[42] A Investida

Boa leitura:

A cada passo que Jisung se afastava do seu alfa, era como se abrisse um buraco frio e escuro em seu peito. Até mesmo a respiração se tornou difícil, e sentiu-se sufocado com uma sensação de afogamento. Como se as lágrimas que ele evitou que caíssem, estivessem transbordando por dentro. 

A banda tocava feliz no convés juntamente com o restante da tripulação, que preferiu festejar o dia anterior ao ataque, ao invés de descansar apropriadamente. Mas Jisung não os julgou, eles estavam felizes, e acreditavam que nada nem ninguém poderia detê-los. É como uma comemoração antecipada. 

Esperando não estar interrompendo nada importante, o ômega se aproximou da porta da cabine do Capitão e bateu hesitando. Demorou apenas alguns segundos até seu irmão abri-la, com um olhar confuso. 

— Precisa de alguma coisa? — Jimin perguntou desconfiado. 

Jisung olhou por cima de seus ombros e viu o Capitão sentado diante da mesa, escrevendo alguma coisa no diário de bordo. Jungwon estava sentado ao lado do grande livro, com os olhinhos bem abertos e atento ao que seu pai anotava.

— Eu… — Jisung mordeu o lábio desviando a atenção para o lado. 

Seu coração acelerou quando ele o puxou para um abraço. Jisung sentiu muita falta disso. De ter seu irmão para lhe dar consolo nos momentos em que sentia estar perdido. Ele não insistiu, apenas permaneceu com seus braços ao redor do mais novo, esperando pelo tempo que fosse.

— Entra. — Jimin abriu a porta um pouco mais, dando passagem para o outro.

— Mas… — Jisung apontou com a cabeça para o alfa que permanecia dando atenção apenas ao livro.

Jimin negou com a cabeça e sorriu gentilmente, levando seu irmão até a cama. Assim que se sentaram, ele o olhou esperando que Jisung explicasse o motivo de estar ali. Mas o ômega olhou para o Capitão e depois para ele, que logo entendeu e se dirigiu ao seu alfa:

— Kookie, você não tem nada pra acertar com o Namjoon sobre a investida de amanhã? 

— Não. — O Capitão continuou com suas anotações. Jimin pigarreou, o alfa ergueu os olhos e o encarou. Ele olhou para Jisung depois para Jimin  novamente, e se levantou levando Jungwon junto. — Vamos fazer uma coisa bem divertida com o papai? 

— Nada de perigoso, Jeon. — Jimin avisou, com as mãos nos quadris. 

Quando o alfa passou por eles e seguiu até a porta, Jisung permaneceu com a cabeça baixa, não teve coragem de olhar para ele, e desviou a atenção para o castiçal da mesa de cabeceira. Só o que eu sentiu foi o aroma de rosas e chocolate passando, e o seu embaraço por ter sido o motivo do Capitão ser praticamente expulso da própria cabine. 

— Ai, Jimin... Ele deve estar muito bravo.

— Quem vai ficar bravo sou eu se ele deixar o Jungwon subir sozinho na cesta do mastro de novo… O que aconteceu? Onde está seu alfa?

— No quarto… — Jimin ficou quieto apenas olhando para ele com o cenho franzido, obviamente esperando que o mais novo continuasse: — Você sabe que eu nunca quis me casar ou ter filhos. Mas eu era muito novo. Acho que agora que estou um pouco mais crescido, e vendo você, o Sungjae e essas crianças… Vocês parecem tão felizes, com seus alfas e filhotinhos… 

Jimin manteve a aparência calma, mas seu irmão viu quando ele respirou profundamente, talvez para não xingar Jackson.

— E qual o problema em você ter filhotes? Você é saudável, mas o Jin pode te examinar se for o caso.

— Não dá pra ter filhotes usando um dedo, Jimin. — O mais velho abriu a boca e arregalou os olhos, Jisung cobriu a sua e desviou o olhar… — E-eu quis dizer que…

— Seu alfa não quer. — Jimin completou. 

— Eu não queria vir aqui fazer drama ou…

— Ei, não é drama. Está tudo bem. É um desejo seu, converse com ele sobre isso. 

— Eu não posso obrigá-lo a ter um filhote, só porque eu quero. Ele não faria isso comigo.

— É só uma conversa. Veja o Sungjae, ele não queria ter filhotes, mas está grávido do segundo. 

Jisung sorriu, lembrando do gravidinho. Considerou que talvez Jimin tenha razão, e decidiu ter uma conversa sincera com Jackson, contar sobre seus desejos mas que respeita a decisão dele também. 

