Cap. 007

O que usar em um jantar com um jogador de futebol, em um lugar que você sequer sabe onde fica?

Essa é a pergunta que estou me fazendo desde a hora em que acordei. Meu quarto está em uma zona completa com roupas e vários sapatos espalhados pelo chão.

Angela e Lucca estão em ligação comigo enquanto eu tento encontrar algo que eu goste.

— Clara, para de surtar e me ouve. — Angel falou e eu parei de andar de um lado para o outro.

— Eu vou mandar uma mensagem para ele dizendo que o Zico se engasgou com uma bola de pelos. — Essa foi a melhor ideia que veio na minha cabeça. — Isso, aí eu não vou conseguir ir e...

— Garota! Deixa de ser louca por três segundos da sua vida, pelo amor de Deus! — Lucca me cortou enquanto ria.

— Deixa o gato flamenguista fora das suas loucuras. — Saiu em defesa do Zico pela primeira vez. — Escuta, pega aquele seu vestido preto. — Angela me deu algumas instruções. Se essa garota não existisse eu estaria perdida.

— Qual deles?

— O que tem as alças mais grossas, ele fica na metade das suas coxas. — Levantei algumas opções e Angela me indicou do qual ela estava falando.

— Ele não é muito simples?

— Ele não disse para onde vocês vão, então é melhor não arriscar uma coisa muito extravagante. — Concordei e saí do campo de visão deles para vestir o vestido. — Perfeita, agora pega aquele salto preto de ponta fina.

— Angel, eu sei que você é a estilista aqui, mas isso é muito simples. — Falei enquanto aparecia na frente da câmera.

— Meu amor, como você disse, eu sou a estilista aqui. Por acaso você quer arriscar um vestido de gala?

— Óbvio que não.

— Então pronto. Solta esse cabelo e não exagera na maquiagem. Vou precisar desligar agora, mas qualquer coisa você me liga. Beijos amiga, e boa sorte com seu boy.

Antes que eu pudesse retrucar, ela desligou.

— Filha da mãe.

— Você sabe que ela te ama, não sabe?

— Sinceramente? Acho que ela me odeia. — Soltei meu cabelo do coque e peguei meu colar o colocando em meu pescoço.

O nervosismo que eu estou nesse momento mal cabe dentro do meu peito. Sinto que meu coração está prestes a sair pela boca a qualquer momento.

Até mesmo meu gato já andou tanto atrás de mim que desistiu e se deitou por cima da bagunça de roupas sobre a minha cama.

— Lucca, você acha que está bom? Talvez eu devesse trocar o vestido...

— Se você fizer isso eu juro que ligo para a Angela agora e conto que você não quis acreditar nela. Você está linda Clara. Não tem que trocar nada. Agora termina de se arrumar e espera ele.

— Tá bem... mas eu não estou totalmente segura. — Lucca me mostrou o dedo médio e uma notificação apareceu no meu celular no mesmo instante.

"Acabei de chegar, corazón. "
Pedri

— Meu Deus... Lucca... — Chamei sua atenção e virei a tela para ele.

— Retoca o batom, põe perfume e pega sua bolsa. Boa sorte chica, amo você. — Essas foram as palavras do meu amigo antes de desligar.

Respirei fundo e peguei tudo, retoquei o batom e o perfume e me despedi do Zico. Espero muito que eu não estrague tudo como ontem a noite.

Cumprimentei o porteiro e saí para a frente do prédio. Olhei brevemente para os lados e encontrei rapidamente o carro dele. Um jaguar F-Type preto.

Senti meu coração acelerar assim que vi o espanhol abrir a porta e sair do carro enquanto eu me aproximava devagar.

Diferente de todas as vezes que eu o vi, Pedri estava com uma roupa um tanto formal. Apenas seus tênis brancos que davam um ar mais esportivo ao seu look.

Os olhos dele passearam pelo meu corpo e se encontram com os meus no momento em que parei em sua frente.

— Você... — Sua língua passou entre seus lábios e por alguns momentos as palavras pareciam não sair de sua boca.

— Minha roupa está muito simples? É isso? Olha, se você esperar 5 minutos eu posso subir e trocar. Vai ser...

— O que? De jeito nenhum. Você está linda, corazón. Ainda mais linda se é que é possível. — Nossos olhares não desviaram em momento algum enquanto as palavras saiam de sua boca. Minhas bochechas arderam um pouco e um sorriso fraco escapou. — Vamos?

— Claro. —  Pedro segurou minha mão rapidamente e me guiou até o carro. Abriu a porta para mim e deu a volta.

