XXIX| Lobo alado

      Mesmo tendo gritado uma vez para que os ex encarcerados lhe seguissem, a Ária ainda agarrou o braço de Camille e de mais uma pessoa caída para ergue-los do solo, puxando-os na direção correta.
      A neblina ofuscava a visão, porém, aqueles que ainda lutavam para prenderem a respiração não desistiram por conta disso, e a Ária, por sua vez, não deixou de continuar gritando para que a sua voz pudesse servir como uma bússola. Naquele instante, ela só podia imaginar o quão desesperadora aquela situação deveria estar sendo para aqueles que lutavam não só para prenderem o ar, mas também para se situarem. Tendo isso em mente, a integrante da equipe IX não teve vergonha de gritar cada vez mais alto enquanto corria rumo a passagem secreta logo adiante.
      Ao chegar no destino final, a moça não esperou que todos se agrupassem para que adentrassem ao mesmo tempo e, consequentemente, menos gás entrasse. Quando a menina abriu a passagem, mesmo com uma parte do gás entrando, ela não fechou até que todos estivessem do lado de dentro – aquelas passagens eram enormes, então não demoraria para a droga se espalhar e perder o efeito.
      Ela não aceitaria deixar aquele povo para trás, eles tinham dado tudo de si para fugirem. Porém, mesmo assim, a porta não podia ficar aberta para sempre.
      Sem muita delicadeza, Ária foi puxando e empurrando as pessoas para dentro da passagem – com certeza alguns machucados não seriam nada para aquelas pessoas, se comparados ao terror de voltarem àquelas celas.
      Quando o último homem foi enxotado para dentro do espaço, Ária fechou a porta da passagem. Todos os que conseguiram andar tinham entrado, graças ao empurrãozinho dado pela garota, porém, mesmo depois de todos estarem do lado seguro, Ária ainda permaneceu na prisão.
      Ela não iria deixar os outros para trás.
      Aqueles indivíduos haviam lutado tanto para fugirem. Não era justo que acabassem voltando para as prisões – e a menina sabia que as consequências daquela rebelião custaria a vida de muitos. Sendo assim, a moça se viu correndo por aquele setor outra vez, em busca daqueles que não tinham conseguido reterem o ar por tempo o suficiente.
      — Prenda a respiração mais um pouco, por favor! — pediu, para os que não tinham perdido a consciência ainda.
      Não adiantou.
      Aquelas risadinhas despreocupadas foram como um soco na cara de Ária. Os prisioneiros não a obedeciam, aliás, nem pareciam que estavam sequer a ouvindo. Os efeitos da droga traziam um prazer e uma tranquilidade que eram tão ansiadas por aquele povo que ninguém foi forte o bastante para tentar lutar contra aquilo.
      Na cabeça daqueles prisioneiros, eles estavam, finalmente, sentindo-se livres. Uma liberdade ilusória.
      Ária trincou os dentes, irritada com quem quer que tivesse colocado aquela porcaria de gás ali. Aquelas pessoas deveriam sonhar com a liberdade há tanto tempo e, agora que haviam conseguido sentir uma pequena dose disso, não conseguiam largar – mesmo que aquela pudesse ser a causa de suas mortes.
      — Vamos! — vociferou, ao jogar uma mulher e um homem semi-inconscientes por cima de cada um de seus ombros.
      Ela nunca se sentiu tão grata pela força que aquela armadura de diamantes lhe conferia, porém, ainda não era o bastante. Ária grunhiu de esforço quando, na corrida de volta a passagem secreta, a mesma agarrou outro cara cambaleante pelo braço e o arrastou consigo.
      Ao abrir a área segura, a moça jogou os três lá dentro e a fechou de novo. Rapidamente, a moça pegou outras três pessoas, dessa vez já inconscientes, e os levou até o destino final mais uma vez. Entretanto, quando a Ária estava prestes a ir em busca de mais indivíduos, a mesma foi puxada para a parte de dentro da passagem, que logo foi fechada abruptamente atrás de si.
      Sem entender o por quê daquilo, a menina se virou para encarar quem a havia puxado, todavia, ao se encontrar com os olhos escuros de Kal lhe encarando com um brilho de divertimento, ela franziu o cenho. Um lenço preto cobria desde o nariz até o queixo do rapaz.
      — Chega.
      Ária abriu a boca para retrucar, mas, quando o jovem bateu as costas contra a passagem e caiu sentado no solo, a mesma ergueu as sobrancelhas.
