XXI| Vingança

      Assim que a Cássia e a Camille escutaram as palavras de Ryan sobre darem início a uma rebelião, ambas, a princípio, apenas ficaram sobressaltadas diante daquela sugestão, todavia, quando o fascínio passou, a Cássia abriu um sorriso no canto do rosto e admitiu que gostava da forma grande na qual o garoto de cabelos brancos pensava. Depois disso, não demorou para a moça colocar a cabeça para fora do duto com o intuito de observar melhor o local abaixo de si antes de, enfim, criar uma barreira horizontal onde ela e os seus outros dois companheiros ficaram em cima e seguiram, por meio dela, até uma das saídas da prisão.
      Os três se mantiveram acima dos demais presos graças a habilidade de Cássia, porém, mesmo estando num lugar de destaque, nenhum dos libertos parecia vê-los, já que a atenção de todos estava depositada em como abrirem as portas que haviam sido seladas. A única coisa que os prisioneiros podiam fazer era andarem em círculos ou subirem ou descerem as escadas, porém aquilo só faria com que eles entrassem em mais prisões, e não era esse o objetivo de nenhum.
      Não seria errado dizer que os cativos haviam sido libertos de prisões menores para, agora, estarem encerrados em uma área maior, afinal, ainda não tinham como escapar dali.
      — Ei! — exclamou Ryan, com a intenção de chamar a atenção de todos para si; alguns olharam, outros não, pois as vozes de todas aquelas pessoas juntas impediam que a sua se sobressaísse.
      Notando que não conseguiria atrair os olhares do povo dessa maneira, o menino estendeu os braços e fez com que uma névoa fria se espalhasse pelo local ao mesmo tempo em que ele abria os braços; o frio repentino silenciou alguns e, quando o Ryan fechou os braços, fazendo com que a fumaça gélida voltasse para si, todos acompanharam o caminho que a bruma fria percorreu até chegar no Ryan.
      — Nós sabemos como sair desse castelo! — declarou, causando uma onda de murmúrios que logo voltou a se tornar uma algazarra; uns pediam para que ele falasse, outros debochavam dizendo que era mentira, outros diziam não confiar neles e outros apenas continuaram em silêncio. — Eu sei que vocês não me conhecem, e nem eu a vocês, mas temos o mesmo objetivo: sairmos desse inferno! — prosseguiu, ao notar que a maioria não parecia dar crédito a suas palavras. — Se quiserem realizar isso, podem se juntar a mim e aos meus parceiros... — disse, apontando para as meninas atrás de si; a desconfiança dos presos não sumiu. Como saberiam que o Ryan e as garotas não trabalhavam para o governo? Nem roupa de presos eles três tinham. — ... com a ajuda de vocês, poderíamos colocar esse castelo de cabeça para baixo e nos vingar daqueles que nos trouxeram até aqui.
      Ao pronunciar isso, uns pareceram aptos a seguir as palavras do rapaz enquanto outros ainda não tinham certeza se deveriam fazer isso, afinal, eram apenas três crianças de caráter duvidoso que estavam a frente do movimento e...
      — WOHOOOOO! — gritou alguém entre a multidão, atraindo a atenção de todos. Eduardo. — VOCÊS JÁ INVADIRAM ESSE CASTELO BEM DEBAIXO DO NARIZ DELES E ESSES MALDITOS NEM NOTARAM... — declarou, e, devido ao seu comentário, alguns assobiaram, surpresos por saber que aquelas crianças haviam conseguido entrar ali às escondidas. — ... AGORA É SÓ RECUPERARMOS OS NOSSOS PODERES PARA CONSEGUIRMOS DESTRUIR TUDO! 
      A animação do garoto contagiou os seus companheiros, que também gritaram em concordância ao que o mesmo havia falado. Aos poucos, as pessoas foram sendo influenciadas umas pelas outras até que todas bradassem em conjunto; um grito de guerra. Movidos pela esperança de Edu, pela vingança, pela liberdade ou pelo simples fato de não aguentarem mais ficar ali, o povo aceitou se unir para executar o que havia sido dito pelo Ryan. Samuel, Daiane e Laura, da equipe III e liderados pelo Edu, haviam sido os responsáveis por exprimir empolgação para o resto das pessoas após os berros de seu capitão, já Morgana, Ivan e Saul, capitaneados pela Cássia, permaneceram com uma postura autoritária demais para pessoas que ainda estavam com algemas; todas essas sete pessoas foram trazidas, através do poder da capitã da A1, para perto dos três que lideravam a rebelião.
