Cap. 004

Acordei com os raios de sol que adentravam o quarto e insistiam em incomodar meu sono. Nem ao menos tentei abrir os olhos de primeira pois sabia que seria em vão.

Normalmente as minhas ressacas não são tão fortes, mas sinceramente, a dor de cabeça que eu estou sentindo agora me faz repensar essa certeza que eu tinha.

Com muito custo eu abri meus olhos devagar. Ergui meu corpo até estar sentada e estiquei meus braços.

Nada de anormal.

Até eu começar a raciocinar bem e observar o quarto em que eu estou. Nem a Angela e muito menos o Lucca tem um quarto desses.

Desci o olhar pelo meu corpo e me joguei na cama outra vez. Meu vestido não fazia mais "parte de mim", agora eu estava vestida com uma camisa do Barcelona.

Eu espero não ter feito algo de que vá me arrepender depois. Eu me conheço muito bem a ponto de saber que posso ser extremamente inconveniente quando estou bêbada.

Inconveniente até demais em algumas situações.

Tirei o cobertor do meu corpo e levantei, preciso descobrir onde eu estou e o que aconteceu para eu ter chegado aqui.

Observei o quarto que aparenta ser bem luxuoso comparado aos que eu dormi antes.

Minhas coisas estavam organizadas em uma poltrona perto de uma mesa gamer. Me aproximei dos objetos e vasculhei com o olhar a procura de algo que pudesse me indicar onde eu estava.

Fixei meu olhar em alguns porta retratos e fui até os mesmos.

Peguei um em minhas mãos e trouxe para perto do meu rosto, minha visão não é uma das melhores sem os meus óculos.

Na foto estão três pessoas, uma mulher, um homem mais velho e um rapaz.

Olhei para o homem mais novo na foto e tive a impressão de já tê-lo visto antes.

Ou ele parece muito com alguém que conheço.

Desviei o olhar do porta retrato e notei que meu celular estava conectado a um carregador no outro canto da mesa. Nem quero imaginar a quantidade de mensagens e ligações perdidas que devem ter nesse aparelho.

Minha mãe sempre me disse que um dia a minha curiosidade iria me colocar em uma enrascada. Sinto que isso está prestes a acontecer agora.

Devolvi o porta retrato ao seu devido lugar e comecei a andar pelo quarto. Ele é bem grande e tem duas portas, fora a que dá acesso ao restante da casa ou seja lá onde eu esteja.

A primeira porta que eu abri me deu acesso a um closet enorme. Adentrei o mesmo observando todas aquelas roupas e sapatos e parei diante de um arsenal de camisas do Barcelona, o dono disso aqui deve ser muito fanático pelo Clube.

Toquei levemente o tecido da blusa, apenas para ver o número que tinha nas costas, e fiz uma cara de nojo quando vi o número oito estampado.

Um torcedor do Barcelona e fanático pelo Pedri. Ótimo lugar para eu estar.

- Sua mãe não te ensinou que mexer nas coisas dos outros sem permissão é falta de educação? - Dei um pulo me virando na direção da voz e quase caí quando vi de quem se tratava. - Dormiu bem, corazón?

O dono desse closet não é fanático pelo Pedri. Ele é o próprio Pedri.

Pedro González. Pedro González está parado bem na minha frente a uns cinco passos de distância de mim. Seus braços cruzados e sua cara de sarcasmo me faziam ficar nervosa. Não acredito que dentre tantas opções eu consegui parar justo na casa dele.

O espanhol deu um passo em minha direção e eu dei um para trás. Desci meu olhar pelo seu corpo e me arrependi no mesmo instante. Ele estava sem camisa, usava um calção e seus cabelos estavam molhados, o que indica que ele tomou banho recentemente.

- Eu... como eu cheguei aqui? - Tentei mudar o rumo dessa conversa e ele riu. Pedri virou de costas e começou a andar em direção a saída. Andei apressada atrás dele e quando estávamos saindo do closet ele puxou a porta atrás de mim me encurralando entre seu corpo e aquele pedaço de madeira atrás de mim.

Prendi minha respiração e fechei os olhos. Ele não pressionou o corpo contra o meu, mas seus braços estavam acima da minha cabeça e seu rosto inclinado na direção do meu.

- Quer os detalhes ou prefere que eu seja direto? - Abri os olhos e me deparei com o olhar intenso dele.

