OhNo!
Uma semana havia se passado desde que Reki começara a namorar com Langa e, de forma decepcionante para o de cabelos vermelhos, tudo seguia o mesmo padrão de antes. A única coisa que sofreu alterações foi seu nível de aproximação, já que agora beijos discretos estavam inclusos no pacote.
O pior de tudo, no entanto, era que Reki ainda estava encucado com sua própria identidade. Afinal, saber e assumir são coisas diferentes. Ele seguia de cabeça baixa pela calçada, o skate debaixo do braço, repassando o beijo que dera em Langa quando o deixou em casa. Foi um beijo mais aprofundado e ele gostou particularmente daquele tom de vermelho que pintou as bochechas do namorado depois.
Quando abriu a porta de casa naquele dia, ainda com a visão de um Langa corado em sua cabeça, ele se deparou com a mãe sozinha, jogada no sofá enquanto assistia a um dorama. O ruivo olhou para os dois lados e seus ouvidos pareciam não querer se acostumar com o silêncio alto demais que preenchia a casa de sua família.
— Hoje é o dia de suas irmãs irem ficar com o seu pai — a mulher disse, sem tirar os olhos da TV.
Reki fez que sim com a cabeça, envergonhado por ter esquecido disso completamente. Seus pais eram separados a anos e, no sabádo, suas irmãs iam dormir na casa do pai. O que significava dizer que no domingo seria o dia do ruivo ir passar o dia com o seu velho. Coisa que ele, particularmente, preferiria evitar.
Seus ombros caíram quando ele pensou que domingo já era o dia seguinte, e que teria pouquíssimas horas de paz até que o inferno começasse.
Ele murmurou um "beleza" baixinho enquanto caminhava apressado até o conforto de seu quarto.
— Espera aí, Reki — sua mãe o chamou antes que pudesse chegar no primeiro degrau das escadas — Venha cá.
De repente, sem saber explicar bem o porquê, Reki sentiu uma gota de suor frio escorrer por suas costas. Ele virou lentamente, sem dizer nada, e caminhou até o sofá, onde sua mãe dava batidinhas leves no estofado ao seu lado. Com receio, ele sentou no lugar indicado.
— O que foi, mãe?
— Quero aproveitar que suas irmãs não estão para ter uma conversa com você.
Outra gota de suor frio, agora em sua testa.
— Certo... Sobre...?
— Filho, você é gay? — ela apenas disse, sem nem o encarar.
Reki engasgou com a própria saliva tão violentamente que, finalmente, sua mãe tirou os olhos da TV, e lhe deu dois tapinhas nas costas.
— Mãe! — ele quase gritou — De onde você tirou isso? Eu não sou ga-
— Vou perguntar mais uma vez. Você é?
— Não! É o que eu tô tentando dizer! Que eu não sou gay.
Sob o olhar desconfiado de sua mãe, ele levantou para buscar um copo d'água. Como poderia ficar sentado ali sendo fuzilado pelo olhar matador da mulher que o deu a luz?
Óbvio que ela tinha que ler seus pensamentos. Óbvio.
Ele desapareceu pela entrada da cozinha e abriu a geladeira, se servindo com um copo d'água, o silêncio de sua mãe o matando por dentro. Respirou fundo antes de voltar para a sala, o copo mal apoiado em suas mãos trêmulas.
Quando a senhora Kyan abriu a boca, Reki soube que preferia o silêncio.
— Minta de novo. Eu quero ver você mentir na minha cara assim de novo, Reki — Masae disse, o tom de voz sério.
— Mãe, de onde você tirou essa ideia?
— Garoto, você saiu daqui de dentro — ela apontou para a própria barriga — e eu te conheço melhor do que ninguém. Você acha que eu não percebi? Você acha que eu sou tão cega a ponto de não enxergar o que está estampado na sua cara?
Reki fazia um esforço absurdo para não engasgar com a água também. Estava tão óbvio assim? Apesar de que sua mãe sempre teve esse sexto sentido insano que sabia coisas esquisitas como quando ele estava prestes a gripar, mesmo que não demonstrasse sintoma algum.
— Não sei do que a senhora está falando — mentiu.
— Ah, claro — ela revirou os olhos — Estou falando de você estar gostando daquele garoto lasanha.
Ele definitivamente engasgou diante do "garoto lasanha".
— A senhora quer dizer o Langa?
— Sim, o canadense fofo.
— Mãe, é perfeitamente normal para mim namorar com o Langa e não ser gay.
Só quando Masae virou o rosto em sua direção, para o encarar com os olhos bem abertos, foi que ele percebeu que tinha acabado de dizer a palavra namorar. Ele realmente havia dito. Já era.
— Não, pode apostar que não é — ela disse, e Reki recuou dois passos — Eu sabia que tinha caroço nesse angu. Vocês estão namorando, então?
— Quer dizer... Isso não significa que eu sou gay, né?
Masae o encarou com decepção nos olhos, mas não por ele ser claramente qualquer coisa menos hetéro.
— Significa, e como significa. Olha aqui, Reki, se você não vai me dar netos é bom ter uma ótima razão para isso, e aquele garoto canadense... Eu gosto dele, podemos manter ele.
— Mãe, do que você está falando?
Netos? Reki tinha apenas dezessete anos, não era um pouco cedo demais para ela estar pensando em netos?
— Filho — ela relaxou os ombros —, está tudo bem. Não tem problema ser gay. No entanto, fique sabendo que você não entra aqui de novo até admitir para si mesmo que você gosta de verdade do Langa. Você precisa aceitar isso sobre si mesmo, anjo. Acha que eu não percebi que você está meio aéreo ultimamente?