      Enquanto a empolgação dos presos ainda era grande, José usou essa distração deles para conseguir entrar no duto de ar sem que ninguém notasse.
      — Imbecis — sussurrou, antes de começar a engatinhar por ali.
      Do outro lado, a êxtase do povo foi transformada em receio quando uma das portas principais da prisão se abriu, revelando a eles um número assustador de soldados que portavam armas e objetos encapsulados em Dinks. Por um momento, toda a determinação e desejo de liberdade se esvaiu da multidão, que se via completamente indefesa aos ataques dos guardas pois não possuíam armas nem tinham acesso aos seus poderes.
      Vendo o assombro da maioria, Ryan fez o ambiente esfriar, como que para lembra-los que ele ainda estava ali; Cássia levou sua barreira até o chão, deixando ela e seus companheiros à frente das pessoas e uma aura roxa a contornou; Camille mordeu o cabo de uma adaga e segurou uma faca com a mão esquerda, em seguida, jogou algumas bolas de Dinks no chão que, quando se abriram, revelaram algumas armas cortantes. Não havia o bastante para todos, mas já era um início, ademais, com eles na frente, a multidão podia ter um pensamento positivo em mente.
      Haviam três pessoas com poderes na linha de frente.
      — PELA LIBERDADEEEE! — gritou Ed, erguendo uma adaga que havia pego com Camille.
      Toda a equipe da Cássia, incluindo a mesma, deram uma risada sarcástica perante o berro clichê do menino, porém, quando os cativos ergueram os punhos ou as armas e responderam o Edu com um grito alto o bastante para reverberar as pedras do castelo, um arrepio impactante percorreu os corpos de cada integrante da A1, lembrando-os que aquilo não era mais um simples exame como estavam acostumados.
      Aquele era um campo de batalha, e cada atitude resultaria em algo que determinaria a vitória ou a derrota, a vida ou a morte, a liberdade ou o cativeiro, a remissão ou a vingança. Não havia espaço para falhas, era tudo ou nada.
      Que o Ômega os ajudasse.

      — O Thomas não foi capturado.
      As palavras de Tell foram um calmante para a Flora, que expirou de alívio ao saber daquilo e se deitou na cama, exausta. A cabeça da garota estava pesada; a mesma estava cansada de sentir tanta coisa num período tão curto de tempo, se continuasse assim, a menina acabaria enlouquecendo.
      Ao ver que a moça estava um pouco mais relaxada, Tell levitou o imã até os grossos braceletes no pulso da mesma, libertando-a. Quando Flora viu os braços livres, ela não conteve um sorriso e os trouxe para diante de si com a intenção de observar a sua familiar habilidade elétrica perpassar por seus dedos, mas...
      Os seus olhos se arregalaram de pavor.
      — Eu... Eu... — devido ao pulo que a jovem deu, para que pudesse se sentar na cama, Aurora e Tell arregalaram os olhos de susto. — Eu não estou conseguindo usar os meus poderes! — revelou, com o desespero presente na voz.
      Naquele instante, a respiração da menina acelerou. Será que seus poderes haviam sumido para sempre? Será que tinham sido completamente absorvidos pelas algemas que carregava? A dúvida a consumia por dentro, chegando ao ponto de sufoca-la.
      — É normal! — alegou Aurora, rapidamente. — Como o Sub-x é um elemento muito forte, as pessoas que são afetadas por ele acabam demorando um pouco para conseguirem utilizar os seus poderes de novo.
      Mesmo ouvindo a explicação, lágrimas ainda desceram pelos olhos de Flora; a mesma queria sentir as suas habilidades especiais fluindo pelo seu corpo , pois isso servia como um conforto para si, era uma parte só dela que nunca poderia ser retirada permanentemente. A menina manteve as mãos na frente do rosto, que tremiam graças ao esforço que ela fazia para tentar acionar os seus poderes em busca de consolo e segurança.
