[43] Caçadores - FINAL

Boa leitura:

Os olhos de Jisung se abriram muito lentamente, a visão turva o impedia de ver se ele estava no céu ou no inferno. O cheiro forte de canela lhe dava a segunda opção. 

Conforme sua visão se tornava mais nítida, ele conseguiu enxergar alguns pontos, e pela arquitetura do teto, ele sabia que estava em uma das câmaras da Ordem, usada para interrogatórios. 

— O ladrãozinho acordou. — Ouviu a voz de Lee Seungho, e quando tentou levantar, foi impedido por restrições que prendiam meus membros nas extremidades de uma mesa de pedra.

— Por que você não me solta e resolvemos isso com nossas katanas? 

— Acabaria rápido demais. — Lee respondeu, sentando em uma cadeira próxima da mesa. — E você sabe que eu não vou te matar. Não, até que você me implore pra fazer isso.

— Eu fui treinado por Chanyeol, não é você, um rato covarde, que vai quebrar. 

O rosto do ômega queimou quando Seungho o atingiu com sua mão. Jisung sentiu um gosto de ferro em sua boca e cuspiu um pouco de sangue. O alfa sorriu olhando para uma pequena mesa e pegou um objeto de metal, semelhante a um cortador de unhas.

— Veremos, então. 

Jisung respirou profundamente e fechou os olhos. Em sua mente, ele imaginou Jackson sorrindo para si, e concentrou-se nele quando sentiu uma dor forte e aguda atravessar a ponte de um de seus dedos. Gritou alto quando, posteriormente, sentiu algo pesado atingido o seu antebraço esquerdo. Gritou mais alto quando ouviu o osso quebrar. Lee agarrou seu braço e apertou, a imagem de Jackson se desfez na mente dele e sua visão escureceu. A dor era muito grande. 

— Você quer saber o que estava escrito nas páginas perdidas daquele diário de bordo? — Seungho perguntou. Jisung virou os olhos para ele mas não respondeu. O alfa continuou: — Cada maldita linha descrevia como ele conheceu a alfa florista. Do que está rindo?!

Jisung tomou algumas respirações para conseguir responder:

— Francis foi feliz sem você. Eles tiveram um filho, o Jackson é o fruto do amor deles… e você... é patético.

Uma grande mão agarrou o pescoço do ômega, e ele engasgou impedido de respirar.

— Olhe pra mim e para você, quem de nós dois é o verdadeiro patético aqui? Ladrãozinho. — Jisung tossiu forte quando Lee soltou seu pescoço. — Depois do que farei com seus braços, você nunca mais vai roubar nada. Nem sequer vai conseguir tomar um copo de água sozinho, quanto mais segurar em uma katana.

Jackson viu seu potencial mesmo quando ele era um menino cheio de medo, tentando fugir de um noivo asqueroso. O caçador sempre confiou em Jisung, nunca o subestimou. Yoongi o achou digno de possuir sua katana porque viu o mesmo. Jisung deixou um mestre em torturas impressionado, seu psicológico definitivamente não seria destruído. O Ômega se concentrou novamente e o sorriso de Jackson se formou em sua mente outra vez. E não importava o que Lee fazia consigo, aquele sorriso se tornava cada vez mais forte em suas lembranças, e era o que mantinha-o firme.

Enquanto isso, no local em que acontecia a batalha, o bloqueio foi quebrado e como já era de conhecimento Barba-Negra não ajudou com a investida contra a Ordem e a maioria dos navios piratas seguiram o curso para tomar Nabuco. Jackson estava em um galeão quando sentiu seu ômega com problemas através da marca. O que era normal, já que estavam no meio de um embate. Mas quando voltou para o Black Swan, ele não o viu em parte alguma. Talvez ainda estivesse bravo consigo, e ele não o culpou. 

Enquanto a tripulação contava os estragos, o Capitão seguiu com o contramestre e o navegador para dentro da cabine. Quando a timoneira desceu do convés superior segurando a katana de Jisung, Jackson sentiu como se um enorme buraco se abrisse debaixo de seus pés.

— Ele estava me protegendo — Chaerin contou entregando a arma. — Mas agora não sei onde ele está.

