V| Espere-me
Após o término da batalha, tanto o Nicholas quanto a Alina foram levados a enfermaria com a ajuda de alguns médicos, que os carregaram até lá devido aos machucados que ambos tinham em seus membros inferiores. Em comparação à menina, os furos que o Nicholas possuía em sua perna, causados pelas agulhas da mesma, não eram nada. As pernas da garota, que tinham ficado dentro do portal do menino, haviam adquirido pequenos ferimentos circulares de coloração preta que exalavam uma leve fumaça, mas isso não era o pior. Além desses círculos espalhados pelas pernas, algumas bolhas se formavam em volta das lesões, causando à moça gemidos, e, de tempos em tempos, gritos de agonia. Como a situação dela era crítica, a mesma acabou sendo levada para uma área diferente da qual levaram o Nicholas, que tinha machucados considerados leves.
Assim que o garoto adentrou numa das áreas da ala médica, ele ergueu as sobrancelhas e abriu um largo sorriso ao ver a face de uma pessoa bastante familiar.
— Daphne! — exclamou, fazendo com que a garota, que antes estava focada nos seus dois colares, levasse os seus olhos até ele, e, ao vê-lo, a menina não conseguiu conter um sorriso tão amplo quanto o do rapaz.
— Ni... — pigarreou, tentando disfarçar o que havia acabado de proferir. — Idicholas! — cumprimentou-o, e, de imediato, o garoto largou o médico que o estava ajudando para, então, teleportar-se até uma maca que ficava ao lado da de sua amiga; tal ação fez o profissional de saúde piscar algumas vezes, surpreso, antes de correr em direção ao seu paciente.
— Você parece muito bem, Doidaphne! — alegou. — Eu sabia que aquele ataque era muito pouco para te derrubar! — revelou, e a menina deu uma risadinha agradecida, porém, antes que pudesse dizer alguma coisa, o médico os alcançou.
— Deixe-me ver a sua perna! — pediu o homem, assim que se aproximou do Nicholas, que, de imediato, subiu um pouco a sua calça; este movimento acabou fazendo com que ele gemesse de dor, e isso fez a Daphne se agitar em sua cama, numa tentativa de conseguir ver o que havia acontecido com o seu companheiro. — Não parece ser grave... — comentou, ao mesmo tempo em que aproximava a sua mão da perna do garoto. Um flash ecoou da palma do doutor, e, em instantes, uma foto – um raio x, na verdade – saiu pela boca do homem, deixando o Nicholas com os olhos brilhando de admiração. Ele realmente gostava de ver habilidades diferentes. — Não atingiu nenhum ponto crítico! — afirmou, enquanto analisava a foto, e, assim que terminou de o fazer, ele a entregou para o Nicholas, pois o mesmo estava encarando o documento nas mãos do médico com olhinhos bastante pidões. Ao receber a imagem, o rapaz abriu um sorrisão e encarou aquilo como se fosse a coisa mais rara e incrível do mundo; e essa atitude acabou fazendo com que fez o profissional risse levemente pelo nariz. — Vou buscar uns curativos, mas, no geral, você ficará bem. Aliás, pode-se dizer que você apenas tomou algumas "injeçõezinhas" na perna, porque as agulhas não lhe fizeram tanto mal — brincou, para, em seguida, retirar-se dali.
— Eu realmente odeio agulhas! — assegurou, ao mesmo tempo em que cruzava os braços e se encostava mais confortavelmente nos travesseiros sob as suas costas. Após observar bem as feridas do parceiro e ver que não tinha nada demais ali, Daphne soltou um suspiro aliviado, porém, em pouco tempo, ela franziu o cenho; confusa com uma ação involuntária que se repetia no corpo do Nicholas.
— Você está tremendo?
— Quem? Eu? — o garoto se fez de desentendido, enquanto forçava uma risadinha. — Claro que não! Quem iria tremer por causa de algumas agulhinhas? — questionou, soltando outra risada nervosa, e, perante isso, a Daphne ergueu uma das sobrancelhas, antes de abrir um pequeno sorrisinho no canto dos lábios.
— Bom saber que você não tem medo... — comentou, casualmente, enquanto fingia checar as próprias unhas. — ... porque ainda há uma agulha enfiada na sua perna — mentiu, mas essa fala foi suficiente para fazer os olhos do menino esbugalharem de espanto.
— O-O quê? — perguntou, engolindo em seco. Ele parecia querer esconder seu receio, e isso garantia uma boa dose de divertimento à Daphne, que se esforçava para não rir. — É g-grande?
— Oh, pelo que vejo, é sim! — respondeu, fingindo surpresa ao levar os olhos até a perna dele novamente. — Parece uma injeção daquelas beeem grandes e grossas, sabe?
Nicholas deu outra risada nervosa, ao mesmo tempo em que começava a se abanar. Parecia prestes a ter um troço.
— Sei... — riu, de modo tenso. — Sei... — repetiu, com a respiração ficando mais acelerada. Daphne o observou ficar mais e mais assustado, até que, em certo momento, a mesma começou a sentir pena do garoto, que já estava começando a ficar pálido de medo.
— É brincadeira, Idicholas! — admitiu, permitindo que a sua gargalhada ecoasse pelo ambiente; diante dessa revelação, o rapaz a olhou com confusão, antes de, com bastante receio, levar os seus olhos até a sua própria perna. Ao perceber que não havia mais nenhuma agulha ali, apenas seu sangue, o garoto semicerrou os olhos e os guiou rumo à Daphne, que ainda sorria às custas dele. A risada da moça era genuína e contagiante, e tal coisa acabou fazendo com que o Nicholas, instintivamente, abrisse um sorrisinho no canto dos lábios.
— Trouxe os curativos e algumas coisas para limpar os ferimentos! — declarou o médico, assim que adentrou naquela área. Com a chegada do mesmo, os risos de Daphne cessaram, e o profissional não demorou para começar a cuidar da perna do Nicholas, que, além de observar o trabalho dele, vez ou outra, também observava a face da sua parceira pelo canto dos olhos.
A garota estava com a visão fixa nos ferimentos do rapaz, analisando cada movimento do médico, e, quando o Nicholas gemeu de dor no momento em que o homem limpou uma parte sensível de seu machucado, a Daphne rapidamente pediu para que o profissional tomasse mais cuidado; e essa fala da mesma acabou fazendo com que o Nicholas erguesse levemente as suas sobrancelhas, surpreso, para, em seguida, esboçar um sorrisinho.