Enquanto ele dirigia eu o observava de canto, não sei o que falar ou como agir.

É a primeira vez que nos encontramos depois de tudo que aconteceu ontem a noite.

Sem contar que não falámos muito sobre esse jantar ter sido uma aposta.

— Clara, está tudo bem? — Seu olhar viajou para mim quando ele parou em um sinal vermelho.

— Está sim. —  Uma de suas mãos tocou meu joelho e subiu levemente até minha coxa. Um pequeno arrepio percorreu pelas minhas costas e mordi o lábio inferior.

— Você não disse nada até agora, pensei que tivesse acontecido algo. — Ele voltou a dirigir enquanto sua mão continuava repousando sobre minha perna.

— Não aconteceu nada, é só que... bem, eu não sei se foi uma boa ideia aceitar esse convite. — Comentei com a voz baixa, minhas inseguranças estão falando mais alto nesse momento.

— E por que não seria? Acha que vou te sequestrar e te levar para uma casa abandonada onde vou te esquartejar e sumir com seu corpo depois disso? — Olhei para ele que tinha um sorriso de canto em seus lábios e acabei rindo.

— Você não faria isso, eu sumia com você antes. — Pedri riu e apertou um pouco minha coxa.

— Então relaxa, corazón. Desde quando entrou aqui você ficou tensa, quero que sinta a vontade, entendeu? —  Balancei a cabeça em positivo. — Quer me contar como foi seu dia?

— Você não quer saber como foi meu dia Pedro. Só está tentando me deixar menos tensa.

— Quem disse que não quero saber sobre o seu dia? — Uma pequena troca de olhares. — Foi tão entediante assim?

— Passei o dia maratonando séries com o Zico e... — Sua voz logo me cortou.

— Quem é Zico? — Seus olhos viajaram para mim por breves segundos.

— É meu melhor amigo, mora comigo desde quando me mudei para Barcelona... —  Antes que eu pudesse concluir sua voz me interrompeu novamente.

— Não sabia que morava com outra pessoa. Ele e você são apenas amigos? — Reprimi uma risada enquanto mordia a ponta da minha unha.

Pedri está preocupado em saber sobre o Zico? Como eu vou explicar que ele é só um gato?

— Pedro, ele é o meu gato. — Suas sobrancelhas se ergueram.

— Um apelido carinhoso? E ele te chama de quê, minha gata? — Deixei uma risada escapar e respirei fundo.

— Não, ele não me chama de minha gata porque ele nem fala. O Zico é um gato de estimação, ele é literalmente um gato. —  González me olhou surpreso e eu não consegui controlar minha risada.

— Esse tempo todo era um gato? — Assenti e ele negou. — Então minha preocupação foi atoa?

— Você não me deixou explicar. E por que estaria preocupado?

— Teria que disputar você com outra pessoa, não gosto muito de compartilhar, entende? — Senti meu rosto arder.

— Ele é um gato ciumento, só para você saber. — Pedri riu e parou em frente a um restaurante.

— Ele aprende a dividir você. — O espanhol desceu para abrir a porta para mim e segurou minha mão antes de entregar a chave do carro para um segurança.

— Dividir, o que quer dizer com isso? — A verdade é que eu entendi exatamente o que ele quis dizer, mas às vezes se fazer de sonsa é o melhor caminho.

— Você vai descobrir em breve, corazón. — Seus olhos fixaram nos meus e ficamos assim até uma mulher nos acompanhar até uma mesa reservada.

Ela apenas nos cumprimentou e saiu logo em seguida.

— Esse lugar é lindo. —  Acabei pensando alto e Pedro tocou minha mão que repousava sobre a mesa.

— Fico feliz que tenha gostado, escolhi pensando em você. — Nossos dedos se juntaram e ele começou a brincar com meu anel. —  Por que não me fala sobre você?

— Eu? Não sou tão interessante assim, senhor González. — Ele riu e voltou a insistir.

— Por favor, fale sobre qualquer coisa. Que tal o seu país e seus pais? Ou como chegou em Barcelona? — O encarei e deixei um pequeno sorriso se formar em meus lábios. Ele quer saber sobre o meu país e os meus pais? Se for um truque para impressionar, ele pode se parabenizar porque dá muito certo.

— Bem, eu sou brasileira, como você já sabe. Eu nasci em Pernambuco e cresci lá até os meus 8 anos, daí o meu pai conseguiu um emprego melhor no Rio de Janeiro e nos mudamos para lá. Só que quando eu fiz 17, consegui a bolsa para a faculdade aqui em Barcelona e me mudei para a casa de uma amiga da minha mãe até conseguir minha independência.

