VI| Código D
Assim que o embate de Diego teve fim, o mesmo retornou a sua arquibancada e recebeu o apoio dos seus companheiros devido a sua perda. Bem, na verdade, apenas o Thomas, a Camille, a Daphne e o Alephe fizeram isso, pois o restante, como o Nicholas e o Eduardo, ficaram perguntando o porquê de o garoto não ter levado aquela luta a sério, mas tudo o que o ruivo respondeu foi: "Eu escolho as minhas próprias batalhas e quando as devo vencer", e isso foi suficiente para deixar o Nicholas com os olhos brilhando de admiração, enquanto o Edu apenas deu uma risadinha, sabendo que aquilo não passava de uma desculpa. Após conversar com esses rapazes, o ruivo seguiu até a Ária e o Ryan, entretanto, antes que ele pudesse dizer algo, o de cabelos platinados rapidamente começou a resmungar sobre a derrota insensata do seu rival, que somente rolou os olhos e se virou para a sua amiga, na qual prontamente teceu elogios pelos esforços do menino.
Em contrapartida, Daphne seguiu até o Michael, com a intenção de saber aonde a Flora estava, e, assim que o seu professor disse que a moça desejava ficar um pouco só, a Daphne assentiu, mas manteve uma expressão um pouco apreensiva em seu rosto. Ela conhecia bem a amiga, então sabia que alguma coisa estava incomodando a Flora, afinal, a garota não pedia para ficar sozinha à toa. Não era do feitio dela. Levemente aflita, Daphne voltou ao parapeito e se juntou aos demais, que observavam com bastante atenção a roleta de nomes parar de girar, revelando assim, os protagonistas do próximo round.
Ária versus Késia.
Os olhares de todos seguiram até a Ária, que havia aberto um sorrisinho nervoso ao ver o seu nome, porém, após receber algumas palavras de apoio que o Diego, o Nicholas e a Camille falaram para ela, a menina pareceu relaxar um pouco, antes de seguir até as escadas que a levariam ao campo de batalha. Assim que a briga das meninas teve início, pôde-se perceber que a Késia, uma das integrantes da D2 e também da mesma equipe do Arthur, possuía poderes relacionados ao cheiro. Em outras palavras, ela conseguia exalar aromas que causavam sonolência, e, em consequência disso, várias pessoas das arquibancadas acabaram sendo atingidas pela habilidade da mesma; adormecendo. Os que haviam notado a periculosidade do poder da garota rapidamente cobriram os narizes com as mãos ou com um pano, entretanto, eles não precisaram ficar assim por muito tempo. A Ária, desde o início do combate, havia coberto o corpo com a sua armadura de diamante que era capaz de retirar a sua necessidade respiratória, sendo assim, os poderes de Késia não adiantaram.
A Ária era a inimiga natural da integrante da D2.
Graças a isso, o confronto delas não durou muito, e a vitória logo foi dada à Ária. Ao saber que era campeã, a menina abriu um largo sorriso, mas não deixou de apertar a mão da sua adversária, demonstrando que a respeitava acima de tudo. Isso pareceu deixar a menina feliz, e a plateia também gostou dessa atitude, já que começaram a aplaudi-la. Quando terminou de se despedir de sua opositora, a Ária retornou à sua arquibancada, onde prontamente foi recebida com bastante animação e incentivos por parte de seus amigos e de sua professora. A mesma os agradeceu pelo encorajamento para, então, aproximar-se dos seus dois parceiros de equipe; com a chegada dela, o ruivo não perdeu tempo e logo começou a elogia-la, enquanto o Ryan, por outro lado, limitou-se a abrir somente um sorrisinho.
Mais uma vez, a roleta de nomes girou.
— Eu tive sorte... — comentou ela, após o Diego dizer que a mesma havia sido incrível. — Se aquela garota tivesse lutado contra outra pessoa, com certeza ela teria se saído melhor.
— É verdade — admitiu. — Mas isso não anula o fato de que você foi fantástica nessa briga! — frisou, fazendo com que a moça abrisse um sorrisinho agradecido.
