Passou-se uma semana desde o ocorrido no Camp Nou. Desde aquele dia eu tenho evitado ao máximo falar sobre o meu pequeno imprevisto naquele jogo.

Mas como eu tenho Lucca e Angela como amigos, é quase impossível evitar que em qualquer conversa nossa eles não citem a bolada que eu levei. E essa ainda é a melhor parte se for comparar com as outras.

Na maior parte do tempo eu simplesmente prefiro ignorar ambos, caso contrário irei enlouquecer antes do tempo previsto.

A minha rotina durante esse último mês tem sido bem corrida. Por ter terminado a pós-graduação da faculdade, eu comecei a procurar por um emprego, mas não obtive muito sucesso durante as tentativas que fiz.

Muitas pessoas acabam não se interessando pelo meu trabalho por conta da minha idade. Devem achar que eu sou nova demais para ser uma boa profissional.

Enquanto eu rondava as minhas redes sociais noite passada, acabei encontrando uma clínica de fisioterapia esportiva que estava contratando novos profissionais, e com isso decidi tentar. Se eu estiver com sorte conseguirei um emprego.

Até o final da semana passada minha melhor amiga estava me ajudando, porém, com as coisas finais de sua faculdade, acaba sendo impossível me ajudar com essa busca.

Dei uma última olhada no meu look mais formal e respirei fundo antes de pegar minha bolsa com os documentos. Espero que dessa vez dê certo.

- VOCÊ O QUE? - Praticamente gritei e quase deixei meu celular cair assim que Lucca adentrou meu apartamento. - Você só pode estar brincando. Você está brincando não está?

- Pode me agradecer depois meu amor.
- Fechei os olhos enquanto massageava minhas têmporas e abri os olhos para encarar o loiro à minha frente.

Lucca havia me ligado a uns trinta minutos atrás dizendo que tinha uma notícia maravilhosa para mim e eu iria surtar quando soubesse.

Eu só não esperava que fosse surtar a ponto de querer espancar o meu melhor amigo.

- Clara, por que caralhos você está surtando com uma notícia dessas? - Angela contestou enquanto me segurava. - No mínimo, se eu fosse você, estaria pulando de alegria.

- Lucca, é sério, eu sei que você fez isso com a melhor das intenções, mas você sabe que eu odeio que as pessoas tentem resolver meus problemas. - Falei um pouco mais calma e o espanhol relaxou no meu sofá.

- Gostando ou não já está feito minha querida amiga. - Disse enquanto me dava seu melhor sorriso. - Agora você tem um emprego.

- E quem disse que eu vou aceitar isso? - Meus dois amigos me olhavam sem acreditar enquanto eu continuava. - Se, por algum acaso, eles realmente marcarem essa entrevista eu vou dizer que tudo não passou de um mal entendido.

- Se você fizer isso eu te quebro no pau garota. Tá me ouvindo?- Angela ameaçou me bater e Lucca negou.

- Clara, eu sei que você não gosta que nos metemos em suas coisas, mas eu só quis te ajudar. Eu vi o quanto a falta de oportunidades estava te deixando estressada. Sem contar que esse emprego vai fazer sua carreira ser incrivelmente foda! - Respirei fundo e fitei o teto, em parte ele tem razão, se eu conseguir essa vaga meu início de carreira seria absurdo.

Antes que eu pudesse falar algo a respeito, meu celular começou a tocar. Todos ficamos em silêncio enquanto eu pegava o aparelho.

Ergui uma das sobrancelhas enquanto observava o número desconhecido sobre a tela.

Acabei optando por atender a ligação, com esperança de que fosse a mulher da clínica que fui mais cedo. Ela havia dito que olharia meu currículo e me ligaria assim que tivesse uma resposta.

- Boa tarde, eu falo com a senhorita Clara Guimarães? - Uma voz grossa ecoou em meus ouvidos e eu estranhei um pouco. Achei que ela fosse me ligar ao invés de pedir para outra pessoa.

- Boa tarde, é ela sim. Posso ajudar em algo?

- Bom, eu e a equipe avaliamos o seu currículo e a senhorita é uma excelente candidata. - Deixei um sorriso escapar e coloquei a chamada no viva voz para meus amigos ouvirem também. - Na verdade, é a mais bem qualificada que encontramos até agora. Apesar de ser bem mais jovem que os nossos demais profissionais.