- O que você quer dizer com "detalhes"? - Ele riu me deixando nervosa e abaixou a cabeça na altura do meu ouvido.

- Você é bem divertida quando está bêbada. E dança muito bem também. - Sua voz saia extremamente rouca e como um sussurro em meu ouvido.

Virei o rosto na direção oposta e ele colou os lábios no meu pescoço rindo naquele local e me causando um arrepio.

- O que aconteceu? - Insisti outra vez. Pedri afastou o rosto do meu pescoço e finalmente se afastou de mim me dando a chance de respirar normalmente.

O jogador andou até a cama se deitando na mesma e fez um gesto com a mão para que eu me aproximasse. Revirei os olhos e me sentei na ponta da cama.

- Você bebeu. Bebeu muito mais do que devia e um idiota quis se aproveitar da sua situação. - Ele dizia tudo com um tom de seriedade enquanto seu maxilar ficava travado. - Gavi nos alertou que ele estava te incomodando e nós demos um jeito de tirar você daquela situação.

- E como eu cheguei na sua casa?

- Você estava sozinha. Antes de falar algo, ainda tentamos ligar para alguém, na verdade você tentou, mas ninguém atendeu e seu celular ficou sem bateria um tempo depois. Eu iria te levar pra sua casa se tivesse me falado onde ficava.

- Eu esqueci meu endereço? - Ele assentiu e eu passei as mãos pelo meu cabelo.

- Você me pediu para te levar pro Brasil. Morava lá?

- Eu nasci lá, morava lá até me mudar para Barcelona. - O espanhol me olhou com atenção e concordou. - Como eu troquei de roupa?

- Essa é a melhor parte. - O encarei assustada e ele riu. - Eu não troquei sua roupa corazón, você mesma que fez isso. Só te ajudei com os saltos e com seu rosto.

- Meu rosto?

- Você quis lavar antes de dormir, só te ajudei a passar o sabonete e você quase me matou quando arrancou aqueles cílios. - Prendi uma risada e desviei meu olhar do dele. - Depois eu pedi pra você esperar enquanto eu trocava de roupa e quando eu voltei já tinha dormido na minha cama. - Voltei a olhar para ele e senti minhas bochechas arderem.

- Onde você... - Ele nem esperou que eu terminasse para me responder.

- Dormi no quarto de hóspedes. Aliás, não me respondeu se dormiu bem?

- Que horas são? - Não vou dizer nunca que essa foi uma das minhas melhores noites de sono, tirando a leve dor de cabeça, o meu corpo está totalmente relaxado. Esse colchão é muito macio e não vamos comentar sobre o cheiro maravilhoso que os travesseiros e os cobertores têm.

- Pouco mais de uma da tarde. - Me levantei da cama em um pulo e quase caí. Maldita pressão. - Vai com calma aí, tá tudo bem? - Ele sentou do meu lado e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

- Por que não me enxotou daqui desde cedo? Deus, eu tenho tanta coisa pra resolver. - Ele riu e segurou meu queixo me fazendo encarar seus olhos.

- Você precisava descansar. Amanhã é sua estreia no CT, precisa estar totalmente relaxada, não acha? - Pedri tirou sua mão do meu rosto e se levantou. - Tem um kit de higiene pessoal no banheiro, e eu não tenho roupas de mulher aqui então peguei um par das minhas roupas que talvez sirvam em você. Te espero lá embaixo para almoçar. Fique à vontade.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa ele saiu do quarto me deixando sozinha. Levantei da cama indo até o banheiro e logo de cara vi as coisas que ele falou em cima da pia. Shampoo e produtos para cabelo, uma escova de dentes nova, creme dental, um sabonete líquido e uma muda de roupa.

Tranquei a porta do banheiro e retirei a camisa do meu corpo ficando apenas com a minha peça íntima. Por melhor que tenha sido meu sono eu preciso muito de um banho para relaxar completamente e conseguir processar melhor.

O mais incrível de tudo isso é o fato de nós dois termos passado mais de cinco minutos no mesmo lugar sem brigarmos um com outro.

Deixei a água descer desde a minha cabeça até os meus pés. Acho que eu devo agradecimentos a ele e às demais pessoas que me ajudaram.

Merda Pedro, tinha que ser justo você a cuidar de mim?