Talvez Jackson compartilhe do mesmo ou faça por ele. O Capitão e Jimin não tinham em mente um filhote, mas é perceptível o quanto Jungwon foi a melhor coisa que aconteceu a eles.

— Obrigado, Jimin. — Ele o abraçou. — Vou conversar com o Jack, depois da invasão de amanhã.

O mais velho assentiu, segurou na mão dele e seguiram juntos até a porta. Um pouco próximo a proa, a banda ainda tocava um pouco mais baixo, e restavam apenas alguns bucaneiros bebendo rum e conversando. Jungwon estava em uma balanço feito em uma das vergas mais baixas, com o Capitão brincando com ele enquanto o empurrava levemente.

Com um sorriso enorme, Jimin seguiu até eles enquanto seu irmão descia para os dormitórios. Assim que abriu a porta vi seu alfa deitado na cama que dividiam, percebeu que ele estava dormindo tão calmamente que o ômega tentou subir na cama sem fazer barulho, deitou-se ao lado dele e adormeceu um pouco depois.

Quando acordou na manhã que se seguiu, Jisung encontrou-se sozinho no quarto. Ficou um tempo deitado, pensando em nada especificamente, apenas observando o tempo. Olhou para si mesmo e só então despertou da sonolência, quando percebeu que havia dormido com as mesmas roupas pesadas que estava vestido na noite anterior. Assim que subiu para o pavimento superior, ficou impressionado por toda a armação do mastro e os demais cabos estarem fixos em seus lugares, e as velas prontas para serem içadas.

— Que cara é essa, Ji? — Baekhyun se aproximou, perguntando. — Parece que uma carruagem te atropelou.

— Acabei de acordar.

— Que bom, porque já estamos indo. — Ele apontou para os lados e só então o ômega notou a quantidade de navios piratas que estavam levantando a âncora e subindo as velas. 

Eram tantos que Jisung não se deu ao trabalho de contar. O Capitão estava junto ao contramestre, a timoneira e o atirador. Jimin não estava no convés, então possivelmente se encontrava na cabine com Jungwon. Jackson estava do outro lado com Chanyeol e Yoongi. Ele olhou para seu ômega e logo desviou a atenção para o alfa espadachim.

— Está pronto? — Taehyung perguntou, se juntando a ele e Baekhyun. — Chegaremos no bloqueio da Marinha em algumas horas. 

O Capitão deu a ordem e as velas foram içadas. Logo, o Black Swan começou a mover-se sendo levado pelos ventos na mesma direção em que os demais navios. Jisung passou as mãos em seu próprio cinto e após tatear as armas ele respondeu:

— Estou. 

Jisung viu quando alguns piratas passaram levando barris com pólvora para a popa, e prepararam os morteiros seguindo os comandos do atirador. Também havia dois piratas em cada canhão, e o restante estava munido de pistolas, espadas e machados. O vento tremeu as bandeiras de cada navio conforme o vento os levava na direção da grande batalha. Eram insígnias de caveiras, espadas, baús, pistolas e até mesmo a caricatura de alguns capitães. Um desenho mais assustador que o outro. Mas, sem dúvidas, o símbolo que causava mais temor entre todos estes, era o sombrio cisne. 

O navio ao lado do Black Swan pertencia ao infame Barba-Negra. Seus feitos grandiosos e hediondos eram conhecidos por todos os lugares, e também sua insanidade no campo de batalha. Dizem que ele literalmente pegava fogo enquanto destrói seus inimigos. Jisung viu quando ele olhou em sua direção, enquanto guiava o leme do próprio navio. 

O Capitão Jeon olhou para ele e ambos acenaram com a cabeça.

Como o navegador havia calculado, após algumas horas de curso, os piratas já podiam enxergar a barreira montada pela marinha ao longe. Pela lente da luneta que ganhou de Jackson, o ômega reconheceu alguns caçadores a bordo dos galeões.

— Preparem os canhões a bombordo! — O Capitão ordenou.

— Eu cuido dos morteiros. — Hoseok indicou.

— Chaerin — o contramestre ordenou a timoneira. — Leve o Black Swan entre os galeões chineses.

A alfa assentiu e virou o leme na direção indicada. Jisung entendeu o raciocínio de Namjoon. A Marinha deste reino era a mais imparcial e eles atacariam qualquer navio pirata, quanto a da Coréia, iria direcionar seus ataques diretamente contra o Black Swan.

Assim que os navios se cruzaram, os gritos de comando foram abafados pelo barulho dos canhões liberando seu poder de fogo um contra o outro. O coração de Jisung se apertou só de imaginar que eles não sabiam que tem duas crianças e um ômega grávido a bordo do Black Swan, e talvez não se importassem com isso. A Marinha manteve-se hesitante quando as embarcações chegaram próximas, piratas e caçadores atravessaram os navios através dos cabos e vigas de madeira. 