Pedri ouvia atentamente cada palavra que eu dizia, o que me deixou surpresa. Normalmente as pessoas perguntam sobre minha trajetória para chegar em Barcelona e quando eu tento falar elas não dão a mínima.

Mas ele não, Pedro está prestando atenção em tudo e mal pisca os olhos.

— Como é Per... Pernambuco? — Sorri com o seu sotaque ao falar o nome do meu estado e tentei explicar.

— É incrível! As praias, as festas, as comidas, as pessoas, absolutamente tudo de lá é perfeito. Meu pai é pernambucano e minha mãe carioca. E eu amo o fato de ter tido a chance de poder viver um pouco de cada estado, os dois são perfeitos. O carnaval do Rio é outro patamar.

— Eu tenho muita vontade de conhecer o Brasil, principalmente o Rio. Já ouvi muitas coisas sobre a cidade, e as praias também.

— Quer um conselho? — Ele assentiu. — Conheça as praias de Pernambuco, elas são únicas! A beleza delas é algo de outro mundo.

— Agora você me fez ter vontade de conhecer esse lugar. — Sorri boba com suas palavras.

— Garanto que não vai se arrepender!

— Pela forma que você fala, eu tenho certeza que não irei. Mas e os seus pais, vocês se vêem sempre? — Acho que eu preferia que ele não tivesse feito essa pergunta. Meu sorriso diminuiu um pouco. — Corazón, disse algo que não deveria?

— Não, é só que, faz um pouco mais de 1 ano que não os vejo pessoalmente. Nos vimos ano passado quando eu me formei e eles vieram passar algumas semanas por aqui.

— Por que eles não vieram outra vez, corazón? Não sente falta deles?

— Sinto! É claro que sim, mas não posso brigar com a realidade. — Forcei um sorriso e apertei um pouco sua mão. — Se tudo der certo eles vem para o natal e o ano novo nesse fim de ano.

— Confio em você, vai dar tudo certo. — Sorri com sua fala e um garçom serviu nossas taças com vinho e em seguida trouxe alguns pratos. — Espero que não fique brava, mas eu preferi escolher o jantar antes, assim não perdemos muito tempo.

— Como assim não perdemos muito tempo? O que você está planejando?

— Só vai descobrir depois que comer. É uma surpresa, corazón. — Disse e piscou o olho.

— Não gosto de surpresas, González. — Observei a comida e agradeci por ser algum tipo de macarrão.

— Prometo que dessa vez você vai gostar bastante, Guimarães. — Olhei para o seu rosto um pouco desconfiada. O que esse garoto deve ter aprontado?

Pelo pouco que conheço dele, sei que posso esperar algo que nunca sequer passaria pela minha cabeça. Mas o que?

Até mesmo pelo fato de que o nosso jantar está muito calmo até agora.

Pedri González é um homem totalmente imprevisível, e infelizmente ou felizmente, isso me atrai... bem mais do que deveria.

O nosso jantar passou em um piscar de olhos, quando me dei conta, Pedro já havia pago a conta e estávamos dentro de seu carro outra vez.

— Corazón, tenho duas surpresas para você a partir de agora. Você tem horário para chegar em casa?

— Onde você pretende me levar para precisar saber disso, Pedro? — Suas mãos giraram o volante enquanto um sorriso de canto surgia em seus lábios.

Seria errado achar isso sexy?

— Uma surpresa, mas preciso saber da sua disponibilidade antes de te levar até lá. E então?

— Por coincidência eu tenho toda noite livre. — Um sorriso maior se formou em seus lábios e ele me olhou de canto.

— Perfeito! Acho que meus planos para essa noite irão sair bem melhor do que eu esperava.

— Isso deveria me deixar preocupada?

— De jeito nenhum corazón. — A atenção do espanhol estava totalmente focada na estrada, Pedri é um motorista muito responsável e isso me deixa muito mais tranquila. — Eu tenho total certeza da resposta, mas é melhor ter certeza.

— Se tem tanta certeza da resposta, por que vai perguntar mesmo assim?

— Só para ter certeza de que eu estou certo. —  Revirei os olhos e ele continuou. — Você costuma passar a madrugada inteira em alguma festa?

Estranhei um pouco aquela pergunta, por qual motivo ele quer saber disso?

— Eu não costumo ir em muitas festas, mas sempre que vou fico até o dia amanhecer.