— Ryan versus Arthur! — gritou o organizador, assim que a roleta parou, e, quando ouviu isso, a Ária ergueu as sobrancelhas para, imediatamente, levar um olharzinho zombeteiro em direção ao rapaz de cabelos platinados.
— O que foi que houve? — questionou Diego, ao mesmo tempo em que observava o Ryan lançar um olhar de advertência para a Ária antes de ir em direção as escadas. — Ora, vai olhar assim pra um iglu, seu f...
— Venha! — declarou Ária, puxando o ruivo para perto do parapeito antes que o mesmo pudesse concluir o seu xingamento. — Essa batalha vai ser interessante! — justificou-se, assim que o Thomas a olhou com uma certa curiosidade, afinal, desde o início das brigas, a garota não demonstrou estar tão ansiosa assim para assistir nenhuma delas.
O embate dos rapazes foi um tanto quanto... desigual, pois o Ryan estava lançando vários ataques furiosos rumo ao seu oponente, que o observava de uma maneira confusa. Pelo jeito, o Arthur não entendia o porquê do seu adversário ter tanta sede de vitória, e, ao ver a diferença de expressões que os meninos tinham, um mais sério e o outro totalmente perdido, a Ária deu uma risada, ao mesmo tempo em que balançava a cabeça em negativa. Os olhos de Diego se alternavam da luta para o rosto de sua amiga, e o mesmo se mostrou interessado em querer saber o motivo da garota estar rindo, afinal, ele não estava vendo nada muito interessante na área de combate. O Arthur estava apenas desviando, enquanto o Ryan parecia estar enfrentando um velho inimigo. Devido à tanta atenção que o ruivo depositou naquela briga, o menino pôde até ver o momento em que o Arthur indagou ao Ryan se ele estava com fome ou com algum tipo de problema, pergunta essa que só deixava ainda mais claro o quão confuso o Arthur, e agora o Diego, estava em relação a determinação do seu adversário. A briga se desenrolou dessa forma, até chegar ao ponto de o garoto de cabelos platinados conseguir acertar uma das asas de Arthur com o seu gelo, fazendo com que o menino caísse e, após um tempo, desistisse da briga. O organizador não demorou para declarar a vitória de Ryan que, antes de voltar para a arquibancada, retirou o gelo das asas de Arthur, que ainda o encarava com uma face hesitante; provavelmente o mesmo estava pensando na possibilidade de o jovem com cabelos brancos ser, no mínimo, um pouco louco. E, sinceramente, ninguém poderia culpar o Arthur por pensar desse modo, até porque, o Ryan havia realmente dado tudo de si nesse embate, tanto que, quando ele retornou ao local onde os seus companheiros estavam, todos disseram que ele havia ido muito bem.
Se o Arthur tivesse tido tanta garra como o cabeça de ovo, a luta deles provavelmente seria bem mais interessante, pensou Diego, enquanto observava o seu rival se aproximar dele e de Ária.
— Você estava bastante focado, não? — comentou a garota, com um sorrisinho brincalhão nos lábios.
— Puff, eu venceria isso bem mais rápido!
— Duvido! — Ryan rebateu a provocação de Diego, e, quando o ruivo abriu a boca para tentar falar algo – uma ofensa, provavelmente – o menino prosseguiu; — Do jeito que você está amiguinho desse tal de Arthur, tenho certeza de que você não o atacaria! — declarou, fazendo com que a Ária desse uma risadinha baixa para o Thomas, que havia virado a cabeça para observar a conversa que estava acontecendo ali. O rapaz rapidamente respondeu ao sorriso de Ária com um semblante divertido, como se estivesse achando estranha aquela reclamação feita pelo rapaz de gelo, e, em resposta à face cômica de Thomas, a menina apenas riu outra vez.
— É o quê?!
— Ficou surdo, cabeça de tomate?
