14 - Hoje será o dia que eles jogarão tudo de volta em você (Wonderwall I)

Mais 04 capítulos até ICLTLY acabar ;(

Boa leitura, amores <3

      — Bom dia, querido. — Cumprimentou Louis quando Harry entrou na cozinha.

      Apesar de estarem juntos por quase um ano, era mais difícil que ele fosse à casa do músico, mas estava tomando esse costume aos poucos e, para compensar sua presença mais frequente, havia desenvolvido o hábito de preparar o café da manhã.

      — Bom dia, doce. — Respondeu Harry, abraçando suas costas e dando-lhe um beijo na nuca. — Por que não me acordou mais cedo?

      — Porque você tem ensaiado até tarde e precisa descansar para acertar as notas e não passar vergonha. — Brincou Louis, servindo um prato com omelete. — Sente-se e coma.

      — Sua mãe me mandou uma mensagem. — Comentou Harry enquanto checava suas mensagens.

      Louis arqueou uma sobrancelha.

      — Vocês trocaram números?

      — Sim. — O outro sorriu, começando a comer. — Ela pediu para irmos até Doncaster visitá-los para o chá.

      Louis sentou-se também para comer, ponderando o convite.

      — Nunca tive o costume de fazer isso, tomar chá em um horário específico.

      — E ainda se diz britânico... — Resmungou Harry. — Mas, e então? Vamos?

      — Vamos. — Respondeu Louis depois de alguns segundos. — Só espero que uma certa alguém não fique com aquela tromba para cima de mim.

      Harry sorriu pequenamente, sabendo que Louis referia-se a Félicité. Por alguma razão que nenhum deles sabia, ela era a única irmã que relutava em desenvolver qualquer tipo de relação com Louis.

      — É estranho a maneira que ela reagiu desde que vocês se encontraram, mas às vezes ela pode apenas estar confusa. Quantos anos ela tinha quando você teve que ir embora?

      — Três. — Louis respondeu, suspirando. — É bizarro que ela ainda tenha 16 anos, ainda é uma criança para mim.

      — É claro que você ainda a vê assim, Lou. — Harry disse, carinhoso. — Tudo aconteceu quando ela era muito nova, você precisa dar um desconto para ela também. Conversem, entenda o lado dela. É o que dá para fazer agora.

      — É verdade. — Louis concordou, e agradeceu mentalmente por ter alguém como Harry ao seu lado. — Podemos ir hoje? Daria tempo para voltarmos amanhã à tarde ou domingo.

      — Podemos, sim. Os meninos pediram o fim de semana livre também.

      Antes que Louis pudesse falar mais alguma coisa, seu celular começou a tocar e, depois de ver o contato no visor, ele pediu licença e foi até a varanda de Harry para atender. O músico ficou confuso, mas deixou aquilo para lá. Louis era reservado sobre seu trabalho, então presumiu ser algo sobre isso. Ainda assim, o telefonema levou tempo o bastante para que ele conseguisse terminar de comer, lavar a louça e ir para o banho.

      Quando saiu, Louis já tinha ido embora e um bilhete em post-it amarelo estava grudado na geladeira.

Desculpe ter saído sem mais nem menos, cachinhos. Preciso ir até uma reunião de última hora, mas prometo que volto mais tarde para irmos juntos. Xoxo








      Harry havia notado que Louis vinha agindo um pouco estranho desde mais cedo, após aquela ligação. O pintor não havia comentado sobre o assunto nem nada do tipo, mas era nítido que alguma coisa não estava certa. Harry perguntou sobre aquele comportamento, mas Louis apenas balançou a cabeça e respondeu que apenas precisava decidir se aceitaria um trabalho ou não. Ser sucinto era seu jeito de deixar claro que não queria conversar sobre aquilo, então Harry apenas guardou suas dúvidas para si mesmo e seguiu em direção a Doncaster.

      — Você acha que é a casa onde você cresceu? — Indagou então, quando estavam a poucos minutos da casa de Johannah.

      — Acho que não. — Respondeu Louis, checando o endereço no GPS. — Pelo menos não consigo me lembrar dessa rua.

      — Poxa. — Murmurou Harry, tirando os olhos da estrada momentaneamente para que pudesse dar um olhar tristonho ao namorado. — Eu queria conhecer o seu quarto de criança.

      Louis deu um risinho e balançou a cabeça.

      — Duvido que Jay tenha guardado alguma coisa.