Depois do segundo round, protagonizado por Alina e Nicholas, ocorreu um terceiro onde o Ivan, integrante da A1 e da equipe de Cássia, batalhou contra uma das companheiras de time do Arthur, Becky, que acabou perdendo o combate em questão de segundos. Assim que os dois que iriam participar da terceira luta entraram no campo de batalha, o Ivan utilizou a sua super velocidade para ir até a garota e, num piscar de olhos, leva-la de encontro a um muro; fazendo-a perder o fôlego devido à batida repentina. No entanto, mesmo após o impacto, a Becky até tentou continuar na briga, todavia, quando o Ivan a levou até o outro lado do campo e a golpeou contra a parede novamente, ela desistiu do embate.
A plateia ficou surpresa com o quão depressa aquele round havia acabado, porém, não deixaram de bater palmas para o Ivan, que retribuiu as pessoas com um sorrisinho e uma piscada.
Ele não tinha sequer se esforçado para ganhar.
Com o término desse round, a plateia ficou ansiosa para que o próximo fosse mais emocionante e, assim que o nome de Kal chegou aos telões, ao lado do de sua adversária Keila, da C1, o público entrou em fervorosa. Pareciam ansiosos para ver as habilidades do garoto da equipe II da melhor academia, entretanto, quando o menino, que não havia nem se dado ao trabalho de sair de sua cadeira, disse que desistia daquela batalha, a plateia se calou.
Que decepção; era o que a maioria ali pensava, mas, como as pessoas da A1 ficaram em silêncio, ninguém ousou comentar nada em relação aquilo. No entanto, mesmo calados, todos ainda se perguntavam internamente o porquê de o rapaz ter desistido antes de lutar. Para o público, aquela atitude era, no mínimo, estranha, e, pelo visto, somente os integrantes da A1 sabiam a resposta para a pergunta que martelava a mente deles.
Por que o Kal não participava das batalhas?
Com duas lutas bastante rápidas, o nome dos próximos adversários rodou no telão, para ver quais seriam os protagonistas do quinto round. Durante a escolha dos participantes dessa batalha, cinco treinadores de elite deram um jeito de saírem dali, afinal, nenhum estava interessado nas lutas de pessoas com um grau tão baixo. Graças a isso, o Thiago, o Tony, mais dois treinadores de elite e os cinco diretores eram os únicos que ainda continuavam ali, porém, pelos semblantes de alguns, não era difícil perceber que, na primeira oportunidade, eles também iriam dar um jeito de escaparem.
— Flora versus Morgana! — bradou o organizador, assim que o nome de ambas surgiu nos telões. Quando a Flora soube que seria a sua vez, ela engoliu em seco e acabou levando os seus olhos até a arquibancada da sua adversária, que possuía um sorrisinho um tanto quanto sádico nos lábios.
Que o Ômega a ajudasse.
Na ala médica, no espaço onde a Daphne e o Nicholas estavam – no qual agora tinham a companhia da Becky, perdedora do terceiro round –, o garoto se encontrava comendo algumas das coisas que os profissionais de saúde haviam trazido para ele, enquanto a Daphne, por outro lado, tirava um cochilo. Assim que o menino pegou a tigela de pudim, já com os olhos brilhando para aquele doce, o Alephe adentrou naquele ambiente, fazendo com que o Nicholas levasse o alimento para as suas costas; escondendo-o.
— Está tudo bem? — questionou, por meio de sussurros, já que não queria acordar a garota que dormia na cama ao lado.
— Claro! — assegurou, abrindo um amplo sorriso que acabou fazendo o rapazinho abrir um também. Era muito tranquilizante ver o bom e velho sorriso do Nicholas, que fazia os olhos dele rirem juntamente aos lábios. — Quem está lutando agora?
— Na verdade, já tiveram duas batalhas...
— Já?! — indagou, erguendo as sobrancelhas. — Foi bem rápido...
— Foi mesmo — concordou o garotinho, no mesmo instante em que começava a passear os seus olhos pelas comidas que estavam espalhadas pela bandeja do Nicholas, que, rapidamente, escondeu ainda mais o pudim atrás de si. — Primeiro teve a luta daquela menina... — ele apontou para a Becky, que estava dormindo numa cama mais distante. — ... contra um cara bem rápido da A1. A luta não durou nem cinco minutos... Depois deles, um menino desistiu da briga e... Ah, por falar nesse rapaz que desistiu, eu escutei os seus amigos comentando que o nome dele era Kal, você o conhece?
— O Kal?! — Nicholas franziu o cenho. — Por que ele desistiu da luta? — o menininho balançou os ombros, para mostrar que não sabia o motivo da desistência daquele jovem, e, num movimento ligeiro, o mesmo conseguiu roubar uma das CEM que estavam na bandeja do seu companheiro mais velho, que apenas semicerrou rapidamente os olhos para ele; como forma de advertência. — Que estranho... — murmurou, com um ar desconfiado.
— Quando eu estava vindo para cá... — o garotinho parou de falar, para que pudesse engolir a CEM amarela que havia colocado na boca. — ... eu ouvi que agora seria a luta da Flora contra uma outra menina aí.
— A Flora vai lutar?! — questionou, com um sorriso animado, e o Alephe concordou com a cabeça. — Ah, que irado! — afirmou, dando uns pulinhos em sua cama, como se estivesse ansioso para sair dali e ir ver a batalha da amiga. — Muito legal... — comentou, levando os seus olhos rapidamente para a Daphne. Alephe encarou o seu companheiro por algum tempo, até, finalmente, se dar conta de que o mesmo estava tentando resistir contra o ímpeto de querer ir ver a luta de Flora porque não queria deixar a Daphne sozinha na enfermaria. — Deve ser legal, não é? A luta da Flora... — riu, já sem conseguir conter a ansiedade que emanava por cada centímetro do seu corpo.
Diante disso, Alephe deu uma risadinha e roubou a bandeja de comida do Nicholas, que o encarou como se fosse um animal prestes a recuperar o seu alimento de volta.
— Eu fico com a Daphne... e com a sua comida — negociou o rapazinho, levando uma das CEM à boca. — Aí você vai poder ir ver a Fl...
— Obrigado! — agradeceu, antes que Alephe pudesse terminar de falar, e, após saltar da cama, o Nicholas chegou a gemer de dor, devido ao seu machucado ainda dolorido na perna esquerda, porém, essa expressão dolorida logo foi trocada por um sorrisinho ardiloso, que surgiu nos lábios dele quando o mesmo revelou ao seu parceirinho a tigela de pudim que escondia atrás de seu corpo. — Pode ficar com essas CEM's meia boca enquanto eu fico com a sobremesa! — declarou, fazendo com que o Alephe abra a boca para resmungar algo, mas, antes que qualquer coisa pudesse ser proferida, o Nicholas se teleportou para longe dali, deixando ao menor uma resposta bem clara.
Aquele pudim não havia sido feito para ser dividido.
Uma vez a sós com a Daphne, o garotinho resolveu se sentar na cama do Nicholas, para, então, começar a beliscar os quitutes que haviam sobre a bandeja.
