A casa cor de rosa.

Todas as manhãs, Hyunjin levantava mais cedo para se arrumar, precisava de tempo para se sentir acordado e também gostava de arrumar o cabelo com calma. Sua cara não era das melhores quando desceu as escadas para o café da manhã e sua mãe percebeu que talvez ele não tivesse dormido muito bem.

— O que houve, filho? Ficou até tarde conversando com o pintinhas de novo?

— Uhum, ele disse que adotou um gato.

— Um gato? Que legal fofo. E ele já lembrou o próprio nome?

— Ainda não, ele não tem nenhuma lembrança de como morreu. Isso é normal? Fico preocupado.

— Bom, se ele ainda está por aqui, deve ter algo a fazer,algum desejo não realizado.

— Mas porque ele fica atrás de mim? Tipo, não estou reclamando, adoro ele, mas é estranho não é?

— Um pouquinho, entretanto, você é um médium excepcional e ele deve se sentir sozinho, imagina vagar por aí sem ninguém poder te ver.

— Deve ser péssimo - fez bico — Tomara que ele fique bem.

— Vai ficar. Agora toma seu café e vai pra aula.

— Taa…

Hyunjin morava relativamente perto da escola, então costumava ir andando com seu amigo changbin que sempre o encontrava no meio do caminho. Eles se estudavam juntos desde o fundamental e compartilhavam todos os tipo de segredos, inclusive, tudo sobre os amiguinhos do Hwang.

— Sua cara tá péssima, jinnie.

— Bom dia pra você também, bin.

— O que houve? Seu amigo penadinho não te deixou dormir de novo?

— Ele estava empolgado porque adotou um gato.

— Ah…que estranho, não sabia que dava pra ter animal de estimação depois de morto.

— Não seja besta. Eu acho que é uma lembrança antiga, talvez ele esteja recuperando a memória e eu finalmente vou conseguir ajudar ele.

— Que pena, achei que poderia ter um cachorro, pelo menos depois de morto.

— Por que não adota um cachorro?

— Minha mãe não deixa, tenho alergia.. - bin falou com um biquinho triste.

— Ah, que bom que o Seungmin não tem pelos, né?

— Nossa, cala a boca, essa perturbação logo de manhã! Eu já disse que não gosto dele, ele gosta do Chris.

— E você é o maior talarico da escola, eu sei, sei de tudo.

— Eu vou te bater, Hyunjin, e não vai ser pouco.

Depois de correr muito para fugir de Changbin, eles finalmente chegaram a escola. Os alunos pareciam estar todos indo para o auditório, mas não sabiam o porquê. Por sorte viram Christopher e Seungmin passando e perguntaram o que estava acontecendo.

— Parece que vai ter uma palestra de prevenção ao suicídio, ou algo assim. - Seungmin explicou.

— A diretora falou que hoje completa mais um ano que aquele menino morreu. - Chan complementou a informação.

—  Mas ele não se matou, não é?

— Isso são só rumores, Hyunjin. E não deveria ficar falando sobre isso, é perigoso, se for verdade e eles ficarem sabendo, podem acabar vindo atrás de você.

O aconteceu é que, alguns anos atrás, tinham vários ditos "valentões" na escola, eles costumavam infernizar a vida dos alunos, roubando dinheiro e até batendo, só que ninguém tinha coragem de denunciar, pois eram filhos de pessoas importantes, até que um desses garotos que sofria na mão deles acabou se matando e uma dúvida começou a se espalhar, será que ele realmente tinha feito aquilo, ou fizeram por ele, já que ele foi a primeira pessoa a denunciar os valentões? Na dúvida as pessoas resolveram não tocar mais no assunto, até porque se fizeram uma vez, poderiam muito bem fazer de novo.

Essa história acabou gerando a maior lenda urbana na escola pública de seoul, alguns diziam que o garoto se matou na escola e que seu espírito estava ali vagando pelos corredores, outros diziam que ele só aparecia para se vingar de valentões e por isso não haviam mais casos de bullying na escola e tinha até quem ousava dizer que mataram o garoto no banheiro, afogado no caso sanitário e agora o espírito dele ficava lá dando descarga ou algo do tipo. Mas o ponto é que ninguém sabia se isso era real, o único fato era que anos atrás um aluno morreu, se isso foi na escola ou não, aí ninguém sabe.

— Mais tarde nós vamos pra casa do Jeongin jogar videogame, bora? - Christopher perguntou sussurrando durante a palestra e os meninos concordaram.

A escola levava muito a sério o assunto bullying e possíveis gatilhos para o suicídio. sempre com palestras e atividades para chamar atenção para o assunto, todos os alunos tinham acesso a orientadora pedagógica e um psicólogo e com os anos, acabaram virando reverência na campanha "chega de bullying" em toda a Coreia e todos os pais desejavam que seus filhos estudassem lá, as vagar em muito concorridas e quem já estava lá, não queria sair por nada.
Existiam casos muito pesados de bullying em outras escolas próximas e bem, perto disso a escola pública de seoul era como o paraíso.