— E um por acaso você ficou maluco, cabeça de farinha? — questionou, cruzando os braços. — Eu sou um protetor das ladys! Aonde você viu delicadeza, beleza e chame feminino no Arthur?! Se eu estivesse lutando contra ele ou contra qualquer outro marmanjo daqui eu não pensaria duas vezes antes de tacar uma bola de fogo no meio da fuça, sacou? — afirmou. — Porém, mesmo assim.. — disse, ao mesmo tempo em que abaixava um pouco o seu tom de voz, pois havia notado as risadinhas de Thomas e Ária que ecoavam ao seu lado. — ... eu não batalharia com ele da mesma maneira que você lutou — assegurou, e tal comentário fez o Ryan franzir o cenho. — O Arthur não dá tudo de si numa luta contra nós, pois, querendo ou não, somos aliados! Ele não luta a sério nem com a gente e nem com qualquer outra pessoa daqui, porque o foco dele é destruir a Divisão, não nós — revelou, e um sorrisinho se formou no rosto de ruivo quando o Ryan fechou a cara. — É por isso que eu o venceria primeiro, afinal, conheço-o melhor que você, cabeça de giz.
— Uhh... — exprimiu Ária, como se estivesse anunciando que o Diego era o vencedor daquele bate-boca, e, devido a essa ação feita pela mesma, o Ryan a encarou um olhar gélido; ameaçador. — Enfim... — continuou ela, sem ligar para a advertência presente no olhar de seu companheiro de cabelos brancos. — ... não ligue para o Ryan, Diego, esse nervosismo todo é só porque ele...
— ... pensava que o Arthur era um adversário forte! — o de cabelos platinados apressou-se em concluir antes que a sua companheira falasse alguma besteira, e sua atitude acabou fazendo com que um sorrisinho se abrisse nos lábios de Ária, enquanto o Diego levava um olhar confuso em direção ao Ryan. — Pelo visto me enganei em relação a isto... Ele não daria um bom rival nem em cem anos.
— Um rival?! Como assim? — perguntou o ruivo, arqueando uma das sobrancelhas. — Por que você está procurando por outro se nem conseguiu me vencer ainda, cabeção de maionese? — indagou, e tal questionamento acabou fazendo com que um sorrisinho se abrisse nos lábios do jovem de cabelos platinados.
— Não estou procurando pra mim! — respondeu, fazendo com que, dessa vez, a Ária compartilhasse do mesmo semblante confuso que havia sido estampado no rosto de Diego. — É para você. Como o Arthur perdeu pra mim, isso significa que ele é mais fraco do que eu, sendo assim, pode ir lá ser o rival dele, afinal, um oponente mais fraquinho deve ser melhor para ti... Assim você luta contra alguém do seu nível — provocou, fazendo com que o ruivo fechasse os punhos com firmeza.
— Ora seu...
— Ok, meninos! — mencionou Ária, apoiando a mão no ombro do ruivo antes que as chamas que já tomavam conta do cabelo dele fossem parar no restante do corpo do mesmo. — Não briguem agora. Aliás, porque você não vai assistir a próxima luta com o Nicholas, Diego? Assim você evita quaisquer discursões.
— Como quiser, lady — proferiu o rapaz, num tom mais doce, entretanto, quando ele voltou a encarar o Ryan, não havia nada de "doce" no olhar furioso que o menino lançou para ele, porém, como não queria alongar mais aquela discursão, o rapaz logo resolveu fazer o que a sua amiga pediu e foi em direção ao Nicholas, que não estava tão longe assim dali; contudo, como o garoto estava prestando atenção demais nas reformas do campo de batalha e na sua conversa com Alephe, ele não percebeu o bate-boca que havia ocorrido. Thomas, por outro lado, precisou erguer as mãos em sinal de rendição quando o Ryan guiou um olhar acusador para o mesmo, que imediatamente tratou de se retirar daquele lugar de uma maneira um tanto quanto debochada; e tal ação acabou fazendo a Ária morder os lábios para não rir.
— Parabéns, você conseguiu! — proclamou a garota, assim que conseguiu controlar a sua vontade de rir. — Agora o Diego não vai querer mesmo o Arthur como rival.
— Como já disse antes, eu não ligo — rebateu, mas o sorrisinho presente nos lábios dele indicavam o contrário.
— É, nada de rivalidade entre Diego e Arthur, mas... — ela deu uma pausa antes de prosseguir, fazendo com que o sorriso de Ryan diminuísse. — ... acho que eles têm grandes chances de formarem uma amizade bem íntima — a mesma fez questão de frisar a última palavra, e isto fez o Ryan encara-la com um olhar mortal, antes de guiar os seus olhos para o Diego por alguns instantes.
