hiccup
— Vamos fazer compras?
Reki congelou no lugar, sua boca completamente aberta, babando pelo grande hambúrguer em sua mão. Estavam na praça de alimentação do shopping, dando uma enganada no estômago depois de andarem de skate sem rumo pela cidade.
— Compras...?
— Sim! — Langa gesticulou animado com o copo de refrigerante em sua mão — Por que não saímos para comprar roupas juntos agora?
— Isso não é meio do nada, não?
Langa sabia que era repentino, mas foi a única coisa em que conseguiu pensar. Há dias vinha planejando qual seria a melhor forma de chamar Reki para sair, sempre girando em círculos. Nunca chegava a conclusão alguma. Pensou em chamá-lo para o parque, mas não conseguiu criar coragem, pensou em um jantar, mas não combinava, simplesmente não.
No final, apenas o chamou para andar de skate pela cidade, como sempre faziam, até que acabaram ali depois do estômago de Reki roncar em desespero.
O sangue fervia em sua cara toda vez que lembrava do que sua mãe havia dito. Sem querer, tinha deixado o armário que nem sabia que habitava e se assumiu para ela, percebendo apenas naquele momento que sentia algo a mais por Reki. Agora não tinha mais como escapar da realidade.
— Vamos, por favor!
— Eu só tenho o dinheiro do lanche.
— Não tem problema, eu pago.
Os olhos de Reki saltaram das órbitas.
— Nem pensar! Vamos fazer outra coisa.
Langa não respondeu nada, mas assim que haviam terminado de comer e pagar, puxou o garoto de cabelos vermelhos ao seu lado, sem lhe dar tempo para responder.
— Ei, o quê-
— Vamos lá, Reki.
— Por que você colocou isso na cabeça tão de repente?
"Porque é a única ideia de encontro que tenho agora", foi o que o canadense pensou, mas nenhuma palavra deixou sua boca. Ele só soltou a mão de Reki quando estavam de frente a uma grande loja de roupas, onde tudo era relativamente barato, mas não tão barato assim do ponto de vista do de cabelos vermelhos.
— É aqui que você compra roupa?
Langa fez que sim com a cabeça, confuso. Ele não gosta daqui?
— Não é que você tem dinheiro mesmo?
— O que você quer dizer?
Reki bateu o dedo em seu skate, se perguntando como a cabeça daquele cara funcionava, sua expressão denunciando o quão estranho estava achando aquilo tudo. Langa, obviamente, não notou nada disso.
— Vamos entrar?
— Tudo bem... Mas não pretendo deixar você comprar nada para mim.
— Não entendo o porquê.
Imediatamente, o garoto ficou tão vermelho quanto o seu cabelo. Andou mais rápido para dentro da loja, parando perto de uma arara de roupas coloridas. Langa apenas seguiu em frente, seus olhos fitando algumas blusas pretas que tinham chamado sua atenção.
— É que... que... Você vai gastar seu dinheiro comigo e... nem é meu aniversário nem nada... Você não pode sair gastando seu dinheiro assim, entende?
— Você me ensinou a andar de skate, Reki. Não posso agradecer?
— Um obrigado já é mais do que suficiente! Não foi nada demais, não fale como se eu fosse tudo isso...
Langa imediatamente largou a blusa que estava admirando, olhando para Reki por cima de seu ombro. Odiava quando o outro falava assim de si mesmo. Como assim não foi nada?
— Se você não tivesse me ensinado, eu teria ficado preso no passado — Disse baixinho — Além disso, eu não poderia andar de skate com você.
Não se ouviu uma resposta para isso, a única coisa que se ouviu foi um ruído não identificável que saiu da boca de Reki antes de ele se virar na direção de uma arara de roupas e começar a olhar furiosamente as blusas e jaquetas dispostas ali. O canadense ficou o encarando com um grande ponto de interrogação em sua testa, já que não podia ver o quão vermelho o outro estava.
Repentinamente, então, Reki parou de revirar as roupas, tirando uma jaqueta amarela e azul dali. Não podia negar seus olhos brilhantes e sua expressão apaixonada nem que quisesse e Langa notou isso de imediato, sorrindo um pouco.
— Você gostou? — perguntou, assustando o outro.