- Imagino que você tenha dúvidas em relação a isso, mas eu garanto que sou uma excelente profissional.

- Não tenho dúvidas, para falar a verdade. Olhei seu histórico na faculdade e na pós, e parabéns, suas notas foram excelentes. A melhor da turma! - Um sorriso se formou novamente em meus lábios e ele prosseguiu. - Bom, pelo o que a senhorita acabou de me garantir e pelo o que vi, podemos fechar um pré contrato.

Neste momento o que eu mais queria era gritar de alegria. Mas acabei me contendo.

- Sério, isso seria perfeito!

- Sério! Bom, você iniciaria com um estágio de 6 meses ou até mais, isso vai depender da diretoria. Se você me confirmar, posso agendar uma reunião para amanhã. Assim conversamos sobre as cláusulas e você já pode conhecer os espaços de trabalho.

- Claro, será um grande prazer trabalhar com vocês! - Angela me mostrou o dedo do meio e Lucca me xingou enquanto eu fazia uma comemoração. Se eu fechar o contrato com a clínica teria a desculpa perfeita para dar caso alguém do Barcelona ligasse. Sim, o Lucca me recomendou para uma vaga como fisioterapeuta do Barcelona.

- Perfeito! Nós teremos grande prazer em receber uma profissional como você. Podemos agendar para às 9h?

- Sim, as nove está ótimo.

- Excelente. Irei mandar algumas coisas para o seu e-mail. E só para garantir, quando chegar ao CT diga seu nome completo ao segurança. Ele irá te direcionar para o local certo.

Calma aí, como assim CT?

- Perdão, eu não entendi muito bem. Você disse CT? - O homem aparentemente riu e concordou em seguida.

- Isso mesmo, CT médico. Te mando tudo explicado pelo e-mail. Foi um prazer Clara, amanhã nos veremos às nove. Tchau.

Antes que eu pudesse raciocinar qualquer coisa ele já havia desligado. Meus amigos deram gritinhos eufóricos e imitaram a comemoração que eu tinha feito a menos de 1 minuto atrás.

Como assim CT médico? Puta merda, esse homem não era da clínica, ele é da equipe médica do Barcelona. Caralho, eu não acredito que praticamente fechei um contrato com ele.

- Meu Deus, minha amiga vai trabalhar no Barcelona! - Angela gritou pela janela enquanto eu me sentava e pegava meu notebook, ele realmente mandou a mensagem para o meu e-mail.

Tudo detalhadamente explicado, desde os direitos e deveres até mesmo o salário. E confesso que me surpreendeu bastante, é mais que o dobro do que a clínica que fui hoje cedo pagaria.

- Eles já mandaram o e-mail? - Lucca perguntou e eu virei a tela em sua direção. Angela e ele leram tudo atentamente e tiveram a mesma reação que eu quando viram o valor do salário.

- Caralho, se só estagiando você vai ganhar desse jeito imagina quando estiver realmente contratada!? - A loira disse me encarando e eu acabei concordando.

- Meu Deus, isso só pode ser loucura! Eu não posso fazer isso, e se eu não for tão boa quanto eles esperam?

- Clara, cala a boca! Todos nós, inclusive você, sabemos melhor que todos que você é a melhor. Não é atoa que teve várias cartas de recomendação dos seus professores quando terminou o estágio da faculdade. Você é a melhor profissional que eles poderiam ter. Fora que você sempre quis trabalhar com um time como o Barcelona!

- Lucca está certo Clara. Você é a melhor na área e sabe disso! Agora vamos lá escolher o look perfeito para essa reunião de amanhã. Já tenho mil ideias na cabeça! - Angela saiu andando até o meu quarto e eu ri.

- Já sabe o que fazer, não sabe? - Assenti e ele me abraçou. -Nunca faria nada para o seu mal chica.

- Sei disso Lucca, mas você sabe como eu sou! - O loiro balançou a cabeça em positivo e andamos em direção ao meu quarto. Amanhã será um dia e tanto!

As exatas 9h em ponto, eu havia acabado de descer do Uber em frente ao CT.