O Nicholas não demorou para chegar até a arquibancada da sua academia, e, assim que o mesmo reencontrou os seus companheiros, todos se aproximaram do menino, com a intenção de verem se ele estava bem. Um dos que foram rumo ao Nicholas, além de Camille, Ária e Eduardo, foi o Thomas, que, assim que constatou que o seu parceiro estava ok, ele prontamente deu um forte beliscão no braço do garoto, fazendo-o urrar de dor. Antes que o rapaz pudesse reclamar daquele belisco, o Thomas o repreendeu com o olhar, afinal, ele havia dado vários sermões sobre as agulhas de Alina para o seu amigo, mas, na hora da batalha, o Nicholas havia simplesmente ignorado tudo para ir bater de frente com a moça! Um beliscão ainda era pouco comparado ao que o Thomas iria fazer caso o Nicholas tivesse se machucado gravemente. O rapaz murmurou algumas reclamações a respeito da dor que havia irradiado em seu braço, todavia, acabou pedindo desculpas ao Thomas, para, logo em seguida, começar a correr até o parapeito daquele lugar, onde o Ryan e o Diego já estavam para que, consequentemente, conseguissem observar melhor a luta que iria se desenrolar em poucos segundos.
— Comecem!
Assim que o início do combate foi declarado, a Morgana imediatamente ergueu as suas mãos, fazendo com que os dez anéis de metal que estavam em seus dedos começassem a flutuar ao seu redor; à espera de qualquer comando que a mesma pudesse vir a dar. Em resposta à esta ação, Flora deu um passo para trás, ergueu os braços na altura do peito e fechou firmemente os punhos para, então, rodeá-los com a sua eletricidade. Ao verem as posições que as garotas haviam adquirido, a plateia começou a cochichar comentários positivos em relação àquela luta. Após uma sequência de rounds rápidos, uma batalha acirrada era tudo o que eles mais desejavam assistir.
Morgana foi a primeira a investir num ataque, fazendo com que uma parte dos seus anéis virassem agulhas finas e afiadas o bastante para atravessar um corpo humano como se fosse papel. Quando seus metais adquiriram esse grau de periculosidade, ela os lançou, numa velocidade tão rápida que chegava a ser impossível vê-los se deslocando no ar, até a Flora, que, de imediato, aumentou a carga de energia que percorria os seus punhos; estendendo-a para todo o seu corpo.
Ela não poderia ter feito uma escolha melhor.
Quando os metais se aproximaram perigosamente de Flora, a maioria rapidamente derreteu ao entrar em contato com os potentes raios que percorriam pelo físico da mesma. Além de derreter, houveram uns que simplesmente explodiram, todavia, como a garota já estava esperando por algo assim, ela imediatamente utilizou um escudo de ar para impedir que sofresse algum dano, seja ele das explosões ou de alguma parte do material derretido; conseguindo assim, sair ilesa do primeiro ataque daquele embate. Ao ver que a sua investida não havia surtido efeito, Morgana soltou uma risadinha áspera, antes de começar a mexer os seus dedos freneticamente. Esses movimentos fizeram com que os metais presentes no uniforme dela se erguessem, fazendo-a pairar no ar, contudo, além disso, as presilhas – feitas desse mesmo material – que decoravam os cachos dos seus cabelos pretos se levantaram também, conferindo a ela uma aparência bem mais perigosa e imponente com os seus fios flutuando ao lado de sua face. Para completar, os seus anéis se esticaram, formando linhas finas flutuantes e moldáveis, movendo-se no ar como se fossem cobras aladas deslizando de um lado para o outro; preparados para receberem os comandos da jovem.
Ao ver aquilo, a plateia bradou; eufóricos.
Ao contrário do público, "euforia" não era a melhor das palavras para descrever a postura de Flora, pois a menina se encontrava com os olhos fixos em sua adversária para que não viesse a perder o momento em que ela a atacasse pela segunda vez; estava em alerta. Sem tirar a sua vista de Morgana, a Flora começou a dar vários passos para trás, enquanto juntava as suas mãos para aumentar o tamanho do seu escudo de ar, caso precisasse usá-lo emergencialmente; mesmo focando em seu escudo, a eletricidade ainda percorria pelo corpo da garota.
— Vai ficar apenas na defensiva? — provocou Morgana, analisando a postura da sua oponente como se fosse um predador prestes a atacar a sua presa. Ao perceber que não iria obter uma resposta por parte da sua rival, Morgana deu de ombros e ergueu o seu dedo indicador, fazendo com que um dos seus metais parassem de se mexer de um lado para o outro para, então, enrijecer-se; pronto para obedecer a ordem da menina. Num piscar de olhos, o objeto foi lançado até a Flora, que, sem demora, ergueu a sua defesa de ar na direção do metal. Graças a este movimento, todos pensaram que a garota fosse simplesmente se defender, porém...
Ela tinha outros planos em mente.
Assim que os metais se aproximaram da Flora, tudo o que a Morgana pôde ver foi um sorriso por parte da moça, antes de uma neblina densa surgir e cobrir uma grande parte daquele ambiente; atrapalhando a visão de todos. Até o local onde a Morgana estava, no ar, foi engolido por aquele nevoeiro. Assim que a vista de todo mundo, inclusive a de Flora, foi ofuscada, a menina foi um pouco para o lado para desviar do metal que corria, agora, sem direção, e, de imediato, ela ergueu as mãos em direção a ele e fechou os olhos. Nesse momento, a eletricidade começou a percorrer o físico de Flora de uma maneira mais intensa, chegando a fazer com que os cabelos brancos dela brilhassem quando as luzes azuladas pairavam por ali e por todo o restante de seu corpo, deixando-a resplandecente. Como não queria servir de farol para a sua adversária, Flora não tardou em voltar a abrir os olhos para, juntamente a um grito contido, descarregar o seu raio sobre o metal em sua frente; contudo, antes que o objeto pudesse explodir ou derreter, ela levantou as mãos, fazendo com que as suas faíscas obedecessem a este movimento e fossem para o ar, onde imediatamente acabaram sendo atraídas pelos outros metais que haviam ali. Graças a essa ação, chiados altos ecoaram, antes que uma forte explosão surgisse; sendo impactante o bastante para fazer a neblina se dissipar, graças a poderosa lufada de vento que foi causada.
Diante daquilo, a plateia se calou por um instante; tensa. "A luta terminou?", foi a pergunta que acabou com o silêncio; à medida em que a visão do campo de batalha retornava. Junto ao desaparecimento da neblina, a resposta para a pergunta que eles tanto faziam foi revelada.