— Não! Nem pense!
***
No final, Reki cedeu e saíram os dois da loja segurando cada um seu skate em uma mão e a sacola na outra. Langa também havia comprado um moletom laranja que tinha lhe chamado a atenção, mas que não tinha confiança em usar. Quem lhe convenceu a comprar a roupa foi o amigo, dizendo que só aceitaria o presente caso ele comprasse o moletom também.
— Acho que agora devíamos ir para casa — Reki sorriu na direção do garoto ao seu lado — Ficou tarde e nem percebemos.
— Verdade. Logo vai estar escuro.
— Ainda acho que não precisava ter gastado comigo, vou compensar para você depois.
Assim que colocaram os pés para fora do shopping, saindo na cidade grande iluminada pela luz alaranjada do pôr do sol, Langa reuniu toda a coragem que tinha dentro de si e decidiu. Ele ia dizer. Ele ia dizer para Reki como se sentia.
Suas pernas se moviam de forma robótica, enquanto ele ficava cada vez mais lento, observando seu amigo andar em sua frente, passos desleixados, a faixa de sempre no cabelo. Não sabia quando Reki tinha se tornado tão importante, mas sabia que aquela era definitivamente a primeira vez que se sentia assim.
Pessoas passavam para lá e para cá pela calçada, luzes de néon começavam a se acender na vitrine de algumas lojas. Reki parou de andar quando percebeu que o canadense tinha ficado para trás e se virou confuso.
— O que foi, Langa?
Naquele momento, ele percebeu que considerava Reki seu melhor amigo naquele lugar ainda estranho para si. O que aconteceria caso se confessasse e perdesse a amizade que tanto zelava?
Quis desistir, mas assim que olhou para o garoto em sua frente foi tudo por água abaixo.
Não se importava com os transeuntes ao seu redor, ou com a luz do sol sendo substituída pela escuridão da noite que chegava, não se importava com nada disso. Pelo menos não naquele momento.
— Reki, você....
— Eu o quê?
— Quer sair comigo? — acabou dizendo isso de forma mais alta do que pretendia, chamando a atenção de algumas pessoas enquanto se curvava.
Por que estava se curvando? Isso não sabia dizer. Infelizmente, graças a sua atitude, não podia ver a expressão que tomava conta do rosto de Reki. O ruivo tinha um braço na frente do rosto, vermelho mais uma vez, tentando esconder sua reação.
— Espera aí, espera aí, Langa. Como assim sair? — sua voz estava esquisita.
— Sair como namorados — dessa vez a voz dele era mais baixa, mas ainda alta o suficiente para que Reki o ouvisse de onde estava, mesmo com todos os ruídos noturnos que a cidade emanava — Você sabe... como casal.
— Ugh, tá todo mundo olhando.
Langa finalmente ajeitou sua postura, dando de cara com um Reki que nunca havia antes, mais vermelho que um tomate e ainda tentando esconder o rosto com uma mão só, mas sem muito sucesso. Realmente, não devia fazer aquilo no meio de tanta gente assim.
— Desculpa...
— Não é isso! Eu quero.
As últimas palavras foram tão baixas que Langa não tinha certeza de que ouvira corretamente.
— O quê? — ele deu alguns passos até o garoto — Eu acho que não entendi.
Reki esperou ele se aproximar para voltar a andar, os dois caminhando lado a lado como se nada tivesse acontecido, mas ainda chamando atenção pelo lugar.
— Eu disse que quero.
— Namorar comigo?
— Sim, poxa, não me faz repetir. Por que você parece tão surpreso?
Nenhuma resposta para isso veio da boca de Langa. Quando Reki olhou para o lado, o que viu foi dois olhos brilhando e uma expressão quase infantil. Uma risada deixou sua boca, o fazendo esquecer um pouco de como seu rosto queimava e de como seu coração palpitava feito louco.
— Agora somos namorados, então?
— Acho que sim — Reki respondeu ainda rindo — De novo. Por que você é o mais surpreso com isso? Foi você quem pediu.
— Eu não achava que você ia aceitar.
— Ah, bem, eu estou surpreso também, mas... — Reki o lançou um daqueles sorrisos que o faz sorrir também — Eu realmente gosto de você, Langa!
to be continued
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