Não precisamos falar sobre eu ter acordado às 6h com medo de me atrasar.

Digamos que eu e a pontualidade não nos damos muito bem. Então, para evitar que houvesse qualquer imprevisto eu preferi me adiantar em tudo.

Andei até a entrada do local e meus sapatos ecoaram um leve barulho pelo ambiente.

- Bom dia! - Cumprimentei o segurança que me olhou de cima abaixo. - Eu tenho uma reunião marcada com o Matteo agora pelas nove.

- Pode me dizer seu nome? - Indagou finalmente olhando para o meu rosto.

- Clara Guimarães da Silva. - Ele pegou um aparelho do bolso e apertou em algum botão. Cerca de mais ou menos um minuto depois o homem falou algo em um rádio de comunicação e voltou a me olhar.

- Pode me acompanhar senhorita Guimarães, Matteo me confirmou sobre a reunião. Vamos pegar o seu crachá de identificação e eu irei acompanhá-la até a sala onde ele está. - Sorri em agradecimento e segui o homem pelo lugar, que só na entrada já era enorme e cheio de corredores. Espero que, caso eu assine o contrato, ganhe uma tour por esse lugar ou então irei me perder aqui nos primeiros dez segundos.

Matteo, que eu descobri ser o responsável por todos os outros profissionais da área médica, me explicou tudo que eu precisava saber antes de assinar o contrato.

Sim, eu assinei o contrato! Agora sou oficialmente uma estagiária do Barcelona! E melhor ainda, por ter mais experiência que os estagiários de fim de formação, ficarei com o time titular já que a vaga em aberto era do antigo fisioterapeuta do time, ou pelo menos foi isso que eu entendi.

E consequentemente isso faz do Matteo o meu chefe e supervisor durante o estágio. Deus, agora eu tenho um chefe! Finalmente um emprego!

Mandei uma mensagem no grupo onde meus dois amigos estão e guardei o celular rapidamente. Depois que acertamos as documentações, o Matteo me convidou para um tour pelo local e eu agradeci mentalmente por isso, eu me perderia facilmente nesse labirinto.

Ciutat Esportiva Joan Gamper, ou mais conhecida como CT do Barcelona é de tirar o fôlego. Cada pedacinho desse lugar é incrível.

Fiquei impressionada em todos os aspectos possíveis enquanto observava a grandeza desse lugar.

Nós passamos pelas áreas de basquete, handebol e futsal, tanto masculino quanto feminino. Cada um com tudo que era necessário para o treinamento dos atletas.

Não é diferente com as áreas de tratamento, desde às salas para os tratamentos médicos, lugares específicos para a recuperação física dos atletas e lugares que eu particularmente diria que são para um ótimo dia de Spa, mas de acordo com o Matteo e com meus professores quando cursava na universidade, são para tratamentos também médicos, para que os músculos não fiquem tão tensos.

Andamos até um outro lugar enquanto ele me explicava tudo sobre cada canto desse lugar.

- Esse aqui é o campo onde o time titular treina, é quase que o campo oficial deles. - Meus olhos devem estar brilhando ao olhar para o gramado muito bem cuidado. - Vamos para aquele canto ali, quero te apresentar ao Xavi e, se for possível, aos jogadores também.

Olhei rapidamente para o homem ao meu lado e segurei os meus dedos. É impossível não ficar ansiosa só de pensar que irei conhecer o Xavi e os jogadores! Nem nos meus melhores sonhos poderia ser algo tão incrível como isso aqui está sendo.

Nos aproximamos do técnico do Barcelona que parecia bem concentrado em observar o time. Matteo chamou a atenção do homem que desviou seu olhar dos jogadores e nos encarou. Primeiro Matteo e depois eu.

- Xavi, essa é a Clara. Nossa mais nova fisioterapeuta. - O ex jogador me observou e deu um pequeno sorriso enquanto estendia a mão em minha direção.

- Seja muito bem vinda Clara. Espero que se sinta parte da família agora que faz parte da nossa equipe! - Sorri enquanto apertava sua mão e quase saí gritando em seguida. Meu tio surtaria se sonhasse que encontrei com Xavier Hernández.

