XXVII| Companheiro

      Logo após ter se encontrado com o professor da equipe III, Tony explicou rapidamente tudo o que estava acontecendo, desde a presença das crianças no castelo até a rebelião e a parede de Dinks que os prendiam dentro do território inimigo. O jovem focou na parte de que precisava encontrar os imãs para soltar as algemas dos prisioneiros para que, dessa maneira, eles conseguissem dobrar as chances de terem êxito numa fuga em larga escala.
      Assim que o Luís compreendeu a situação e aceitou ajuda-lo na busca pelos imãs, ambos entraram na passagem secreta que o Tony havia usado para chegar no setor um e passaram rapidamente pelo Ryan enquanto corriam para possíveis locais onde o Thiago havia dito que teriam mais chances de encontrar o material que precisavam.
      O olhar de Luís estava cada vez mais determinado a medida em que corriam pelos inúmeros caminhos daquelas passagens. Mesmo com as algemas em seus pulsos, o professor não sentia muito cansaço ou dor já que, para a sua sorte, o material que o prendia não possuía Sub-x. O Dinks de suas algemas era suficiente para anular os seus poderes, porém, ainda o deixava em condições boas o bastante para lutar – e, como cada um de seus pulsos tinha uma algema que mais parecia uma espécie de pulseira, sem nenhuma corrente ou algo para restringir os movimentos de seus braços, isso só ajudava ainda mais a mobilidade do homem.
      Talvez aqueles grilhões mais “leves” fosse coisa da Sara. Os outros prisioneiros do setor um tinham as algemas que se ligavam, prendendo um pulso no outro, e o Luís não duvidava de que também poderia haver Sub-x nelas, no entanto, ele e o maldito Michael não tiveram que passar por algo assim.
      O professor da equipe III fechou os punhos, que latejavam devido aos fortes socos que o mesmo havia desferido contra a parede de sua cela momentos atrás. O fato da Sara ter lhe dado aquela pequena regalia não significava absolutamente nada, afinal, se não fosse por ela, nem ele nem uma grande quantidade de pessoas estariam ali agora. Quando a visse outra vez, o homem não pensaria duas vezes antes de fazê-la pagar; contudo, ainda não era hora de focar naquilo.
      Luís soltou um suspiro.
      O sacrifício do maldito Michael não podia ser em vão. Sendo assim, o  professor já tinha uma lista mental de prioridades:
      Em primeiro lugar, salvaria as crianças e mais qualquer pessoa que conseguisse ajudar.
      Em segundo lugar, acabaria com aquela maldita traidora.
      E, para fechar com chave de ouro, ele arrastaria o maldito Michael para fora daquele castelo e se certificaria de que ele nunca mais quisesse – ou melhor, precisasse – bancar o herói outra vez.
      É, era um bom plano.
      O canto dos lábios de Luís se repuxou para cima.

      Os soldados que estavam no setor três ainda não haviam voltado a contra-atacar após terem sofrido um investida explosiva produzida pelo dono da décima cadeira dos treinadores de elite.
      Os ex encarcerados pararam de atirar também, curiosos com o que se passava com os seus adversários. A fumaça ainda ofuscava a visão para o local onde estavam os guardas, todavia, dava para ver, ainda que dificultosamente, os escudos de pé. Entretanto, não dava para saber se os materiais estavam erguidos porque tinha alguém o segurando ou porque estavam fincados ao solo.
      A atenção de todos estava fixa naqueles escudos, como que esperando que eles se movessem ou caíssem para que pudessem, enfim, saber se ainda teriam de lutar ou não.
      Cada segundo parecia uma eternidade. O silêncio era tão grande que cada um conseguia ouvir o som das batidas do próprio coração e a respiração acelerada dos companheiros ao derredor.
      Em uma das celas mais próximas do exército, um brilho arroxeado perpassava pelas mãos de Cássia, como que esperando para que pudesse ser libertado. Camille, que estava próxima a menina, ao Ed e aos membros das equipes de ambos, roía as unhas devido a tensão do ambiente. Inquieta, a garota colocou a cabeça um pouco mais para fora da prisão em que estava, conseguindo, assim, observar uma parte do interior das celas que estavam próximas a fumaça que se estendia devido a explosão. Não tinha ninguém naquele cárcere, já que a maioria dos presos estavam nas celas mais atrás, e, como a moça não queria ousar olhar para outros cativeiros, pois sabia que tudo o que iria encontrar dentro deles eram pessoas com semblantes assustados, sérios, tristes ou expressando qualquer tipo de emoção que a mesma não estava a fim de ver, ela fixou os olhos ali, no vazio.
      Já bastava ter que lidar com os próprios sentimentos. Todos naquele lugar sabiam que qualquer decisão era importante, e que a errada traria a ruína e a certa, a vitória. A consciência desse fato trazia ao ambiente uma tensão tão densa que podia até ser cortada com a adaga que estava em sua mão.
      A garota respirou fundo, tentando acalmar o coração e impedir o corpo de tremer, e os seus olhos foram para o chão, onde uma neblina densa e branca se estendia lentamente, quase como se fosse pesada demais para ser rápida.
      Ela franziu o cenho.
      A fumaça das explosões eram acinzentadas e haviam se espalhado por todo o espaço num piscar de olhos, mas aquela fina cortina branca apenas pairava vagarosamente, quase como se fossem nuvens vagando pelo solo, ao invés do céu.
      Aquilo a fez esfregar os olhos e botar a cabeça ainda mais para fora do cárcere. A neblina branca vinha do lugar onde os guardas, que já deveriam ter voltado a atirar, estavam.
      Tinha alguma coisa errada acontecendo.
      Camille respirou fundo mais uma vez antes de colocar todo o corpo para fora da cela, ficando no largo corredor entre as prisões e virando um alvo fácil para qualquer um que resolvesse apertar o dedo no gatilho.
      Mas ninguém o fez.
      — Ei! — sussurrou alguém da equipe de Eduardo ao vê-la completamente exposta ao perigo; várias sobrancelhas se erguerem quando se deram conta de que a mesma estava do lado de fora das seguras paredes que separavam uma prisão da outra. — O que você está fazendo? — questionou a mesma garota, Daiane, que, pelo tom de voz, era claro que a moça pensava que a menina da equipe II havia enlouquecido de vez.
      Mas Camille não deu ouvidos. Ainda com aquela expressão confusa na face, ela estreitou os olhos, observando a fina camada de fumaça branca no chão, depois, a sua vista seguiu até os escudos dos soldados que ainda estavam de pé e, quando os seus olhos acharam uma abertura naquela defesa do exército inimigo, a garota deu alguns passos adiante, como que para conseguir visualizar melhor o que se passava no lado dos guardas do reino Bry.
      As suas sobrancelhas de ergueram.
      Os homens estavam caídos.
      Imediatamente, a moça se virou para trás, como que para ver se estava tudo em ordem com os prisioneiros nas celas mais distantes.
      A neblina já alcançava metade do local. Aquele gás esbranquiçado só estava na altura dos tornozelos, no entanto, quando uns prisioneiros começaram a ficar com semblantes relaxados e sorridentes, a largarem as armas, a se sentarem, ou a simplesmente deitarem ou a agirem como se tivessem sido teleportados para outro lugar, Camille entendeu o recado.
      O Nicholas havia ficado daquele mesmo jeito, mas os efeitos colaterais do rapaz ainda haviam sido mais impactantes, já que o mesmo tinha cheirado a droga direto da fonte.
      Ela não sabia porque a fumaça estava tão lenta – talvez estivessem colocando uma quantidade pequena por conta dos soldados que estavam com eles – porém, a menina não tinha dúvidas de que a pessoa que mandou aquele gás iria envia-lo numa quantidade ainda maior muito em breve.
      Sem perder mais nem um segundo pensando, Camille se virou para os seus companheiros, que ficaram alertas ao notarem o olhar espantado que havia em sua face; e essa mesma surpresa logo tomou conta do semblante deles ao ouvirem o que a menina tinha a dizer.
      — Cristal de ópitys!

