[28] Um Ômega Forte
Boa leitura:
Há alguns meses, quando julgou Jisung como uma pessoa incapaz de matar até mesmo uma mosca, Chanyeol não imaginava que futuramente estaria diante de um ômega tão habilidoso. Ele avançou tão rapidamente em seu treinamento, que agora o alfa não apenas assume que estava enganado mas, defende que ele é capaz de matar uma velhinha inofensiva sorrindo e encarando-a nos olhos.
Já viu outros aprendizes com uma história parecida, mas o que realmente o assustou foi ter errado em seu julgamento para com ele, mesmo com toda a experiência que têm.
— Eu ouvi um pouco da conversa de vocês. Desculpa, foi inevitável. Aconteceu enquanto eu me aproximava da porta — Jisung falou para Jackson. — Sei que está preocupado, mas não precisa se sentir assim.
— Eu já sei do que você é capaz — O alfa respondeu. — Tudo bem. Apenas não force seus limites para me impressionar.
Jisung ergueu as sobrancelhas, em uma expressão totalmente chocada. Ele não estava fazendo aquilo apenas para impressioná-lo, na verdade, isso nem passou pela cabeça do ômega. Sua real intenção era passar por todo tipo de situação e agregar em sua futura ocupação. Jackson piscou confuso, e Chanyeol se apoiou na mesa para ficar mais confortável assistindo a discussão.
— E quem disse que eu tô fazendo isso pra te impressionar? — Jisung ficou esperando por uma resposta, mas Jackson não falou mais nada. Em seguida, o ômega se aproximou de onde o precursor estava e anunciou: — Tente descobrir o ano em que minha mãe nasceu. Pode fazer o que quiser comigo. O que você quiser.
— Serei morto se eu fizer isso.
Jisung largou os ombros respirando profundamente, e girou para o Jackson:
— Quero que você saia dessa câmara, por favor.
— Eu vou ficar aqui — o alfa cruzou os braços. — Se quiser que eu saia, então me tire.
— Então promete que não vai interromper? — Jisung colocou ambas as mãos no rosto dele e o manteve olhando para si. — Por favor? Eu confesso que não sabia em que estava me metendo quando pedi para que me treinasse. Foi tão difícil no começo, não pensei que eu seria capaz de fazer aquelas coisas. Mas eu fui. Você me ensinou a ter mais confiança em mim mesmo. Faça isso por mim também, é só o que eu peço.
— Posso deixá-lo escolher onde será interrogado — Chanyeol sugeriu. — Mostrarei cada aparelho e para o quê serve, e ele escolhe.
— Ainda não estou muito de acordo, mas tudo bem.
— Obrigado! — Jisung o abraçou pelo pescoço e o beijou várias vezes em seu rosto.
Chanyeol sorriu, assistindo a cena, pensando que se fosse ele com Baekhyun, o ômega já teria descido a mão na sua cara faz tempo, se ele tentasse impedi-lo de fazer qualquer coisa. Mesmo que seja por preocupação. Ele não sabia se era porque Jisung é naturalmente doce e gentil, ou se é por causa da submissão que foi enraizada dentro dele. O fato é que ele era o ômega mais amável que ele já conheceu.
— O que aquilo alí faz? — Jisung apontou para uma das mesas.
— Ah! Essa é uma das minhas favoritas — os três se aproximaram da mesa e Chanyeol explicou: — Esse aparelho se chama cavalete. Ele é usado para puxar os braços e as pernas em direções opostas, para deslocar os membros e provocar dores extremas. A tortura pode durar dias…
— Que horror! Vamos para o próximo, por favor — Jisung o interrompeu, indo para o seguinte.
— A dama de ferro. — Chanyeol continuou: — Você entra dentro desse compartimento e quando eu fechar a porta, esses espetos vão perfurar sua carne em pontos específicos que não o mate de imediato. Mas eles farão com que você sinta muita dor enquanto sangra lentamente.