Jackson segurou no cabo da arma e seguiu para a cabine, abrindo a porta com força desmedida. O estrondo da madeira batendo na parede fez com que todos que estavam no cômodo olhassem para ele. O caçador ignorou os olhares raivosos do Capitão e do seu contramestre e buscou pelo seu ômega, mas ele não estava ali.

Jackson olhou para Jimin que também estava ao redor da mesa, e afirmou:

— Eles levaram o Jisung.

— Lee vai matá-lo... — Seus olhos estavam marejados. 

— Não. Ele fará algo muito pior — Jackson explicou. Os piratas se entreolharam. Sem paciência, o caçador virou para o navegador e exigiu, referindo-se ao Black Swan: — Leve essa maldita banheira pra Coréia!

Taehyung arregalou os olhos e olhou para seu Capitão, Jungkook assentiu com a cabeça. O beta juntou seus mapas e correu para fora da cabine. Jackson fechou os olhos e ignorou quando após o cheiro de jasmim se aproximar, uma voz perguntou:

— Você pode senti-lo?

Mas Jackson não respondeu. Estava concentrado apenas no ódio que  estava sentindo naquele momento, e em todas as formas fodidas de matar Lee Seungho. 

Assim que saiu da cabine, ele viu Chanyeol e Baekhyun se aproximando. 

— A mente dele não vai quebrar, Jack — o mais velho afirmou. — Não importa o que Lee faça. 

— A gente vai trazer ele de volta — Baekhyun concordou. — E vamos perder nossos empregos. 

— Vocês são piratas, agora — Yoongi se aproximou. — Não perceberam ainda?

Chanyeol e Baekhyun ficaram pensativos.

— O mundo dá voltas, Jackson Wang— Yoongi disse, sorrindo. — Ou eu devo te chamar de Bucaneiro Jack?

Jackson revirou os olhos e os três riram ainda mais.

— Que tal uma última missão? — Chanyeol sugeriu. — Resgatar o Jisung. 

— Está falando isso como nosso mentor? — Baekhyun perguntou.

— Sim. Como nos velhos tempos.

— Vou precisar da minha antiga katana, então — Yoongi afirmou estendendo a mão para Jackson. Assim que recebeu, ele sorriu olhando para a lâmina.

No percurso até a Coréia, encontraram uma embarcação da Marinha que os atrasou alguns poucos minutos. Mas assim que chegaram em domínio deste reino, Jackson ficou realmente impressionado com a agilidade dos piratas em levar as bombas criadas pelo atirador até os botes. Eram pequenas caixas cheias de pólvora e outras substâncias, com pavios semelhantes aos dos canhões.

A primeira coisa que fizeram ao chegarem na margem foi esconder os botes. Chanyeol seguiu diretamente para a Ordem, a fim de dispersar as crianças aprendizes em missões longe da agitação. 

Era preciso muito cuidado ao andar pelas ruas de Busan. Embora Jackson não tenha visto um caçador sequer pelas ruas, Yoongi e ele eram alvos agora. Yuri estava na casa dele, vivendo com Celina. 

Seu cavalo e o de Jisung estavam comendo o jardim, e Jackson sorriu automaticamente ao lembrar o nome que seu ômega deu para eles.

— Há quanto tempo, Bolinho. — Deu alguns tapinhas em suas costas.

— Eu não ouvi isso… — Yoongi  afirmou com a boca aberta em meio a um sorriso chocado.

— Tsc, cala a boca. — Rolou os olhos segurando o riso e entrou na residência junto ao espadachim.

Assim que se acomodaram na sala, Jackson explicou ao caçador a situação em que se encontravam, e sobre o plano de destruir o submundo da Ordem coreana.

— Não há caçadores na Ordem — Yuri afirmou. — Quer dizer, não todos. A maioria foi enviada atrás de você e do seu ômega.

— Ele não esperava que viessem. — Celina arriscou, todos olharam para ela, a ômega ruborizou e foi para a cozinha.

— Ela está errada — Baekhyun disse sem cerimônia. — É óbvio que Lee sabe que o Jack viria atrás do Jisung. 

— Baek tem razão. — Jackson concordou, e logo em seguida afirmou: — Precisamos invadir a Ordem agora mesmo! 

— Como exatamente vocês pretendem destruir quilômetros de túneis de uma enorme arquitetura subterrânea? — Yuri perguntou.