      — Kal?! — indagou, abaixando-se próximo a ele.
      O menino elevou um pouco a cabeça para observa-la, e, devido a leve dose de deleite que brilhavam nos olhos dele, a Ária piscou, como se estivesse digerindo aquilo.
      — Você... cheirou a droga?
      — Se você continuar abrindo e fechando a passagem, mais desse gás vai entrar — respondeu, com a voz falha.
      Era como se o garoto estivesse segurando a vontade de rir ou a onda de relaxamento que o cristalzinho causava.
       — Você tem que parar.
      A menina o encarou, em seguida, olhou ao seu redor.
      Havia uma fina fumaça no ar, mas não era nada comparada a que havia na prisão. Se a passagem parasse de ser aberta, aquilo logo se dissiparia, porém, ainda teriam de esperar o efeito sair do corpo das pessoas.
      O coração de Ária se apertou quando os seus olhos voltaram para a passagem. Muitos tinham ficado para trás. Tantas pessoas, tantas vidas que poderiam estar presas ali apenas por serem... como ela.
      O som das gargalhadas dos que estavam do lado de dentro a fez voltar a sua atenção até eles.
      Outras vidas; que poderiam ser colocadas em risco caso a garota não tomasse a decisão de deixar alguns para trás.
      Ela não podia salvar todo mundo.
      Esse pensamento a fez se sentir tão... fraca. Quantos dos que haviam ficado do outro lado tinham família, amigos, sonhos?
      Ária baixou o olhar para as mãos, encarando o material belo e brilhante que a protegia. Aquela armadura era útil para si, mas não para os que a mesma desejava salvar.
      — Eu preciso... — iniciou ela, fazendo com que Kral a observasse com mais atenção. — ... ficar mais forte.
      O garoto encarou a menina, que não tirou os olhos da armadura e, instintivamente, o mesmo esticou a sua mão até apoiar a sua palma na cabeça de Ária, que levou o olhar até ele perante o toque repentino.
      O Kral não sabia como consolar alguém que estivesse pensando daquele jeito, afinal, ele mesmo não sabia controlar as suas próprias habilidades; aquele gesto era a única coisa que remetia ao jovem uma espécie de conforto e acolhimento.
      Tanto o seu pai quanto a sua mãe apoiavam a mão em sua cabeça de maneira carinhosa quando ele tinha dificuldade em alguma coisa ou quando tinha feito algo que os orgulhara.
      Aquela lembrança, há muito esquecida no meio de suas memórias, o fez arregalar os olhos.
      Quando Kal percebeu o olhar de Ária sobre si, o garoto imediatamente tirou a mão da cabeça dela e a levou até o seu cabelo, fingindo ter que prender novamente os seus fios negros em um pequeno rabo de cavalo na altura da nuca.
      Ao ver que o menino havia tirado a atenção de si, a Ária levou a mão até a cabeça, bem no lugar onde ele havia tocado e, na mesma hora, a sua armadura se desfez. Ela desejou que o rapaz a tocasse daquela forma de novo, só para ver como seria a sensação da mão dele encostando nela, não nos diamantes que a protegiam de tudo – inclusive da sensação daquele toque.
      Todavia, pela expressão exasperada que o menino carregava, que era tão nítida que a mesma conseguia vê-la mesmo que o rapaz estivesse com uma parte do rosto coberta, ela não ousou tocar no assunto.
      Tentando tirar o seu foco daquilo, a integrante da K2 se virou para contabilizar quantos estavam a salvo – o Kal tinha acendido algumas tochas que estavam presas na parede daquele lugar, deixando o espaço um pouco mais iluminado – mas, ao vê-los, uma espécie de frustração pesou sobre os seus ombros.
      Se houvessem cem presos ali, ainda era muito.
      Mais da metade haviam sido deixados para trás.

*

      O caminho até a passagem secreta foi mais árduo para uns que para outros.
      Cássia, por exemplo, não conseguiu prosseguir com tanta rapidez, então, devido a isso, o Eduardo a apoiou e a guiou até a área segura. Todavia, ao chegarem nesse local, os três integrantes do time dela, que estavam mais sorridentes que o normal graças ao cristal de ópitys, tiraram a capitã de perto do rapaz e a levaram até uma parede, num local onde a maioria dos presos não estava.
      Eduardo não conseguiu desviar os olhos deles.