— Definitivamente não. — Jisung apontou para outro aparelho. — Essa aqui também serve para arrancar os membros?
— Não. Está vendo aquele dispositivo? — Chanyeol mostrou uma lâmina presa à ponta de uma corrente. — Se chama pêndulo. Você fica preso nessa cama enquanto o pêndulo oscila para frente e para trás, até a lâmina descer e rasgar sua carne, abrindo seu abdomem aos poucos.
— Isso me mataria de imediato.
— Em poucas voltas.
— E aquele alí?
— Aquele? — Seguiram para o próximo aparelho. — Esse é o esmagador de cabeça. Preciso explicar mais?
— Nossa. Tem como ficar pior? — Jisung perguntou e inúmeros métodos passaram pela mente do precursor. Chanyeol sorriu automaticamente. O ômega adicionou rápido: — Não precisa responder.
— Tem o Stuart, mas eu acho que você não gosta de ratos.
— Depende… alguns ratos são fofinhos.
— O Stuart não é fofinho.
— Então eu quero esse Stuart longe de mim… — Jisung seguiu em busca da máquina perfeita e parou diante de uma das favoritas de Chanyeol. — E essa?
— A roda — Ele se aproximou. — Suas mãos e pés são amarrados em cada extremidade, eu aciono esse aparelho e você gira junto com ela. Quando você estiver de cabeça para baixo, a água vai cobrir sua cabeça e assim, impedi-lo de respirar pelo tempo que eu determinar.
— Só isso? Quer dizer, sem membros arrancados, perfurações e sangue?
— Sim.
— Então eu quero esse.
Chanyeol olhou para Jackson esperando alguma palavra contra, mas o caçador apenas observava com uma expressão séria e os braços cruzados, sem dizer nada.
— Fique a vontade — Chanyeol indicou o caminho para que o ômega entrasse no compartimento cheio de água onde a roda se encontrava. Quando ele entrou, a água chegou até seus joelhos.
— Está fria.
O precursor prendeu os tornozelos dele em cada extremidade do aparelho e logo depois seguiu para os membros superiores.
— Levante suas mãos — Chanyeol pediu, e ele obedeceu. — Está com medo?
— Não. Um pouquinho de água nos pulmões não faz mal.
— Eu não ficaria preocupado apenas com isso…
— Como assim?
Chanyeol deu o último nó e explicou:
— Eu posso girar essa roda e deixá-la em qualquer posição, não precisa ser necessariamente de cabeça para baixo. Posso deixá-lo na horizontal, e um lado do seu corpo terá de sustentar o outro, quando sua estrutura física for puxada para baixo. Seu torso não terá nenhum apoio, você terá de forçar os músculos dos braços e das pernas pra se sustentar. Dependendo do tempo que eu o manter nessa posição desconfortável, poderá provocar dores terríveis.
Jisung o encarou com os olhos arregalados e engoliu em seco, ficando um tempo sem piscar.
— Será que eu posso mudar de ideia? O que o Stuart faz?
— O Stuart vai cavar um buraco na sua barriga pra tentar fugir de um artifício que eu farei.
— Céus… a pessoa que criou esses aparelhos é extremamente cruel.
— Eu acho brilhante. Tive até algumas ideias para incrementá-las… — Jisung o olhou com desaprovação. Chanyeol voltou ao foco: — Certo. Vamos começar. Ah, antes que eu esqueça — ele pegou uma ampulheta e a colocou em cima da mesa, à vista de todos —, o tempo em que a areia leva pra chegar completamente no recipiente de baixo, leva exatamente uma hora.
Jackson puxou uma cadeira e ficou sentado próximo, observando cada movimento do precursor, com um olhar que revelava suas intenções interiores.
— Muito bem, eu quero os números — Chanyeol anunciou para o ômega, colocando a mão na alavanca. — Diga-me, em que ano sua adorável mãe chegou a este mundo?