Após uns 20 minutos eu já havia terminado meu banho. Minha pior decisão foi lavar o cabelo já que não tinha nenhum tipo de creme que eu pudesse usar para as ondas dos meus fios. Espero que o jeito que eu dei resolva um pouco.

As roupas que ele me deu ficaram enormes, a calça moletom não segurou de jeito nenhum na minha cintura. Fui obrigada a dobrar algumas vezes para ter um pouco de firmeza. Resumindo, a calça ficou como aquelas de cintura baixa e a camisa gigante como eu já esperava.

Calcei as sandálias dele e quis rir com meu estado, não que as roupas dele ficaram feias, mas são gigantes para o meu tamanho.

Peguei o meu celular que já estava com a bateria totalmente carregada e nem me dei ao trabalho de ligar o mesmo. Eu sei muito bem que quando fizer isso é bem provável que o aparelho trave com a quantidade de mensagens que meus amigos devem ter mandado.

Saí do quarto e comecei a andar por um corredor que dá acesso a algumas escadas. A casa é bem iluminada e muito decorada, cada detalhe parece ter sido escolhido a dedo e sinceramente, duvido muito que ele tenha alguma coisa haver com isso. Mesmo que cada detalhe lembre bastante dele.

Desci as escadas e dei de cara com uma sala de visitas. A quantidade de objetos quebrantes que tem nesse lugar me deixou atenta, eu e esse lugar somos totalmente inimigos.

Passei pelo lugar e encontrei a cozinha. Para a minha surpresa ele estava organizando os pratos e algumas comidas sobre a mesa.

- Serviram muito bem em você corazón. - Seu tom foi de completo sarcasmo. Pedri levantou o olhar para mim e uma de suas sobrancelhas ergueu. - Seu cabelo... por que está assim?

- Assim como? - Questionei confusa e ele fez um gesto com os dedos para representar os cachos e as ondas que meus fios formavam. - As ondas? - Ele assentiu.

- Achei que fosse liso, as três vezes em que nos encontramos eles estavam lisos.

- Prestou atenção no meu cabelo das outras duas vezes? - Ele mordeu os lábios e virou de costas.

- Você precisa de creme? - Fugiu em parte do assunto.

- Eu consegui me virar.

- Tem um pote nas coisas da minha mãe. Se quiser eu posso pegar pra você. - Ele ainda estava de costas e por algum motivo sua atitude me fez corar e sorrir.

- Não precisa se incomodar... - Pedri se virou e veio até mim segurando minha mão e me puxando até um quarto. Quando entramos ele me soltou e pegou um pote que estava em cima de uma mesa.

- Pode usar. - Peguei o pote de sua mão e destampei o mesmo. Peguei uma pequena quantidade e espalhei pela minha mão antes de aplicar no meu cabelo e começar a amassar o mesmo.

Os olhos do jogador não desviaram de mim por momento algum. A cada movimento que eu fazia em meu cabelo ele acompanhava com o olhar.

- Pronto. Obrigada pelo creme. - Coloquei o pote no local em que estava antes e ele mordeu os lábios.

- Não foi nada. Por que ele estava liso das últimas vezes? - Indagou rápido enquanto andávamos de volta para a cozinha.

- É mais fácil cuidar dele quando está liso.

- É mais bonito quando está com essas ondas. Tem certeza que não são cachos? - Sorri com sua fala.

- Não totalmente, tem cachos e ondas. - O jogador assentiu e pediu que eu me sentasse. - Desde quando você cozinha?

- E quem disse que eu cozinhei? - Encarei ele confusa e o espanhol me entregou um prato com uma comida que eu nunca tinha visto antes. - Eu fiz o pedido em um restaurante. Espero que goste de Paella.

- Na verdade... eu nunca comi isso antes. - Pedri sentou à minha frente e me encarou indignado.

- Você mora na Espanha a não sei quantos anos e nunca comeu um prato tão típico? Se eu te chamar de louca você ainda fica com raiva de mim.

- Olha aqui senhor cultura tradicional, eu só não tive curiosidade em provar antes tá bom? - O homem à minha frente me encarou com deboche e eu revirei os olhos.

Era bom demais pra ser verdade. Nós não conseguimos ficar no mesmo lugar sem trocarmos faíscas, isso é praticamente impossível.

Levei uma garfada até a minha boca e suspirei sentindo o sabor do camarão invadir minha boca. Um fato sobre mim é que eu sou completamente apaixonada por camarão, então a grande maioria dos pratos que têm esse fruto do mar tem ótimos pontos comigo.