      — Ora, por que não teria?

      Louis apenas deu de ombros e voltou a olhar para fora da janela. Depois da conversa com sua mãe, ele chorou no colo de Harry por um bom tempo até que conseguisse se recompor. Apesar de saber que se tratava de um pensamento egoísta, era bom saber que Johannah não o tinha impedido de ir embora por causa de problemas com seu pai, ao invés de ter qualquer tipo de preconceito.

      De qualquer forma, e ainda com o pedido de desculpas dela por tudo que acontecera, não dava para imaginar que existisse algum laço emocional entre eles forte o bastante para que Jay mantivesse seus pertences de anos atrás.

      Após chegarem à casa de sua família, Louis e Harry foram recebidos com animação e um ar aconchegante vindo da casa. Johannah preparava o jantar junto de Charlotte, enquanto Doris e Ernest jogavam Mario Kart na televisão da sala. Fizzy e Daisy eram as únicas que estavam em seus quartos.

      — Adolescentes, não é? — Falou Jay, após cumprimentar Louis e Harry com um abraço. — Que bom que vocês chegaram, e bem a tempo de jantarmos.

      — Podemos ajudar com algo, Jay? — Perguntou Harry.

      — Bom, podem começar colocando suas coisas lá em cima. Segundo quarto à esquerda. Depois, venham aqui para comermos.   

      Era estranho estar ali. Dava para sentir que Louis estava calado, apesar da relação com sua família ter melhorado. Mas, Harry podia entendê-lo: depois de tanto tempo, e de tantas tensões, era mais do que natural que ele se sentisse um estranho no ninho. Portanto, ele não comentou nada sobre o silêncio do namorado a cada passo dentro da casa, tampouco o apressou enquanto demorava para ver os detalhes da casa, sobretudo as fotos onde Louis estava e que pendiam em porta-retratos nas paredes.

      Harry segurou as próprias lágrimas. Como apoio, pôs a palma da mão na lombar de Louis e beijou seu ombro. O pintor pareceu sair minimamente de seu transe e continuou andando, ainda calado, mas Harry percebeu suas mãos fechando em punhos.

      Quando abriram a porta do quarto indicado por Jay, Louis soltou um suspiro sôfrego.

      — Pelo visto, você estava certo. — Murmurou.

      — O quê?

      — A cômoda. — Respondeu o pintor, entrando lentamente. — Os pôsteres, o guarda-roupa e até os adesivos que eu costumava colar nas portas.

      Harry analisou cada superfície que ele colocava as pontas dos dedos. Existiam, sim, vários adesivos coloridos e grosseiros colados ao longo do guarda-roupa, e os móveis pareciam gastos o bastante para pertencerem ao quarto de um adolescente.

É o quarto do Louis adolescente, concluiu mentalmente, e deu um sorriso singelo.

      Foi então que algo na parede chamou sua atenção. Por um momento, Harry não reconheceu o objeto, mas logo aumentou seu sorriso e apontou para a Fender Stratocaster pendurada, soltando uma risada incrédula.

      — O que é isso? Também é sua?

      Louis olhou para a antiga guitarra e sorriu amarelo, concordando com a cabeça.

      — Você sabe, todo mundo tem uma fase rebelde.

      — Rebelde?! — Exclamou Harry, gargalhando ao se aproximar do instrumento. — Louis, isso é incrível. Ela é linda. Posso pegar?

      — Claro, Hendrix. — Zombou o pintor, feliz ao ver o namorado tão contente.

      Harry desprendeu a Fender do suporte na parede e sentou-se na cama de casal para apreciá-la. Louis sabia que aquela guitarra era um tipo de raridade, e não se importou em responder às perguntas de Harry sobre ela e sobre sua "fase rebelde". A verdade era que a arte era algo que lhe encantava desde sempre, mas que demorara a se revelar completamente; Louis explorara várias maneiras de se expressar, indo da música às esculturas, dança e até mesmo o canto.

      Mas sua verdadeira paixão se revelou ante as telas e os pincéis. Ainda assim, aquela Fender havia sido um presente de seus pais quando Louis decidira começar as aulas de música. Ele era bom naquilo e foram quase quatro anos se aprimorando até Jay e Troy decidirem presenteá-lo, e aquilo fora um marco na mente de Louis sobre o quanto eles o apoiavam como artista. Pois, não era um problema que sua mãe ainda a guardasse. Apesar de seu pai e todos os seus problemas, era uma lembrança boa.