Jackson sorriu para Yoongi e Baekhyun, caminharam até a entrada e escancararam a porta, exibindo a grande quantidade de piratas do lado de fora, e uma grande quantidade de explosivos na carroça de algumas carruagens.

— Onde conseguiram esses transportes? — Baekhyun indagou, chocado.

— Nós roubamos no estaleiro — Billy respondeu simples.

— Piratas… — o ômega refletiu balançando a cabeça.

O plano seguiu sem mais questionamentos. Tiveram alguns problemas no caminho, com a Marinha, mas nada que as lâminas não pudessem resolver. Cruzaram as ruas e foram diretamente para uma das entradas mais utilizadas pelos caçadores, situada embaixo da ponte do rio que cruza a cidade.

Chanyeol apareceu logo atrás da entrada, assim que ela abriu.

— Eles não estão aqui. — Tentou avançar, mas o precursor impediu. — Você não ouviu o que eu disse? Nem as crianças, nem o Lee e nem o seu ômega estão aqui.

— Pra onde vocês levariam um inimigo capturado? — Baekhyun perguntou e eles começaram uma discussão sobre os diversos esconderijos.

Como um rastreador, é seu  dever criar cenas e a partir da lógica, seguir o caminho mais provável que seu alvo faria. Não é adivinhação, mas um conjunto de fatores que o levam a uma resposta congruente.

— Se fosse eu, o levaria para o meu lugar favorito — Chanyeol afirmou.

Se Lee não pretende matar Jisung, nesse caso, Seungho necessita de um lugar tranquilo e longe do alcance de Jackson. Mas se  seu ômega já estava em seu domínio, por que a Ordem está praticamente vazia? Para Jackson, a resposta já era bastante clara.

— E qual seria? — Yoongi perguntou.

— As masmorras. — Jackson respondeu no lugar de Chanyeol. — É onde o Jisung está. É onde a maioria dos caçadores estão, para proteger o Lee.

— Como ele sabe? — um pirata perguntou a Yoongi e o espadachim explicou.

Enquanto discutiam, Jackson virou-se para o outro lúpus:

— Capitão…

— Eu já sei — Jeon respondeu. — Hoseok, mostre a esses caçadores como se faz um estrago.

— Leve-nos. — O alfa atirador pediu a Chanyeol, e este indicou a direção. Um a um, os piratas agarraram as caixas e seguiram caminho pelas entranhas da Ordem. O lugar era enorme, mas deixando cada explosivo em um lugar específico, iria abalar as estruturas da construção subterrânea e tudo desabaria em questão de segundos. 

Todos exceto Yoongi, Capitão Jeon, Baekhyun e Jackson seguiram caminho contrário. O ruivo virou-se para Jackson enquanto davam a volta pelo mercado e seguiam sorrateiros pela floresta até as masmorras:

— Não seria melhor que alguns deles viessem conosco? Estaremos em grande desvantagem. 

— Não, ainda há caçadores pela Ordem — Jackson respondeu, olhando para cada um. — Seremos suficientes.

O alfa não duvidava que até mesmo sozinho ele seria capaz de matar todos os caçadores e invadir as masmorras, atrás daquele maldito. Ele colocaria o inferno de cabeça para baixo atrás do seu ômega.

A entrada das masmorras era um alçapão que dava acesso a um amplo espaço, com várias câmaras também no subsolo. Haviam apenas três caçadores guardando o lugar. 

— Tão fácil quanto roubar doce de criança — Baekhyun sorriu, puxando três flechas da aljava.

Todos aguardavam enquanto o arqueiro posicionava as três flechas entre os dedos. Ele puxou a corda do arco e esperou o vento diminuir. O ruivo estava tão imóvel quanto uma pedra, em questão de segundos, ele soltou a corda e as flechas seguiram seu rumo, cada uma acertando a cabeça de um caçador.

Ainda esperaram escondidos entre as árvores, mas como nada aconteceu, seguiram até o alçapão onde estavam os corpos dos três alfas. 

— Vamos nessa. — Yoongi disse, puxando a corda da abertura. 

Assim que a entrada foi aberta, uma katana surgiu avançando contra o espadachim, que logo usou a sua própria como defesa e Baekhyun derrubou o caçador com uma flechada. 