- Obrigada! Será um imenso prazer fazer parte da equipe. - Ele pareceu satisfeito com minha resposta e encarou Matteo que sorriu enquanto assentiu. Os dois iniciaram uma pequena conversa e eu voltei minha atenção aos jogadores que corriam de um lado para o outro.

Raphinha e Lewandowski chamaram minha atenção e eu comecei a observá-los, os dois estavam sentados no gramado enquanto conversavam.

Não sei se eu passei tempo demais observando eles, mas os dois começaram a me encarar e Raphinha levantou em um pulo começando a acenar em minha direção.

- OLHA PRA FRENTE MOÇA! - Gritou em espanhol e antes que eu pudesse seguir seu comando alguém esbarrou com força em mim e ambos caímos no chão.

Minhas costas receberam o contato do chão e me fizeram soltar um gemido de dor.

Não é possível que na minha "apresentação" eu tenha acabado de cair na frente de todo o time titular. E ainda tem alguém deitado em cima de mim. Não dá pra ficar pior. Eu só devo ter jogado pedra na cruz na vida passada!

- Isso que eu chamo de sorte, nem é seu primeiro dia e já conseguiu cair diante de todo o time. Ótima maneira de estrear como fisioterapeuta de um clube profissional, Guimarães. - Falei em português e a pessoa saiu de cima de mim, me sentei e comecei a tirar pequenos pedaços de grama do meu cabelo.

- Desculpa, o que você disse? - Resmunguei um palavrão ainda de cabeça baixa e gemi quando passei a mão pela minha coluna. Aquilo doía pra caralho. - É melhor ir até a ala médica, só pra conferir se está tudo bem com suas costas.

- Eu estou ótima! Diferente do seu senso de direção que está uma bela porcaria. - Disse irritada e o ouvi bufar. Espera aí, eu conheço isso de algum lugar...

- Não é possível que seja você. - Levantei minha cabeça olhando para a pessoa parada à minha frente e me arrependi no momento seguinte.

- Eu te odeio universo. - Me joguei novamente sobre o gramado e coloquei as mãos no rosto. Tem uns 30 homens treinando aqui, inúmeras oportunidades de ser atropelada por eles, mas a única que ele tinha bastou. Eu odeio esse cara!

- Levanta daí, tá todo mundo te olhando. - Olhei para o campo e os jogadores pararam para me observar. Raphinha segurava a risada enquanto Gavi sequer tentava disfarçar, por isso preferiu virar de costas e respirar antes de me olhar e arregalar os olhos. Acho que alguém lembra de mim.

Pedri se agachou do meu lado e levou uma das mãos até minhas costas e com a outra segurou em minha mão me ajudando a levantar. Só não lhe dei um belo chute porque seria inconveniente demais.

- Você tem alguma coisa contra mim ou algo do tipo? - Ele ergueu uma das sobrancelhas. - Toda vez que nos esbarramos você encontra um jeito diferente de me fazer parar em um médico.

- Se fosse intencional não daria tão certo. - Revirei os olhos e me abaixei para pegar minhas coisas. Enquanto recolhia tudo ele também resolveu me ajudar. - Qual o seu nome?

- Me esquece garoto. -Tentei pegar meu celular que estava em sua mão e ele segurou com força. - Pode soltar?

- Só se me disser seu nome antes. - Mordi meus lábios e soltei todo o ar que estava em meus pulmões.

- Eu odeio você, sabia!? - O espanhol riu e se levantou, ainda com meu celular em mãos.

- Você é uma péssima mentirosa. - Ele me entregou o aparelho e com uma das mãos arrumou uma mecha do meu cabelo que caía sobre o meu rosto. - Você não odiaria alguém que nitidamente deseja, corazón.

Encarei seus olhos e o espanhol afastou sua mão aos poucos. Ele seria extremamente sexy se eu não o achasse tão idiota. O que o faz achar que eu o desejo? Falei com ele duas vezes na vida!

- Você está bem? - Matteo se aproximou e me fez finalmente desviar o olhar do jogador, que seguiu me olhando.

- Tá tudo bem sim Matteo, foi apenas uma queda. - Forcei um sorriso e Matteo sorriu aliviado.

- Bom, acho que já conheceu o Pedri. - Sorriu sem graça. - Pedri, essa será a nova fisioterapeuta do time.