      Cássia estava grogue e risonha, mas, como tapava o rosto para tentar esconder isso, o capitão da equipe III suspirou de alívio. Ela ainda estava minimamente sã. Os três companheiros da garota falavam algo entre si, e o menino podia jurar que algumas risadas que eles deixavam escapar eram reais.
      O Eduardo não podia negar que aquele grupo da A1 tinha uma sede de batalha maior que o comum, mas, vendo-os ali, juntos e conversando, aqueles quatro refletiam o que realmente eram.
      Apenas jovens.
      Pelo que o menino notava, eles tinham um grande carinho e confiança um pelo outro, que era encoberto pela seriedade e arrogância que emanavam na maior parte do tempo. A Cássia estava mais tranquila na presença deles, como se, com aqueles três, ela pudesse abaixar algum tipo de campo de força invisível que mantinha ao redor de si; a Morgana não tinha o habitual semblante sádico e levemente maníaco que colocava na face durante as batalhas; e os meninos, que o Ed não conhecia muito bem, pareciam estar tão à vontade quanto elas.
      Era como se o laço deles excedesse ao de meros colegas de equipe. Eles eram um verdadeiro time, eram amigos.
      Um sorriso se repuxou nos lábios do rapaz ao perceber isso, e, quando os seus olhos se alternaram entre os membros da equipe I, o Ed finalmente notou que o garoto de cabelos pretos, com uma mecha colorida entre esses fios, o encarava fixamente. Esse jovem, Saul, abriu um sorrisinho debochado quando se levantou do solo e seguiu em direção ao capitão da equipe III, que não desviou a sua atenção dos olhos pretos do menino.
      — Vou te poupar de uma decepção maior com esse conselho: desista. A Cássia não gosta de... — o olhar de Saul analisou o Eduardo desde o fio do cabelo até a ponta do pé. — ... pessoas como você.
      Ed franziu o cenho.
      — Quê?!
      O jovem riu, balançando a cabeça de um lado para o outro.
      — Ela não gosta de homens... nem de mulheres. Na verdade, a Cássia não tem interesse amoroso em ninguém.
      Diante da informação, as sobrancelhas de Edu se juntaram, conferindo a ele um semblante mais confuso.
      — Como você sabe?
      O garoto soltou outra risadinha antes de dar de ombros e se virar, voltando para perto de seus companheiros. Morgana levantou a cabeça quando viu o amigo se aproximar, e, assim que o olhar da moça foi em direção ao Ed, aquele semblante de caçadora nata surgiu rapidamente no rosto da menina, quase como se ela tivesse colocado uma máscara; aquilo fez com que o capitão do time III, enfim, desviasse o olhar daquele grupo.
      Ao fazer isso, os seus olhos se encontraram com os de Kal e Ária, que estavam sentados a poucos metros e, a julgar pela atenção indisfarçável que ambos depositavam em si, deveriam ter escutado tudo o que o Saul havia falado – ou ao menos tentaram.
      O garoto deu uma olhada nos seus colegas de time, que estavam sentados tentando se recuperarem da onda relaxante que emanava pelos seus corpos, e, após se certificar de que todos estavam bem, Ed se levantou e foi até onde os dois estavam.
      — Considere isso um livramento — disparou Kal.
      Eduardo ergueu as sobrancelhas, surpreso com o fato do jovem ter escutado a conversa; notando isso, o menino da A1 deu de ombros e ajeitou o lenço em seu rosto para esconder qualquer indício de que ele havia sido afetado pelo gás.
      — Eu sei ler os lábios das pessoas.
      O Edu balançou os ombros, aceitando aquela explicação; em seguida, o rapaz fez um biquinho e se lançou nos braços de seu colega para abraça-lo, fazendo com que o Kal arregalasse tanto os olhos que mais pareceu que ambos iam saltar das órbitas.
      Ária segurou a vontade de rir.
      — mano, mas eu já tava gamadão nela, saca? — confessou, e, devido a voz embargada do garoto, a Ária notou que parte daquele drama poderia ser impulsionado graças aos efeitos do cristalzinho. 
      Porém, enquanto a moça analisava isso, o Kral estava totalmente perdido. Ele não fazia a menor ideia do que fazer com uma pessoa lhe abraçando e desabafando daquele jeito, então, como se pedisse por socorro, os seus olhos foram guiados até a Ária, que sorriu levemente e fez um gesto com as mãos, mandando o rapaz se virar sozinho com aquilo.