Outros caçadores surgiram brandindo suas armas, eram pelo menos dez para cada um do grupo. E mesmo com as habilidades de Baekhyun e Yoongi, unido a dois lúpus em total fúria, mais caçadores surgiam através da passagem e a desvantagem só aumentava. Era torturante, Jackson podia sentir o lobo do seu ômega chamando por ele. 

Baekhyun atirava suas flechas no centro da entrada, derrubando alguns caçadores e liberando a passagem minimamente.

— Vai, Jackson! — o ruivo deliberou. 

O som do disparo de duas pistolas chegaram aos seus ouvidos, e quando o grupo olhou na direção da floresta, o atirador do Black Swan estava mirando nos caçadores, assim como o restante da tripulação, e Chanyeol que entrou na luta com sua katana. Quando a abertura do alçapão tornou-se maior, Jackson pulou no meio deles e avançou para dentro do lugar, desviando de ataques e investindo contra quem estivesse em seu caminho. Olhou para trás e viu o Capitão Jeon impedindo que alguém mais viesse atrás dele, ceifando a vida dos seus adversários com suas adagas.

O chão tremeu de repente, abalando todo o alicerce das masmorras. Jackson parou de correr por um segundo, imaginando que a estrutura desabaria acima de suas cabeças, mas logo tudo voltou ao normal e ele continuou procurando pelo seu ômega, arrombando todas as portas do longo corredor.  Se aproximou da última porta no fim do corredor e imaginando que estava trancada, ele a abriu com um único chute, arrebentando as trancas de metal. A primeira coisa que viu foi o pêndulo oscilando de um lado para o outro, e Jisung preso a uma mesa de pedra  logo abaixo da lâmina afiada, que descia a cada volta que dava, ameaçando rasgar seu peito.

Lee Seungho estava sentado com uma pistola apontada em sua direção e um grande sorriso no rosto. O ódio que Jackson sentia fazia seu lobo querer assumir o controle, mas ele não permitiu. Ele queria estar completamente no comando das suas ações quando enfiar as espada no coração do maldito.

— Eu tinha planos grandiosos pra você— Lee começou, se levantando da cadeira. — Você era o meu herdeiro e se tornaria o grande líder de nossa Ordem. Mas preferiu jogar toda a glória na lama em troca disso? — Ele apontou para a mesa onde Jisung estava. — Eu sinto muito, mas eu vou ter que acabar com você.

Jackson ignorou a pistola apontada em sua direção e desembainhou a espada devagar. Os olhos de Lee cravaram-se no metal aos poucos sendo exposto, e Jackson aproveitou do seu segundo de distração para lançar um punhal certeiro na mão que ele segurava a pistola. 

Avançou quando Seungho a derrubou no chão, mas ele foi rápido quando puxou uma katana para se defender. Jackson acompanhou o movimento do pêndulo enquanto lutava contra o alfa. A lâmina estava a cerca de cinco dedos de distância, e continuava descendo a cada volta que dava. A mesa era fixa no chão, ele precisava tirar seu ômega dali o quanto antes.

Lee sabia dos seus planos e sorria enquanto o atacava tentando mantê-lo distante da mesa. O barulho do pêndulo oscilando de um lado para o outro lembrava Jackson que ele não tinha muito tempo, e agora o metal estava a quatro dedos de distância. Os olhos de Seungho estavam vermelhos e através do reflexo na lâmina dele, Jackson podia ver que os dele também. Lee pegou um objeto pesado que era utilizado para quebrar os dedos das mãos e jogou contra ele. Conseguiu desviar esperando que ele tentasse lhe atacar com um golpe central, e assim que ele ergueu a katana para atacá-lo, Jackson posicionou a espada na frente de seu corpo e bloqueou a investida, e logo em seguida acertou-lhe um chute na altura do umbigo que o lançou para trás. 

O caçador olhou para a mesa e o pêndulo passou mais próximo, agora a três dedos de rasgar o peito de Jisung. Voltou sua atenção ao Lee, que engatinhava embaixo de uma mesa tentando fugir. Ele se levantou do outro lado e empurrou a mesa contra Jackson, as ferramentas que estavam em cima caíram todas e o mais novo pulou sobre o objeto lançado contra ele, investindo sua espada contra seu antigo líder. 

