tentando nos matar de fome. - Disse assim que adentrei a cozinha e vi Torres com uma bela xícara de café nas mãos.
- Deu certo? Vocês são um casal de novo? Não vou precisar ouvir o Pedri chorando de madrugada? - O camisa 8 jogou uma uva no amigo que desviou. - Vocês não transaram na minha cama, transaram?
- Cala boca idiota! - González deu um soco de leve no ombro do garoto.
- Nunca mais durmo naquele quarto. Eca! - Fez sua melhor cara de nojo.
- Se te consola, nós não transamos na sua cama. - Falei enquanto saboreava uma boa xícara de café.
- Menos mal. Diminuíram meu trauma. - Deus, o drama que Ferran faz com absolutamente tudo chega a ser engraçado.
- E você? - Pepi provocou.
- O que tem eu?
- Fiquei sabendo que passou a noite toda com a Angela. - Minha amiga engasgou com as frutas que comia e Ferran arregalou os olhos.
- Pura merda González, isso é pergunta que se faça? - Angel disse enquanto partia pra cima do Pedro.
- A gente nem se conhece cara, só assistimos um filme. Só isso.
- Clara, pode me ajudar? - Respirei fundo controlando meu pequeno surto de risadas e segurei os braços de Angela que desferiu pequenos tapas contra as costas de Pedri.
- Acho que não gosto muito dele, troca de namorado por favor. - Neguei enquanto sorria, a loira mostrou o dedo do meio ao espanhol.
Mesmo com algumas brincadeiras de duplo sentido que Ferran e Pedri insistiam em trocar, o nosso início do dia foi bem leve.
Talvez pelo fato de finalmente ter resolvido tudo e estar bem com a pessoa que eu amo tenha ajudado? É, com certeza, isso ajuda.
Mas ver que tudo está dando certo e finalmente estou conseguindo seguir em frente e alcançar as coisas que sempre sonhei me deixam ainda mais radiante.
Nesse período de tempo, já entrei em contato com os médicos que farão a cirurgia do tio Marcelo e já temos tudo certo e encaminhado, o que me deixa ainda mais aliviada.
Aos poucos tudo está tomando seu devido rumo e acontecendo no seu tempo.
Jamais terei palavras suficientes para descrever tudo que esse momento representa para mim. Independente da aprovação ou não dos meus pais, nada me fará mudar de ideia sobre minha nova decisão.
Agora eu serei minha prioridade. Como sempre deveria ter sido.
Minha felicidade está em primeiro lugar. Estar com o Pedri é o que me faz feliz.
Ouvi um amém? Dessa vez eu não dei uma de sumida.
Nosso último capítulo de 2023 está entregue. Aliás, nosso casal se resolveu e saíram do enemies para o loves novamente 🙌🏽
Enfim, o que acharam sobre o Vitor? Clara decidiu encarar seu trauma e se abriu com o Pepi sobre o passado.
Juro, os meus surtos lendo o primeiro "eu amo você" deles dois foi muito incrível! Sem contar que tudo voltou para o seu devido lugar e as coisas estão se resolvendo. Clara se permitindo superar o passado e sendo feliz com o Pedri, eles declarando que se amam e o Ferran finalmente conheceu a Angela.
Nada a declarar sobre essa nova amizade aí...
Encerramos 2023 com as melhores energias e pensamentos possíveis para 2024, que possamos alcançar tudo aquilo que buscarmos nesse próximo ano!
Irei preparar o próximo capítulo o mais rápido possível para deixar meus votos de ano novo para vocês, mas até lá, se cuidem e bebam água suficiente.
Espero que gostem 💙
Até o próximo capítulo!
📝 Não esqueçam de comentar e deixar o seu voto no capítulo em!? 🤍
Beijos de luz,Kalisa.
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