      — Espera. — Harry disse, virando a guitarra em suas mãos até achar o que estava procurando. — Não acredito! — Exclamou. — É uma original de 1954!

      — Acho que sim. — Concordou Louis, franzindo o cenho. — E isso é bom?

      — É da primeira linha lançada, Louis. — Harry explicou, como se aquilo fosse um fato estudado na pré-escola. — Jimi Hendrix usava uma dessas.

      — Deve valer uma nota. — Louis ponderou.

      — Se você vender essa guitarra — disse Harry, virando-se de frente para ele. Seu rosto estava seríssimo. — e o comprador não for eu, juro que furo os pneus de seu carro.

      O pintor arqueou as sobrancelhas e começou a rir. Ele adorava como o namorado levava sua arte tão a sério, porque ele se identificava com aquele tipo de reação. Quando se recobrou, Louis arfou e limpou o canto dos olhos.

      — É sua, pode ficar. — Disse. — Eu não tenho porquê mantê-la, e sei que você cuidará dela como se fosse uma criança.

      — Tá brincando? — Harry perguntou, estupefato.

      — Não estou, é sua.

      Harry colocou a guitarra ao seu lado na cama, agarrou o rosto de Louis e o beijou com força. Ao separar-se, seus olhos verdes olharam os de Louis profundamente.

      — Eu te amo, Louis William. Saiba disso.

      — Eu também te amo, Harry Edward. — Riu o pintor, com a voz meio abafada devido às bochechas apertadas. — Agora, vamos jantar.

      Com todos à mesa, Louis não podia deixar de pensar que aquela cena estava parecendo uma repetição do reencontro entre si e sua família. Todos, com exceção dele e de Félicité, conversavam sobre vários assuntos, e ele estava surpreso com o quanto Harry conseguia se encaixar ali. Claro, não era nenhuma novidade já que o mais novo costumava ser bem mais extrovertido e simpático, e era bom. Seu próprio silêncio acabava sendo preenchido pelas risadas e comentários do namorado, deixando tudo mais confortável.

      Ainda assim, Louis estava se esforçando para se soltar mais, e seus irmãos pareciam gostar daquilo. Johannah perguntava várias coisas sobre seu trabalho, sobre Zayn e Liam, assim como dizia querer conhecer Najla já que ela parecia ser uma boa menina.

      — Ela é incrível. — Louis respondeu. — A considero como uma irmã, e não consigo explicar o quanto ela já me ajudou.

      — Isso é ótimo, querido. — Respondeu Jay. — Ela parece ser muito doce.

      — Cuidado, mãe. — Interrompeu Fizzy, com desdém. — Se você falar algo de errado da incrível irmã de Louis, pode ser que ele vá embora de novo.

      — Félicité! — Bronqueou Johannah.

      Um silêncio incômodo emergiu, e Louis sentiu um amargor em seu peito.

      — Ir embora? — Falou. — Por que diz isso desse jeito?

      — Que jeito? — Debochou a garota.

      — Como se eu tivesse tido alguma intenção de ter saído de casa. — Respondeu Louis, com a voz embargada.

      Harry colocou a mão em sua perna sob a mesa.

      — Porque foi o que aconteceu. — Gritou Fizzy, batendo os talheres na mesa. — Você se foi sem nem olhar para trás, nunca ligou e ainda nos deixou com aquele babaca.

      — Fizzy. — Chamou Daisy, tentando acalmar a irmã.

      — Já chega, Félicité. — Repreendeu Jay.

      — Qual é a de vocês? Por que estão agindo como se eu estivesse errada? — Berrou ao se levantar. Louis estava estático encarando a irmã. — Ele foi embora porque quis. Nunca se importou em mandar nem mesmo um feliz aniversário pra qualquer um de nós por mais de dez anos, porra! Ele é tão babaca quanto Troy.

      Com aquilo, Johannah levantou-se e agarrou o braço da garota.

      — FALEI QUE JÁ CHEGA. — Gritou, logo esticando o braço e apontando para as escadas. — Vá para o seu quarto, e não vai sair até que eu mande.

      Félicité correu, e Harry sobressaltou um pouco ao que a menina bateu a porta de seu quarto. Depois daquilo, toda a energia para o jantar havia se dispensado.

      — O que foi isso? — Indagou Louis, sentindo-se irritado. — Por que ela diria que eu fui embora de propósito?