A reação do ômega foi completamente o contrário do que ele imaginava. Pensou que Jisung começaria com um jogo psicológico, ele era bom nisso. Um ótimo manipulador. Mas ao invés, o ômega começou a rir descontroladamente.
— Desculpa, eu não consigo. — Ele tentou se conter mordendo os lábios — Não assim… sério, está muito engraçado… — Contou, aos risos.
— Está engraçado? — Chanyeol perguntou e ele balançou a cabeça assentindo.
— Você, falando comigo desse jeito, é um pouco cômico.
Jisung continuou tentando se manter austero, mas sempre começava a rir. Chanyeol também achou a situação engraçada e também sorriu. Ele nunca havia falado com o ômega daquele jeito e de repente, mudou da água para o vinho. Jackson foi o único que permaneceu sério.
Quando Jisung menos esperava, o precursor ativou o aparelho e a roda girou até deixá-lo com a cabeça completamente submersa na água. Ele assistiu calmamente o ômega tentando lutar contra o instinto de respirar e quando viu que estava quase em seu limite, Chanyeol girou a roda novamente até ele ficar na posição inicial.
— Ainda está engraçado? — Perguntou com o mesmo tom de voz calmo de sempre.
Jisung não conseguiu responder, obviamente. Ele estava ocupado enquanto tossia expelindo um pouco de água pela boca e nariz.
Antes que ele pudesse se recuperar completamente, Chanyeol ativou a roda outra vez e repetiu o mesmo processo duas vezes seguidas. A partir da terceira vez, o ômega já estava completamente molhado, seu corpo tremia e ele colocava mais esforço para respirar.
— Parece que você está com frio.
— Você não vai me perguntar nada? — Jisung indagou por cima. — Só vai ficar me girando nessa maldita roda?
— Você sabe o que eu quero.
— Não sei... o que é?
Bancar o sonso era o erro mais cometido pelos iniciantes. Eles ficavam irritados e começavam a agir com deboche. Era preciso mais do que coragem para desafiar o interrogador, mas a certeza de que poderia dominar a situação ao seu favor. Embora fosse muito inteligente, Jisung estava lidando com o precursor mais eficiente da Ordem.
Chanyeol girou o aparelho e o manteve dentro da água por um tempo maior do que das vezes anteriores. Jisung moveu o corpo com desespero tentando livrar-se das restrições, e quando estava quase perdendo suas forças, o alfa permitiu que ele voltasse a respirar quando acionei a alavanca e a roda girou outra vez.
O Ômega quase perdeu os sentidos. Estava com o corpo mole e os olhos pesados, a um fio de apagar completamente. Chanyeol acertou um tapa forte em seu rosto, que o ajudou a recobrar a consciência.
— Eu vou te dar um conselho: quando estiver sendo interrogado, não tente provocar seu algoz.
Jisung refletiu. Chanyeol ouviu a madeira ranger quando o lúpus atrás dele apertou os braços da cadeira em que estava sentado, com força. Por um breve momento, o ômega respirou calma e profundamente, como se estivesse sentindo um pouco de alívio.
— Vou deixá-lo pensando um pouco — o precursor girou a roda até deixá-lo na horizontal, em uma posição visivelmente desconfortável. — Jackson, vem um minuto aqui fora.
— Tá. — Ele deu de ombros e o seguiu até fora da câmara.
A partir do momento em que um um alfa marca um ômega, é de conhecimento geral que eles dividem tudo, literalmente. Logo, se um dos dois estiver sentindo alguma dor, o outro pode tomar um pouco para si e até mesmo dividi-la com seu parceiro, ou no caso dos lúpus, tomá-la inteiramente para si.
Era exatamente o que Jackson estava fazendo. Ele sentiu, pela marca, que seu ômega estava cansado, com o corpo cheio de dores, fazendo um imenso esforço para não chorar. E foi através dela que ele concedeu a Jisung algum conforto.