      Como o desespero da moça podia ser visto pelos olhos, pela respiração entrecortada e pelos tremores, Tell tentou levar a atenção dela para outra coisa;
      — O Thomas está distraindo o irmão — comentou; o nome do parceiro de Flora foi, nitidamente, o motivo no qual a concentração da mesma foi levada em direção ao ser. — Ele deve estar lutando contra ele... Como não vai demorar para os seus poderes voltarem, porque não vamos atrás do Thomas? As suas habilidades seriam muito vantajosas para que acabássemos com o Thadeu.
      Flora empalideceu.
      Thadeu; este nome a atingiu como um soco.
      — N-Não... — sussurrou, a palidez e o olhar desesperado da jovem foi impactante o suficiente para que a Aurora se aproximasse da menina com uma certa preocupação. — Não quero ver o Thadeu nunca mais, eu prefiro morrer antes de... — ela não conseguiu concluir a frase, pois o ar fugiu de seus pulmões.
      O medo a consumiu. Parecia que o mundo inteiro a estava pressionando; tudo estava encolhendo, deixando-a sem espaço, sem saída, sem ar. Tudo a sua volta ficou embaçado devido a falta de oxigenação e as lágrimas, a sua cabeça girava devido a queda de pressão e a lembrança do que houve na câmara de tortura mental a engoliu outra vez. Seus pulmões queimavam, o local em seu pescoço – no qual a mesma havia sido enforcada – latejava, a sua cabeça estava mais pesada que nunca e o desespero a fez sentir como se estivesse sendo tocada novamente pelo Thadeu.
      As lembranças ruins, o toque dele, a dor, o medo e sensação de incapacidade explodiram dentro de si, fazendo-a perder a noção de onde estava, quem era ou o que estava acontecendo; por um momento, a sua mente parecia ter quebrado.
      — Ah! — expirou, quando uma lufada gelada atingiu o seu rosto com força, forçando a entrada de ar pelas suas narinas que arderam conforme o sopro passava pelas suas vias respiratórias.
      Como o oxigênio retornou aos seus pulmões, uma parte dos seus sentidos voltaram. Flora piscou algumas vezes antes de se dar conta de que havia se deitado na cama de novo e que a Aurora estava em sua frente, movimentando as mãozinhas para forçar o ar a entrar em suas narinas. O espírito parecia falar alguma coisa, mas a moça não conseguia entender porque os seus ouvidos zuniam e o seu foco estava exaurido.
      Aos poucos, a sua visão voltou a embaçar e as suas pálpebras pesaram; o vento gelado que batia contra sua face lhe trazia paz, além de ajuda-la a recuperar o fôlego e, quando um lençol a cobriu do pescoço para baixo, a mesma se permitiu fechar os olhos cansados.
      E então, todo o seu corpo desligou.

      Após engatinhar pelos dutos por um tempo, o José parou sobre uma entrada e, quando observou entre as finas frechas da tampa, o mesmo pôde ver dois soldados encostados na parede.
      — Mentira! — comentou um deles; o que tinha uma arma grande em mãos. — Sério mesmo que o príncipe mais novo retornou e foi pego pelos irmãos mais velhos?!
      — Foi o que o Steve falou — retrucou o outro, que não tinha uma arma tão grande quanto o colega, mas possuía um escudo preso no braço esquerdo. — Ele disse que estava lá na hora que isso aconteceu e que o fogo não era nada comparado ao entretenimento que o reencontro dos príncipes causaram! Juro por Bry que daria tudo para ver a cara dos p...
      — O que vocês estão fazendo?! — questionou uma voz feminina e, pelo modo no qual os homens reagiram, a mulher deveria ser a superior deles. — Estamos concentrando forças para conter os presos pois todos os quatro setores principais estão em alvoroço e vocês dois aqui, batendo papo! — reclamou, e, antes que um deles, o do escudo, pudesse se justificar, a mulher prosseguiu; — Há umas crianças com poderes no setor quatro que estão dando trabalho, andem logo e vão para lá agora!