A comida é simplesmente incrível, e convenhamos que eu realmente deveria ter comido antes.

Na verdade, eu já deveria ter feito muitas coisas antes. Eu moro em Barcelona há cinco anos praticamente e existem alguns lugares que eu sequer visitei.

Meu foco principal sempre foi os meus estudos, por ser a irmã mais velha eu sempre me cobrei em ser boa em tudo que eu faço.

Eu nunca poderia cogitar desviar minha atenção dos estudos e simplesmente perder a bolsa. Meus pais se encheram de dívidas para conseguir o dinheiro da passagem para Barcelona.

Não estar focada ou pensar em desistir nunca sequer poderiam fazer parte do meu vocabulário.

Mesmo que em alguns momentos eu já tenha pensado em desistir.

- E então? O que achou da comida? - Voltei a realidade com o espanhol falando comigo.

- É maravilhosa! O camarão é simplesmente perfeito.

- Gosta de camarão? - Assenti e ele concordou antes de continuar a falar. - Você estava sozinha ontem?

- Não. Quer dizer, até antes do ocorrido eu não estava sozinha.

- Foi com algum acompanhante então?

- Tinha ido com meus dois amigos. Mas não sei onde eles se meteram. - Ele balançou a cabeça e voltou a comer.

A presença dele não era estranha, por incrível que possa parecer eu me sinto bem e segura por estar perto dele. Acho que por ele ter cuidado de mim deve ter me dado esse sentimento de segurança.

- Eu te devo meus agradecimentos. - Falei quebrando o silêncio. Pedri me olhou surpreso. - Você me ajudou com uma situação embaraçosa. Se não estivesse lá nem sei o que poderia ter acontecido. Obrigada por tudo que fez Pedro.

- Olha, ela sabe ser educada. Tô impressionado. - Revirei os olhos me arrependendo no mesmo instante por ter lhe agradecido. - Relaxa corazón. Mas deveria agradecer ao Gavi e ao Araújo, eles que tomaram as iniciativas.

- Vou fazer isso quando encontrar com eles, mas, por agora eu tinha que te agradecer.

- Não foi nada. - Voltamos a comer em silêncio. Não sei como agir perto dele, uma parte de mim fica extremamente nervosa e sem jeito, principalmente com esse homem sem camisa e com essa barba por fazer.

- Sem querer ser inconveniente, mas eu preciso ir para casa. - Falei assim que terminamos de comer. Pedri retirou os pratos da mesa os colocando na pia e se virou para me encarar.

- Vou me trocar e você me diz seu endereço. - Pisquei os olhos confusa e ele explicou. - Vou te levar em casa, Clara.

- Quê? Não, nem pensar. Isso já é abusar da sua boa vontade. Eu vou pedir um Uber, só estava te avisando que preciso ir.

- Eu não vou deixar você ir de Uber. Não confio muito nesse tipo de transporte. - Sendo sincera, nem eu confio. Todas as vezes que entro em um dos carros mal respiro com medo de ser sequestrada ou abusada. Porém, não posso deixar que ele faça mais isso por mim, seria querer me aproveitar dele.

- Vai com essa roupa mesmo ou prefere vestir seu vestido? - Encarei o homem à minha frente e neguei outra vez. - Olha, se você não aceitar que eu te leve eu não deixo você sair dessa casa.

- Você não tem esse direito. - González se aproximou de mim e acariciou minha bochecha.

- Não duvide da minha capacidade, corazón. Vamos trocar de roupa? - Disse e passou por mim. Respirei fundo tentando manter a calma e me virei indo na direção do quarto dele outra vez.

Não acredito que estou seguindo as ordens dele, isso é ridículo!

Adentrei o quarto e agradeci por ele estar dentro do closet.

Peguei meu vestido e andei até o banheiro. Tranquei a porta do mesmo e desci a calça enquanto tirava a camisa.

Infelizmente tive que ficar sem nada por baixo das roupas, não iria usar a mesma calcinha depois do banho.

Joguei meus cabelos quase secos para trás e ouvi um barulho de algum objeto cair no chão.

Automaticamente levei minhas mãos até os meus seios e partes íntimas tentando me cobrir e encarei o espanhol totalmente paralisado na entrada do box.