— Eu sabia! — Convencido — Um amigo meu fez uma festa recentemente, mas os nossos horários acabaram não batendo e como vários outros amigos dele não puderam participar também ele decidiu marcar um after party hoje.

— E então você decidiu que iria me levar como sua acompanhante?

— Mulher inteligente, já te disseram que isso é atraente? — Lhe mostrei o dedo médio e ele negou. — Tenho passe livre para levar um acompanhante. Mas se você quiser eu posso te levar para casa, ou podemos fazer qualquer outra coisa. Só não gostaria de terminar nossa noite aqui.

Os olhos dele olharam diretamente nos meus enquanto esperava uma resposta.

Não vejo problemas em ir a uma festa com ele, o real problema é, quem vai estar nessa festa?

—  Não terá jornalistas, te garanto. —  Mordi meu lábio inferior e desviei o olhar para frente. Acho que não vai ser um problema.

— Tudo bem...

— Você aceita ir comigo? —  Assenti. Um sorriso se formou nos lábios dele e em alguns segundos Pedri adentrou um condomínio de luxo. — Se você se sentir desconfortável e quiser ir embora é só me falar, tudo bem?

Concordei com a cabeça e os seguranças abriram passagem para o jogador. González estacionou em frente a uma casa, ou melhor, uma mansão que tinha um som extremamente alto e desceu para abrir a porta para mim.

Andamos até a porta e os seguranças olharam diretamente para mim, aliás, eu sou a intrusa aqui.

— Ela é minha acompanhante. — As palavras dele bastaram para que os olhares desviassem. Um dos homens abriu a porta e Pedri colocou a mão em minha cintura enquanto andávamos no meio de várias pessoas que se moviam agitadas.

Para um after party isso aqui está bem lotado.

— De quem é essa festa, González? — Falei alto em seu ouvido e ele negou. Nossas mãos se entrelaçaram e Pedri continuou andando.

Eu estou totalmente perdida, não sei onde estou, não sei onde ele quer me levar. Deus, onde eu me meti?

Subimos algumas escadas que davam acesso para um segundo andar onde havia uma concentração menor de pessoas.

Pedri me puxou até um grupo onde pude identificar de cara, Raphinha e sua Esposa, Ansu, Gavi e Ferran.

Os garotos se cumprimentaram e assim que bateram os olhos em mim um sorriso malicioso apareceu em seus lábios.

— Vocês pretendem nos explicar como chegaram aqui juntos? — Ferran questionou e minhas bochechas arderam.

— Eu convidei a Clara e ela aceitou. — Uma resposta curta que fez todos nos olharem sem acreditar.

González sentou em um sofá e me chamou para o seu lado, me deixando entre ele e a Natália.

— Chegaram a muito tempo? — Questionou os jogadores que estavam na rodinha.

— Não muito. — Respondeu Ansu.

— Eu e a Taia chegamos cedo, daqui a pouco já vamos dar no pé. — A loira concordou e olhou para mim com um sorriso. Talvez percebendo minha confusão.

— Quer ir comigo pegar uma bebida? — Ela falou perto do meu ouvido e eu assenti. —  Nós duas vamos pegar uma bebida, já voltamos.

González segurou minha bolsa e piscou o olho para mim. Virei o rosto sentindo o mesmo arder e a Taia segurou minha mão.

— Não nos apresentamos ainda, me chamo Natália, mas pode me chamar de Taia se preferir.

— Claro, eu me chamo Clara. — Ela sorriu e chamou um barman.

— Uma água com gás, e você Clara?

— Pode ser qualquer drink sem álcool. — O homem assentiu e se retirou.

— Você e o Pedri estão juntos? — Olhei para a loira um pouco assustada e ela riu. — Desculpa, acho que fui invasiva.

— Não, tudo bem. Eu e o Pedro somos apenas amigos.

—  Claro, é só que eu nunca tinha visto ele trazer uma acompanhante em nenhuma festa. Achei que fossem algo mais. — O homem nos entregou nossas bebidas e agradecemos. — O Neymar ainda não deu as caras, nem imagino o que aquele louco deve estar fazendo.

Engasguei com a minha bebida e tossi algumas vezes. Oi? Eu ouvi bem? Neymar está aqui? Isso quer dizer que esta festa é dele?

— Tudo bem?

— Sim, é... só tomei rápido demais. Você disse que o Neymar não apareceu ainda?