No fim da aula, os cinco garotos foram  para a casa de jeongin. Era um pouco longe, então pegaram um ônibus, já que ninguém parecia disposto a caminhar naquele dia. Hyunjin, no primeiro movimento de qualquer meio de transporte motorizado, já caia no sono e Changbin sempre acabava fazendo papel de travesseiro, enquanto todos conversavam.

— Hyun, você perdeu, vimos uma casa toda rosa no caminho. - Bin comentou assim que desceram do ônibus e agora os cinco caminhavam preguiçosamente até a casa do mais novo do grupo.

— Uma casa toda rosa? Onde?

— Ah…acho que um ponto antes do ponto que descemos .

— Sério? Eu preciso ver, Bin.

— ah não, mó preguiça, você não deveria ter dormido.

— Por favor, o pintinhas me disse ontem que viu uma casa toda rosa.

—  ué e o que te garante que é ela?

— Eu posso tirar uma foto e mostrar pra ele pra ver se é.

— E o que isso vai mudar, jinnie? Ele já tá morto.

— Bin, eu sei disso e quero ajudar, imagina o quanto deve ser ruim ficar sozinho e sem memórias, ele precisa descansar.

— Tá, nós podemos passar lá na volta, que tal?

— Obrigado Bin. - Hyunjin agradeceu abraçando o baixinho.

— Entrem aí gente, fiquem a vontade. - jeongin falou abrindo a porta e todos foram direto para seu quarto, onde jogaram a tarde toda, só parando  para almoçar. — Tem macarrão com queijo, vocês gostam?

Os garotos concordaram e sentaram à mesa pra comer. Hyunjin estava muito pensativo e não via a hora de ir embora só para ver a tal casa cor de rosa. Estava com muita esperança de conseguir ajudar o pintinhas, ele era muito adorável para ficar sofrendo daquele jeito, mesmo que aparentemente ele não soubesse que estava sofrendo.
Mais ou menos umas seis e meia da tarde, Hyunjin conseguiu convencer changbin de irem embora e os dois foram andando, refazendo o caminho do ônibus até chegar na casa cor de rosa. Era uma casa meio antiga, rosa bebê com janelas rosa choque e no portão, uma lixeira também rosa.

— Tem que ser aqui…- o Hwang murmurou e pegou seu celular para tirar fotos.

— isso é muito estranho, hyun, você é tipo um caça fantasmas.

— eu não sou caçador…Bin, será que alguém mora aí?

— Claro que não, olha pra essa casa e são seis da tarde e tá tudo apagado.

— Eles podem estar dormindo..

— Seis da tarde, Hyun, ninguém dorme a essa hora.

— Talvez estejam trabalhando.

— Por que isso é importante? Ele disse que viu a casa e não que morou nela não é? - changbin perguntou já sentado na calçada.

— É…você tem razão.

—  Você deveria se importar menos com isso e mais com a sua vida, né? Se todo o espírito que aparecer, você for atrás de descobrir o que aconteceu, como vai viver? E a sua vida? Hoje mesmo, você nem jogou com a gente, aposto que estava pensando em vir aqui.

— é… eu tava mesmo.

— Você é muito bonzinho, hyun, mas se importa demais, eles já morreram, não tem nada que a gente possa fazer.

— Desculpa Bin…

— Tudo bem, vamos embora? Eu te acompanho até sua casa.

É lógico que Hyunjin não tiraria aquela ideia de sua cabeça, Changbin não estava cem por cento certo, lógico que precisava viver sua vida, mas ainda tinha como ajudar o pintinhas, ele só precisava recuperar a memória para ganhar consciência e ir descansar em paz, precisa fazer isso por ele.

Assim que entrou em casa, encontrou sua mãe meditando. ela seguia umas vertentes de budismo e hinduísmo,então ela estava sempre meditando, rezando, fazendo yoga ou qualquer outra coisa do tipo.

— Mãe, cheguei. - só avisou e subiu para o quarto e alguns minutos depois, a senhora Hwang foi até lá, levando um lanchinho.

— Oi meu filho, como foi o dia?

— Foi bom, teve palestra na escola e depois fomos no jeongin e você não vai acreditar, eu vi a casa cor de rosa, tenho certeza que e a que o pintinhas falou. - contou concentrado no seu desenho.

— É mesmo? E como tem tanta certeza?

— Ela era muito rosa, não devem existir muitas casas assim, mas na dúvida eu tirei foto e estou fazendo um desenho pra mostrar a ele, daí eu pergunto, quem sabe eu consigo ajudar em algo né?

— Tem razão, amor. Tomara que ele se lembre.

— Uhum…tomara que ele não demore muito pra vir hoje, tô morrendo de sono.

— Bom, então vou sair pra não atrapalhar, come o lanchinho. - se aproximou deixando um beijinho na cabeça dele. — Te amo, bebê, boa noite.