Merda, ele não estava dentro do closet? Senti minhas bochechas arderem e ele piscou algumas vezes antes de virar de costas rapidamente.

Não acredito que isso aconteceu. Meu Deus, meu Deus, meu Deus!

- Caralho... desculpa Clara, pensei que você iria para o closet e não fechei a porta... merda. - As mãos dele deslizaram sobre seus cabelos e eu subi o vestido com uma rapidez absurda.

Saí do banheiro quase correndo e tentei regular minha respiração. Isso não deveria ter acontecido!

Ouvi a porta abrir e fechei os olhos. Como vou olhar pra ele agora?

- É... você já está pronta? - Sua voz saiu em um sussurro e eu assenti freneticamente. Acho que já passei vergonha demais por hoje.

Peguei minhas coisas de cima da cadeira e ele me esperou na porta, passei sem olhar para ele e descemos as escadas sem falar absolutamente nada.

Pedri me levou até um de seus carros e abriu a porta de um Cupra preto. Adentrei o mesmo e continuei com o olhar baixo. Isso foi muito constrangedor.

Coloquei meu endereço em seu celular assim que ele pediu e o espanhol deu partida no carro.

Não trocamos uma única palavra até chegarmos na frente do prédio onde eu moro. Ele estacionou o carro e eu abri a porta do automóvel, não estava com calçado já que não quis colocar os saltos outra vez.

- Obrigada por me trazer... e por tudo que fez. - Disse sem olhar diretamente em seus olhos.

- Já disse que não precisa agradecer. - Um silêncio desconfortável pairou sobre nós e ele voltou a falar. - Perdão pelo o que aconteceu, de verdade, eu não...

- Tá tudo bem Pedro. Não foi a intenção. Agora eu preciso subir. - Disse e ele assentiu. Saí do carro rapidamente e antes que eu pudesse me afastar totalmente ouvi sua voz uma última vez.

- Até amanhã corazón. - Andei com pressa até a entrada do prédio e finalmente respirei aliviada, eu estava tensa e com muita vergonha pelo acontecido.

Olhei através do hall de entrada e vi que ele havia ido embora. Cumprimentei o recepcionista e subi até meu apartamento, preciso urgentemente ligar para meus melhores amigos e contar toda a loucura que aconteceu ou irei enlouquecer sozinha se guardar tudo isso para mim.

- Como assim ele te viu nua! Puta que pariu Clara, deixou o menino passar vontade mesmo? - Joguei uma almofada contra Angela que gargalhava descontrolada enquanto eu contava o que aconteceu.

- Ele foi um fofo amiga. Não são todos que fariam tudo o que ele fez. - Lucca disse enquanto comia uma fatia de pizza.

- Eu não sei como vou olhar na cara dele amanhã. Vou morrer de vergonha só de lembrar. - Me joguei no sofá e ouvi Angel resmungar.

- Parou, ele foi respeitoso com você. Se fingir que isso não aconteceu pode voltar a sua relação saudável com o homem mais cobiçado da Espanha.

- Para Angela, eu realmente fiquei desconfortável. - Minha amiga assentiu e pareceu pensar um pouco.

- Eu sei, desculpa pelo comentário. Mas sério Clara, finja que nada aconteceu e ignore esse pequeno imprevisto. Tenho certeza que ele vai fazer o mesmo.

- Espero que você esteja certa. - Peguei uma fatia de pizza e levei até a minha boca, odeio o fato de que aqui não fazem pizza de frango catupiry, é o meu sabor favorito.

- Porra, eu já tinha ouvido falar de karma instantâneo, mas isso de vocês dois já passa de todos os limites. - Resmunguei com a fala de Lucca e infelizmente tive que concordar.

Pedri é uma boa pessoa, ele me provou isso muito mais do que eu esperava. Porém, não quero me aproximar dele, - até porque iremos trabalhar juntos, eu serei sua fisioterapeuta e ele meu paciente - e por isso preciso ser o mais profissional possível. Morro de medo de firmar uma amizade com um paciente e pensarem que deixarei isso influenciar no meu trabalho.

- Aquele seu gato preguiçoso ainda mora nesse apartamento? - Angela questionou.

- Claro que sim, e o Zico não é preguiçoso. - Sim, o nome do meu gato é Zico, igual o meu maior ídolo do futebol.

Minha amiga corinthiana e meu gato flamenguista não se dão muito bem.