— Você consegue ser pior do que ele quando quer! — resmungou, ao mesmo tempo em que saia pisando forte, coisa que a fez abafar uma risada. Até que irritar o Ryan é divertido, constatou ela, sem tirar o sorrisinho vencedor de sua face, estou começando a entender o porquê do Diego se esforçar tanto para tira-lo do sério... Talvez devêssemos fazer uma parceria.
— O que você disse a ele? — indagou Camille, por meio de sussurros, e o fato da menina ter chegado tão de fininho acabou assustando a Ária, que não conseguiu evitar dar um pulinho de espanto. — Ele parecia bastante irritado...
— N-Não é nada demais! — revelou, ao mesmo tempo em que levava a mão ao peito para tentar controlar sua respiração. — Eu só estou tentando abrir os olhos dele para certos assuntos, entende?
— Ah... — exprimiu, sem deixar de notar o sorrisinho ardiloso nos lábios da amiga. — Bom, seja o que for, acho que você está correta no que diz. Não conheço ninguém que seja uma observadora melhor que ti, sendo assim, acho que ele vai acabar te escutando.
— É... — disse, enquanto alternava seu olhar entre o Ryan, que estava conversando com a Kelly, e o Diego, que estava discutindo com o Alephe e falando alguma coisa com o Nicholas, que sorria. — Algo me diz que vai demorar um pouco para a ficha cair — sussurrou, antes de ser interrompida pelos gritos e palmas do público.
Parece que os protagonistas do nono round já foram definidos.
— Thomas versus Saul! — declarou o organizador, e, perante a fala do homem, os olhos de Thomas instintivamente seguiram até o de seu oponente, que ergueu o queixo como que para lhe deixar mais imponente; e essa atitude acabou destacando a sua mecha colorida em meio aos seus cabelos negros como a noite. Sem delongas, ambos foram até a área feita para o combate.
— ... enfim, foi isso! — concluiu Simmon, após terminar de dizer ao Kaleb tudo o que sabia sobre a morte e a traição de Coby, contando com detalhes desde o momento em que o viu entrar no quarto da equipe IX até o instante em que descobriu o falecimento do homem. O diretor da K2 ouviu tudo atentamente, e, assim que se inteirou dos ocorridos, um suspiro longo e levemente cansado escapou dos seus lábios. — Pela sua cara, acho que você concorda comigo quando digo que esse mistério ainda está longe de acabar... Ter o consentimento de que há um maldito cão da Divisão andando lado a lado comigo me deixa louco!
— O Coby foi morto pelo próprio "aliado", então pode manter a guarda alta, pirralho, porque o ou os traidores não só estão perto de nós como também estão rindo da nossa cara! — alegou, ao mesmo tempo em que apoiava a testa sobre as mãos, deixando claro que estava preocupado com as consequências daquela traição, afinal, o Coby não estava na K2 há pouco tempo, sendo assim, o homem com certeza havia tido – e aproveitado – várias oportunidades para roubar informes valiosos. — Os nossos dados e vários outros tipos de conhecimentos gerais já devem ter chegado nas mãos de alguém da Divisão, e isso com certeza comprometerá muito a nossa segurança! — revelou, começando a massagear as têmporas, enquanto o Simmon xingava os traidores com nomes que não eram nem um pouco agradáveis aos ouvidos. — Preciso voltar para a K2! — proclamou, levantando-se.
— Irei te deixar por dentro de tudo o que acontecer por aqui, velho! — assegurou, erguendo-se de seu assento também, para que pudesse encarar o diretor nos olhos. O homem de mais idade concordou firmemente com a cabeça antes de começar a mexer no seu relógio de pulso; provavelmente estava preparando o objeto para que o mesmo pudesse leva-lo de uma vez até a sua academia. — Ah, e... — iniciou, com um certo desconforto, e isto acabou fazendo com que o Kaleb arqueasse uma das sobrancelhas, mostrando-se interessado no que o homem iria dizer. — ... Bom, eu detesto ter que admitir, mas você fez uma ótima escolha ao escalar a Sara para me ajudar nisso. Ela até que foi bem útil nas pesquisas, mas, da próxima vez, avise-me quando eu não estiver sozinho em uma missão, ok? — pediu, e os olhos do diretor rapidamente mudaram de intrigados para sérios.