Uma circunferência feita de metal com uma coloração bastante avermelhada, como se estivesse indicando que faltava pouco para aquilo derreter, flutuava no ar. Aquela coisa pareceu ter protegido a Morgana das explosões que haviam ocorrido quando os raios de Flora sobrecarregaram os antigos anéis da adversária, restando à moça apenas os metais que ainda haviam em seu uniforme. Quando aquele círculo se abriu e foi jogado no chão, o corpo de Morgana foi exposto, porém o que mais chamou a atenção de todos foi o rosto da menina, que possuía um leve sorriso e um olhar um tanto quanto maníaco. Aos poucos, o sorrisinho dela foi se intensificando até virar uma gargalhada, deixando o público em total silêncio, como se estivessem tentando entender o que estava acontecendo com aquela garota.
Na arquibancada da A1, os integrantes da equipe I observavam a sua companheira com olhares sérios.
— É agora que a peleja vai realmente começar! — anunciou Cássia. — Ela só estava testando a Flora esse tempo todo, só para ver até onde ela iria.
— Pois é, agora a Morgana se animou — comentou um menino, que possuía cabelos pretos volumosos, no entanto, uma grande mecha dos seus fios possuía sete cores diferentes, uma abaixo da outra, formando um arco-íris. — Não há mais quem a pare! — afirmou.
No ringue, alguns dos adereços metálicos que estavam tanto no uniforme quanto no cabelo de Morgana começaram a se soltar, para que pudessem ser usados para ataque ou defesa. Flora, por sua vez, observava atentamente cada movimento da sua inimiga, e, com isso, logo constatou que, mesmo não parecendo, a Morgana havia se preparado bastante para aquela luta; aqueles enfeites que ela usava não tinham somente a intenção de deixa-la bela, mas perigosa também. Não demorou muito para aqueles metais se expandirem até ficarem, outra vez, parecendo cobras deslizando pelo ar e, ao ver que a Morgana estava usando a mesma técnica de antes, a Flora fechou fortemente os punhos. A Morgana não era idiota, sendo assim, era óbvio que ela não iria usar aquele golpe de novo se não possuísse um meio de burlar o efeito da eletricidade sobre as suas habilidades... Em outras palavras, a menina só estava brincando com a Flora durante os minutos passados; e descobrir isso fez a moça corar de vergonha. Ela não podia permitir que a luta durasse mais, pois, caso isso acontecesse, a mesma temia que a integrante da A1 pudesse acabar se sobressaindo no quesito resistência.
Decidida a pôr um ponto final naquele duelo, Flora permitiu que os seus raios tomassem conta do seu corpo novamente, cobrindo-a dos pés à cabeça com aquelas luzes azuladas, porém, ela não fez apenas isso, mas também convocou o vento para se acumular ao redor de si, fazendo com que os seus cabelos platinados dançassem no ar; conferindo a mesma uma postura mais ostensiva.
Era hora de dar tudo de si.
Notando a pose ofensiva da sua oponente, Morgana não teve dúvidas de que a garota fosse começar a levar as coisas mais a sério, e, diante disso, outra risada escapou entre seus lábios. Há mais pessoas interessantes na K2 do que eu imaginava, pensou ela, mordendo os lábios; ansiosa para que o verdadeiro confronto iniciasse. Sem conseguir se conter, Morgana lançou um dos seus metais rumo à sua inimiga para ver o que a menina iria fazer. A plateia acompanhou o trajeto do objeto pontiagudo com os olhos bem abertos, para que não perdessem um segundo sequer da trajetória do mesmo. Junto ao público, os companheiros de Flora também observavam aquilo num misto de tensão e esperança, porém, além deles, as pessoas que estavam na arquibancada especial também pareciam acompanhar o desenrolar da briga com uma certa animação... Mesmo que, no momento, estivessem apenas o Tony, o Thiago, o Simmon, o Kaleb, o diretor da B1 e o organizador chefe presentes – pois o restante dos indivíduos que deveriam estar naquele lugar já havia conseguido arrumar uma maneira de fugirem dali.
Os metais pungentes cortaram o ar, graças à sua velocidade assustadora, e, assim que foram de encontro à Flora, a mesma liberou outra nuvem de névoa que rapidamente cobriu aquele local; fazendo com que uma boa parte dos telespectadores começassem a resmungar, insatisfeitos com aquilo. Dessa vez, a Morgana não havia sido engolida pela neblina, sendo assim, a jovem moveu os seus dedos para deixar as suas "cobras aladas" preparadas para uma investida imediata, afinal, ela não sabia o que a Flora estava aprontando no momento.
Ter os seus metais derretidos ou explodidos novamente não era uma opção.
A garota observou aquela fumaça densa com bastante atenção, forçando sua vista a tentar identificar qualquer sombra ou movimento que a sua rival fizesse, e, para a sua sorte, a sua vontade não demorou para ser atendida. Repentinamente, um furacão se formou, no entanto, além do vento que o criava, uma grande dose de eletricidade percorria por ele; em busca de algo para afetar. Aquele ciclone havia sido formado bem próximo a Morgana, então, sem perder tempo, a moça guiou os seus objetos rumo a isto e, subitamente, todos os seus metais se expandiram de maneira surreal. Antes eles eram apenas linhas finas que deslizavam em zigue-zague pelo ar, porém, agora, haviam se multiplicado como se fossem ramos de árvores – ramos de árvores metálicos, cortantes e bastante letais. Com aquele ataque, não importava em que parte do espiral de ar a Flora estivesse, porque ela com certeza havia sido atingida por pelo menos um daqueles metais. Após esse golpe, o furacão desapareceu e a névoa começou a se esvair; possibilitando a todos a visão da Flora caída no chão, com uma poça de sangue ao seu lado e com um daqueles metais enfiados não só no seu coração, mas em vários outros lugares do seu corpo. Era o seu fim.
Ou ao menos era isso o que pensavam que iria acontecer.
Surpreendendo a todos, um ciclone menor e bem mais discreto que o anterior se formou atrás de Morgana, que, quando olhou para trás para que pudesse observar aquela coisa, viu ninguém mais ninguém menos que a Flora bem no topo daquele turbilhão de vento que a impulsionava para cima. Os olhos de Morgana se arregalaram de surpresa, mas logo saíram da face de sua rival e foram em direção às mãos da garota, que estavam cobertas de pura eletricidade; o acúmulo de energia era tão grande que a vista doía só de olhar para aquilo. Numa tentativa de se defender ao menos um pouco, Morgana moveu os seus dedos, chamando os seus metais de volta para perto de si, entretanto, devido à proximidade de Flora, era impossível que os seus objetos chegassem primeiro que os raios.
Era o seu fim.