Lee tropeçou se defendendo como podia, amaldiçoando a cada vez que sua katana atingia a antiga espada e não o corpo de Jackson. Em um último ato desesperado, ele rugiu alto quando lançou a ponta da katana contra o outro, mas Jackson se esquivou com a arma girando a dele e cravou a espada em seu abdômen. 

Avançou contra Seungho até a parede, e deslizou lentamente a lâmina da espada, atravessando seu torso. Seus rostos estavam na mesma altura, Lee tossiu sangue e com os olhos arregalados e encarando os dele, ele sussurrou com uma expressão completamente confusa, provavelmente delirando com a perda de sangue:

— F-Francis? 

O barulho do pêndulo avisou que o tempo estava acabando, Jackson puxou a espada e jogou o alfa contra os espetos da dama de ferro e o trancou dentro do receptáculo. Correu até a mesa que Jisung estava, e o livrou das restrições. Seus dois antebraços estavam quebrados, o rosto completamente machucado e lhe faltavam algumas unhas nos dedos das mãos.

Quando ele o retirou da mesa, no último segundo, a lâmina passou cortando o ar onde Jisung estava. Ele gritou de dor quando o caçador o aninhou em seu braços, e este beijei sua têmpora, tomando toda dor que eu pudesse para si. 

— Jack… — ele chorou baixinho.

— Eu preciso que você aguente só mais um pouco. — O alfa pediu, sentindo um grande aperto no peito, mas o desgraçado do Lee precisava sofrer pelo que fez ao ômega. Jisung assentiu com a cabeça e foi colocado sentado em uma cadeira, com muito cuidado. — Eu já volto, meu bem.

Jackson deixou um beijo carinhoso em sua testa e voltou para a dama de ferro, onde os gemidos e lamúrias de Lee eram abafados pela estrutura selada. Assim que abriu a porta, o alfa estava preso nos espetos cravados em lugares estratégicos de seu corpo, onde não acertaria nenhum órgão vital.

— Escute, eu posso perdoá-lo… — Lee clamou. 

Nada foi mais satisfatório do que ver o pânico brilhando em seus olhos. Jackson o segurou em seus ombros e puxou seu corpo de uma só vez. Seungho gritou e um rosnado profundo rasgou sua garganta quando foi lançado no famigerado cavalete de torturas.

— Jackson, não faça isso — Seungho continuou implorando enquanto o alfa prendia seus tornozelos no cavalete. Logo em seguida, ele fez o mesmo com seus pulsos na outra extremidade. — Eu posso perdoá-lo! 

— Eu não. — Jackson disse, dando o último nó. 

— Você já o salvou, não precisa continuar com isso, eu já estou morto. 

— Isso não é apenas pelo que fez com Jisung — Jackson informou, colocando as mãos na alavanca. — É pelo meu pai. 

O caçador começou a girar o apetrecho que movia as engrenagens do cavalete. Logo, as cordas amarradas nos membros de Lee foram sendo puxadas até esticá-lo completamente sobre o aparelho. Quando chegou no ponto em que Jackson teve que colocar mais força para puxar seus membros, ele ouviu o desespero do outro alfa crescer quando os ligamentos de seus braços e pernas começaram a ser forçados.

— Quando eu chegar no inferno estarei esperando por você! — Lee rugiu.

— Você já está no inferno. — Jackson ditou calmamente, dando mais uma volta na alavanca. Dessa vez, foi o suficiente para começar a deslocar seus membros.

Passaram-se longos minutos esticando os braços e pernas já deslocados do alfa, e os gritos de Lee ecoaram tão alto pelas masmorras, que Jackson só percebeu que havia mais pessoas na câmara quando ouvi a voz de Yoongi:

— Acabamos com eles.

A alavanca foi travada de modo que a tortura continuasse sem que ele precisasse segurar. Baekhyun estava com Jisung, examinando seus braços. Ele olhou para o alfa e avisou:

— Precisa levar ele para o médico, Jack.

Lee mal podia respirar tamanha era a dor que estava sentindo. Era realmente uma pena, mas Jackson não podia estender aquilo por mais tempo, o ruivo tinha razão. Em razão disso, ele pegou  a espada do e Francis Bonny e a posicionou no coração de Lee Seungho. 