      — Sim senhora! — responderam em coro, antes saírem dali às pressas.
      Quando o barulho dos passos sumiram, José decidiu descer do duto. Aquele era um corredor estreito e vazio que provavelmente dava acesso a um dos setores da prisão, então, como o rapaz ansiava sair de perto daquela área, ele resolveu ir para o lado contrário dos soldados, todavia, antes que desse mais que dois passos, a figura de um homem alto que adentrou naquele corredor por um caminho à direita fez o garoto parar; um arrepio subiu pela costela de José assim que o mesmo encarou o homem.
      Aquele cara não era qualquer um.
      O indivíduo encarou os olhos do garoto e, quando sentiu a raiva que emanava deles, um sorriso ladino surgiu em seus lábios, fazendo com que José erguesse o queixo, como que para saber o motivo do sorriso. Sem falar nada, o homem – que parecia estar na casa dos 1,90 de altura e tinha a pele negra totalmente coberta por um uniforme verde escuro, deixando apenas o seu rosto imponente a mostra – deu um passo adiante; os olhos azuis de um tom bastante claro observou o corpo do jovem de cima a baixo e repousaram no nariz enfaixado do menino, que ajeitou a postura e inclinou a cabeça para o lado, como se tentasse intimidar o homem, que apenas riu pelo nariz diante daquilo.
      — Fui com a sua cara — a voz do indivíduo era grossa, e a firmeza que emanava dela fez com que o José engolisse em seco. — Ao que vejo, você foi esperto o bastante para sair das prisões antes que as saídas fossem seladas. Qual foi a sua motivação para isso?
      — Me vingar de um certo alguém.
      O sorriso do homem aumentou.
      — Por que? Ele quebrou o seu nariz? — indagou, com uma pontada de ironia.
      Lembrar dos curativos em seu nariz fez com que uma sombra envolvesse os olhos de José, destacando as suas olheiras e dando ao jovem um olhar sombrio e mortal.
      — Ele vai pagar caro por isso. Eu vou pôr aquele apalermado insignificante no lugar dele para que não ouse tentar se achar alguém de novo — sua voz era puro rancor, fazendo com que o mais velho apoiasse uma das mãos na cintura e encarasse o menino atentamente. 
      — As academias sabem mesmo como criar as criancinhas delas... Fome de superioridade, instinto de sobrevivência, poder — ele sorriu. — Não tinha como ser melhor. Bem, esse cara que você quer se vingar está aqui? — José confirmou com a cabeça. — Quem é?
      — Uma ovelha negra que deveria se contentar com a posição em que está — respondeu, friamente. — Se me lembro, o nome deve ter algo a ver com Nicholas.
      Uma sobrancelha se ergueu no rosto do homem, revelando o aumento do interesse do mesmo nesse assunto.
      — Oh... — exprimiu, apreciando o sentimento de vingança e ódio que o rapaz possuía. — Vamos fazer o seguinte: se você conseguir vencer o White e matá-lo, entrará no lugar dele e se juntará a mim, mas, se não conseguires fazer isso, é você quem morrerá.
      José encarou o mais velho de cima a baixo com atenção.
      — E quem é você?
      — Rey, general da Divisão, líder do setor Karosa.
      — Divisão?
      O general sorriu com uma certa extravagância; os olhos revelando uma aura diabólica.
      — Não vou obriga-lo a se juntar a mim. Se não quiser, posso mata-lo agora mesmo e deixar que a “ovelha negra” ocupe um lugar que você, alguém mais digno, poderia ter ocupado e...
      — Não importa quem ou de onde você seja — alegou, interrompendo-o. — Se eu puder me vingar, está perfeito pra mim.
      O rosto do homem se converteu numa expressão fria quando ele tirou um imã que estava preso em seu cinto e o entregou para o José, libertando-o.
      — Agora não tem mais volta.

      Daphne abriu os olhos.