      Uma leve irritação perpassou pelos olhos negros do rapaz, como se ele estivesse dizendo que a menina pagaria por aquilo depois, e, quando ele voltou a atenção até o garoto agarrado a si, Kal, ainda que sem jeito, deu uns tapinhas nas costas de Ed, que fungava o nariz entupido.
      O sorriso de Ária se alargou.
      — Acho que já estou melhor — comentou Camille, aproximando-se, mas, antes que pudesse continuar falando, a mesma lançou um olhar confuso para o estado entre Kal e Arthur.
      O jovem da A1 virou a cabeça para o outro lado, envergonhado com a situação. Essa atitude fez um indício de sorriso aparecer nos lábios de Camille quando a mesma se sentou ao lado de Ária.
      — Ele levou um fora — sussurrou a integrante da equipe IX, fazendo com que Camille solte um “ah” e, em seguida, levasse a mão ao peito, como se estivesse dando o seu apoio ao menino. — Graças ao Ômega que você está melhor — prosseguiu, voltando para o assunto que realmente interessava.
      — Daqui a uns dez minutos todos devem estar recuperados. O que faremos em seguida?
      — Esperaremos o Thomas chegar aqui para, depois, irmos pegar os imãs para libertarmos a todos — respondeu Ária, levando os olhos até as pessoas que estavam ali. Oitenta e três. Ela mesma tinha contado. Duas vezes. — Quando eles estiverem com os seus poderes, poderemos fugir e, talvez, resgatar ainda mais pessoas.
      Camille levou a mão até a pedra em que estava encostada. A prisão estava do outro lado, cheia de gente desacordada que estavam lutando com tudo o que tinham para escaparem daquele inferno há momentos atrás.
      A moça respirou fundo, afastando aquilo de sua mente.
      — Não admito que a minha recompensa valha menos que cem mil dytreais depois disso.
      O comentário da garota fez as sobrancelhas de Ária se erguerem, porém, um sorriso logo surgiu nos lábios da integrante da equipe IX.
      — Você tem uma recompensa atualmente?
      — Não, o meu irm... — Camille parou de falar na mesma hora, lembrando-se de como o seu irmão quase a matara enforcada e a jogara no mar logo depois. Ela não tinha uma recompensa pois pensavam que estava morta. A garota engoliu em seco e se forçou a dar um sorrisinho, empurrando aquela memória dolorosa para o fundo de sua mente. — Ganhar uma recompensa alta logo de primeira seria como uma entrada triunfal, não acha?
      O olhar de Kal foi até as garotas, e o mesmo voltou a bater nas costas de Eduardo quando lembrou que, se o Rey espalhasse a notícia de quem ele realmente era, a sua própria cabeça valeria muito, muito mais que cem mil.
      Ária enroscou o seu braço no de Camille, com um sorriso ladino surgindo em seus lábios.
      — Concordo.

      A tela principal da verdadeira sala de controle mostrava a nebulosa prisão do setor três quando Theo, o Brytleofber mais velho, adentrou naquele espaço.
      Ao notarem a presença do príncipe herdeiro, todos os homens que trabalhavam nos computadores ou em qualquer outro serviço imediatamente pararam o que estavam fazendo para pularem de suas cadeiras e caírem de joelhos, batendo as suas testas contra o solo.
      — Voltem ao trabalho! — ordenou o rei, e, com a mesma velocidade que se ajoelharam, todos prontamente retornaram às suas devidas funções.
      — Precisa de ajuda, pai? — questionou, ao se aproximar.
      O símbolo espiralado presente em sua testa, que revelava a todos o tamanho da ameaça que o mesmo representava, pareceu brilhar levemente quando os seus olhos violetas se direcionaram até a tela principal, como se estivessem esperando ver alguma coisa que valesse a pena.
      O Thor, governante de Bry, permaneceu em silêncio por um tempo, entretanto, quando tornou a falar, a sua voz grave, carregada com uma raiva incontida, fez com que o príncipe herdeiro chegasse a se arrepiar.
      — Você sabia que existia uma passagem secreta no setor três?
      Theo ergueu as sobrancelhas perante a pergunta, e o monarca considerou aquilo uma resposta.