Bastante sérios.
— Eu não falei absolutamente nada com a Sara em relação à sua missão. Eu a confiei somente a você! — proferiu. As palavras que saíram da boca dele foram tão graves e críticas que acabaram fazendo com que os pelos do corpo de Simmon se arrepiassem; mas não de uma maneira boa.
— O quê?!
— Comecem! — decretou o organizador, dando permissão para que a briga entre os oponentes do nono round tivesse início. Segundos após a fala do homem, o Saul levantou o seu dedo indicador com uma confiança absurda, e essa atitude acabou fazendo com que o Thomas arqueasse uma de suas sobrancelhas; mostrando-se intrigado para saber o que o seu adversário planejava fazer. A resposta para a curiosidade do mesmo foi revelada quando a ponta do dedo do seu concorrente adquiriu uma cor pálida, e, assim que ele encostou o dedo em uma das cores que estava pintada na mecha colorida de seu cabelo, o tom escolhido prontamente se impregnou na ponta do seu indicador; e isso acabou fazendo com que o Thomas assobiasse levemente para revelar que havia ficado um tanto quanto admirado com aquele ato. Entretanto, no momento em que Saul começou a movimentar o dedo pelo ar, o desenho de algum ser foi surgindo a partir da tinta que havia se fixado em sua pele.
Manipulação artística, constatou o Thomas, rapidamente. Melhor não deixar ele terminar de desenhar o que quer que esteja fazendo, concluiu, ao mesmo tempo em que corria para cima de seu rival. Contudo, assim que o mesmo estava perto de encostar no Saul, o desenho do menino acabou ganhando vida para, prontamente, segurar o braço do Thomas, que, sem demora, usou a sua gravidade para esmagar a pintura; fazendo-a virar apenas um punhado de tinta em poucos segundos. Ao terminar de realizar isso, o rapaz ergueu a vista em direção ao seu inimigo, que, em contrapartida, já estava numa distância consideravelmente distante.
— Você é bom em fugir! — atiçou, ocasionando uma risadinha em Saul que, em resposta, apenas levantou um de seus pés para mostrar as pequenas rodinhas que haviam sido desenhadas sob o seu tênis; adereços estes que conferiam a ele uma velocidade à mais. A princípio, o Thomas até pensou em comentar ou até mesmo debochar daquilo, com a intuito de tirar o seu adversário do sério, todavia, quando as pontas de todos os dedos de Saul se empalideceram e o mesmo passou as mãos pelos cabelos, o rapaz decidiu que aquela não era hora de conversar. Era hora de vencê-lo. Com isto em mente, o garoto fechou os punhos com firmeza e fixou os seus olhos violetas em seu oponente, preparado para ler os próximos movimentos que o menino poderia vir a executar.
— Simmon! — exclamou Kaleb, com o intuito de chamar a atenção do professor, pois o homem estava concentrado demais nos pensamentos perturbadores em relação à Sara que inundavam a sua mente; provavelmente ele estava repensando em todas as conversas que teve com a moça até o dia atual, como que para ver se a mesma havia feito algo diferente ou minimamente suspeito. Parando para raciocinar bem, ela quem tinha ido falar com o Simmon após Kaleb lhe passar a missão; também foi ela quem havia pedido para ele ir atrás do Coby; além disso, ela era... o mesmo engoliu em seco quando essa possibilidade surgiu em sua mente. Ela era a única pessoa conhecida que poderia fazer ele e a Flora esquecerem das coisas que viram através dos seus poderes hipnóticos! A respiração do PF acelerou ao constatar isso, afinal, se a Sara havia conseguido fazer algo assim, ela poderia muito bem ter hipnotizado o Coby para que ele tirasse qualquer tipo de suspeitas de cima dela, não? — O que essa mulher sabe? Ou melhor, o quanto ela sabe?