      — O motivo não é uma coisa que a gente comente muito. — Respondeu Charlotte. Johannah pareceu incomodada.

      — Como é?

      — Mamãe nunca comentou com nenhum deles sobre o porquê de você ter saído de casa. — Explicou. — Ela diz que eles não têm idade o bastante.

      — Charlotte. — Advertiu Jay.

      — Pare. — Interviu Louis. — Isso é verdade? Você nunca contou a verdade?

      — Daisy, leve Doris e Ernest para o quarto.

      — Não! — Lottie exclamou. — Eles já são bem grandinhos para entender tudo, mãe. Chega disso. Fizzy já tem uma noção distorcida sobre o que aconteceu, não dá para repetir os mesmos erros de novo.

      — Eu sou gay. — Alegou Louis, olhando para os irmãos um por um. Parecia que eles tinham voltado no tempo, para o momento em que ele saíra do armário para seus pais. — Meu pai nunca me aceitou, me expulsou e Jay concordou com isso porque ele era um merda. Passamos por muita coisa quando ele ainda estava em nossas vidas e eu ir embora foi a solução que menos trouxe problemas. Foi isso.

      Com pressa, ele se levantou e se apressou para sair da casa, não se esquecendo de agarrar as chaves do carro de Harry. Sem esperar pelo namorado, ele apenas deu partida e saiu dali.

      Estava dirigindo rápido, e vislumbrou o carro de Johannah atrás de si poucos minutos após ter saído. Ele podia apostar que era Harry o seguindo, mas não parou para confirmar. Aquela parte decrépita dele ansiava pelas garrafas, e o primeiro instinto de Louis foi de tentar despistar Harry para que pudesse ir até o primeiro bar que aparecesse em seu caminho. Porém, com uma força que nem ele mesmo conhecia em seu interior, suas mãos giraram o volante para uma das avenidas principais de Doncaster e ele seguiu seu caminho até a escola em que tinha estudado no ensino fundamental.

      Quando desceu do carro, Louis contornou os muros da escola e chegou até uma parte mais baixa, que ele conseguia pular para o lado de dentro. Harry vinha atrás, e não teve dificuldade para passar para o outro lado, a quadra da escola, e alcançar Louis nas arquibancadas, sentando-se ao lado dele. O sol já havia se posto e não parecia que o guarda da escola passaria por ali, ao menos Harry esperava que não.

      Ele sequer havia perguntado nada quando Louis começou a contar o motivo de ter ido até ali.

      Ele bem se lembrava daquela quadra de atletismo, onde a maioria dos alunos sequer davam bola para as atividades que o professor costumava passar. Louis, pelo contrário, gostava de quando precisavam correr por algumas voltas, já que levar seu corpo a um nível suficiente de esforço fazia seus pulmões encherem e suas pernas doerem. Era uma forma de descontar toda a ansiedade e raiva após as brigas entre seus pais, ou mesmo de esquecer as surras que levava de Troy.

      Harry não sabia como responder, então ajeitou-se atrás de Louis, de pernas abertas, para abraçá-lo. Isso fez com que o pintor se sentisse um pouco mais confortável, e logo seu corpo começou a estremecer pelo choro.

      — Eu até consigo entender os motivos dela. — Falou. — Sei que ela talvez quisesse proteger Daisy e Fizzy das memórias de quando Troy ainda estava em nossas vidas, e que Doris e Ernest não precisam saber de um cara como ele. Mas... Porra, minha irmã acha que eu os abandonei!

      Harry ficou quieto até que Louis se acalmasse um pouco, e o ajudou a enxugar seus olhos e assoar seu nariz. Quando a respiração do pintor estava mais estabilizada, ele beijou as bochechas do namorado e disse calmamente:

      — Eu imagino que isso deva ser frustrante e, sim, sua mãe não escolheu a melhor das opções para lidar com isso. Só que não dá para mudar algo que já aconteceu.

"O que você pode fazer é conversar com Fizzy, e esclarecer as coisas. E eu acho que seria uma boa ideia pedir para que sua mãe converse com seus outros irmãos, de uma vez por todas. Não concorda?"

      Louis refletiu sobre a resposta de Harry, e por fim suspirou pesadamente.

      — Você tem razão. Vou fazer isso amanhã, porque só preciso dormir por agora.

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Até o próximo capítulo! ❤︎

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