Quando a Flora ficou pronta para lançar todas aquelas faíscas, ela tirou os olhos daquelas centelhas elétricas e os guiou até a sua oponente, conseguindo assim, perceber o medo que a outra estava sentindo. Morgana estava imóvel, para não dizer em choque, pois sabia que, caso recebesse aquele ataque de tão perto, ela não o suportaria. Era uma descarga elétrica poderosa demais. O desespero nos olhos de sua inimiga deixou a Flora com uma sensação ruim, e, assim que ela ergueu as mãos para lançar o seu poder, a mesma levou seu braço mais para o lado de propósito para que, assim, as suas habilidades não acertassem o corpo de sua adversária. Ao ver que a Flora a havia poupado de receber aquele golpe, Morgana ergueu as sobrancelhas, surpresa com aquela ação, contudo, assim que a mesma voltou a olhar nos olhos de sua oponente, ela pôde ver que a moça a encarava com uma certa dose de pena.
Pena.
Morgana rangeu os dentes; furiosa. Como alguém de uma academia tão fraca como a K2 poderia olha-la daquela forma?! "Aliás, como eu me permiti ser tão fraca ao ponto de precisar da piedade da minha inimiga?", refletiu Morgana, fervilhando em ódio. Indignada com aquilo, a jovem moveu os dedos e os seus metais chegaram para perto de si, porém, a menina logo os mandou ir até a Flora, que até tentou usar da sua eletricidade para se defender de um golpe direto, entretanto, ao contrário do que a garota pensava, os metais não tentaram ataca-la diretamente; e a mesma constatou isso quando um deles se enrolou no seu tornozelo para, então, puxa-la com tudo de volta para o solo. Como havia sido pega de surpresa, a Flora não conseguiu impedir a sua queda com a ajuda de seu furacão, que rapidamente se desfez, porém, momentos antes de bater as costas contra o chão, a mesma conseguiu utilizar uma boa quantidade de vento para amparar a sua queda. Assim que as suas costas bateram contra o solo, os metais de Morgana largaram o seu tornozelo e se expandiram, outra vez, como se fossem ramos de árvores para, prontamente, começarem a mirar as suas pontas afiadas para diferentes partes do corpo de Flora; como se estivessem prontos para perfura-la, caso a garota movesse um só dedo.
— Desista, se não quiser acabar morta! — ameaçou Morgana, assim que se aproximou de sua rival. Ela não estava rindo, e os seus olhos estavam consumidos por uma fúria que chegava a assustar a Flora, que a observava com um certo receio. — Pelo Ômega, você é tola demais, não serve para batalhar. O que achou que iria ganhar com essa sua gentileza? — ela proferiu essa última fala com um certo escárnio; nojo. — Se isso fosse uma luta de verdade, o seu adversário não iria admitir a derrota só porque você não quis machuca-lo. Ele ia rir de você, rir da sua estupidez! — proferiu, ao mesmo tempo em que ergueu uma espécie de escudo metálico entre elas, parecido com a circunferência que havia a protegido dos raios anteriormente, para que ninguém da plateia ficasse ouvindo ou vendo a conversa de ambas. — A sua pena poderia prejudicar uma missão de seu grupo e, dependendo de quem vocês estivessem enfrentando, você poderia ter sido a culpada pela morte dos seus próprios companheiros. Isso tudo por causa da sua maldita falta de coragem — revelou. O fato de alguém de uma academia tão inútil ter sentido dó de si fez com que uma raiva fora do comum se aflorasse dentro de Morgana. — Sinceramente, você não passa de um peso para si mesma e para os outros a sua volta. Parabéns, Flora, você acaba de perder a chance de ir para a final representando a sua academia — ela bateu algumas palmas. — Pensando bem, acho que ninguém se decepcionará com isso, afinal, se forem inteligentes, com certeza não depositaram tanta expectativa em você, pois sabem que és fraca — anunciou, com uma seriedade assombrosa. Ouvir aquelas palavras fez a Flora engolir em seco, além de piscar várias vezes os olhos, para que não viesse a derramar nenhuma lágrima. Não ali. — Desista, estorvo! — ordenou, e os metais se aproximaram mais do corpo da menina, inclusive do pescoço dela, fazendo-a prender a respiração. — Mostre que é inferior a mim... — iniciou, desfazendo o escudo ao redor delas. — ... e peça para sair! — os metais encostaram no corpo da menina, que, só nesse instante, percebeu que tremia.
Uma sensação ruim tomou conta do peito de Flora, que estava começando a se sentir a pessoa mais estúpida do mundo por ter sido... Bem, ela mesma. A garota tivera a chance de vencer Morgana, era só ter esquecido de tudo e a acertado com a sua eletricidade, mas... Ela não queria ferir gravemente a sua adversária por conta de um exame! Isso não a tornava fraca ou sem coragem... não é? Flora engoliu em seco, ao sentir as lágrimas queimarem em seus olhos. Ela estava irritada com si própria, porém, ao mesmo tempo, estava se forçando a não se sentir assim, afinal, isso não a tornava um peso para ninguém! Ou tornava? Demonstrar compaixão pelos inimigos era sinal de fraqueza? "Tenho certeza de que a Fauna teria agido diferente", constatou, fechando os olhos com força. Ah, se ela tivesse somente uma parte da coragem que a sua irmã tinha... Mesmo sem poderes, a Fauna havia tentando lutar contra a Divisão para protege-la e... A garota engoliu em seco.
Ela iria saber usar os meus poderes de uma forma muito melhor, caso os tivesse herdado.
O mundo ao redor de Flora pareceu perder o brilho quando ela reabriu os olhos, fixando-os em nenhum lugar em particular, para, em seguida, deixar que as palavras fossem proferidas pelos seus lábios.
— Eu desisto.
Quando o organizador decretou o fim daquela batalha e a vitória de Morgana, os metais da garota sumiram e a Flora pôde finalmente se levantar do chão. Uma vez livre, a garota começou a caminhar com passos ligeiros até o corredor que dava à enfermaria, porém, ao invés de ir para lá, a mesma olhou ao redor de si e encontrou um local reservado, escondido em meio a algumas árvores. Se quisesse ficar sozinha, aquele era o melhor lugar para isso. Decidida a ter um momento só seu, a menina ameaçou dar um passo adiante para seguir até aquele ambiente, todavia, antes que pudesse voltar a andar, uma voz que ecoou dentro de si a fez parar.
— Você não vai ficar triste porque poupou aquela pirralha arrogante e ingrata não, certo? Juro que eu estava quase tomando o controle do seu corpo para dar uma boa lição naquela criancinha insolente! Afinal de contas, quem ela pensa que é? O Ômega?!
— Aurora, deixe-me sozinha, eu não quero falar sobre isso agora... — sua voz saiu quase como um sussurro, demonstrando quão abalada a mesma estava. No momento, tudo o que a moça gostaria de fazer era correr para aquele local escondido pela natureza para, então, desabar em lágrimas. Ela não aguentava mais aquela mistura de emoções que brigavam dentro de si; a derrota, a fraqueza, o desânimo...