— Boa noite mãe, te amo.

As horas passaram e ele continuou ali desenhando até o comecinho da madrugada quando ele finalmente apareceu. Pintinhas se aproximou olhando por cima do ombro dele.
— O que tá fazendo, Jinnie?

— Você chegou! Que bom, tenho uma coisa pra mostrar.

— O que é? Que bonito, não sabia que desenhava, ah! Parece a casa rosa que achei o gatinho.

— É? Olha aqui, eu tirei uma foto. - falou mostrando a foto na câmera. — Eu achei ela quando fui na casa do meu amigo e tive certeza que era a que você me falou.

— Ah, é aí mesmo. Que legal Jinnie.

— E você lembra de mais alguma coisa sobre esse lugar? Tipo você ia muito lá, ou só passou uma vez?

— Eu só passei, jinnie…

— Ah…então não vai ajudar muito…- disse meio decepcionado.

— Não fica triste, oh eu fiz várias coisas hoje, quer saber?

— Conta, enquanto isso eu vou desenhar você, fica ali.

— Uau, que chique, eu acho que nunca fui modelo. - falou com um sorrisinho. — O que eu tenho que fazer? - perguntou imóvel como uma estátua.

— Só fica aí sendo fofo como sempre, pode falar, não precisa ficar parado. – Hyunjin explicou rindo. — Me conta do seu dia.

— Hm…por onde eu começo?... Eu faltei na escola, a minha mãe disse que vou pra uma nova, tem uns garotos que ficam pegando no meu pé, sabe? Eles até me bateram algumas vezes, mas a mamãe disse que agora vai ficar tudo bem.

— Sinto muito que tenha passado por isso, esses garotos são uns idiotas, como puderam fazer mal pra você, com essa carinha de neném?

— Me pergunto a mesma coisa, eu sou tão fofo. - disse sorrindo apertando as próprias bochechas. — Vai ficar tudo bem, Jinnie e eu nunca mais vou precisar ver eles.

— Isso é bom.

— Uhum…AH! Eu terminei de arrumar meu quarto, tá tudo muito lindo e a minha casa nova tem umas árvores na frente, eu acho que é de cerejeira e quando florir vai ficar muito lindo porque a gente pintou a casa toda de amarelo e branco.

— Hmm vai combinar muito… onde era sua casa?

— ah…é numa rua que também tem muitas árvores, eu não sei o nome…

— Será que você morava perto da casa rosa?

— Sim, é um pouco perto..

— Pintinhas, e se eu procurar sua casa? Quem sabe assim a gente descobre alguma coisa.

— Mas e se eu sumir? Eu não quero sumir…

— Você não vai sumir, só vai pra um lugar melhor.

— E nesse lugar melhor, eu ainda vou poder te ver? - pintinhas a perguntou com clara preocupação na voz.

— Acho que não, mas quando eu morrer também, talvez a gente se encontre.

— Talvez? Ah Jinnie, eu não sei se quero isso…

— Tudo bem, deixa quieto, quando você quiser, a gente procura então. Olha aqui, terminei seu desenho.

— Que lindo, eu nunca me vi tão lindo, você é muito bom nisso, Jinnie.

— Obrigado.

— Aah eu queria pra mim. - falou com um biquinho. — ia ficar bonito no meu quarto novo.

O Hwang sorriu com a carinha emburrada dele e achou uma soluçao. — Vou colar aqui na parede, aí você pode ver sempre que quiser.

— Eu adorei, Jinnie. Obrigado.

— De nada. Mas e então? Você trocou de escola?

— Uhum, ainda não fui lá, mas dizem que é boa..

— Qual escola é? - Hyunjin perguntou se ajeitando na cama.

— aah….eu não lembro, Jinnie, mas quando eu for, te conto como é.

— Tá bom. - falou bocejando.

— Você quer dormir? Eu posso ficar quietinho.

— E você consegue ficar quietinho? - perguntou com um sorriso e o espírito negou com a cabeça rindo. — pode ficar, nós podemos conversar ainda.

— Você pode dormir, eu vou ficar te olhando.

—  Isso é bem assustador, sabia? Imagina se eu conto pro changbin, ele vai surtar. - disse rindo. Poucas pessoas ficariam tranquilas dormindo sabendo que estão sendo observadas, por um espírito então, pior ainda, parece roteiro de filme de terror.

— Prometo que não vou fazer nada estranho. - riu também. — Seu amigo changbin parece ser uma pessoa muito boa.

— Ele é sim, só é muito medroso, ele não quer nem vir no meu quarto porque contei sobre voce. seria legal se ele pudesse te ver também.

— Você pode mostrar o desenho pra ele, aí ele vai ver que eu sou bonzinho.

— Verdade, eu vou mostrar. - seus olhos já estavam tão pesado que não conseguia manter aberto e percebendo isso, o espírito deixou o beijinho na testa com um sorriso no rosto. — Boa noite, pintinhas.

— Boa noite, Jinnie.




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