— Eu vi o que você fez — Chanyeol foi direto.
— Não sei do que está falando.
— Você quer mentir pra mim, Jackson? Sério? Logo eu?
— Tsc… foda-se.
— Como você acha que ele vai reagir quando eu entrar lá dentro e contar o que você fez?
— Você não vai fazer isso.
— Me dê um bom motivo — Ofereceu. Devido ao olhar que o outro fez, Chanyeol acrescentou: — Que não sejam ameaças.
Jackson passou as mãos no rosto e jogou o cabelo para trás, se recompondo da raiva que estava sentindo e tentando manter a postura.
— Ele não vai contar. Eu posso sentir. Se você continuar com isso só vai fazer meu ômega passar por uma situação desnecessária.
— Isso quem decide sou eu. Agora, nós vamos entrar naquela câmara e se você tomar a dor dele novamente, eu vou contar.
A muito contragosto, que eu sei, Jackson concordou e abriu a porta com pouco cuidado, voltando a se sentar na mesma cadeira de antes.
Jisung ainda estava na mesma posição, mordendo o lábio inferior com muita força e mentando os olhos fortemente fechados, concentrando-se para suportar as dores. Quando percebeu que os alfas já estavam de volta, ele abriu os olhos e comunicou:
— A ampulheta… a areia chegou ao fim há muito tempo.
— Eu sei. — Chanyeol esticou o corpo. — Mas eu não lembro de ter dito que você estaria livre quando o tempo acabasse.
Jisung o olhou com espanto. O mesmo olhar de quem acaba de perder todas as esperanças. O ômega estava se agarrando a cada grão de areia que passava de um lado para o outro, aguentando firme porque imaginava que iria se livrar da situação quando o tempo acabasse. Contudo, a intenção do precursor era exatamente essa, fazê-lo ir do céu ao inferno em um segundo. Atacar o psíquico, fazendo-o desistir. Aquela era a sua especialidade.
Chanyeol sabe o quanto Jisung é muito esperto, ele tinha em mente que não podia atacar seu psicológico tão diretamente. Ele não conseguiria fazer isso contra alguém tão manipulador quanto aquele ômega, afinal, Jisung era muito bom nisso. O melhor que pôde fazer foi alimentá-lo com uma falsa esperança, para poder retirá-la no melhor momento. Agora, para Chanyeol, era só questão de tempo para que a desilusão o fizesse confessar.
— Seu cabelo está seco — afirmou, tocando em uma mexa de sua franja —, deixe-me molhar um pouco pra você.
Acionou a alavanca e a roda voltou a fazer seu trabalho. Passaram um tempo naquele mesmo impasse. Jisung estava aguentando muito bem, mais do que qualquer outro ômega que já treinou. Assim sendo, Chanyeol decidiu que ele merecia um descanso por seus esforços, e o deixou na posição mais confortável possível, de pé.
Dessa vez, Jackson não interviu em nenhum momento. Lutando contra seus instintos, Chanyeol sabia que sua maior vontade era tirá-lo dali. Mas ele respeitou a vontade do seu ômega e o precursor ficou sinceramente feliz por isso.
Chanyeol esperou por cerca de cinco minutos e quando voltou para continuar, viu que os olhos do ômega estavam completamente cheios de lágrimas. Elas desciam pelas bochechas dele, uma atrás da outra.
— Eu não aguento mais… — Jisung confessou muito baixo, talvez pela fraqueza que sentia. Chanyeol se aproximou para ouvi-lo melhor. — Eu não estou sentindo meus braços e as outras partes do meu corpo estão doendo muito…
— Então diga — o alfa incentivou. Jisung abaixou a cabeça, fraco. Chanyeol segurou em seu queixo com cuidado e ergueu seu rosto novamente. — Me conte o ano em que sua mãe nasceu e toda agonia acaba.