— Não se preocupe com isso, coroa! — mandou, ao mesmo tempo em que apoiava a sua mão com firmeza no ombro do diretor e o observava com olhos sérios e bastante centrados. — Vá para a K2, eu te deixarei informado sobre tudo! — garantiu, fazendo com que o Kaleb estreitasse um pouco os olhos, como se estivesse tentando ver se o homem estava mesmo sendo sincero em relação aquilo. — Irei consertar o meu erro, eu prometo! — afirmou, apertando o ombro do mais velho com um pouco mais de força, e, diante desse gesto, o diretor assentiu confiantemente com a cabeça.
— Então faça isso! — ordenou, para, logo em seguida, distanciar-se do Simmon e apertar num dos botões do seu relógio de pulso que, prontamente, teleportou-o para longe dali. Assim que o diretor da K2 se foi, o corpo de Simmon imediatamente se transformou em fumaça para que ele conseguisse alcançar a arquibancada da K2 na maior velocidade possível. Chegando no local, o mesmo rapidamente passou os seus olhos pelo ambiente e, como não encontrou a Sara, ele resolveu ir de encontro com o Michael, o Luís e a Kelly; pois provavelmente um deles deveria saber aonde aquela mulher havia ido.
— Simmon! — proferiu a professora da equipe IX, abrindo um largo sorriso ao vê-lo.
— Simmon! — Luís a imitou, com um certo deboche, e lançou um olhar um tanto quanto incomodado para o homem que se aproximava; essa ação acabou fazendo o Michael sorrir e dar umas cotoveladas de leve no seu companheiro, que se virou para encarar o seu parceiro com uma certa dose de chateação. — O que é, maldito Michael? — indagou, mas, em resposta, o mesmo apenas recebeu uma risada e um balançar negativo de cabeça.
— Onde está a Sara? — perguntou o rapaz, ao mesmo tempo em que a parte inferior do seu corpo deixava de ser apenas fumaça. Perante essa indagação, o Michael acabou dando alguns passos adiante para se afastar mais das crianças – que estavam concentradas demais na luta de Thomas – e, prontamente, o mesmo ergueu uma das sobrancelhas, demonstrando estar curioso com relação ao interesse do Simmon na mulher. — Vocês sabem onde ela está ou não? — questionou outra vez, impaciente.
— Foi ao banheiro há um tempo... — respondeu Michael, estranhando a postura do colega. — O que você quer com ela? — indagou, mas tudo o que recebeu como resposta foram alguns resmungos nada polidos proferidos pelo seu companheiro.
— VOCÊ ESTÁ QUERENDO NOS DEIXAR CURIOSOS DE PROPÓSIT... — Luís até tentou, mas não conseguiu concluir a sua reclamação; afinal, antes que o mesmo pudesse terminar, o Simmon se aproximou dele e tapou a sua boca com ambas as mãos. Como o semblante do homem esbanjava receio com uma leve pontada de pavor, tudo o que o Luís fez foi franzir o cenho, antes de se afastar das mãos do colega. — Ok, o que é que está acontecendo com você, hein, Simmon?
Um silêncio tenso se instalou ali, enquanto os olhos do homem passeavam vagarosamente pelas faces de cada um até, finalmente, parar no rosto de Michael, que o observava num misto de curiosidade e hesitação.
— A Sara é uma espiã da Divisão — isso foi tudo o que o homem conseguiu dizer antes dos sussurros da plateia começarem a virar gritos assustados que forçaram os quatro professores a olharem para o ambiente ao redor deles; em busca de um motivo para aquela inquietação repentina. Para a sorte deles – ou azar – o porquê do alvoroço rapidamente foi explicado. O que tinha deixado todos tensos foi o fato de que a claridade daquele local havia diminuído graças a presença de naves amplas que estampavam um símbolo bastante conhecido e temido pelos cinco reinos de Envyr: O famoso "D" riscado ao meio por uma linha preta que ficava entre dois pontos; assemelhando esta imagem àquele ícone de uma conta matemática que possuía exatamente o mesmo nome do governo atual.
Divisão.
Sem perder um segundo sequer, a parte inferior de Simmon imediatamente voltou a se tornar fumaça para que ele conseguisse se locomover às pressas até o campo de batalha, onde as câmeras dos telões logo focaram em seu rosto.
— CÓDIGO D!
