Capítulo 18 - Louise

Conseguia sentir o cheiro inebriante de bebida e cigarro logo da entrada, que muquifo era aquele que Daniel me arrastou?

Digo, o lugar tinha um ar arrumado, uma vibe meio rica, mas o cheiro de bebida cara era o suficiente para deixar qualquer um bêbado por osmose.

Quando ele disse que iriamos sair, achei que estivesse brincando, mas definitivamente não estava.

De pé na porta do bar, encarava um grupo de jovens envolvidos num nevoeiro próprio, não pelo clima frio, não mesmo, era de lá que vinha o cheiro de cigarro, tabaco, o que quer que fosse a erva que estavam fumando

Fiz cara de nojo, odiava esse cheiro, e Daniel me puxou para dentro.

— Que ideia horrorosa! — murmurei quando ele se abaixou para entrar, os malefícios de ser muito alto, e ele sorriu para mim.

— Não saímos faz tempo, Louise, relaxe! Com sorte achamos alguém para beijar — sugeriu animado demais, quando finalmente vi uma moça muito bonita acenando na nossa direção.

Tinha longos cabelos claros, presos com duas trancinhas amarradas para trás, a pele pouco bronzeada, não sabia se pela meia iluminação do lugar ou se realmente era seu bronzeado, e um sorriso muito meigo. Ela inteira exalava um ar doce, como se lhe desse diabetes só de estar perto. Tinha uma estatura acima da média e estava acompanhada de um rapaz muito bem vestido, cabelos longos e... Dante?!

— Não me disse que o irmão dela estava junto! — sussurrei enquanto nos aproximávamos.

— Eu também não sabia. — Deu de ombros — Aproveite e converse com ele, sei lá, faça bom uso da presença do seu objeto de interesse atual.

— Cara de pau, ele não é meu objeto de interesse! — resmunguei e ele finalmente alcançou os dois, sendo recebido por um abraço animado da moça.

— Daniel! — A voz dela também era fofa, que diabos! — Que saudades! Quanto tempo que não nos víamos pessoalmente! Como vai seu romance?

— Como sempre, está sorrindo — Daniel brincou, dando um abraço ainda mais forte. — Está indo tudo bem, e a empresa?

— Bom, como sempre — ela deu de ombros e finalmente encarei o rapaz que parecia distante, olhando para a pista de dança enquanto segurava um copo. — Você deve ser a Louise!

— A própria — respondi um pouco sem jeito, e ela me puxou para um abraço.

— Finalmente a conheço pessoalmente, obrigada por tudo que fez por... minha família — deu uma olhadinha breve para Dante, que pareceu ter me notado, já que se arrumou na mesa.

Ele me encarou, confuso, e eu dei de ombros.

— Que isso, Aurora, deixe essas formalidades! — Daniel se adiantou, dando uma afastadinha em mim e sentando ao lado da amiga.

E, vendo que seria o caso, me aproximei de Dante, que se endireitou onde estava sentado me permitindo passagem.

Em comparação ao visual mais básico que o vi até agora, eu pude jurar que era outra pessoa, estava muito bem arrumado e tinha uma vibe diferente do meu secretário de humor morno de sempre.

— Não sabia que gostava de bares — pigarreou evitando me encarar.

— Digo o mesmo — dei de ombros.

— Não sabia que era amiga próxima de Daniel — deu algumas piscadinhas rápidas, e eu apenas sorri.

— Não sabia de muitas coisas, aparentemente — brinquei e ele finalmente me encarou com uma sobrancelha arqueada.

— Não sabia que tinha o humor inconstante também — desafiou e foi minha vez de arquear a sobrancelha. — Não é porque é minha chefe que tenho que ser polido, não estamos em um ambiente de trabalho. — Cruzou os braços como um garoto birrento.

Ousado.

Levantei as mãos, me dando por vencida.

— Tá bem, senhor Diefenthäler — provoquei e ele cerrou os olhos.

— Ora, ora, não errou hoje — tomou um gole da bebida com um sorriso de lado.

— Fiz meu dever de casa — ambos rimos.

Ele então me ofereceu... o que diabos era? Dei uma olhadinha mais próxima apenas para sentir o cheiro forte de whisky. Ele estava tomando whisky puro como se fosse água?

— Puro? — ele assentiu, como se fosse óbvio. — Dante, Dante, quem quebrou seu coração? — A brincadeira saiu antes que eu pudesse conter, e eu o encarei um pouco desconcertada, mas ele apenas riu.

— Olha, muita coisa já quebrou em mim. — Arqueou uma sobrancelha, não consegui não olhar para seu pulso, e balançou a garrafa, como se perguntasse de novo se eu queria, neguei com um balançar de mãos. — Não é minha bebida de escolha normalmente, apenas a que me deixa bêbado mais rápido.