      A parte afiada da adaga de Thadeu reluziu contra a luz quando o jovem a ergueu.
      O grito de Ária ensurdeceu Kral, que tinha o coração batendo aceleradamente não pela morte que o encarava face a face, mas sim pelo fato da menina estar tão desesperada por ele. Além dela, Thomas resmungava sons abafados, pois, com a boca obstruída, não era possível que o garoto conseguisse proferir alguma coisa para o seu irmão que pudesse vir a salvar a sua pele.
      Medo. Era isso que o Kal deveria estar sentindo, mas o que tomava conta do seu interior agora era uma sensação completamente diferente e improvável. Gratidão. O rapaz sabia que um dia seria morto de um modo brusco para que ele pudesse pagar pelo que fizera com os seus pais e com os seus próprios soldados. Ele nunca esperou ter uma morde rápida e indolor, afinal, sempre que pensava nessa possibilidade, a imagem de seus pais mortos vinha à tona, condenando-o. Ele os havia matado, quer estivesse consciente disso ou não. Então, como consequência disso, o garoto sabia que, um dia, alguém também faria aquilo com ele.
      Olho por olho, dente por dente.
      A morte sempre fora vista como um alívio. Através dela, o jovem poderia, quem sabe, encontrar-se com os seus pais na eternidade e explicar tudo. Desculpar-se. Isso é, caso fosse parar no mesmo local que eles... Mas Kral não esperava que fosse reencontra-los novamente, ah não. Com certeza o rapaz seria mandado para alguma escuridão onde pagaria eternamente pelo seu erro.
      Seu erro.
      Seu.
      A Ária e o Thomas não deveriam sofrer pelo que o menino fez, não deveriam sequer estarem preocupados com a morte de alguém como ele. Não valia a pena. Porém, ainda que fosse egoísta de sua parte, Kal se sentiu... grato.
      Grato por terem se importando com uma pessoa descontrolada como ele; uma besta; um monstro; um sanguinário; um assassino. Esses eram os únicos títulos que ele recebera em toda a sua vida, e ele nunca esperou que fosse ter algum que o fizesse se sentir bem, mas, ali, em seu último instante, o garoto podia sentir que partiria com uma denominação a mais.
      Companheiro.
      Pelo menos haveria uma qualificação decente em seu túmulo. Ele não havia falhado totalmente; uma vez na vida, ele acertara. E acertara em cheio.
      Ao fechar os olhos, Kral abriu um leve sorriso, à espera da adaga de Thadeu, que desceu com tudo em direção ao seu peito.

E aí gente, tudo bem?
Estou passando no final do capítulo pra lembrar vocês de deixarem uma estrela ☆ e um comentário dizendo o que vocês acharam ♡
Será que o cristalzinho vai pôr um ponto final nessa rebelião da prisão? E o Kral, gente? Vocês vão sentir falta dele? 🥺🤧
Por hoje foi isso, um abracinho choroso e até breve 🤍

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