Capítulo 11 - Dante
Eu estava exausto... o concerto finalmente havia terminado e tinha deixado apenas o gostinho de satisfação de mais um projeto concluído.
Depois que sai dos bastidores, me encontrei com Aurora, que veio imediatamente me abraçar. Comentou que havia sido lindo, também cumprimentei Daniel, se me lembrava bem seu nome, não o via há eras, até que vi Elise se aproximar.
Ela arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços, como se me esperasse, e pedi um espaço para minha irmã, indo até ela.
— O que houve? — questionei, curioso, e ela apenas soltou um sorrisinho de lado.
— Mandou bem. Foi uma apresentação digna de aplausos — completou ela e cerrei os olhos. — É uma pena que não o acompanho mais com o violino, você é um ótimo parceiro.
Então franzi o cenho, pondo as mãos na cintura.
— Termos terminado não nos impede de tocar juntos, Liz, antes de tudo, somos amigos — acentuei e ela sorriu de novo, aquele sorriso que mostrava bem seus dentes até um pouco afiados. Seu sorriso bonito sempre foi o que me tirou o fôlego...
— Sim, claro. Quem sabe quando as coisas esfriarem um pouco? — deu de ombros e começamos a caminhar para fora após eu acenar pedindo um tempinho para Aurora e Daniel.
— Você falando assim nem parece que terminarmos foi sugestão sua — pontuei e ela assentiu.
— Não estou reclamando, Dante, pelo contrário. Sei que fez de tudo para o relacionamento continuar, apenas aconteceu de perdemos a magia para sermos mais que amigos — declarou enfaticamente, se apoiando nas grades daquela sacada. — E, por mim, seria ótimo continuar tocando contigo.
— Então deixamos acordado, quando as coisas esfriarem um pouco, voltaremos a ser companheiros — sugeri e ela assentiu.
Rimos juntos e ficamos num silêncio confortável, aproveitando a companhia um do outro sob a brisa calmante da noite gelada demais para o verão.
Eu não conseguia deixar de admirá-la, seus cabelos curtos bem aparados e lisos dançavam enquanto o vento passeava por sua pele brilhante. Mudou o corte após terminarmos e estava um estilo mais rebelde e repicado, valorizando bem o formato do seu rosto.
Por mais que concordasse que o término seria benéfico, ainda não podia dizer que consegui esquecê-la, mas deixaria meu coração resolver esses sentimentos no tempo certo.
Aurora apareceu para me chamar, já que deveríamos nos organizar para a confraternização pós show, e me despedi de Elise com um abraço e uma promessa, então corri para os bastidores, encontrando com o restante dos artistas que já se arrumavam para ir embora. Apenas acenei e os cumprimentei e segui para onde estava minhas partituras e bagagem.
— Anthony, vai para a festa? — perguntei enquanto enxugava o rosto.
— Não sei. Você vai? — ele estava soando distante há uns dias. Talvez por causa das coisas que Teresa mencionou estar tendo problemas semana passada?
O que era mesmo? problemas com alguns contatos políticos? Franzi o cenho.
— Claro que sim, tivemos um recorde de audiência hoje, o aniversário da agência é semana que vem, hoje deve ser a comemoração mais casual! — enfatizei e ele deu de ombros, tirando o terno.
— Estou exausto, mil coisas para resolver. Se tiver vontade apareço mais tarde — deu uma última olhada no espelho, afrouxando a gravata antes de ir para a porta. — Tenha cuidado no caminho e lembre de pegar as partituras para amanhã cedo. O concerto acabou, mas ainda haverá a apresentação particular para os patrocinadores.
— Ah, certo. Dou uma passada lá antes de ir — assegurei e logo terminei de tirar o figurino. já colocando a blusa mais folgada e casual.
Terminei de arrumar minhas coisas e corri para fora, encontrando Aurora no caminho.
— Vamos? — chamou animada enquanto corríamos para o estacionamento.
— Ah, sim, claro, você e Arthur conseguem ir com Daniel? Tenho que pegar umas coisas na agência ou vou esquecer — pedi, jogando tudo dentro da mala, e ela franziu o cenho.
— Vai amanhã, Dante, agora é hora de relaxar! — respondeu meio irritada e segurei uma expressão mais suplicante. Suspirou. — Posso ir com Daniel, mas não demore.
— Obrigado, não se preocupe, vai ser rapidinho — assegurei e entrei no carro, pondo o cinto de segurança, e ela acenou para Daniel.
Esperei até ver a sinalização positiva de Daniel e um aceno para mim, que o devolvi com um aceno de cabeça, e dei a volta pelo estacionamento, saindo pela rua de trás e pegando o caminho mais prático até a agência.
O dia tinha sido ótimo, apesar de cansativo. Tudo havia ocorrido perfeitamente, e ainda conversei com Elise... não podia deixar de estar radiante.
— Ah, deveria começar a pensar sobre um dueto... — murmurei para mim mesmo, mantendo a velocidade média daquela via.
E, enquanto conduzia, tive a impressão do meu carro estar meio duro, ruim para virar para os lados... Será que deveria levar na assistencia de novo? Antes de emprestar a Anthony parecia normal...
Levaria na assistência amanhã, não conseguiria resolver agora, mas, enquanto estava perdido em pensamentos, sobre o dueto, sobre o carro, não notei que as rodas estavam deslizando demais pelo chão, até que notei começar um sereno.
Não era um bom sinal, tentei olhar para como se parecia o céu, mais fechado que engarrafamento ao meio dia, e suspirei.
Tentaria chegar rápido.
E essa foi minha pior decisão.