Os olhos do alfa prisioneiro se arregalaram diante da morte iminente. Embora estivesse sofrendo as dores de ter seus ombros e joelhos deslocados, era visível o quanto ele temia a morte. Seu olhar era puro desespero e Jackson fiz questão de anunciar:

— Morra pela espada dele. 

Muito vagarosamente, ele forçou a ponta da lâmina contra seu peito. A arma desceu devagar e assim que transpassou o coração de Lee, Jackson girou para que a lâmina fizesse mais estrago. O alfa borbulhou mais sangue pela boca, arregalando os olhos ainda mais, lutando pela vida até o fim, até que finalmente ele deu seu último suspiro.

Já era noite quando deixaram as masmorras. Assim que viu a lua brilhando gigantesca no céu, Jackson se lembrou das últimas palavras do seu pai em seu diário de bordo. Onde quer que esteja, o alfa esperava que Francis  o perdoasse por ter demorado tanto.

Seguiram caminhando às pressas, a caminho do Black Swan. Jackson estava com seu ômega nos braços, sem se importar com as lágrimas molhando seu rosto. O médico os recebeu assim que subiram no navio, levando-os até a cabine do Capitão.

— Sungjae, traga-me o ópio. Do contrário, ele vai sentir muita dor — Seokjin afirmou avaliando as lesões visíveis nos braços de Jisung.

O Ômega grávido abriu a maleta do médico e retirou um pequeno recipiente contendo o item solicitado pelo beta. Jisung fechou os olhos um pouco depois de inalar a substância oferecida por Seokjin. Jackson saiu de seu lado durante todo o procedimento, e até ajudou quando o médico solicitou.

— Ele conseguirá segurar uma katana novamente, certo? — Jisung perguntou aflito.

O médico o olhou chocado quando respondeu:

— É claro que vai! Quem você acha que eu sou? Jisung ainda vai matar muita gente. — O ômega grávido o olhou pasmo, Seokjin mudou sua expressão: — Certo, isso foi um pouco impactante… eu quis dizer que ele vai poder voltar às suas atividades. Mas é claro, será um processo muito lento.

— Será mais rápido do que você imagina. Ele é muito forte — Jackson afirmou. O médico se aproximou com um recipiente e uma toalha limpa para limpar o sangue do rosto do Jisung, mas o alfa lhe interrompeu. — Deixe que eu faço isso.

Todos saíram da cabine, deixando-o sozinho com seu ômega. Passou o tecido umedecido em seu rosto delicado com muita leveza. Haviam algumas escoriações e hematomas, mas nada que o deixasse menos belo. Ficou por um longo tempo em silêncio observando sua respiração serena. Os braços do ômega estavam completamente imobilizados, logo precisaria de ajuda para desenvolver as tarefas mais básicas, pelo menos por um tempo. Jackson faria todo possível e até impossível para que esse período fosse o mais suportável e cômodo.

— Eu admiro muito você, meu bem. Não devia ter passado por nada disso, mas foi tão forte — Jackson comentou, baixinho, observando o subir e descer calmo de seu peito. — Sou muito sortudo por ter você em minha vida. Ter um filho seu seria como um acréscimo a todas as coisas boas que você me faz sentir... 

De repente, o padrão da respiração do ômega mudou, Jackson olhou para seu rosto e ele estava com os olhos abertos o encarando de volta, sorrindo.

— Pode continuar. — Jisung disse.

— Você estava acordado? — O alfa não disfarçou o embaraço, e o sorriso dele aumentou.

— Jack, continue por favor… — Ele fez um bico enquanto se sentava. — Ai…

— Você está bem?

— Estou. Só senti uma fisgada nos braços.

— Vou chamar Seokjin.

— Não. Não precisa. Só quero que me ajude a sair dessa cabine, um pouco. — Ele tentou se levantar, mas o alfa foi mais rápido e o pegou no colo. — Oh, eu vou ficar mal acostumado…

Jackson poderia facilmente fazer isso. Sorriu para ele enquanto saia do cômodo. No convés, a tripulação baixava algumas velas devido a repentina mudança no tempo. Havia um aglomerado de piratas na proa, onde seria a primeira opção para levá-lo. Jackson mudou de ideia, e caminhou até a popa, onde ficaram sozinhos.