— Pelo amor do Ômega, o que você fez foi louvável! — elogiou-a. — Não são todos que desistem da vitória por compaixão ao inimigo! — "Eu não queria desistir da vitória", era o que a Flora gostaria de falar, mas a mesma sabia que, caso abrisse a boca, o espírito dentro de si só ia começar a falar ainda mais. — Isso não era uma batalha real, se fosse, tenho certeza de que você não seria, de maneira alguma, um estorvo para o seu time. Você é forte!
"Será mesmo?", essa pergunta martelou na mente da garota, fazendo-a fechar os seus punhos com bastante força.
— DROGA! — bradou, ao mesmo tempo em que jogou o seu corpo para frente, para que pudesse começar a correr até o local reservado, mas, antes que conseguisse dar mais que dois passos, a mesma esbarrou em alguém; e ela só não caiu no chão devido ao impacto porque a pessoa na qual havia batido a segurou pelos braços.
— Está tudo bem com você? — questionou uma voz feminina, que fez a Flora erguer a cabeça para que pudesse descobrir quem era a portadora daquele timbre. — Eu estava distraída, desculpe.
— Eva! — exclamou. — N-Não foi nada, eu estou bem, obrigada! — mentiu, forçando-se a sorrir. — E então, como a Daphne está? O Michael comentou que você o avisou que ela estava bem, mas, mesmo assim, eu ainda estou um pouco preocupada, sabe? — indagou, alargando mais o sorriso, com a intenção de que a mais velha pudesse focar nele e não notar os olhos marejados da mesma. No entanto, como a mulher não proferiu mais nada e apenas a encarou, Flora acabou abaixando um pouco a cabeça, numa tentativa de esconder a sua face abalada.
— O que houve? — questionou, ao mesmo tempo que em pegou suavemente no queixo da garota, para que pudesse erguer a cabeça da menina e faze-la olhar nos seus olhos. — Conte-me! — mandou, todavia, aquela não havia sido uma ordem que um superior dava para um inferior, como a de um chefe para o seu empregado, mas soou como se fosse... Bem, como se fosse uma mãe perguntando algo ao seu filho. Era essa a sensação que a Flora sentia emanar pelo timbre de Eva, e, de alguma forma, isso a fez se sentir um pouco melhor.
— Eu... — tentou revelar, mas rapidamente parou quando sentiu as lágrimas lhe queimarem os olhos. Notando essa reação, a mulher segurou o queixo da moça com um pouco mais de força para, então, encara-la com olhos acolhedores; como se estivesse tentando passar confiança para a mais nova através do seu olhar. Flora precisou se segurar para não saltar em cima da mais velha e a abraçar com força, afinal, era muito agradável ter alguém como a Eva por perto. — V-Você acha que eu fui fraca por não ter lançado um ataque fatal à minha inimiga quando tive a chance? — perguntou, e as suas bochechas imediatamente queimaram de vergonha. Ela estava se sentindo uma idiota por estar fazendo esse tipo de indagação para a mais velha, e, quando a mulher sorriu, essa ação só fez a Flora se sentir mais tola ainda. Contudo, quando a Eva a puxou para um abraço, essa sensação de insuficiência sumiu da mente de Flora, e, ao retribuir aquele gesto, a mais nova afundou a sua cabeça nos ombros da adulta; permitindo que as suas lágrimas descessem.
Era tão bom ter alguém para lhe abraçar em momentos difíceis como este...
— Devo confessar que eu achava você incrível há um tempo, porém, agora... — Flora engoliu em seco devido as palavras da mais velha; com medo de que toda a admiração que ela sentia tivesse sumido. — ... agora eu tenho certeza de que és ainda mais incrível do que pensei! Flora Prince, você irá se tornar uma grande mulher no futuro, confie em mim — declarou, fazendo com que a moça arregale os olhos rapidamente, surpresa com aquele comentário, para, então, apertar a Eva com mais força. Soluços já causavam espasmos no seu corpo, quando a voz trêmula de Flora saiu por entre seus lábios.
— Obrigada.
Após a derrota de Flora, os companheiros dela ficaram agitados, afinal, estavam estranhando o fato de a menina ainda não ter chegado na arquibancada onde eles estavam. Com isso, a ideia de que a garota havia ido para a enfermaria por conta de alguma lesão foi cogitada, gerando ainda mais inquietação entre todos. Quando o Nicholas disse que iria para a ala médica ver se a moça tinha ido para lá, o Diego rapidamente se prontificou a ir também, então, para pôr um fim naquele alvoroço, o Michael avisou que ele mesmo iria atrás da aluna; coisa que, imediatamente, acalmou os ânimos da maioria dos que estavam ali, exceto o de Diego. No entanto, antes que ele pudesse falar ou insistir em ir, uma revelação acabou obrigando o menino a transferir a sua atenção para outro lugar...
— Adele versus Diego! — anunciou o organizador, e, quando o ruivo soltou um longo e pesaroso suspiro, Camille, que estava próxima a ele, franziu o cenho. Normalmente ele fica mais animado para as batalhas, pensou ela, confusa, enquanto o rapaz se dirigia, sem muita emoção, até as escadas para que, assim, pudesse chegar à área onde ocorreria o embate.
— É uma garota... — comentou Ária, ao se aproximar da parceira que se virou para encara-la com um semblante perdido. — É que ele não gosta de lutar contra mulheres, então não irá dar tudo de si nessa briga — explicou. — Provavelmente ele irá perder.
— Espera, isso é sério? — questionou, chegando a erguer as sobrancelhas quando a Ária concordou com a cabeça. — Mas por que?
— Porque aquele cabeça de tomate é gentil demais! — Ryan apressou-se em responder, ao mesmo tempo em que se aproximava das meninas e rolava fortemente os olhos. — Isso me irrita! Eu tenho certeza de que esse imbecil vai acabar perdendo!
— Ué, pensei que você fosse ficar feliz com isso — mencionou Camille. — Vocês não são meio que rivais?
— Por isso mesmo! — reclamou, cruzando os braços para demonstrar ainda mais o seu descontentamento. — Para ser rival meu, o mínimo que eu espero é que a pessoa seja forte, não que fique perdendo para o primeiro rabo de saia que encontrar!
— Nossa... — murmurou Camille, soltando uma risadinha baixa. — Se eu não te conhecesse, diria que está com ciúmes.
— Claro que não! — garantiu. — Eu só não quero que ele fique perdendo facilmente para que as pessoas não achem que eu fico medindo as minhas habilidades com a de alguém fraco. É pedir muito?! — questionou, ao mesmo tempo em que balançava a sua cabeça de maneira negativa. — Até eu sei quando é a hora de paquerar uma mulher ou não!