— Vou começar com algo mais fraco — afirmei e ele apenas assentiu enfatizando com um bico engraçado. Acenei para um garçom que prontamente veio até nossa mesa. — Ah, vou querer uma caipirinha de limão.

Dante soltou uma risadinha.

— Por um momento, pensei que iria pedir um de frutas vermelhas — ele ficou com isso na cabeça.

— Não bebo só coisas de frutas vermelhas, apesar de que realmente é uma preferência! — cruzei os braços.

— Pelo amor de deus, pelo tanto que defendeu seu chá hoje cedo, quase achei que era uma seita, um culto ou coisa assim, algo como, defender coquetéis de frutas vermelhas a todo custo — apontou e não consegui conter o riso.

— Mas você estava me julgando pela minha escolha, tinha que defender a melhor bebida do mundo! — afirmei com uma expressão muito séria. — Água gaseificada combina muito com xaropes mais doces!

— Não julguei nada, você que ficou incomodada pelo jeito que eu tava encarando sua escolha — contrapôs, dando mais um gole na bebida.

— Seus olhares dizem demais sobre você! Até demais, senhor livro aberto! — Alfinetei e ele colocou a mão no peito, como se estivesse indignado.

— O que está dizendo? Sou um homem contido! — atestou, muito sério, e eu cai na gargalhada.

— Ah, piadocas — resmunguei e finalmente meu drink chegou.

Sai um pouco de perto do rapaz ao meu lado para encarar Aurora, que nos observava com um olhar sorridente.

"Ele está ficando bebado", mimicou para mim e eu arqueei as sobrancelhas, entendendo o motivo para ele estar tão animadinho e sem filtros.

Sorri e assenti com a cabeça, olhando para o pratinho de petiscos intocado em frente a ele, e a forma que ele dava umas vaciladinhas para o lado. Achei que estava curtindo a música ambiente, mas "bêbado" fazia mais sentido.

E, que estranho, ele estava tremendo muito. Será que era tão fraco assim com bebidas?

— Ei, Dante, porque não come um pouco, hm? — sugeri, visto que tínhamos acabado de chegar. Ele fez careta para mim.

— Quer? — aproximou a petisqueira de mim, e eu sorri amarelo.

— Quero, obrigada.

Daniel estava se segurando para não rir, então peguei um amendoim, acho que era um amendoim... era um amendoim, sinalizando para que ele também comesse. E ele virou a cabeça, dando um suspiro e tomando mais um gole da bebida.

Pelo jeito que agia, algo definitivamente tinha mexido com o coração dele, ninguém bebe tanto assim sem estar abalado.

Caímos num silêncio confortável enquanto eu começava a curtir um pouco o momento, a música não estava alta a ponto de não ouvirmos uns aos outros, a pista de dança já começava a se animar e eu sabia que cedo ou tarde Daniel começaria a chamar qualquer um para o meio da galera.

Enquanto olhava ao redor, me lembrei do motivo para não frequentar mais lugares assim, era tudo uma escuridão muito psicodélica. Nada tinha uma cor clara, tudo ficava em uma meia luz irritante que era impossível ver da cintura para baixo.

Deixei Dante com seu amado copo de whisky e fui até meu estimado amigo, tateando lentamente com os pés para não tropeçar em nada, e Daniel, com um sorrisinho, me puxou com um braço e começou a nos balançar no ritmo da música.

— Está animada — sussurrou para mim. — Viu que ele não é uma má pessoa?

— Tá, claro, entendi — resmunguei, negando com a cabeça. — O que está planejando?

— Só quero que faça alguns amigos, Louise, ficar trancada em casa não é bom para ninguém, você sabe disso — começou a me puxar para fora do mezanino que estávamos, e cedi, dando passinhos calmos para o meio da multidão.

— Vou acreditar nisso por hora — respondi com um tom irritado forçado, ele acabou rindo.

— Pode acreditar, é apenas isso e mais nada — deu de ombros. — Conhecer gente nova faz bem.

— Isso era seu plano inicialmente? — questionei, tropeçando sem querer em alguma coisa que não me dei ao trabalho de conferir, e Daniel me segurou.

— Na verdade, não. Agatha estava esperando que se dessem bem, mas não sabia como Dante iria reagir a isso tudo — ele deu de ombros quando me aprumei e voltamos a dançar. — E ele não parece estar desgostando, então apoio que sejam amigos.

Apenas puxei o lábio para o lado com uma expressão de desdém, e ele sorriu. Neguei e sorri de volta.

— Não vai beber? — Vi que ele segurava um copo com água com gás e limão.

— Alguém tem que nos levar para casa — ele apontou com a cabeça para Dante, que já parecia começar a derreter na mesa num sentido literal, e Aurora lhe puxava e lhe dava um pouco de água.