      O homem estreitou os olhos, como que calculando os fatos, e a forma como a gravidade do ambiente ficou pesada enquanto aquele silêncio esmagador os atormentava foi motivo mais que suficiente para fazer com que as pessoas que trabalhavam ali começassem a tremer ou a rezarem; em contrapartida, o príncipe herdeiro se manteve de queixo erguido, impedindo-se de demonstrar qualquer vestígio de medo.
      — Se nem nós sabemos, como esses pirralhos sabem da existência disto?
      O Theo continuou encarando a tela que mostrava a prisão. A neblina tornava o local um tanto assombroso.
      — Não sei, pai.
      O governante deu um passo para se aproximar mais do filho que, perante isso, finalmente desviou os olhos da imagem para encarar aquele violeta forte das pupilas de seu progenitor, que queimavam com uma fúria avassaladora.
      — Há uma pessoa que deve saber sobre isso.
      Theo inclinou levemente a cabeça, como que processando a informação.
      — Quem?
      Antes de responder, o rei fechou os punhos com força e, como consequência disso, a gravidade do local pesou ainda mais. Aquela tensão instalada no ambiente fez com que o Theo tivesse que erguer ainda mais os ombros se desejasse obter uma postura tão imponente quanto a do seu pai – e, ao levantar a cabeça e ajeitar o porte, o homem se tornou tão intimidador quanto seu progenitor, que poderia ter ficado orgulhoso com a conduta do filho caso não estivesse tão nervoso.
      A essa altura, os homens que trabalhavam ali já estavam encurvados e imóveis, como se qualquer movimento pudesse fazer com que a gravidade os esmagasse de vez.
      — Sua mãe — o único indício de espanto que o Theo deixou transparecer foi um lento piscar de olhos. — Ela memorizou a planta original do castelo há alguns anos.
      A garganta do filho mais velho oscilou quando o mesmo engoliu em seco.
      — Foi ela quem pediu para que eu viesse ajudar o senhor.
      Outro silêncio mortal se instalou na área, como se o monarca estivesse encaixando as peças de um quebra cabeça.
      — Onde ela está?
      — Na sala onde o Thomas está preso.
      Uma das sobrancelhas do rei de ergueu.
       — Fique aqui. Contenha qualquer rebelião que queiram implementar no nosso território.
      — Sim, pai.
      Sem proferir mais nada, Thor se retirou daquela sala com um andar arrogante e confiante de um rei, mas com passos silenciosos e leves que apenas um assassino treinado poderia possuir.
      Quando a gravidade voltou ao normal, devido a ausência do monarca, vários suspiros aliviados foram emitidos por parte dos trabalhadores.
      — Uma hora eles vão ter que sair da passagem secreta — bradou o príncipe, e, ao ouvirem a voz do homem, o relaxamento que todos sentiam sumiu outra vez, deixando-os rígidos de receio. — Preparem soldados com munições de Dinks para pega-los assim que colocarem os pés para fora.
      Vários acenos positivos foram emitidos, e o olhar do príncipe herdeiro retornou a tela principal.
      — Preparem as filmagens de todas as câmeras do setor três. Eu quero saber cada mísero detalhe do que aconteceu lá.
      — Sim, senhor.

      Yuri deu tudo de si para correr atrás de Alephe.
      Ele não queria nem pensar no que poderia acontecer caso o Rey descobrisse que um fedelho como aquele havia conseguido engana-lo de uma maneira tão tosca.
      Guiado pela raiva – e por uma pintada de vergonha – o jovem foi acelerando o passo cada vez mais, aproximando-se aos poucos da criança, que tinha uma energia insuportavelmente alta. Contudo, quando o pequeno fez menção de virar um corredor, Yuri aproveitou aquela deixa e forçou o seu corpo a saltar para frente, conseguindo, por meio disso, agarrar o uniforme de Alephe e puxa-lo rumo ao chão.
      — Seu pirralho id...
      — Sai fora!
      Repentinamente, outras quatro cópias idênticas ao Alephe saíram de dentro do corpo do próprio, fazendo com que cinco indivíduos como ele estivessem presentes no local; a cena fez com que o Yuri arregalasse os olhos, surpreso por só ter descoberto o poder do mais novo naquele instante.
      Ele deveria ter depositado um pouco mais de atenção naquele menino quando ainda estava na K2.
      Os cinco pirralhos riram, em sintonia, de uma maneira zombeteira, e o barulho irritante daquelas gargalhadas fez o sangue de Yuri ferver. Todavia, quando os cinco clones se separaram, indo cada criança para um corredor diferente, o rapaz da Divisão rosnou enquanto alternava o olhar entre os caminhos, como se estivesse pensando no que iria fazer.