— Parabéns por saber o básico — debochou ela, que, assim que ouviu o Nicholas gritar algumas palavras de incentivo para o ruivo – pois o mesmo provavelmente não estava dando tudo de si na luta –, a garota abriu um largo sorriso. — Com licença — pediu, para, então, deixar o Ryan e a Ária para trás; indo em direção ao local onde o Nicholas estava.
— Humpf, ciúmes... Essa foi boa! — resmungou o rapaz, fazendo com que a Ária o encarasse com uma certa dose de divertimento. — Ciúmes daquele cabeça de tomate? — riu. — Ah, pelo amor do Ômega! Só se eu estivesse louco!
— Ora, e qual é o problema? — indagou a garota, fazendo com que o jovem a encarasse com uma das sobrancelhas erguidas; conferindo ao mesmo um charme impressionante. — Vocês são rivais, não são? Sendo assim, não há problema em ter ciúmes dele encontrar outro para te substituir, certo?
— Errado! — assegurou, sem deixar de abrir um sorrisinho no canto dos lábios que lhe conferiu uma aparência mais atrativa e, ao mesmo tempo, devassa. — Se outra pessoa o quiser como rival, que o leve de uma vez! Posso afirmar que estariam me fazendo um grande favor — declarou, e, perante esse anúncio, os olhos de Ária se estreitaram e uma risadinha ecoou por entre os lábios da moça.
— Ora, se é assim, bom saber, até porque, parece que há alguém interessado... — proferiu, fazendo com que o ar travesso que antes estava presente na face de Ryan sumisse completamente. — Como eu sei que você é orgulhoso o suficiente para não me perguntar quem é, eu serei boazinha e direi o nome dele para você — sorriu, imitando o estilo provocador que estava no semblante do rapaz há pouco tempo. — Arthur. Ele e o Diego estão conversando bastante, e, pelo que pude ver, o nosso ruivinho foi com a cara desse garoto... — expôs, enquanto limpava as suas unhas em seu uniforme para lhe dar um ar mais desinteressado. — No fim, acho que não haverá problema algum se eles virarem rivais ou, quem sabe, grandes amigos... Até porque, você não liga, não é mesmo? — perguntou, lançando um olhar inocente e totalmente angelical para o Ryan, que, em resposta, mostrou à garota um sorriso tão frio quanto o gelo.
— É — concordou, mas a fumaça gélida que saiu de sua boca, indicando que o mesmo estava se esforçando para controlar as suas habilidades, revelou que aquilo não passava de uma mentira bem contada. — Não ligo — garantiu, e, perante isso, a Ária gargalhou alto enquanto dava algumas cotoveladas no jovem, que cruzava os seus braços com ainda mais força.
— Você já vai voltar para a K2? — perguntou Flora à Eva, ao mesmo tempo em que se afastava um pouco da mais velha e esfregava os olhos, com a intenção de limpar as lágrimas que ainda estavam acumuladas ali.
— Sim, eu só vim me despedir do Tony e lembra-lo de que ele ficará responsável por levar o Alephe de volta à academia — revelou, fazendo com que a mais nova assinta com a cabeça. — E então, vais voltar para a arquibancada? Tenho certeza de que os seus amigos devem estar bem preocupados com você, mocinha.
— Na verdade, eu... — iniciou, guiando os seus olhos até o local escondido pela natureza que ela já estava querendo ir há um bom tempo. — ... gostaria de ficar um pouco sozinha.
— Ah! — exprimiu a mais velha, após seguir o olhar da garota e, enfim, observar o ambiente para o qual a menina ansiava ir. — Bom, ter o nosso tempo a sós é mesmo bastante importante, afinal, só assim conseguimos refletir e filtrar melhor os nossos pensamentos... Já que você precisa tanto disso, vá, mas tome cuidado e tente não demorar muito, ok? — pediu, fazendo com que a Flora concordasse com a cabeça e abrisse um largo sorriso, mostrando a sua felicidade devido ao fato de que a Eva havia compreendido a sua escolha; então, sem demora, a menina caminhou com passos ligeiros até o local que tanto desejava ir. A mulher observou a Flora ir até aquele espaço com um olhar apreensivo, e, assim que a garota desapareceu entre as árvores, a mais velha soltou um suspiro um tanto quanto preocupado.
— Eva! — exclamou Michael, que, no momento, estava prestes de sair de dentro do corredor que levava até as escadas da arquibancada ou até o campo de combate. — Por um acaso voc...
— Acabei de falar com ela — respondeu, de imediato, e o homem sorriu; entretanto, como ele passou a vista pelo ambiente ao seu redor e não viu a Flora em lugar nenhum, um semblante meio tenso ocupou a sua face.
— Como ela está?
— Vai ficar bem, só precisa de um tempo sozinha — explicou, fazendo com que o professor assinta com a cabeça, ao mesmo tempo em que relaxava os ombros; mostrando-se aliviado com a notícia.
— Que ótimo! — declarou. — Bom, já que é assim, eu irei deixa-la em paz e só voltarei mais tarde para ver como ela está — proferiu, fazendo com que a mulher sorrisse, demonstrando ter gostado da postura do homem, por conta disso, a mesma não deixou de apontar com o queixo a direção da área no qual a menina havia ido. — Oh, obrigado! Assim não terei muito esforço em achar ela mais tarde.
— Não foi nada — deu de ombros. — Ah! Por favor, avise aos seus alunos que eu estarei esperando uma visitinha deles quando voltarem a K2, pode ser? Quero ouvir todas as histórias sobre esse exame que eles possam vir a contar.
— Pode deixar! — assegurou, fazendo com que a mulher abra um grande sorriso, como um gesto de gratidão, para, logo em seguida, ir embora.
As costas de Daphne bateram fortemente contra a parede, fazendo-a urrar de dor quando as suas costelas emitiram um "crec" nada agradável aos ouvidos; deixando claro que os seus ossos haviam se partido. Sangue jorrou pela boca da mesma, e o muro no qual havia batido se rachou e liberou uma grande quantidade de poeira quando o corpo da garota caiu no chão, tremendo devido a dor do impacto e dos seus novos ferimentos. Lágrimas escorriam aos montes dos olhos da moça, que não conseguia se mexer sem que uma agonia alucinante tomasse conta do seu corpo, causando a ela contrações e câimbras insuportáveis. Sem forças para nada, a vista da garota começou a ir embaçando, até que, de repente, um formigamento agradável tomou conta do seu braço esquerdo, obrigando-a a forçar a sua visão, através de piscadas bruscas, a ver o que estava acontecendo. Em meio àquela poeira que a rodeava, causando à moça algumas tosses que faziam-na querer morrer por conta das dores que lhe eram causadas, uma luz verde incandescente surgiu; envolvendo-a e iluminando uma boa parte daquele lugar.