—Sim, ele quem fez toda essa loucura de uma festa em plena quarta feira. — Sorri um pouco nervosa e voltamos para onde estávamos antes. Todos estavam com bebidas em mãos, e isso inclui Pedri.

— Está à vontade, corazón? — Pedro perguntou em meu ouvido.

— Neymar, González? Sério? — Falei em seu ouvido e ele riu.

— Juro que iria te contar... ou não, depende se ele fosse aparecer aqui. — Revirei os olhos e ele riu.

Um tempo relativamente grande desde a nossa chegada havia se passado. Acabamos entrando em uma conversa descontraída e isso me deixou mais confortável.

Taia é um amor de pessoa e sempre dava um jeito de puxar assunto comigo. Estávamos em uma conversa um tanto animada quando uma voz alterada nos cumprimentou.

— Caralho, finalmente encontrei vocês! Achei que não viriam. — Neymar, o camisa 10 da seleção brasileira chegou aos berros no nosso grupinho.

O brasileiro começou a cumprimentar todos os jogadores e em seguida cumprimentou Natália.

— Você eu não conheço, só deu sorte de subir com alguém ou é namorada de alguém aqui e eu não tô sabendo? — Tenho certeza que devo estar mais vermelha que uma pimenta nesse momento.

— Tá deixando ela sem graça seu idiota. — Taia interrompeu aquilo e agradeci mentalmente por isso.

— Essa é a Clara, ela veio comigo. —  Pedri finalmente falou e o brasileiro sorriu.

— É um prazer te conhecer Clara. — Ele me puxou para um abraço e deixou dois beijinhos em cada lado do meu rosto me fazendo rir. —  Me conta o que esse daí fez para conseguir um mulherão desses?

— Cala a boca porra! — Raphinha intercedeu. — Clara é nossa fisioterapeuta no time, e é cria do Brasil também.

— Nem fudendo, tú é brasileira? —  Assenti e ele fez uma comemoração. Por incrível que pareça, todo o meu nervosismo foi embora, a quantidade de álcool que ele deve ter ingerido deve estar alterando os 5 centavos de neurônios bons que restam nessa cabeça.

— De qual Estado você é? — E do nada todos estavam prestando atenção em mim outra vez.

— Eu nasci em Pernambuco, mas morei uma boa parte da minha vida no Rio.

— Se eu apostar que você é flamenguista eu ganho? — Deixei uma risada escapar e assenti. —  Nenhuma possibilidade de mudar para outro time?

— Nunca. — Um dos garçons que passavam pelo local se aproximou de nós e Neymar fez um gesto o chamando.

— Que tal um shot para minha nova amiga flamenguista? — Acabei rindo com sua proposta e concordei. — Com calma, tenho uma ideia melhor. Quem topa um body shot?

Os rapazes se entreolharam e sorriram entre si.

— Não seria uma má ideia, mas vamos fazer isso com quem? — Ansu perguntou.

— A gente escolhe duas pessoas e faz uma proposta. — Isso não me parece uma boa ideia. — Eu tenho uma indicação. — Ferran disse e olhou para mim.

— Eu também tenho! —  Gavi disse enquanto olhava para Pedri.

— Ótimo! Cara, traga um combo de tequila e as outras coisas para o body shot. — Ney falou para o rapaz.

— Vocês não deram os nomes das vítimas até agora. —  Raphinha disse.

— Clara, você é a única aqui que ainda não fez um body shot. Pelo menos não em um rolê nosso. Tudo bem que é a primeira vez que estamos em uma festa, mas seria um bom pretexto. O que me diz? — Ferran me questionou e eu arregalei os olhos.

— Ih, bem vinda ao grupo Clarinha. Eles fazem isso com todos os novatos. — Taia disse e Raphinha acabou concordando.

— Vocês não estão falando sério, estão? —  Disse e Ferran riu enquanto pegava a bandeja que o garçom acabou de trazer, uma dose de tequila, um pote pequeno com sal e uma fatia de limão.

— Isso é sério. Mas se não quiser, tudo bem. Não vamos forçar. — Meu corpo inteiro se aqueceu com essa ideia, mas ao mesmo tempo eu não tinha certeza disso.

— Tudo bem, eu aceito a proposta de vocês. — Eles gritaram em forma de comemoração.

— É isso aí garota! Agora precisamos de alguém solteiro para te ajudar. — Gavi disse e olhou para seu amigo que fingia não prestar atenção.

— Ninguém melhor que o mestre das bodys shots. — Todos olharam para González que fez sua melhor cara de paisagem.

Deus, no que eu estou me metendo?

