06 - Se você perder o seu caminho, eu deixarei uma luz acesa
Essa música é linda e profunda! Combina com o capítulo, então deixei aí para quem quiser ouvir.
E eu também queria algo mais leve para vocês lerem depois do último capítulo ;)
Quando Louis abriu seus olhos, ele esperava que a luz do dia o cegasse e ocasionasse pontadas de dor em sua cabeça. Ele sempre se esquecia de fechar as cortinas. Porém, aquilo não aconteceu. O que aconteceu foi que seus olhos se adaptaram com calma à escassa luz do quarto, e ele conseguiu se orientar mais rápido por causa disso.
Louis ficou alguns segundos deitado, encarando nada em específico. Não havia nenhuma memória de que tivesse sido ele a fechar as cortinas. Virando-se, ele viu uma aspirina e um copo d'água sobre a mesa de cabeceira. Louis franziu o cenho.
Um barulho na cozinha o fez sobressaltar. De súbito, as lembranças sobre a noite anterior voltaram à sua cabeça em uma rajada; lembrava-se da conversa com Jace e de ter sido levado até o pub, mas essas partes estavam um pouco turvas, ainda que pudesse se recordar do mal-estar extremo que sentiu.
Não tinha certeza de como tinha chegado em casa, depois veria se seu carro estava na garagem do prédio, mas conseguia se recordar de ter ficado surpreso ao ver Harry em seu apartamento e de ter gritado com ele por causa de um mal-entendido. E, então, lembrou-se de ter pedido para o vizinho dormir consigo na cama, e também de ter pedido para abraçá-lo.
Louis sentiu seu pescoço e rosto esquentarem, e tinha certeza de que devia estar vermelho de vergonha.
Bom, está feito. Não tem como voltar no tempo, então encare as consequências.
Com aquilo em mente, Louis tomou a aspirina e garantiu que pelo menos lavasse o rosto antes de sair de seu quarto. Provavelmente, Ozzy devia ter ficado com fome e estava derrubando as coisas do balcão da cozinha como ela sempre fazia para protestar quando sentia vontade de comer.
Louis estava andando tão distraído enquanto coçava os olhos que sequer notou a gata deitada no sofá, e quando tirou as mãos do rosto, soltou um pequeno grito de susto ao ver que Harry ainda estava em sua casa, preparando algo no fogão.
O músico deu um pequeno pulo por causa do grito, e virou-se depressa com uma frigideira e uma espátula em mãos. Quando viu Louis ali, relaxou os ombros e ofereceu um sorriso singelo.
— Bom dia, Louis. — Cumprimentou, e o pintor respondeu com um murmúrio. — Espero que não se importe, eu queria fazer algo para você comer já que dormiu de estômago vazio ontem.
— Não tem problema. — O mais velho respondeu, ainda um pouco atônito. — Obrigado por isso, mas não precisava se incomodar.
Vendo que não tinha atiçado nenhuma reação negativa em Louis, Harry sorriu mais abertamente e voltou a cozinhar, pedindo que ele se sentasse enquanto terminava de fazer o café da manhã.
— Não é incômodo nenhum. — Retomou. — Eu apenas queria cuidar um pouco de você, do jeito que eu conseguisse.
— Por quê? — Louis indagou.
— Como? — Harry respondeu, sem entender.
— Por que você tá fazendo tudo isso?
Louis não estava acostumado àquele tipo de coisa sendo feita para si. Não achava ruim, de modo algum, mas não sabia como reagir ou o que pensar. Será que Harry estava fazendo aquilo para receber algo em troca ou forçadamente? Ele não precisava cozinhar nada só porque um alcoólatra dormiu sem comer nada antes. Mas... ainda assim, bem no fundo, ele desejava ouvir uma resposta que fosse gentil ao seu coração.
— Porque eu me importo com você. E quero poder cuidar de você.
Ali estava. Aquela estranha demonstração de sentimentos que ele queria poder se habituar.
— Eu verdadeiramente gosto de você, Louis. — Harry serviu uma omelete e colocou sobre a bancada para que eles pudessem comer. — É por isso que quero tratá-lo da maneira certa, daqui em diante. Se isso for algum tipo de incômodo, você pode falar. Mas, caso contrário, deixe-me cuidar de você.