— Espere-me despertar, Daphne Signya — proferiu uma voz, com uma potência forte o bastante para fazer os pelos da garota se arrepiarem. De uma hora para a outra, o formigamento que ocupava apenas o seu braço se estendeu para todo o seu corpo, fazendo a menina gemer de alívio por conta da suavização do seu sofrimento.
Talvez estivesse sendo curada, mas, por quem?
A garota passeou os olhos somente pelo local que a sua vista alcançava, já que não tinha forças para mover a cabeça, e, como não encontrou a pessoa que havia lhe dito aquilo, os seus olhos, enfim, fecharam-se.
Daphne acordou do seu sonho de maneira brusca; os seus olhos se abriram de repente e, com a mesma agilidade de suas pálpebras, o seu corpo pulou para frente, fazendo-a se sentar em sua maca. Esse seu movimento inesperado acabou fazendo com que o Alephe, que estava na cama ao lado da dela, desse um grito, para, então, engasgar-se com a grande quantidade de alimento que tinha em sua boca; coisa que acabou lhe causando uma crise de tosse.
— Espere-me despertar... — sussurrou a menina, tentando controlar a sua respiração acelerada para, só então, virar o rosto na direção da criança à sua direita, que tossia de maneira espalhafatosa, como se quisesse mostrar pata todos que estava em seus últimos momentos de vida. — Você?!
— QUER ME MATAR?! — gritou, mas um médico que estava próximo a porta rapidamente mandou o menininho diminuir o tom de voz, e o garoto apenas bufou, em resposta aquela reclamação. — Fala sério, que tipo de pessoa acorda assim? — murmurou, ao mesmo tempo em que bebia um grande gole de água. O rapaz ainda estava meio vermelho devido ao engasgo, mas, de acordo com as reclamações baixas que ele fazia, a Daphne logo pôde concluir que o mesmo ficaria bem. — Está tudo ok com você, não está? — perguntou o garotinho, quando finalmente se recuperou do susto, e a moça concordou com a cabeça.
— Onde está o Idicholas? — indagou, após dar uma rápida olhada naquele lugar, e, graças a essa pergunta, Alephe começou a emitir uma risadinha travessa que chegou a fazer a Daphne franzir o cenho. — O que foi?
— Você é a irmã do tio babão, não é? — questionou, com uma carinha marota, e esta indagação acabou fazendo a menina corar; coisa que, querendo ou não, respondeu à pergunta feita pelo rapazinho, que apenas deu outra risada. — Coitado do Nicholas.
— QUÊ?! — foi a vez do médico reclamar com a Daphne, que cruzou os braços num misto de vergonha e irritação. Pelo Ômega, aquele garotinho sabia ser estressante quando queria! Deve ter sido um dos ensinamentos do Idicholas, constatou a mesma, com um revirar de olhos. — Quer saber? Esqueça o que eu perguntei, pirralho.
— Pirralho?! — Alephe fez uma cara emburrada que o deixava mais fofo do que zangado. — Não é justo você me chamar assim, sou só quatro anos mais novo!
— Ah, tanto faz! — ela deu de ombros, e o menininho apenas bufou de novo e colocou a bandeja de lado. Depois do seu trauma de quase morrer engasgado, ele não queria comer de novo nem tão cedo.
— Enfim... — iniciou, com uma expressão que fingia desinteresse, porém, não era difícil perceber que o rapazinho estava tentando puxar papo com a Daphne, que, ao ver isso, abriu um pequeno sorrisinho para ele. — ... o Nicholas foi ver a Flora lutar.
— A Flora já vai lutar? — indagou, erguendo as sobrancelhas. — Eu quero muito ver! Será que ainda dá tempo de irmos?
— Não sei, já faz um tempinho que começou..., mas, se tivermos sorte, acho que ainda conseguiremos pegar o final da batalha!
— Ótimo! — afirmou, levantando-se com um pulo só, e tal ação da mesma fez com que o garotinho ao lado dela a imitasse. Uma vez de pé, a Daphne acabou levando o seu olhar até seu braço, agora sem bracelete, para, em seguida, soltar um suspiro preocupado. Em sua mente, a garota torcia para que conseguisse controlar as suas habilidades sem a ajuda do adereço, afinal, sempre que o tirava, os seus poderes ficavam incontroláveis e acabavam lhe dando bastante dor de cabeça.
— Todos os seus amigos ficaram preocupados quando você perdeu... — anunciou Alephe, atraindo a atenção da moça, que parou de observar o seu braço para vê-lo. — Eles ficaram bem mais focados em ganhar depois que você... Enfim, os seus companheiros parecem ser legais... — comentou, dando de ombros.
A fala do mesmo fez a Daphne abrir um sorriso para, então, bagunçar o cabelo dele; com a intenção de irrita-lo. Entretanto, quando o menino se afastou da garota e ergueu o olhar para encara-la com um semblante emburrado, ela apontou o dedo para ele, deixando-o confuso com aquele gesto.
— Nossos... — o dedo indicador da menina alternou entre ela e o garotinho. — ... amigos, certo? Já que você é companheiro do Idicholas, hora ou outra irá se enturmar mais conosco, afinal, grande parte das pessoas que estão com a gente hoje viraram amigos dele primeiro — confessou, e os olhos de Alephe brilharam de alegria devido aquele comentário, mas ele conteve a vontade de pular de animação e apenas abriu um sorrisinho. — Foi ele quem trouxe uma grande parte dos atuais integrantes do nosso grupinho.
— Grupinho? — riu. — Está mais para uma gangue.
— Logo você vai ver que gangue ainda é um elogio para nós, até porque, somos meio excêntricos e... Ah, com o tempo você vai perceber! — deu de ombros, e o menino riu outra vez.
— Bom, acho melhor irmos logo, porque, se demorarmos mais, é capaz de perdermos o resto da luta da Flora... Se é que não já perdemos — revelou, e a menina concordou com as palavras dele para, em passos rápidos, ambos seguirem até a arquibancada. Chegando lá, eles receberam a notícia de que a batalha de Flora havia terminado com um resultado negativo, porém, essa não foi a única briga com uma repercussão desfavorável... O embate entre Adele e Diego havia acabado no momento em que a Daphne e o Alephe chegaram no local, e, como já fora previsto tanto pelo Ryan quanto pela Ária...
O ruivo havia perdido.
E aí gente, tudo bem?
Estou passando no final do capítulo pra lembrar vocês de deixarem uma estrela ☆ e um comentário dizendo o que vocês acharam ♡
Quem será que falou "Espere-me" para a Daphne? Comentem aí suas teorias para mim ;)
Bom, por hoje é isto galera, um abraço e até breve! 🖤
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