Os olhos do espanhol brilharam e seu típico sorriso de canto apareceu. Algo me diz que isso não é bom.

- Seja bem vinda... - Ele apertou os olhos e voltou a me olhar. - Desculpe, ainda não sei seu nome.

Filho da puta! Ele é mais esperto do que eu esperava. Eu literalmente odeio ele.

- Clara. - Disse entre dentes e sorri tão forçada que minhas bochechas chegaram a doer.

- Vou apresentá-la aos demais jogadores. Me acompanhe por favor. - Pedri fez uma pequena comemoração com as mãos e eu revirei os olhos andando atrás de Matteo que pedia a atenção dos jogadores.

Esse foi o motivo do meu surto ontem. Uma parte de mim ficou muito feliz por ter a chance de poder trabalhar em um clube como o Barça, até porque eu sou fã do clube. Isso é a grande realização de um sonho.

Porém, por outro lado, meu lado egoísta da mente gritou só de imaginar conviver no mesmo ambiente que Pedri González. Eu sei, bem infantil da minha parte. Mas eu não tenho culpa se herdei o "lado ruim" do meu pai. Pelo menos é assim que minha mãe fala.

No fim de tudo eu acabei por ignorar o grande alerta de perigo que minha mente gritava toda vez que eu cogitava em conviver com o jogador. Mas por sorte eu sei separar muito bem o meu profissional do pessoal.

Depois que Matteo me apresentou para os meninos do time, que foram uns fofos comigo, eu tive a oportunidade de conversar com Xavi sobre os jogadores e pude entender um pouco de como cada um se comporta em campo. Isso vai facilitar muito o meu trabalho.

Antes de ir embora, já que meu superior disse que eu só precisava começar daqui dois dias, fiquei observando cada jogador se movimentar.

Cada corpo é único. Então, uma lesão que pode ser tratada em uma semana no Dembelé, pode demorar dois meses no Ferran, por exemplo.

Fiz algumas breves anotações no meu bloquinho de notas e pude conversar com outros fisioterapeutas. Adrián, que faz parte da equipe, me mostrou onde eu poderia deixar algumas das minhas coisas quando as trouxesse.

- Gavi é o terror dos médicos. Aquele menino não para quieto nas sessões e sempre encontra uma maneira de fugir da dieta. A nutricionista já desistiu de dar bronca nele. - Ri com sua afirmação e dei um gole no meu café. Adrián me trouxe até a sala de tratamento onde os jogadores viriam assim que terminassem o treino, ele disse que se eu quisesse poderia observar como eles fazem com os jogadores e obviamente eu aceitei.

- Você não está me difamando outra vez, Adrián. - Virei na direção da voz e pude ver Pablo Gavi nos encarando.

- Só estou falando o que ela mais cedo ou mais tarde iria descobrir. - Gavi revirou os olhos e me olhou. - Aliás, o que faz aqui? O treino acabou?

- Para quem está suspenso do próximo jogo, sim, acabou. - Segurei uma pequena risada e o espanhol prosseguiu. - Isso é extremamente desnecessário.

- Pablo, você quase agrediu o jogador do Espanyol.

- Ele provocou. - Rebateu e sentou na cadeira da mesa onde estávamos. - A gente já se viu em algum lugar antes? Tenho a impressão de já ter te visto.

- Para de ser inconveniente Gavira. - Meu colega repreendeu o jogador que deu de ombros.

- Tenho certeza que seu amigo deve ter refrescado sua memória. - Ele me olhou surpreso e riu.

- Ele também disse que você era teimosa e estava sempre pronta e com uma boa resposta na ponta da língua. - Revirei os olhos.

- Prefiro não comentar sobre. - Gavi riu e pegou uma maçã que estava em cima da mesa.

- Isso, rouba minha comida mesmo. - Adrián falou e o espanhol ignorou completamente os resmungos do mais velho. - Só você foi suspenso. Onde estão os outros jogadores que estão liberados da próxima partida?

- Ferran e Pedri. Eles ficaram conversando alguma coisa lá fora. - Quase engasguei com o café ao ouvir o nome dele. - Tudo bem?

- Sim, só dei um gole maior do que deveria no café. - Tentei disfarçar.