Louis suspirou, piscando algumas vezes. Não sabia o que dizer, então assentiu com a cabeça e aquele gesto foi o bastante para fazer o músico sorrir mais uma vez. Louis comeu a omelete e gemeu com o sabor sendo tão bom; sempre era uma boa ideia comer algo caseiro após um porre. Ele também não contestou quando o mais novo serviu um copo de suco, e foi agradável ter a companhia de alguém para comer em casa depois de tanto tempo.
Harry cuidou de lavar a louça enquanto Louis ia dar comida e atenção para Ozzy e Cuppa. O músico disse que precisava ir por causa de um compromisso com a banda, mas que tinha ficado apenas para Louis não acordar sozinho e garantir que ele iria comer. O pintor agradeceu muito, e aceitou o convite de fazerem algo mais tarde, só os dois.
— Mais um encontro para a conta? — Louis brincou.
Harry deu um sorriso pequeno, mas galanteador, e pôs a mão em uma bochecha do mais velho para beijar a outra. Louis estremeceu.
— Sim. Depois te mando mensagem.
— ELE FEZ O QUÊ?! — Zayn gritou do outro lado da linha. Louis afastou o celular da orelha. — Aquele filho da puta, eu vou matar ele. Como você tá agora? Quer que eu vá até a sua casa?
Louis sorriu. Zayn nunca o questionava acusadoramente, nunca o culpava por cair nas manipulações de Jace. Por várias vezes já ouvira que a culpa era sua ou que ele fingia não gostar do assessor, mas sabia que era mentira, justamente por causa do apoio que recebia de Zayn e Najla. Nem sempre tinha sido fácil não dar ouvidos àquelas coisas, mas estava melhor do que antes para mandar quem quer que fosse à merda caso o pusessem como culpado da situação.
— Não precisa. — Respondeu. — Harry passou a noite comigo e...
— Espera. — O amigo disse. — Como é que é?
Mordendo o lábio inferior, Louis deu-se um tapa mental. Ainda assim, explicou para o amigo o que tinha acontecido depois que chegara em casa, aturando as piadas de cunho sexual e de paixonite adolescente.
— Mas, deixando de fazer gracinha, eu fico muito aliviado de saber que você não esteve sozinho e que Harry foi tão querido com você. — Zayn disse, soltando um suspiro depois. — Você está bem?
— Até que sim. — Louis respondeu. — Não é como se fosse fácil deixar para lá quando Jace faz essas merdas, mas está sendo mais fácil de lidar graças ao Harry. Vamos sair daqui a pouco, inclusive.
— Uh, um encontro? O cachinhos dourados não perde tempo.
Louis deu risada, remexendo a orelha de Cuppa que estava deitado em seu colo.
— Eu nunca senti tanto carinho por mim, você sabe que todos os meus ex não me trataram bem nem mesmo no começo. Só que o Harry... Ele faz com que eu me sinta confortável, e me dá borboletas no estômago ao mesmo tempo que me deixa tranquilo.
— Se eu não estivesse caidinho por Liam, eu estaria te xingando por me fazer ouvir toda essa melosidade. — Zayn resmungou. — Sua sorte é que eu estou nas nuvens e entendo o que você quer dizer. O que vocês vão fazer?
— Eu ainda não sei, mas preciso começar a me arrumar.
— Tudo bem. Não deixe de me ligar se precisar de alguma coisa, ok?
— Ok.
♫
— Você pode escolher as músicas. — Harry disse ao entrar no carro, após abrir e fechar a porta para Louis.
— Uh, você é músico profissional. Se for dar pitaco sobre meu gosto musical, não seja um Gordon Ramsay.
Harry deu uma gargalhada gostosa e instruiu Louis a como conectar o celular no sistema de som. Quando o pintor notou que a maioria das músicas eram clássicos românticos, ele ruborizou pensando o quanto aquilo poderia parecer sugestivo. Harry notou, mas decidiu não comentar.