Jisung fechou os olhos e mais lágrimas desceram pelas bochechas. Era natural se estivesse sentindo-se frustrado por não ter aguentado até o fim. Àquela altura, Chanyeol já estava achando incrível o quanto ele aparentemente foi capaz de suportar.
Seus pensamentos já estavam elaborando algumas dicas para ajudá-lo a se manter mais firme, caso fosse posto naquela situação outra vez, porém, seu raciocínio foi interrompido quando viu os cantos da boca do ômega curvando-se em um pequeno sorriso, que foi crescendo até seus dentes ficarem visíveis.
— Sabe no que estou pensando? — Jisung perguntou. O alfa continuou em silêncio e ele então continuou: — Em como meu irmão deve estar tendo trabalho com o filho dele. Jimin deve estar com os cabelos em pé, correndo atrás do pequeno pelo navio… ou pequena, é claro.
— O que está querendo com isso?
O ômega abriu os olhos e o encarou.
— Eu realmente pensei que tudo chegaria ao fim quando o último grão de areia atravessasse a ampulheta. Mas quando você revelou que isso não aconteceria foi como um baque, eu só queria gritar e te xingar, mas não tinha forças pra isso. Me senti frustrado.
— E então? — Chanyeol prostrou-se, ansioso pela confirmação da desistência.
Até mesmo Jackson se levantou para se aproximar um pouco mais.
Jisung continuou:
— Mas entendi que se eu aguentei por uma hora, posso aguentar duas, três, quatro… posso ficar aqui o dia inteiro, mas eu não vou contar nada. E sabe de uma coisa? O único frustrado aqui é você, porque sabe que estou falando a verdade.
Boquiaberto, Chanyeol ficou alguns segundos sem reação. Ele definitivamente não esperava por aquilo, mas sabia que o ômega não estava tentando provocá-lo, seus olhos tão azuis e intensos estavam sérios.
— Você está certo. Eu estou realmente frustrado — Chanyeol confessou e ainda sorriu, antes de concluir: — Mas como amigo, eu estou orgulhoso. Jackson, me ajude a tirá-lo daqui.
Nem foi preciso pedir duas vezes, Jackson o livrou rapidamente das restrições e o pegou no colo antes que o corpo do ômega cedesse.
— É isso? — Jisung quis confirmar, antes que recebesse outra vez um banho de água fria. — Realmente acabou?
— Sim — Chanyeol sorriu para ele. — Parabéns. Como precursor, eu estou impressionado.
— Que bom, porque eu tive medo que você fosse me colocar em outro aparelho de tortura. — Jisung sorriu nervoso.
— Não… ao contrário do que alguns alfas pensam… — Chanyeol fez uma pausa olhando para Jackson, provocando, o outro rolou os olhos e ele continuou: — Eu não estava me divertindo enquanto fazia isso com você.
— Mas o objetivo não era retirar as informações de mim?
— Não nesse caso. A intenção aqui era ver até onde você iria aguentar. Não havia necessidade de ir mais longe, quando eu entendi que você é capaz de suportar muito mais do que isso.
Apesar de sentir grande vontade de interromper o interrogatório a cada instante, Jackson sabia que seu ômega seria capaz de passar nessa provação, ninguém estava mais orgulhoso do que ele, a não ser o próprio Jisung, é claro.
— Eu estou molhando você... — o ômega afirmou, se encolhendo e pressionando a bochecha contra o peito do alfa. — Mas você está tão quentinho.
— Tudo bem — Jackson o abraçou e beijou a cabeça dele. — Acabou.
Jisung sorriu para ele e fechou os olhos aos poucos, até perder a consciência completamente. Apesar do longo repouso que desfrutou, assim que o ômega despertou muitas horas depois, não estava conseguindo mover um dedinho sequer. Seu corpo inteiro estava dolorido e seus músculos travados.
Continua...
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