De acordo com Angel, Zico não aceita que o Corinthians é "maior" e "melhor". Palavras dela, não minhas.

Óbvio que nunca iria concordar com isso, meu Flamengo sempre será o melhor e o maior. Mesmo que todos dissessem ao contrário eu irei sempre achar isso.

- Não superou sua rivalidade com o gato flamenguista até agora Angela? - Lucca disse enquanto prendia o riso.

- Acho que o espírito do coisa ruim que vocês tanto falam deve ter ficado totalmente naquele gato. - Começamos a rir e Zico apareceu se espreguiçando. Assim que notou a presença da Angela, meu gato rosnou para ela que lhe deu língua.

- Coisa ruim. - Joguei uma almofada na loira e o gato pulou em suas pernas a fazendo gritar.

Comecei a rir enquanto Angela gritava e tentava correr do gato. A relação de amor deles é bem diferenciada.

- Tá bom... já chega. Zico, deixa a Angel em paz. - Falei assim que consegui recuperar o fôlego. Peguei meu gato fazendo um carinho em sua cabeça e o bichano se acalmou.

- Peste. Se ele sumir misteriosamente, não fui eu. - O gato abanou a pata no ar em direção a garota que se afastou.

- Deveria assumir que ama ele de uma vez por todas. - Lucca disse enquanto enxugava os vestígios das lágrimas que escorreram de seus olhos. Nós dois literalmente choramos de tanto rir.

- Eu nunca iria amar esse troço. Deixa ele bem longe de mim, ouviu Clara?

- Pode deixar, não quero ter outra crise de risos como essa. - A loira me mostrou seu dedo médio e eu ri.

Levei o gato até a cozinha e coloquei uma boa quantidade de ração para o mesmo.

Já eram pouco mais das oito da noite, Angela e Lucca iriam embora daqui a pouco e eu preciso terminar de organizar minhas coisas para ir trabalhar amanhã.

Quem diria, eu realmente tenho um emprego!

Matteo foi bem claro quando me passou as instruções ontem. Não costumo falhar em nada do que faço, e agora não seria diferente.

Depois que Pedri me deixou em casa pela tarde, separei minhas coisas e as deixei sobre a cama. Tudo o que irei fazer agora é organizar tudo em minha mochila.

Até mesmo o uniforme eu já ganhei, Matteo pediu que trouxessem no meu endereço.

Eu realmente espero que amanhã dê tudo certo. Sabemos muito bem que Pedri e eu no mesmo ambiente não é algo muito recomendado.

Porém, espero que dessa vez eu não acabe no chão ou no próprio CT por uma chuteira ter voado no meu rosto.

Assim que meus amigos foram embora, eu dei uma organizada na pequena bagunça que fizemos na sala e decidi tomar um banho antes de dormir.

Coloquei meu celular para carregar e peguei o meu pijama de patinhos azuis enquanto caminhava até o banheiro.

Tomei um banho rápido e voltei para o quarto, retirei a toalha do meu corpo e passei meu hidratante.

É meio que impossível não lembrar do olhar daquele homem em mim, mesmo que não tenha sido intencional.

Aquelas orbes castanhas ficaram fixas em mim por breves segundos, mas que sinceramente pareceram minutos.

Fechei os olhos com força e balancei a cabeça. Não vou pensar nele, não mesmo.

Vesti meu pijama e apaguei a luz do quarto. Me enrolei no cobertor e senti meu gato subir na cama e se aconchegar perto das minhas coxas. Desde quando o adotei que ele tem esse costume de dormir comigo, independente se eu dormir no sofá ou até mesmo no chão, pode apostar sempre que Zico estará comigo.

Enquanto eu me aconchegava na cama voltei a lembrar dele. Ainda não me acostumei com a ideia de que vamos trabalhar juntos e principalmente depois do que aconteceu hoje.

Mas a Angela tem razão, não devo me apegar a isso. O melhor a se fazer é ignorar esse imprevisto.

O único problema é que, ele pode não querer apenas esquecer isso.

Okay Pedro González, você conseguiu ficar na minha cabeça por mais tempo do que eu gostaria.

Acho que tenho um pequeno probleminha a partir de hoje.

Perdoem qualquer erro ortográfico, mesmo revisando às vezes eu simplesmente esqueço como escreve palavras simples 🥲

Espero muito que gostem do capítulo, até a próxima sexta 💙

Beijos de luz,Kalisa.

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