— Nem adianta disfarçar González, você sabe que é com você. — Ansu falou e o espanhol lhe mostrou o dedo médio.

— Vão se foder, eu não sou o mestre de nada.

— Você nunca recusa uma, cara. — Então ele já fez isso várias vezes? Caralho.

— Vocês enchem o saco pra caralho, sabiam? — O jogador se levantou e ficou do meu lado. — Se a Clara quiser eu faço.

Os garotos e até a Taia comemoraram, o que me fez ficar com vergonha. Eu sei o que acontece em um body shot, e é exatamente isso que me preocupa.

— Clara, tudo bem por você? — Natália me perguntou e eu a encarei enquanto pensava.

— Acho que alguém não tem tanta coragem assim. —  Merda. Ansu acabou de mexer diretamente no meu ego, odeio que as pessoas duvidem de mim, simplesmente sou competitiva demais para esse tipo de coisa.

— Vamos de uma vez ou vou precisar chamar outra pessoa? —  Eles gritaram eufóricos e Pedri ergueu as sobrancelhas enquanto negava.

Sentei no sofá e o espanhol colocou a pequena fatia de limão entre meus lábios. Segurei a mesma com minha boca e ele aproximou sua boca do meu pescoço deixando pequenos beijos naquela área e pequenas lambidas.

Em seguida, colocou um pouco do sal na região e continuou passando sua língua por alí. Ferran e os outros gritavam loucamente enquanto algumas pessoas se aproximavam e acabavam gritando junto.

Isso é bem melhor do que eu esperava.

Torres pegou a dose de tequila e a derramou devagar sob a minha clavícula, um pequeno arrepio percorreu meu corpo enquanto o líquido escorria entre os meus seios e Pedri sorriu ao olhar brevemente para a região.

— Posso? — Sua voz saiu praticamente em um sussurro e eu assenti. Logo seus lábios e língua estavam deslizando suavemente pela minha clavícula e descia perigosamente até perto dos meus seios.

Quanto mais bebida era derramada, mais a língua desse homem percorria minha pele e meu corpo inteiro se arrepiava por isso. Segurei levemente em seus cabelos e sem querer — ou não — sua boca encostou brevemente na parte superior dos meus seios.

Senti seus lábios se moverem em um sorriso e a bebida acabou.

Ferran gritou comemorando e as pessoas que assistiam acabaram por comemorar junto.

Pedro deixou uma pequena mordida em meu queixo e aproximou nossas bocas para chupar o limão.

— Caralho, isso que eu chamo de boas vindas. —  Neymar comentou enquanto ria.

— Pelo amor de tudo que for sagrado, saiam de perto um do outro. A tensão sexual que vocês estão exalando está me sufocando aqui. — As palavras de Ansu me fizeram desviar o olhar de Pedri e finalmente voltar à realidade.

A pior parte é que eu não posso usar a bebida como desculpa porque a única bebida que tocou a minha boca até agora foi uma taça de vinho.

Pedro estava com suas mãos apoiadas em minhas coxas e um olhar intenso sobre mim.

Tirei o pedaço de limão que ainda estava em minha boca e levantei rapidamente. Nem eu estava acreditando na loucura que acabei de fazer.

Era um jantar. Apenas um jantar e agora tem pessoas falando sobre uma tensão sexual que nunca existiu.

Droga, não dá para ficar perto dele e conseguir processar adequadamente. Simplesmente meu lado profissional é extinto quando se trata desse homem.

— Eu... onde fica o banheiro? — Meu corpo inteiro estava arrepiado. Preciso sair daqui o mais rápido possível.

— Tem um no final do corredor. É só virar a esquerda e seguir reto. — Assenti e peguei minha bolsa.

A maneira com que eu me afastava sentia minhas pernas tremerem.

Em que momento eu me permiti deixar ser afetada por um homem? 

Por aquele homem!

Finalmente encontrei o banheiro e entrei no mesmo. Respirei fundo e me aproximei do espelho, apoiei minhas mãos sobre a bancada e me olhei.

Minhas bochechas estavam ruborizadas e meus lábios entreabertos. A respiração totalmente desregulada e para piorar havia tequila e sal no meu pescoço.

Joguei meu cabelo para trás e liguei a torneira com intenção de conseguir limpar minha clavícula e pescoço. Peguei algumas toalhas de papel e me sequei.

A vantagem de ser bem prevenida é que dentro da minha bolsa eu sempre trago pequenos frascos de perfume. Parece que para essa noite foi crucial.