- Você não mente bem. - Isso é tão óbvio assim? Sempre que tento mentir sobre algo me falam exatamente isso. - Sério, não sei como você ainda está viva. Já levou uma bolada no dia do El clássico e hoje quase quebrou a coluna. Você me deixa assustado mulher.

Foi minha vez de rir, Gavi era bem espontâneo. E sinceramente, eu adoro isso.

- Não sei se posso dizer que foi pura sorte ou só azar mesmo. - Ele concordou.

- No fim você acabou aqui. Quando vai começar?

- Matteo me deu dois dias para me organizar. - Pablo balançou a cabeça e a porta foi aberta revelando dois corpo grandes. Minha atenção se prendeu totalmente no homem sem camisa, que para o delírio da minha sanidade era o Pedri.

- Vão direto para as macas. Daqui a pouco a Sophia vai chegar aqui. Já mandei mensagem para ela. - Adrián falou e Ferran lhe mostrou o dedo do meio.

- Tem dois fisioterapeutas nessa sala e ainda vão nos deixar esperando? - O ponta disse e eu quis empurrar a maçã que o Gavi comia em sua garganta.

- Clara ainda não está trabalhando. Então, em teoria, só tem um fisioterapeuta aqui. - Ele revirou os olhos e eu ri.

- Não tem problema Adrián, eu posso fazer o pós-treino de um deles. — É melhor do que ficar sentindo o olhar de Pedri queimando sobre mim.

- Tem certeza? Não precisa dar ouvidos ao que o Ferran diz. Ele é inconveniente na metade do tempo.

- Eu não sou inconveniente! - Falou enquanto se encaminhava até uma maca.

- Tenho certeza sim! - Gavi deu um pulo da cadeira que estava e me puxou até uma das macas.

- Ótimo Clara, tô louco pra ir embora daqui. Dois dias de folga é um lucro para o meu sono. - Ri enquanto ele deitava. Até agora Pedri não tinha falado nada, apenas sentou e observou o amigo.

Fiz todo o procedimento enquanto explicava tudo que eu estava fazendo, meus professores sempre disseram que isso era importante. Mesmo que os atletas já soubessem de absolutamente tudo.

Gavi era exatamente como Adrián havia falado, ele não ficava quieto por um segundo. O que me fez reclamar com ele algumas vezes até que finalmente resolveu ficar quieto e eu pude fazer todo o procedimento.

Enquanto eu terminava o tratamento do Gavi a tal Sophia chegou para cuidar do Pedri. Antes dos demais jogadores serem dispensados do treino eu me despedi dos meninos e saí.

Eu, Angela e Lucca combinamos de almoçar no nosso restaurante favorito para conversarmos. E pra variar, eu estou quase em cima da hora.

Saí do CT médico e esperei o Uber que pedi chegar. Torcendo mentalmente que ele não demorasse demais.

- É feio sair sem se despedir, corazón. - Dei um pulo pelo susto e virei de costas para olhar em seu rosto.

- Você é louco? - Levei uma mão até meu peito e respirei fundo.

- Depende do que você define como loucura. - Prefiro não te responder, González. Pensei. - Só queria pedir desculpas por hoje mais cedo, não quis te derrubar.

- Sem problemas. Só sugiro que você treine melhor o seu senso de direção, está bem? - Ele riu e Gavi apareceu atrás dele.

- Clara! Ainda por aqui?

- Estou esperando o Uber que pedi. Já vai?

- Sim, só esperando as ordens do Pedri.

- Já disse que você tem que tirar a carteira de motorista logo. - Gavira deu de ombros.

- Não quer uma carona, Clara? - Pablo perguntou e eu o encarei e Pedri fez o mesmo. - Que foi?

- Obrigada pela gentileza, mas meu Uber acabou de chegar! - Agradeci mentalmente quando o meu celular acendeu mostrando que o meu transporte acabou de chegar.

- Tudo bem, nos vemos daqui dois dias então. Tchau Clara! - Gavi acenou e adentrou o lado do carona do carro de Pedri.

- Foi um prazer reencontrar você. - O encarei e ele mordeu o lábio inferior. - Até daqui dois dias corazón.

Mais um capítulo postado!
Espero que gostem e se divirtam lendo.
Até a próxima sexta💙

Beijos de luz,Kalisa.

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