Ao mesmo tempo em que cuidava dos morteiros, Hoseok sacou duas pistolas e disparou contra alguns caçadores que tentavam chegar no Black Swan através das cordas, os caçadores caiam no mar um após o outro, quando eram atingidos pelos disparos. Yoongi e Taehyung lhe davam cobertura com suas espadas, e cobriam as áreas cegas do atirador, enquanto o mesmo disparava contra os galeões com os dois morteiros. Eles eram rápidos e sincronizados, cuidando das costas um do outro conforme destruía os inimigos.

Uma bola de canhão disparada por um dos galeões, atravessou o convés do Black Swan e atingiu o braço de um pirata. Seokjin ergueu a tampa da escotilha que dava acesso às coberturas inferiores e ajudou o ferido a descer. Namjoon os ajudou sem deixar ninguém se aproximar de ambos. Ainda no convés, especificamente na porta do cabine, o Capitão Jeon matava qualquer um que tentasse passar por ele, e caso passassem, no interior do cômodo estavam Jimin, Scott e outros piratas protegendo as crianças e o Ômega grávido. 

Uma movimentação no convés superior chamou a atenção de Jisung, quando ergueu a cabeça ele viu a timoneira chutando o alfa lateralmente enquanto tentava guiar a embarcação. Um beta se aproximou do outro lado, ela girou o leme e as malaguetas bateram contra o queixo dele, lançando-o para trás. O alfa caído levantou-se rosnando enfurecido e avançou contra Chaerin. A timoneira puxou uma pistola mas os disparos de canhões balançaram o Black Swan e ela derrubou a arma, para segurar o leme e impedir que o navio colidisse com um galeão da Marinha. Ela estava sozinha, guiando o navio e sem ninguém para cobri-la. 

Antes que o alfa inimigo conseguisse atingi-la com sua lâmina, Jisung o derrubou usando a pistola e subiu para o convés superior, para atirar na cabeça do beta caído no chão. Chaerin tirou o cabelo do rosto e sorriu agradecida.

— Você está muito diferente da última vez que o vi. — Ela afirmou e em seguida gritou: — Segure-se!

A alfa girou o leme fazendo o Black Swan virar inteiramente para estibordo e deixando o navio ficar lado a lado com o da Marinha, os canhões do lado direito dispararam simultaneamente destruindo o casco de um galeão do reino japonês.

— E você continua tão brilhante quanto antes. — Jisung a elogiou, e ela sorriu grande.

Muitas pessoas não reconhecem o trabalho de um timoneiro, mas são capazes de fazer verdadeiros milagres em alto mar. É extremamente difícil guiar um transporte tão grande e pesado como um navio, principalmente quando ele está no meio do oceano, sendo puxado pelas fortes correntes marítimas e em meio a uma batalha. Chaerin é sem dúvida, a timoneira mais forte e habilidosa de seu tempo.

No alto de onde Jisung estava, buscou por seu alfa e o encontrou em um dos galeões da Marinha coreana, no exato momento em que jogava um marinheiro para fora do navio. 

O Black Swan era o menos avariado, e isso se dava pela timoneira e sua majestosa habilidade em conduzir navios. Com isso, os alfas e betas da Marinha direcionaram a ela alguns ataques mais pesados. Chaerin se jogou no chão para não ser atingida por uma bola de canhão. No mesmo instante, dois caçadores pularam sobre o convés superior, Jisung desembainhou sua katana e não recuou mesmo estando em desvantagem. Uma flecha atingiu a cabeça do alfa que estava em sua frente, mesmo sem ter tempo para olhar ao seu redor, Jisung sabia que ela havia sido disparada por Baekhyun. 

Jisung moveu o braço e rasgou a garganta do outro caçador, quando sentiu um corpo ser lançado contra o seu em direção a grade de proteção do convés superior. O braço do ômega que segurava a arma bateu na madeira, o choque fez seus dedos se abrirem e a katana escorregou de sua mão. Dois braços se voltaram ao seu redor enquanto os dois estavam caindo para fora do navio. Jisung puxou uma grande quantidade de oxigênio segundos antes de ser engolido pelo oceano. 

Embaixo da água, lutou para se livrar do caçador, mas o aperto dele ao seu redor se tornou mais forte, e o caçador o manteve submergido até o ômega sentir seus pulmões gritando por oxigênio. Olhou para cima e viu a luz que tocava na superfície da água ir escurecendo, conforme ele perdia seus sentidos.

Continua...

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