Mas, quando Olivia Newton-John começou a entoar Hopelessly Devoted to You, ele apenas gritou, assustando Louis, e começou a cantar a plenos pulmões. Louis não tinha se recuperado do susto quando um sorriso cresceu em seu rosto, e não pensou duas vezes antes de se juntar à cantoria desafinada.
Deram tanta risada que suas barrigas e bochechas doeram, e toda a tensão de antes saiu do corpo de Louis. Cantaram várias outras músicas, encenaram clipes super dramáticos e conversaram sobre tantas coisas que o tempo passou em um piscar de olhos.
O mais velho nem se lembrava mais de quando, mais cedo, estava mais nervoso do que queria admitir. Por várias vezes ele trocou de roupa e mexeu no cabelo, e ainda que tudo o que fizesse parecesse dar o mesmo resultado. Podia até mesmo apostar que seu coração tinha falhado uma batida quando Harry tocara a campainha; o peso do dia anterior parecia tão insignificante agora.
Louis sabia que fariam uma viagem relativamente longa, então não protestou quando pararam ao longo da estrada para comer, apreciar a vista e ir ao banheiro. Havia muitas cidadezinhas e vilas bonitas e com céus extravagantes, Louis conseguia enxergá-las em telas enormes, todas as nuvens com texturas incríveis se feitas com tinta a óleo.
Sem deixar que ele percebesse, Harry tirou muitas fotos do vizinho admirando as paisagens ou falando com as pessoas. Louis não era a pessoa mais sorridente e aberta do mundo, mas era muito educado e carismático ao conversar com desconhecidos. Naquelas regiões, era mais fácil encontrar pessoas idosas, e dava para notar o quanto ele era mais gentil e alegre ao conversar com elas.
Aquilo encantou Harry, e seu coração ganhou mais um motivo para dançar de alegria em seu peito.
Algumas horas depois, uma placa pareceu mais chamativa.
— Princetown? — Louis indagou, arqueando uma sobrancelha para Harry.
O mais novo sorriu e deu-lhe uma piscadela. Louis ruborizou, mas a sensação de estar relativamente longe de Londres o fez muito bem. Não viajava de carro por mais de cem quilômetros havia anos, e estar em boa companhia não era nada mau, também.
Já tinha visitado Princetown algumas vezes a trabalho, e era sempre bom sentir a brisa fresca que vinha das montanhas ao redor da cidade e o cheiro sutil da umidade lamacenta lavar sua mente. Era um lugar simples, com pessoas gentis e ninguém era tão apressado para andar na rua; Londres era uma bagunça, e Louis precisar morar lá por melhores oportunidades de trabalho chegava a ser ironicamente contrastante à sua personalidade.
Sentiu-se como um tolo, porém não pôde deixar de se perguntar se Harry havia reparado nos pequeníssimos detalhes de suas preferências para convidá-lo para aquela viagem. Não tinha ideia das chances de aquilo ser verdade, mas gostou da possibilidade.
Foi uma surpresa quando deixaram o carro no estacionamento principal da entrada para o Parque Nacional de Dartmoor, e quando descarregaram as coisas de piquenique e acampamento do porta-malas, Louis sentiu-se como uma criança animada para algum passeio. Não conseguia lembrar da última vez que saíra para fazer um piquenique, mas sempre gostou de atividades ao ar livre.
O pintor tentou argumentar que não tinha levado ou comprado nada para contribuir, mas Harry apenas colocou o indicador na frente dos lábios pedindo silêncio.
— Eu quem fez o convite, então eu organizo tudo.
Louis aceitou aquela resposta e seguiu o vizinho por um caminho muito agradável parque adentro. Todas aquelas casinhas de pedras e terrenos extensos eram lindos e calmos, o vento morno do verão batendo no rosto de Louis o fazia querer deitar na grama e tirar um cochilo.
Eles pararam perto de um riacho e começaram a armar a barraca que dividiriam e Louis ficou realmente surpreso ao ver quanto equipamento profissional de acampamento Harry tinha. A barraca por si só já era enorme, parecia uma cabana, e o músico tinha até uma lamparina para pendurar na "varanda" da barraca.
— Você só pode ser rico. — Louis disse, boquiaberto. — Isso tudo deve ter sido o olho da cara.