      Era visível no semblante de Yuri que, quando ele finalmente capturasse aquele pirralho, o mesmo iria dar uma boa surra no mais novo para que ele nunca mais ousasse fazer algo parecido outra vez.
      O integrante da Divisão socou o chão antes de se levantar com um grande ódio estampado em sua face e, após encarar cada corredor, o jovem decidiu ir para aquele que o garotinho ia virar antes de ter sido interrompido.
      Era bom que aquela criança estivesse rezando para que não fosse pega.

      Na passagem secreta próxima ao setor um da prisão, Ryan observava o Diego, que estava com a cabeça apoiada sobre as suas pernas. O olhar do rapaz analisava as feições do ruivo, e uma mescla de tristeza e culpa perpassaram por aquelas pupilas azul gelo.
      — O que fizeram com você? — sussurrou, encostando a sua mão nos fios carmesins do garoto desacordado.
      No mesmo instante em que o Ryan tocou no jovem, ele imediatamente – como se fosse uma ação involuntária – abriu os olhos e impulsionou a cabeça para cima, com a intenção de se levantar. Esse movimento ligeiro e inesperado fez com que a testa de Ryan batesse contra a de Diego, que resmungou de dor e voltou a se deitar devido ao golpe.
      — Até acordando você é assim?! — reclamou o de cabelos platinados, sem nenhum pingo de delicadeza na voz, ao mesmo tempo em que levava a mão até a testa e chiava de dor. — Pelo Ômega, que cabeça dura!
      O silêncio que se seguiu após as suas queixas foi incomum, tanto é que, devido a ausência de som, o Ryan franziu levemente o cenho – estranhando o fato do seu rival ainda não ter rebatido os seus comentários – e, quando ele levou a sua atenção até o ruivo, só então pôde perceber que os olhos bronze de seu companheiro estavam cheios de lágrimas.
      Aquilo fez o mundo ao redor de Ryan se encolher, como se estivesse o pressionando.
      Ele nunca tinha visto o Diego chorar antes, e, agora que presenciava o ocorrido, o rapaz se deu conta de que não gostava nem um pouco daquilo. Parecia que alguém tinha tirado o chão de seus pés ou o ar de seus pulmões, e o aperto que o jovem de cabelos platinados sentia no peito só aumentou quando o mesmo viu o medo e a dor que se mesclavam naqueles olhos marejados.
      Por mais estranho que aquilo pudesse parecer, o Ryan sentiu vontade de agarrar o seu rival e abraça-lo, reconforta-lo e fazer qualquer outra coisa que pudesse diminuir o desespero nítido em seu companheiro, mas... ele não conseguia se mexer. O mundo ao redor de si o sufocava, e o seu corpo tremia, como se não aceitasse que o Diego estivesse naquele estado, que estivesse tão... frágil.
      Quando o garoto viu as lágrimas escorrerem pela face do ruivo, o ar pareceu ser roubado de si. Ele não sabia o que falar ou fazer para apaziguar aquilo, a sua mente não parecia raciocinar direito e o seu corpo estava trêmulo.
      Era como se tudo tivesse entrado em estado de choque.
      — R-Ryan?
      O jovem de cabelos platinados piscou lentamente uma vez. Duas. Três. Então, como se a voz de Diego tivesse desbloqueado alguma parte de seu ser, o rapaz, sem nem pensar direito, puxou o ruivo contra si, abraçando-o com força.
      Quando o Diego soluçou devido ao choro, o Ryan finalmente pareceu se dar conta de que estava agarrando o seu rival, porém, mesmo tendo consciência disso, ele não quis afastar o menino de si.
      Nunca mais.
      E, por algum milagre, o integrante da equipe IX encontrou voz para conseguir falar, ainda que de modo falho e baixo;
      — Está tudo bem agora.
      Diego estremeceu.
      — Eles... Minha cabeça... Eu... — tentou dizer, mas não conseguiu voltar a pensar naquilo que tinham feito.
      Notando o desespero evidente nas palavras de seu companheiro, Ryan o apertou com mais força, como se, por meio disso, conseguisse tirar uma parte da dor do rapaz, que não tinha energia para abraça-lo de volta.
      — Meu clã... Minha família... — balbuciou, com os soluços lhe interrompendo a fala. — Eu não disse nada.