— Aí caralho. — Tomei um breve susto e virei na direção da voz vendo uma garota com mais ou menos a minha idade de pele morena bronzeada e cabelos ondulados bem definidos.

— Me desculpa, não sabia que estava ocupado. — Peguei minhas coisas com rapidez e ela riu tranquilamente enquanto lavava as mãos.

— Relaxa, seria pior se fosse um homem. — Ela tem um bom ponto. — Aryella, muito prazer.

— Clara, o prazer é todo meu.

— Você veio acompanhando alguém? Não tinha te visto a festa inteira. — Perguntou enquanto retocava o gloss em sua boca.

— Não faz muito tempo que eu cheguei. — Um ajuste em seu decote e um chiclete na boca. Ela é extremamente atraente.

— Tá explicado. Por que não vem comigo aproveitar a festa? Essa parte aqui do segundo andar está uma chatice só. — Eu não diria isso —  Vamos curtir um pouco, você está me parecendo tensa demais.

— Eu vim acompanhando uma pessoa, não acho que seja... — Ela me cortou e me puxou enquanto saíamos do banheiro.

— Ele não vai sentir sua falta, pelo menos por uma ou duas músicas. Precisa se animar um pouco. —  E de repente nós passamos por onde eu estava antes. Porém passamos tão rápido que eles sequer notaram.

Aryella puxou um garçom delicadamente e pegou dois copos de bebida.

— Aqui, me da sua bolsa, vou deixar com os meus amigos e já volto. Se anima vai. — Forcei um pequeno sorriso e tomei um gole daquela bebida, mais álcool do que qualquer outro componente que deveria ter aqui.

Ela não demorou nem cinco minutos para voltar, o que quer dizer que os tais amigos dela estavam perto de nós.

Em que diabos eu me meti?

Luzes piscando, bebidas e pessoas. Qual a melhor combinação para uma noite de quarta feira?

Eu não diria que essa é a melhor opção, mas já que estamos aqui porque não aproveitar!?

Eu e minha nova amiga já estamos no nosso quinto copo e eu sinto que era exatamente isso que faltava para me animar de vez.

Nós duas estamos no meio de uma pista de dança rebolando ao som de músicas brasileiras e reggaeton. Essa é uma ótima combinação.

— Ih, não sabia que dançava tão bem assim. É latina, não é? — Sua voz embargada gritou próxima ao meu ouvido enquanto meu quadril estava encaixado no dela e nós duas rebolamos até o chão.

— Isso. — Ela sorriu e ficamos de costas. A desvantagem de ser tímida é que eu só me solto um pouco se ingerir álcool. E na grande maioria das vezes acabo bêbada.

Aryella não me parece aquele tipo de riquinha mimada — que ela é rica, eu tenho certeza, ela não veio acompanhando ninguém. Foi convidada — na verdade, ela é o típico padrão de garota rebelde que adora dar trabalho para os pais.

— Se o teu pai sonhar que você já está bêbada antes das 03h da madrugada ele vai te deserdar Aryella. — Uma voz grave falou atrás de nós.

Eu não bebi muito, por mais animada que eu esteja, ainda estou consciente. Diferente da minha nova amiga que mal se equilibrava, nem sei como conseguia se manter em pé.

— Vaza daqui Rodrygo, nem o meu primo está aqui. Meu pai só vai saber se você ou o seu amigo ali contarem alguma coisa. — Olhei brevemente na direção da voz e quase saí correndo.

Rodrygo, jogador do Real Madrid está parado atrás de mim tentando convencer uma mulher de 20 anos a parar de beber.

— Vamos logo. — Ele tentou segurar a mão dela que se afastou e acabou chamando atenção.

Se ele tentasse alguma coisa iria arrumar uma bela confusão. Por isso, antes que isso pudesse acontecer eu preferi interferir.

— Ary, meus pés estão doendo muito. Podemos nos sentar um pouquinho? Prometo que voltamos a dançar depois que eu melhorar um pouco. — A garota pensou por uns segundos e assentiu.

Rodrygo fez um gesto em agradecimento e ela passou um dos braços ao redor do meu pescoço.

O brasileiro passou em minha frente e seguiu devagar para que pudéssemos acompanhá-lo.

O terror de uma pessoa bêbada e outra sóbria se chama escadas.

Com um certa relutância da parte da Aryella, conseguimos subir as escadas.

A maioria das pessoas estavam na parte inferior, o que faz da parte de cima um lugar — em teoria — mais calmo e com certeza menos agitado.