Ele pareceu reclamar de alguma coisa e afastar a água, mas a irmã enfiou alguns amendoins em sua boca. Que cena... Não pude conter o riso.

— Esse aí não sabe beber — mencionei e Daniel riu.

— Espero que não dê trabalho.

Dançamos mais um pouco, aproveitando a música mais lenta, e finalmente voltamos para a mesa, onde Daniel voltou para a pista de dança, puxando Aurora dessa vez. Agradeci que não precisaria mais lidar com a escuridão de luzes escuras e sentei novamente ao lado do rapaz esparramado como um boneco de posto.

— Louise — Dante, que estava com a cabeça escorada na mesa e a cara toda amassada pela madeira, me chamou dando uma olhadinha para mim sobre o ombro. — Porque está sendo gentil comigo?

Franzi o cenho.

— Eu? Gentil? — Ele assentiu, ficando ainda mais amassado. — Quase lhe demiti duas vezes.

— Mas não demitiu mesmo quando fiz burrada — se levantou. Ele definitivamente estava bêbado. — Não me demitiu e foi compreensiva. Porque?

— Hm... porque será? — murmurei, apoiando meu braço na mesa e minha cabeça em minha mão, dando um sorrisinho para ele. — Um amigo me disse que você é gente boa, então lhe dei uma chance a mais.

— Sério? — sua voz foi meio chorosa. — Obrigado.

— Também já fiz muita burrada quando estava começando, dei muito trabalho para todo mundo ao meu redor, — comecei e ele pareceu prestar muita atenção — mas eu tive muitos amigos que me apoiaram. Então achei justo lhe dar outras chances, então trabalhe diligentemente, viu?

— Viu... — ele assentiu e caiu na mesa.

Era realmente um sujeito engraçado.

Mas esse pensamento durou só até ele ficar ainda mais bêbado e se agarrar em mim, me pedindo para ir ao banheiro com ele.

Depois de muito trabalho, Daniel conseguiu me soltar e o levar para ficar mais sóbrio, enquanto Aurora pedia perdão mil vezes. Aparentemente, fazia tempo que ele não bebia nada - resultando numa resistência baixa - e tinha tido uma noite estressante, então acabou bebendo o normal para não ficar bêbado e acabou ficando desse jeito.

E, quando voltou do banheiro com Daniel, parecendo mais em si, com os cabelos mais assanhados que os meus normalmente, ficou olhando para o nada, como se tivesse sido paralizado.

Me encarou por alguns minutos, consternado com alguma coisa, e levou a mão até a petisqueira, juntando alguns amendoins num punhado, puxando uma de minhas mãos e deixando os amendoins nela.

— De presente — anunciou e cai na gargalhada, dando tapinhas em seu ombro.

— Nossa, que presentão, obrigada.

Não conseguia ficar com raiva dele, era muito destoante da imagem que ele tinha me passado, e ainda ficou cantarolando feito um bobo, se balançando para lá e para cá, comendo amendoins, mimicando um dedilhar com a mão esquerda no ritmo da música.

Era... até meio triste de se ver.

— Louise — chamou mais uma vez. — Você não gostou do ateliê?

Quase engasguei com minha bebida. Misericórdia, se ele fala algo que não deve...

— Não vamos falar do trabalho, tá? — pedi entre tosses, e ele fez uma expressão surpresa, pondo a mão nos lábios e olhando ao redor, até que me chamou mais para perto, deitando na mesa.

Me aproximei e ele sussurrou:

— Você não gostou do ateliê?

— Não gostei! — sussurrei para ele, e ele chamou com a mão.

— Não vai ficar lá? Não vai mobilhar?

— Vou ficar, Agatha ameaçou me tirar da exposição — sobressaltou, me encarando com os olhos arregalados, incrédulo, como se eu tivesse falado a maior blasfêmia do mundo.

— Que cruel! — E apagou completamente.

Gargalhei mais uma vez. Que sujeito engraçado.

Daniel finalmente voltou da pista de dança, dando um tchauzinho para um rapaz muito bonito que também acenou com um olhar sacana, e sentou ao meu lado.

— Se divertiu? — perguntou. Dei de ombros.

— Meu secretário está bêbado ao meu lado e acabou de brincar de segredinho, no mínimo tenho boas histórias para deixá-lo envergonhado mais tarde — cruzei os braços, numa expressão vitoriosa, e meu amigo sorriu.

— Vamos para casa?

Daniel ajudou Aurora a levá-lo para casa, subir as escadas e o jogar em sua cama quando finalmente decidimos que a noite já havia rendido o suficiente. E, pobre Aurora, me pediu tantas desculpas que quase não sabia mais como pôr em palavras, mas acabei apenas dizendo todas as vezes que não me importei.

Se ele lembrar de tudo que fez, será no mínimo engraçado quando nos virmos de novo.

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