      Ryan sentiu os olhos queimarem quando o Diego se encolheu contra si, como um ser indefeso em busca de proteção.
      — Acabou — declarou, com uma firmeza que ele não sabia de onde vinha. — Eles não vão tocar em você de novo.
      Diego assentiu, sem fazer menção de se distanciar dos braços de seu rival.
      Ryan rangeu os dentes quando o corpo do ruivo começou a aquecer, como se os poderes do menino estivessem descontrolados devido as emoções conturbadas que perpassavam na mente do jovem. Todavia, mesmo com aquele calor começando a fazer o seu físico reclamar de dor, o Ryan não se permitiu usar o gelo para aliviar aquela sensação. Ele não queria afastar o Diego de si com o seu frio, não queria afastar aquela chama selvagem nunca mais, mesmo que, para isso, precisasse ser consumido por ela.
      — Está tudo bem — repetiu, sentindo que o nível de calor havia se estabilizado um pouco. — Eu não vou deixar te pegarem de novo. Você não vai voltar pra lá. Eu prometo.
      As suas palavras pareceram tranquilizar o ruivo, o que fez aquele fogo diminuir. O corpo de seu rival não demorou a atingir uma temperatura tão normal que, na visão do Ryan, era gelado demais para alguém como o Diego; porém, a sua preocupação só atingiu o ápice quando o jovem disse, em um tom baixo demais;
      — Minha cabeça... dói.
      O garoto levou a mão até a própria nuca após revelar aquilo, no entanto, foi questão de segundos até o seu braço cair ao lado de seu corpo, que também cedeu quando o menino perdeu a consciência.
      — Diego!
      O nome soava estranho em seus lábios. O Ryan não costumava chamar o seu companheiro pelo nome, mas, agora que o via desacordado sobre si, o mesmo tinha certeza de que chamaria o rapaz pelo nome, que aguentaria qualquer xingamento calado ou que faria qualquer outra coisa para ver o menino acordando outra vez.
      Como ele não obteve nenhuma resposta por parte do ruivo, Ryan levou a mão até a nuca do rival, que deveria ser o local onde a dor era mais forte, e se preparou para fazer uma massagem ou qualquer outra coisa que aliviasse o sofrimento do seu parceiro. Porém, assim que ele chegou à parte de trás da cabeça do Diego, algo metálico entrou em contato com os seus dedos, fazendo com que o rapaz de cabelos platinados franzisse o cenho.
      Sem pensar muito, o integrante da K2 puxou aquele objeto e, mesmo estando inconsciente, o ruivo ainda grunhiu de dor quando o material se desafixou de sua pele. Diante daquilo, o Ryan segurou o corpo do rapaz com um certo apreço, como se estivesse se desculpando, antes de  erguer a mão para analisar o objeto.
      Ao ver o material com uma ponta afiada, usada para se fixar a algo, e com uma circunferência brilhante na outra ponta, os olhos azul gelo de Ryan se arregalaram.
      Um localizador.
      Às pressas, o jovem cobriu aquele objeto com o seu gelo e o tacou no chão, destroçando-o. Todavia, ao erguer a sua vista para ao caminho escuro além de si, já que a tocha única que havia ficado com ele não o iluminava direito, um par de olhos azuis turquesa o encararam de volta, brilhando em meio as trevas.
      Ryan segurou Diego contra si mais força, e, quando o dono daqueles olhos rosnou, o coração do rapaz acelerou.
      O animal representante do reino Bry, o mesmo que haviam encontrado a caminho do castelo na vila dos guerreiros, foi se aproximando, e o fogo fraco da tocha iluminou tanto o bicho quanto a pessoa que montava nele.
      O lobo alado – e uma mulher com uma máscara idêntica a face do animal.

E aí gente, tudo bem?
Estou passando no final do capítulo pra lembrar vocês de deixarem uma estrela ☆ e um comentário dizendo o que vocês acharam ♡
Será que eles vão conseguir fugir – com os prisioneiros? E o Edu e a Cássia? Vcs shippavam ou tinham a mesma opinião do Kal? Alephe conseguiu irritar o Yuri, então vamos torcer pro nosso pequeno fugir, né? E o Ryan e o Diego? Será que vão ficar bem?
As respostas pra essas dúvidas só vão poder ser solucionadas nos próximos caps, rsrs
Por hoje é só, um abraço e até breve! 🖤

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top