Ferran acenou para mim e tive a absoluta certeza de que ele estava bêbado quando tentou ficar de pé e só não caiu porque Ansu e Gavi seguraram seu corpo.

Pedri não estava com eles, o que eu achei um pouco estranho, onde ele havia se metido?

— Obrigado pela ajuda, ela fica dez vezes mais chata quando bebe. — Rodrygo me agradeceu assim que consegui fazer com que ela sentasse.

— Não foi nada, acho melhor alguém levar ela para casa. Não acho que ela vai durar muito tempo acordada. — Ele riu enquanto concordava.

— Aliás, não me apresentei. Muito prazer, Rodrygo. — Como se precisasse de algum tipo de apresentação para eu saber quem ele é.

— Muito prazer. Me chamo Clara. — Sua expressão facial foi um pouco confusa quando disse meu nome, como se já tivesse ouvido falar de mim antes. — Sabe onde ela deixou minha bolsa? Preciso voltar para onde meus amigos estão.

— Claro, vem cá. — Acompanhei ele até outros rapazes que pareciam um pouco alterados pela bebida. —  Vini? Onde está a bolsa que a Aryella te entregou?

E então ele virou na minha direção. Sua expressão de surpresa foi nítida enquanto eu só conseguia sorrir sem graça.

— Clara?

— Oi Vinícius. — Um sorriso se formou em seus lábios e ele me puxou para um abraço.

— Fiquei esperando sua mensagem até hoje, sabia? — Ri nervosa e me afastei um pouco.

— Tá falando português por que caralho? — Rodrygo perguntou enquanto observava Aryella.

— Lembra da brasileira que eu te falei que conheci naquele jogo contra o Barcelona? —  Ele assentiu e Vini continuou. — Então, essa é a brasileira do jogo.

Dei um sorriso sem graça e Rodrygo sorriu.

— Não é possível! O mundo realmente é pequeno ou isso aqui foi uma grande coincidência? — As palavras do atacante me deixaram um pouco constrangida.

— Eu diria que foi Aryella. — Disse e eles riram.

— Vou lá cuidar dela. Se o primo dessa garota sonhar que ela está assim eu tô fudido. — Falou por fim e se retirou.

— Então, essa bolsa aqui é sua? — Vini me mostrou minha bolsa e eu a peguei de sua mão.

— Obrigada por segurar.

— Posso te pedir uma coisa em troca? — Questionou.

— Bem, acho que sim.

— Poderia me passar o seu número? —O encarei surpresa — Quero ter certeza de que não irá sumir totalmente outra vez.

Eu sempre fui muito lerda com esse tipo de coisa, mas, Vinícius Júnior está flertando comigo?

— Eu posso te passar, só não garanto te responder. — Ele riu e entregou seu celular para mim. Digitei meu número e lhe entreguei o aparelho.

— Uma mulher difícil? — Concordei e ele sorriu de canto — Adoro desafios.

Meu Deus, o que eu estou fazendo? A umas três horas atrás eu estava em um jantar com Pedri González e agora estou flertando com Vinícius Júnior?

Isso que eu chamo de reviravolta.

— Eu deveria ter te perguntado desde o dia do jogo, mas acabei esquecendo. Você é solteira, não é?

— Essa resposta também me interessa. É solteira, corazón? —  Aquela voz rouca me fez arrepiar.

É incrível como ele sempre aparece em momentos inapropriados.

— Já entendi, alguém chegou na frente. — O brasileiro disse em português e levantou as mãos para o alto.

— Eu não estou em um relacionamento com ninguém, Vinícius. Então sim, eu estou solteira. — Ele fez um biquinho na direção do Pedri que travou o maxilar enquanto encarava o brasileiro.

— A gente se encontra por aí Clarinha. —Ele piscou para mim e González segurou minha cintura deixando um pequeno aperto ali.

Encarei o espanhol e ele fez um gesto pedindo para sairmos daqui.

Que porra acabou de acontecer aqui?

Depois de uma eternidade eu ressurgi das cinzas! Peço inúmeras desculpas por não ter postado o capítulo na semana passada, mas acabou sendo muito corrido para mim e eu não tive como parar para escrever.

O tão esperado jantar dos dois finalmente aconteceu! Só não foi da maneira que eles esperavam...

Quem diria que o reencontro da Clara com o Vini ia acontecer justo nesse dia!?

Enfim, o próximo capítulo será com a visão do nosso querido Pepi.

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Espero muito que gostem e até o próximo capítulo! 💙

Beijos de luz,Kalisa.

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