Essa fala foi o suficiente para fazer o público entrar em pânico.
— Aurora... — murmurou Flora, e, graças a esse chamado, a menina jurou sentir o espírito dentro de si se acomodar melhor para que pudesse começar a ouvi-la com mais atenção. Antes de continuar falando, a garota respirou fundo e deu uma olhada nas plantas ao seu redor que a escondiam da vista dos demais. — ... você também não acha que a Fauna iria saber usar sabiamente os meus poderes?
Um silêncio se formou após aquele questionamento, dando a entender que a mãe natureza parecia estar pensando bem no que iria responder. A quietude do espírito foi tanta que acabou fazendo a Flora soltar um longo suspiro enquanto começava a deixar pequenos raios passearem entre seus dedos, com a intenção de distrai-la um pouco.
— Sim, ela saberia administrar bem essas habilidades.
— Saberia, não é? — perguntou, de maneira retórica, e a eletricidade que antes estava em sua mão sumiu, dando lugar à um semblante um tanto quanto cabisbaixo em sua face. — Afinal de contas, ela era corajosa, forte e bastante determinada. Se a Fauna estivesse fazendo esses exames, ela daria tudo de si para fazer as coisas assim como a Daphne, o Nicholas e o Thomas fazem... — ela suspirou, de maneira aflita. — Às vezes penso que, se as coisas tivessem sido diferentes, el...
— Flora Prince! — interrompeu-a Aurora, com um tom repreensivo. — Não posso negar que ela saberia utilizar essas habilidades, mas a escolhida foi você! Se fostes selecionada, é porque és a única capaz de otimizar ainda mais os poderes que possui — garantiu. — Saber usar uma habilidade e aprimora-la são coisas completamente diferentes, e nem todos têm potencial o bastante para conseguir elevar o nível dos seus próprios dons! Você poderia conseguir se... Ah, Flora, sinceramente, o seu problema sempre foi você mesma.
— Oi? — a moça franziu o cenho. — Eu mesma? Então... — ela engoliu em seco, sentindo-se culpada. — ... a minha escolha lá no campo de batalha foi errad...
— Não! — o espírito apressou-se em responder. — Estou me referindo à sua mente. Os seus pensamentos te autossabotam. Você se compara com os outros, é insegura, ansiosa e acha que os outros podem fazer as coisas melhor do que você! Caso não controle isso, será difícil evoluir. Ponha na sua cabeça que você foi a escolhida para herdar esse poder e que é você quem está... — Aurora parou um pouco, mas logo se obrigou a continuar. — ... que é você quem está viva, não a Fauna — Flora se retraiu ao ouvir o nome da irmã, e logo passou os braços ao redor de si; abraçando seu próprio corpo. — No dia em que você pôr um fim à essas comparações e ter mais confiança em si mesma, você será imparável. Quando isso acontecer, garanto que você será capaz de herdar as minhas habilidades assim como o seu pai o fez — declarou, fazendo com que a menina respire fundo e abrace a si mesma com mais força.
— Então... — iniciou, ainda meio acuada. — O que eu fiz lá na luta foi... certo?
Flora jurou sentir o espírito dentro de si sorrir de uma maneira pesarosa.
— O seu pai ficaria orgulhoso — proferiu, com um tom mais afável, e isto foi capaz de fazer a moça arregalar um pouco os olhos, surpresa, para, em seguida, esfrega-los; com a intenção de impedir que mais lágrimas saíssem deles.
— Aurora, muito obrigada — agradeceu, levando a mão ao peito. — Não só por isso, mas também por nunca ter me deixado só. Sem você, eu... — infelizmente, a mesma não conseguiu terminar de falar, pois uma alta explosão, além de lhe interromper, causou-lhe um grande susto. De imediato, a menina se levantou para olhar o ambiente ao seu redor, e, quando tirou algumas plantas de sua frente, assustou-se ao ver o céu coberto por espaçonaves pretas. — O-O que está acontecendo aqui? — perguntou, e, antes que ela pudesse começar a correr em direção ao campo de batalha onde os demais estavam, um barulho fino e doloroso aos ouvidos ecoou atrás de si, fazendo-a olhar naquela direção com um certo receio e curiosidade. As árvores tapavam a sua visão, impedindo-a de ver o que tinha feito aquele barulho irritante aos ouvidos, e, bem...