      A princípio, ela observou o ambiente ao seu redor com atenção. Estava em um quarto não muito grande onde as paredes eram feitas de basalto, um tom mais claro do que estava acostumada a ver por aquele castelo, ademais, não haviam linhas roxas nem nenhum tipo de adereço dessa cor – que bom, aquilo já a estava deixando enjoada. A cama em que estava era pequena e não havia nenhuma decoração ou extravagância naquele espaço, indicando que aquele deveria ser um quarto de serviço.
      — Que bom que você acordou, Daph.
      A voz de James, tão próxima a si, fez com que a garota rolasse e descesse da cama num movimento ligeiro, ficando de frente com o rapaz; apenas o leito os distanciava. O movimento súbito que havia feito a fez arfar, e, quando ela sentiu o peso das algemas em seus pulsos, a mesma bufou; a garota tinha braceletes grossos iguais aos de Flora, porém, diferente da amiga, uma corrente pequena conectava ambos para impedir que a mesma pudesse mexer livremente os braços.
      — Do jeito que você é, eu sabia que tentaria me atacar, então decidi não só tirar os seus poderes como também restringi os seus movimentos — admitiu o garoto, fazendo com que a moça lhe lançasse um olhar ameaçador.
      — Vai precisar mais que isso para me segurar.
      Num abrir e fechar de olhos, Daphne subiu na cama outra vez para se aproximar do James e, ao dar um giro rápido, levou a sua canela contra o braço do garoto, que o ergueu para defender o seu rosto do chute inesperado. O golpe não fez o jovem sair voando como normalmente faria, mas isso não desanimou a integrante da equipe X, que deu um giro na direção contrária para acertar o outro lado do corpo dele.
      O menino deu alguns passos para trás, saindo do alcance da garota, no entanto, Daphne usou a mola da cama para saltar até ele; o rapaz não teve opção além de colocar os dois braços na frente do corpo para não receber o impacto do tornozelo dela contra o topo de sua cabeça. Assim que recebeu o ataque, James abriu os braços para empurrar a moça para longe, e, como ela não pôde movimentar os braços para se equilibrar, acabou caindo com as costas no chão.
      — Daphne, espere! — pediu, ao mesmo tempo em que a menina se levantou. — Não precisa fazer isso, eu n...
      Ela não o deixou terminar.
      Juntando as mãos, a moça avançou ameaçando socar a face do jovem que, quando levou os braços até o rosto, não pôde se defender da armadilha dela. Rapidamente, a mesma o chutou na costela, fazendo-o chiar de dor e cair no solo, sem ar. Com seu adversário no chão, Daphne foi até a porta, destrancou-a e correu.
      O James se levantou para tentar impedi-la, todavia, a moça já havia disparado para fora antes que ele terminasse de ficar de pé; a dor que irradiou da lateral de seu corpo dificultou o reerguimento dele.
      — Nossa, ela tem uma resistência boa a Sub-x — resmungou, enquanto começava a ir atrás de Daphne; ele não precisou andar muito rápido, pois a velocidade da garota era idêntica a de uma pessoa baleada devido a fraqueza que o Sub-x causava. Seria questão de tempo até alcança-la. — Ela não deveria se mexer tanto assim... Eu a subestimei.
      Enquanto “corria”, Daphne sentia os seus pulmões queimarem. O Sub-x enfraquecia as pessoas, já que fazia com que os poderes de alguém se voltassem contra si, no entanto, mesmo com a fadiga, a menina se forçou a lutar contra o James – ainda que o seu corpo pesasse e implorasse por descanso.
      Ela não cedeu; não cederia.
      Convicta disso, a garota forçou cada passada de seu corpo, que doía e pesava cada vez mais, até virar um corredor e, para sua infelicidade, dar de cara com uma parede. Quem em sã consciência faria uma parede no meio de um corredor?
      — A não ser que... — sussurrou, analisando a pedra acinzentada. Será que havia algum tipo de passagem secreta por ali?
      Para o seu azar, a moça não pôde descobrir, pois o James já a havia alcançado e, antes que ela tivesse tempo de fazer algo, o rapaz a prendeu contra a parede. As mãos dele agarraram seus ombros, forçando-a a permanecer com as costas no muro enquanto as pernas dele prendiam as suas, impedindo que a mesma fugisse ou pensasse em chuta-lo outra vez. Ela ainda se remexeu, em busca de liberdade, contudo, ao notar que não tinha forças para tira-lo dali, Daphne o encarou; os olhos emanando uma aura intimidadora.