— Essa é a parte que mais gosto em um navio.

Jackson franziu o cenho e o ômega, confuso com sua afirmação. Normalmente, as pessoas gostam da proa ou do alto da cesta do mastro, onde pode-se ver todo o horizonte ao redor. Jisung ficou por um tempo em silêncio, observando a espuma sendo formada na água pela traseira da embarcação.

— Por que? — O alfa perguntou, curioso. 

— Dá uma sensação de que tudo passa. Tudo pode ser deixado para trás.  — Ele desviou o olhar para Jackson, e acariciou a bochecha com a ponta do nariz. — E só as coisas importantes ficam. 

— Entendi. Está deixando uma vida como caçador para trás, e voltando ao seu antigo desejo de ser pirata? 

— Não. Quer dizer, eu acho que é mais ou menos isso. Agora nós pertencemos a essa tripulação, não é?  

Jackson olhou novamente para a frente do navio e encontrou Chanyeol ajudando alguns piratas a puxar os cabos, e Baekhyun de braços cruzados observando atentamente os canhões, enquanto escutava alguma explicação do atirador. 

— Sim. Quem diria, agora sou um pirata. — Jackson respondeu, sem rodeios. — E ex caçador.

— Não. Pra mim você continuará sendo um caçador. O meu caçador… Me coloque no chão, sei que você é forte mas eu sou um pouco pesado pra me carregar tanto tempo assim.

— Tenho que me acostumar, porque quando você estiver carregando nosso filhote em seu ventre, eu não vou deixar você fazer nenhum esforço.

Os olhos do ômega brilharam quando as sobrancelhas se ergueram. De repente, ele sorriu, olhando para Jackson com uma expressão risonha:

— Pensei que não quisesse ter filhotinhos, alfa.

— Toda vez que você me lembrar disso vai ser um filhote a mais. 

— Oh, céus. Se esse é o caso, então… — Jisung umedeceu os lábios. — Preciso me recuperar logo, pra gente começar a elaborar o primeiro…

Estavam prestes a se beijar, quando uma voz retumbou alto, no convés superior:

— Jeon Jungkook!? — Era Jimin. Ele estava ao lado da timoneira e com as mãos nos quadris, com uma expressão muito séria. 

— Sim, meu coração? — O lúpus apareceu, olhando para o Ômega.

— Olha onde nosso filho está. 

Jimin apontou para uma pequena figura que estava apoiado na lateral do navio, em cima do parapeito, segurando nos cabos com apenas uma mão, enquanto a outra segurava uma luneta onde por ela observava o horizonte.

— Quando foi que ele subiu ali? — Sven indagou.

Outros dois bucaneiros o olharam igualmente confusos, enquanto o Capitão sorriu cheio de orgulho quando afirmou:

— Esse é o meu garoto. — Ele cruzou os braços e admirou a cena. Jimin pigarreou alto logo atrás, o sorriso do Capitão murchou e ele mudou a expressão, seguindo para onde o filho estava. — Não pode fazer essas coisas perigosas, Jungwon…

Jackson desviou a atenção para Jisung quando ele riu.

— Você vai ser tão protetor com o nosso filhote, quanto seu irmão?

— Claro que eu vou — o ômega respondeu, sorrindo fofo e fingindo inocência. — Olhe pra mim e diga se eu tenho cara de quem vai ensinar nosso filhote a lutar com espadas assim que aprender a andar… 

— Jisun Wang… — Ele o repreendeu falsamente com o olhar. O Ômega sorriu, apoiando a cabeça no ombro dele.

Jackson acompanhou seu olhar, que encarava fixamente as ondas formadas conforme a embarcação avançava. 

Talvez ele discordasse um pouco de seu ômega, sobre poder deixar tudo para trás. Algumas coisas ficam marcadas para sempre, até mesmo as piores. Mas isso não é necessariamente algo ruim, porque à medida que conseguirmos superar as situações mais difíceis, e olhamos para trás, nós temos a certeza de que podemos vencer qualquer tormento.

FIM.

Obrigada por ter lido Hunter 💜

Em breve, essa fanfic se tornará livro físico pela Editora Euphoria, com o nome de Caçador.

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