— Não foi necessariamente barato. — Harry concordou. — Mas muita coisa eu ganhei no começo da banda. A gente aceitou muita permuta até ter um certo nome.
— Isso é bem legal. — Louis concordou. — Eu nunca permutei, mas já trabalhei em vários bicos para conseguir dinheiro para as telas e tintas.
— Meu padrasto já foi um cliente seu. — O mais novo comentou, enquanto arrumava a lenha para a fogueira.
— Sério?
— Sim, ele foi o cara que encomendou uns cinco quadros abstratos só com tons de verde.
Louis franziu o cenho, caçando em sua memória. Até que se lembrou. Havia muitos anos, um homem tinha ido ao muquifo que Louis costumava chamar de ateliê dizendo que tinha um pedido muito importante para fazer. Era a primeira sala comercial que ele alugara para servir de local só para si e suas telas, e tinha dado um baita trabalho para que Louis conseguisse disfarçar as marcas de infiltração e se livrar do cheiro de mofo.
Não era comum que clientes fossem até o seu estúdio, mas seria loucura recusar uma oportunidade. O homem em questão tinha um nome elegante, era bem apessoado e estava bastante entusiasmado porque sua esposa finalmente poderia mudar-se para sua casa. Naquela época, Louis não era muito conversativo, mas escutou a história do homem sem pestanejar.
"Meu enteado é novo como você", ele dissera. "Acho que ainda é difícil para ele ver a mãe com um novo parceiro, ainda mais tendo que se mudar da casa onde cresceu. Então, eu queria encomendar alguma coisa legal para decorar o novo quarto dele."
Dali, Louis planejou vários esboços para que o homem escolhesse qual ele preferia. Foi o primeiro trabalho que mais levou tempo, e ele sentiu-se muito grato depois não só pela oportunidade, mas porque o homem o indicou para vários conhecidos e amigos.
— Oh, ele é seu padrasto? — Louis exclamou.
— É, Desmond o nome dele.
— Que mundo minúsculo. — O pintor divagou.
Eles conversaram por mais algum tempo sobre o começo de suas carreiras, e quando tudo estava pronto, o céu tinha tonalidades de roxo, laranja e amarelo, então foi muito agradável assistir ao anoitecer enquanto assavam marshmallows e faziam sanduíches deles entre biscoitos e chocolates.
Quando a noite já estava cheia de estrelas, Harry se levantou, apanhou dois cobertores dentro da barraca e estendeu a mão na direção de Louis e pediu para que ele o acompanhasse até um lugar. O mais velho aceitou, e eles desceram o pequeno barranco às margens do rio que corria perto de onde haviam levantado acampamento.
— Eu quis te trazer até o Parque de Dartmoor por um motivo. — Harry revelou, passando um dos cobertores ao redor dos ombros de Louis.
— E que motivo é esse?
— Nessa época do ano, muitos vaga-lumes costumam aparecer aqui por causa do clima e da falta de luz da cidade. É lindo, e está perto do horário que eles costumam sair.
Louis sorriu, e aceitou recostar-se no corpo de Harry quando o mesmo abriu o braço para chamá-lo. Não demorou até que os primeiros pontinhos brilhantes começassem a aparecer no fundo escuro da noite.
Era como se várias estrelinhas esverdeadas tivessem descido do espaço interestelar apenas para oferecer um show hipnotizante para eles ali, flutuando com calma e silenciosamente pelo ar. Louis quis chorar, mas nada saiu. Provavelmente, aquele era o único momento de paz verdadeira que estava presenciando.
Sentia seu corpo fundir-se ao de Harry para então unirem-se ao chão, e então ao vento ameno, e dali por diante, até que fizessem parte do cenário inteiro. Sentiu-se dormente, e não conseguiu dizer se estava chorando ou se era o orvalho noturno em suas bochechas.
Fosse como fosse, Louis sentiu paz pela primeira vez e quis acreditar que aquele sentimento voltaria para dizer oi de vez em quando.
E aí, meus amores? O que acharam? Espero que tenham gostado!
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Até o próximo capítulo! ❤︎
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