Tais palavras foram como um tiro certeiro em Reki, que, de fato, não havia pensado em outra coisa na última semana. No entanto, ele seguiu seu roteiro.
— Eu não entendo, mãe. Você não está nenhum pouco chateada?
Ela balançou a cabeça. Reki arriscou se aproximar um pouco mais, mas ainda não tinha a coragem de sentar naquele sofá de novo.
— Nah — ela balançou a mão —, eu sabia que uma de minhas crianças seria fraca e acabaria gostando de homem e eu também sabia que não seria a sua irmã.
O copo de água quase caiu da mão de Reki.
— Talvez... eu seja um pouco... gay. Mas eu sei que gosto de mulheres também.
— É para isso que o B em LGBT serve, filho.
Naquela hora, Reki finalmente criou coragem para sentar-se no estofado cinza.
— Bem, eu já disse para o Langa que gosto dele.
— É um ótimo começo. Não precisa mais deixar minha casa.
Ele deu uma risadinha, de alívio.
— Obrigado, eu acho.
— Agora, só falta você trazê-lo até aqui. Temos que conversar os três...
— Não, mãe, pelo amor de Deus!
Ao som dos protestos de sua mãe, que já começava a falar sobre coisas vergonhosas demais, ele subiu até o seu quarto e se trancou. Com a cara queimando, Reki se jogou na cama e desbloqueou o celular, se preparando para mandar uma mensagem para Langa.
Ele não sabia ainda que uma situação parecida com a sua se desenrolava na casa do canadense.
Langa sentia o celular vibrar no bolso da calça, mas, por mais que quisesse conversar com o namorado, sua mãe o impedia. Era estranho como queria ouvir a voz de Reki mesmo que tivessem acabado de se ver.
O problema era que esse era justamente o assunto que sua mãe queria discutir consigo. O assunto do garoto de cabelos vermelhos que o levou para o mundo do skate e que não parava de aparecer em sua porta, dia após dia.
Langa observou as costas da mulher, enquanto ela assava panquecas, se recusando a mover um músculo que fosse.
A pergunta que ela havia feito minutos atrás, assim que Langa colocou os pés na cozinha, com o cabelo escorrendo por ter acabado de tomar banho, descalço, de calça moletom e camisa branca, ainda reverbera em seu cérebro. Se repetindo de novo e de novo, como se fosse um disco arranhado.
"Quem é essa pessoa de quem você disse que gosta?"
Langa recordava-se mais do que bem da noite em que uma conversa casual com sua mãe à mesa transformou-se no trágico momento no qual ele saiu do armário sem querer. Talvez o certo fosse dizer que ele se jogou para fora do armário. Simplesmente porque, naquela noite, quando ele disse que estava preocupado com alguém e que não sabia como impressionar essa pessoa, sua mãe o perguntou se ele gostava do indivíduo.
Óbvio que, burro como era, ele disse que sim.
Óbvio também que sua mãe perguntou quem era a garota, mas Langa apenas negou e perguntou "que garota?". Desde então, uma situação esquisita sombreava a casa dos Hasegawa.
Com um sorriso desconfortável, Nanako serviu as panquecas e apontou para a cadeira, indicando que o filho deveria se sentar. Relutante, ele obedeceu, mas não encostou um dedo que fosse na comida.
— Então... — ela começou — Vamos conversar?
Ele encarou o rosto sofrido da mãe, que parecia lutar bastante para conseguir falar com ele sobre o assunto em questão. Langa entendia, estava no mesmo barco.
Apenas fez que sim com a cabeça.
— Bem... hm... — ela gesticulou freneticamente com as mãos — Eu perguntei sobre... a pessoa que você gosta... Tem a ver com aquele garoto?
Com suas bochechas queimando, Langa não sabia se devia enfiar uma grande porção de panquecas na boca para evitar a pergunta, ou apenas dizer na lata. Ela nem precisava especificar quem era o garoto em questão, pois estava mais do que óbvio que era Reki.
— Acho... acho que sim — respondeu de uma vez.
— Oliver, me ajuda — ouviu a mãe sussurrar para a foto de seu pai na mesinha ao lado — Então, você realmente gosta dele?
— Sim, já que estamos namorando.
Quando a cara da senhora Hasegawa ficou em um tom que só podia ser definido como azul, ele percebeu o que tinha acabado de dizer. Seu corpo travou e ficou rígido, mas, como já era de praxe, sua mãe estava pior.
— Ah, certo — ela murmurou, encarando o filho.
— Certo.
— Namorando, tipo, namorando?
— Acho que sim.
— Certo — ela disse — Tudo bem, então. Ele parece ser um bom garoto.
Langa fez que sim com a cabeça. Reki não era apenas bom, era o melhor. Apesar de que, tanto o canadense quanto o ruivo, ainda precisavam se acostumar com a situação.
— Você precisa trazê-lo aqui um dia, filho — ela continuou — Para um jantar.
Ao ouvir tais palavras, ele finalmente sorriu. Fez que sim com a cabeça enquanto colocava uma porção de panquecas na boca. Nenhum dos dois disse mais nada, mas a situação não era desconfortável, pelo menos não para Langa, que estava finalmente em paz.
Não sabia bem se aquilo contava como uma conversa, mas sua mãe não parecia ter grandes problemas com seja-lá-o-que Langa se identifique ou goste. Na cabeça do canadense, nada mais precisava ser dito.
Quando a refeição acabou, foi correndo para o seu quarto e nem viu como sua mãe tremia, coitada. Ligou para o número de Reki, que atendeu no segundo toque, como se estivesse esperando por aquilo.
— Minha mãe quer te conhecer — os dois disseram, ao mesmo tempo. Reki com um tom de voz desesperado, enquanto Langa exalava calma.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top