O lugar no qual havia ecoado aquele som era bem mais perto do que o ambiente onde havia ocorrido a explosão. Além do mais, a explosão poderia ter sido fruto de uma briga, não é? Mas isso não explicaria as naves no céu e os gritos, além disso...
— Ah, vamos logo! — resmungou para si mesma, impaciente com a sua demora em escolher para onde ir, e, de imediato, ela deu alguns passos rápidos até as plantas e as tirou da sua frente, com o intuito de ver o que havia do outro lado. Assim que a sua vista pôde alcançar o ambiente que havia emitido aquele ruído agudo, ela franziu o cenho ao ver a presença de uma pessoa nada, e ao mesmo tempo confusamente bastante, familiar. — Quem é você?
O Kaleb só precisou ser teleportado uma vez para chegar na porta da frente da K2. A habilidade de se teleportar realmente auxiliava muito no deslocamento tanto dele quanto dos outros, porém, ao contrário dos demais, o relógio do diretor era um pouco mais... avançado, afinal de contas, se todos conseguissem se teleportar de forma tão simples para a porta da frente de uma academia, as coisas poderiam se tornar inseguras demais caso houvesse algum roubo ou perda dos relógios transportadores.
É, até que ser diretor tinha o seu lado bom. Vários minutos eram poupados com a velocidade e praticidade daquela viajem única.
Assim que chegou, o homem respirou profundamente enquanto observava o local familiar ao seu redor; a escola, o campo de força que o separava da floresta, as árvores... Tudo parecia bastante tranquilo. Tranquilo até demais, martelou a mente do diretor, que rapidamente retirou o seu pente masculino do bolso para começar a pentear o seu cabelo. O vento atingia as folhas, fazendo-as dançarem conforme a força da natureza as soprava, e, por efeito disso, uma paz fora do comum o alcançou. Porém, por algum motivo, essa sensação de serenidade não durou muito. No final das contas, o Kaleb não sabia ao certo o que estava sentindo, e o desconforto que tomava conta de si o fez manipular seus fios de cabelo de uma maneira bastante ágil; ocasionando um rápido crescimento em suas raízes para que, assim, elas pudessem ergue-lo do chão até uma altura boa o suficiente para que o mesmo conseguisse enxergar além do topo das árvores. Graças a essa ação, o homem conseguiu notar que, ao longe, uma mancha preta que cobria o céu ia se aproximando cada vez mais de onde ele estava.
Aquelas coisas não pareciam nuvens de chuva ou algo assim.
Intrigado, ele levou o dedo até o comunicador acoplado em seu ouvido, porém, antes que pudesse falar algo, a voz da guardiã da sua floresta foi ecoada com mais rapidez – e desespero – do outro lado da linha.
— Naves da Divisão se aproximam! — declarou Eva. — Os pássaros disseram que estão há poucos metros daqui e que há, no mínimo, umas cinquenta pessoas em cada aeronave! Código D, Kaleb, mande reforços para a floresta imediatamente e coloque as defesas da academia no ponto máximo! — ordenou, fazendo com que o homem arregalasse os olhos, ao mesmo tempo em que fazia os seus cabelos o levarem de volta ao solo onde ele, prontamente, começou a correr rumo ao interior da academia enquanto dava comandos a respeito de como agir naquela situação para, provavelmente, todas as pessoas de grau ouro para cima; através do seu comunicador. Para a aflição dele e de todos os outros, aquela circunstância era preocupante, pois não haviam condições de evitarem um combate direto com o exército da Divisão que chegaria ali em questão de minutos.
Que o Ômega – e a sorte – o ajudassem.
E aí gente, tudo bem?
Estou passando no final do capítulo pra lembrar vocês de deixarem uma estrela ☆ e um comentário dizendo o que vocês acharam ♡
Vocês possuem alguma sugestão de com quem a Flora se encontrou?
Estão preparados para saber o que está acontecendo na K2 e aí onde nosso time X está? Já vou adiantando que as coisas vão ficar intensas 🔥
Por hoje é isso galera, um abraço e até breve! ;)
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