      — Me largue! — rosnou.
      Os pulsos dela doíam no local em que as algemas estavam e o peso do material parecia ter quadruplicado; era quase impossível erguer os braços, quanto mais tentar empurrar o James para longe. Mesmo assim, ela não cederia – isso ficou nítido no olhar firme que a garota tinha, como se estivesse procurando meios de se libertar.
      — Se você não parar com isso eu vou pegar uma algema com mais Sub-x e... AAAAH! — gritou.
      Daphne o mordeu.
      Com as pernas e os braços pesados demais para fazer algo, a boca era a única coisa que ela ainda conseguia usar perfeitamente, e, quando o jovem se afastou dela graças a mordida que a moça havia dado no ombro dele – a poucos centímetros do pescoço –, a integrante da equipe X jogou todo o peso de seu corpo sobre o de James, caindo por cima do garoto.
      Quando ambos estavam no chão, ela não pensou duas vezes antes de levar o pulso até o pescoço dele, que gemeu ao entrar em contato com o Dinks e o Sub-x que estavam presentes na algema da moça; quando ele a encarou com um semblante dolorido, ela sorriu de uma forma tenebrosa, fazendo-o erguer as sobrancelhas, chocado e, ao mesmo tempo, admirado com as habilidades da garota.
      — Vai me dizer onde encontro o imã para me soltar... — ela pressionou o pescoço dele ainda mais, fazendo-o arfar. — ... ou vou ter que te apagar e procurar eu mesma?

      Os prisioneiros do setor 1 estavam impressionantemente calmos, ademais, o número dos detidos no setor superior não era tão grande como os do local onde os mais novos estavam.  Naquele castelo, o nível de periculosidade aumentava conforme o número se aproximava do zero, sendo assim, as crianças que estavam no setor quatro não eram consideradas uma ameaça tão grande quanto os indivíduos do setor um.
      Isso se revelou também pelo fato de que nenhum soldado, até o momento, tinha adentrado no setor um – mesmo que houvessem algemas reforçadas com Sub-x prendendo os sujeitos daquele andar. A calma dos encarcerados gerava uma tensão latente no ar e a maioria observava atentamente as portas seladas que os levariam à saída da prisão, como se estivessem estudando meios de a abrirem.
      Em meio aquele silêncio e pressão, um homem não tão alto com os cabelos castanhos raspados nas laterais e com grande volume em cima, uma barba por fazer e olhos ônix saiu de dentro de sua cela. O seu olhar perpassou por todo o ambiente, observando, analisando, memorizando. Quando decorou tudo, ele levou os olhos escuros até as algemas em seus pulsos enquanto terminava de enfaixar o punho ensanguentado com um pedaço da manga de sua roupa típica de prisioneiro; uma aura obstinada emanou dele quando sua cabeça se ergueu em direção a saída principal. 
      O seu olhar era tão profundo que parecia ser capaz de destruir aquela porta. Vários sentimentos queimavam por dentro do homem, que lançou um olhar para as câmeras antes de pensar em fazer algo, todavia, naquele instante, não foram as câmeras, as algemas, as saídas fechadas ou qualquer outra coisa que passou por sua mente, foi uma pessoa.
      — Eu vou tirar todos daqui como você queria, mas depois voltarei por você... — sussurrou. — Pode ser que não seja hoje nem amanhã, mas eu vou voltar para esse inferno, ou enfrentarei piores, só por você, maldito Michael.

E aí gente, tudo bem?
Estou passando no final do capítulo pra lembrar vocês de deixarem uma estrela ☆ e um comentário dizendo o que vocês acharam ♡
Será que essa rebelião vai render algo ou vai dar errado? E o José?! O cara não faz ideia de onde está se metendo, né? Gente, quem mais tá preocupado com Florinha? E a Daphne?! Muito patroa, né? 🛐 Bom, vamos esperar para ver o que o Luís vai fazer também.
Por hoje é só, um abraço e até breve! 💜

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