No momento que acelerei, senti o carro tremer estranho e o som derrapando. No momento que tirei os olhos da estrada, pelo segundo que tirei os olhos da estrada, jurei ter visto algo, e perdi o controle.
Só senti meu corpo desacelerar abruptamente quando apaguei.
Acordei suando.
Já era a quinta vez no mês que sonhava com as lembranças daquele maldito dia, sendo duas delas só depois do meu encontro com Teresa.
Eu tremia, sentia minhas extremidades frias como o gelo, meus lábios estavam secos e um nó se formava na minha garganta; e eu tentava me acalmar; respirar fundo e me acalmar.
Já passou. Já aconteceu, aquilo tudo já aconteceu, não tinha que me preocupar com aquilo de novo...
Então me encolhi na cama e me deixei respirar fundo, contando os compassos.
Inspira... um... dois... três... quatro... expira...
Mas eu não podia esquecer aquilo. A dor ainda era muito vivida, ainda podia sentir o desespero percorrer pelos meus ossos como se tivesse acabado de acontecer, como se eu acabasse de ver minha mão quase esmagada entre o volante e o painel do carro.
Como se eu tivesse acabado de receber a notícia da situação do meu pulso após três dias fora do ar.
Ainda era o mesmo desespero.
E, por mais que eu tentasse encontrar alguma força pra me levantar para ir para o emprego, eu me sentia péssimo, me sentia fraco, me sentia incapaz de sair daquele casulo que eu me encontrava.
Talvez fosse o momento de me arrepender de ter encontrado um emprego novo, mas juntei forças para ao menos tomar minhas pílulas.
Eu esperei o tempo que deveria demorar para fazer efeito, e quando notei que o sentimento não iria sumir, liguei para meu psiquiatra.
Não teria forças para trabalhar hoje e eu precisava de um atestado. Depois de mais de uma hora de conversa, obtive o que fui buscar, mas deveria ir no consultório mais tarde, já que os remédios poderiam estar perdendo eficácia.
Enviei um email para o RH da galeria, que foi prontamente respondido com desejos de melhoras, e me deixei descansar, cochilando até próximo do meio dia, quando alguém bateu na porta do meu quarto.
Era a diarista, Helena, surpresa por eu ainda estar em casa, então resolvi levantar e deixar que ela fizesse seu trabalho, não iria atrapalhar.
Desde que me acidentei não conseguia mais fazer alguns trabalhos básicos de casa, mais manuais, que exigissem força, apesar de já tê-la há mais de cinco anos, então me restou pedir para que cuidasse de tudo.
Estava faminto e deveria ir ao psiquiatra às duas, então precisaria ser prático, comeria num restaurante ou algo assim, e faria uma caminhada no shopping até dar o horário, tinha algumas coisas que precisava comprar.
— Helena, vou sair! — avisei depois de trocar de roupas, e ela apenas acenou do fim do corredor, onde terminava de limpar meu escritório. — Não devo conseguir voltar até que termine, então pode fechar tudo quando sair.
— Tudo bem, Dante — confirmou e finalmente escorreguei para meu carro.
A tarde foi proveitosa, comi uma massa com molho branco que demorou mais que o previsto, então segui direto para o consultório apenas para ter a confirmação que precisaria aumentar a dose dos anti depressivos, e uma indicação mais firme para terapia.
Tentei não pensar muito sobre isso, o que não resolveu muito na verdade, e quando dei por mim já haviam passado três dias. Aquilo definitivamente me afetou mais do que eu gostaria de assumir.
Fiz meu trabalho como sempre, não havia nenhuma novidade sobre algum quadro novo da senhorita Louise e mantive meus afazeres pela galeria, ajudando a equipe de produção quando não tinha nada para fazer.
Felizmente, não pensei muito sobre minha conversa amistosa com minha ex-chefe.
Definitivamente era muita cara de pau da parte dela falar sobre não ter notícias sobre mim quando ela mesma tentou me apagar da mídia de todo jeito, quando algo nem ao menos tinha sido gerado por mim, quando ela foi a causadora de tudo, quando ela criou rumores depois de ter tentado me matar.
Ouvir ela falar aquilo me irritou tanto que mal consegui pôr em palavras, ainda mais com sua tentativa de ameaça.
Para a sorte dela eu já não tinha energia alguma de ir a público e me explicar sobre o que realmente havia acontecido, então melhor seria apenas aceitar a situação e aproveitar ter sido apagado da fama, o que, de fato, não foi tão ruim.
Isso permeou meus pensamentos durante todo o trajeto que fiz no automático até chegar na galeria e entrar.
Minha manhã não tinha sido muito diferente de todas até agora, tirei o cachecol, soltei meus cabelos e os arrumei um pouco, já que hoje em específico estavam bastante rebeldes, e então finalmente sentei em minha mesa.
— Dante! — ouvi ser chamado da porta, onde o diretor me procurava com uma expressão confusa.
— Sim! — retruquei, me levantando um pouco.
— Onde está Louise? — questionou, ainda como se procurasse algo, mas eu acabei mais confuso ainda.
— Não a vi hoje, senhor, ela está aqui na galeria? — ele franziu o cenho.
— Vocês dois não deveriam estar na emissora? — Minha mente vagou até sua agenda, e eu a acessei o mais rápido que pude, vendo marcado em vermelho um compromisso.
"Me avise com antecedência, eu vou junto. Na empresa eu sou a organizadora de eventos da Shy Dye, então estarei junto em eventos sociais e entrevistas", a voz dela retumbou pela minha cabeça e eu então me lembrei.
— Ela não tinha uma entrevista em uma hora?
Eu não a avisei.
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