IX| Rumo à Capital

— Agora! — sussurrou Thomas, fazendo com que Alephe prontamente confirme com a cabeça para, em seguida, afastar-se um pouco de seus amigos. O mais novo não demorou para se dirigir até o início da fila, onde um dos organizadores estava, e, assim que o garotinho avistou o homem, um sorrisinho ardiloso tomou conta dos seus lábios.

Estava na hora de pôr o plano de fuga em ação.

— AAAAAAAI! — gritou ele, usando todo o fôlego que tinha dentro dos pulmões, coisa que, consequentemente, acabou assustando a todos. Como a grande maioria estava preocupada com um possível outro ataque da Divisão, eles também acabaram berrando, amedrontados, e isso fez com que o organizador que comandava a fila desse um pulo de espanto antes de se virar para trás com os punhos erguidos, mostrando-se pronto para atacar o que quer que estivesse os ameaçando. — QUE DOR! — reclamou, ao mesmo tempo em que se jogava no chão de uma maneira excessivamente dramática.

O homem responsável pelos demais piscou os olhos algumas vezes antes de entender que todo aquele alvoroço havia sido causado por culpa de uma mísera criança escandalosa. Que o Ômega lhe desse paciência.

Diante daquela encenação digna de novela que o Alephe fazia, o Nicholas precisou morder fortemente os lábios para não rir quando o organizador da frente chamou o seu colega que estava no final da fila... Não que fosse necessário chamar o outro, afinal, com aqueles gritos altos e agudos do garotinho, era impossível alguém não o escutar ou se alardar. Assim como os dois responsáveis, a atenção de todos também foi depositada na criança, o que acabou criando a oportunidade perfeita para que a equipe X e os seus companheiros pudessem adentrar mais na densa floresta que os rodeava sem serem vistos.

— O que foi? — questionou um dos homens. — Foi picado por algum animal ou algo assim? — indagou, mas tudo o que recebeu como resposta foi outro grito fino do menininho, que agora levava as costas da mão até a testa com a intenção de causar ainda mais impacto na sua atuação.

— Se você não falar nada vai ficar sentindo dor para sempre! — resmungou o outro homem, um tanto quanto impaciente com aqueles berros, entretanto, quando o Alephe calou a boca e deu uma risadinha, o mesmo franziu o cenho, confuso com o que estava acontecendo naquele local. — Mas o que deu em você par...

— Brincadeirinha! — cantarolou o menininho, antes de simplesmente sumir.

Quando a criança desapareceu repentinamente, ambos os organizadores arregalaram os olhos, surpresos, e observaram o ambiente ao redor deles em busca de qualquer sinal daquele jovem. No entanto, quando eles se viraram para olharem para as pessoas que estavam escoltando, os dois não demoraram para perceber que o rapazinho não havia sido o único a sumir dali.

— Cadê o resto?! — bradou o homem mais irritadiço, todavia, a maioria das pessoas que estavam ali deram de ombros. Assim como os organizadores, todos também estavam concentrados demais no drama da criança para prestarem atenção no sumiço dos outros jovens.

Um dos organizadores xingou em voz baixa.

— Pelo Ômega, por que eles fariam isso?

— Sei lá! — rebateu o mais impaciente. — Suicidas?

O outro balançou a cabeça de maneira negativa, ainda sem conseguir entender o que havia acabado de acontecer, afinal, como ambos iriam pensar que alguém seria tolo o bastante para fugir para dentro da floresta?! Depois do ataque da Divisão, cada segundo dentro daquela mata poderia ser o último e... Sinceramente, aqueles jovens estavam realmente tentando se matar? Bom, seja o que fosse, as perguntas que os organizadores tinham não poderiam ser respondidas, pois, no momento, os fujões já se encontravam a uma boa distância daquele lugar.

— Você exagerou na porcaria dos gritos! — reclamou Cássia, coçando os ouvidos.

— Era para chamar atenção, não era? — respondeu Alephe, que, assim como o Nicholas, ainda ria.

— Usar um clone para distrair os organizadores enquanto fugíamos foi uma ideia genial! — disse Camille, com um sorriso.

— Pois é! — concordou Daphne. — Parabéns Alephe, você já está conseguindo ser mais dramático e gritando mais alto do que... — ela se interrompeu.

Diego e Eduardo.

Ao relembrar do porquê daquilo tudo, a garota precisou pigarrear para tentar amenizar um pouco a súbita tensão que surgiu no ambiente. Estavam a caminho da capital para salvar os amigos e, por mais que estivessem determinados a fazer isso, não podiam negar que uma dose considerável de medo ainda os perseguia.

E se não conseguissem salva-los?

— Para onde estamos indo, Thomas? — perguntou ela, com a intenção de mudar o assunto. Tanto a Daphne quanto os outros precisavam focar em alguma coisa, caso contrário, toda a força de vontade e a esperança que eles ainda tinham poderia ser engolida pelo pânico.

— Há uma área aqui perto que poderá nos ajudar a nos locomovermos mais rápido... — respondeu o rapaz, que tentava se manter o mais firme possível. Eles não podiam deixar o medo tomar conta. Não agora.

— Do que você está falando? — questionou Cássia, já um pouco arfante. Condicionamento físico definitivamente não era o forte da mesma, que já estava começando a se cansar de tanto correr pela grama e pelo chão terroso daquela mata que, diga-se de passagem, era recheada de pedregulhos e animaizinhos estranhos perambulando pelo solo; além dos galhos e de outros objetos que só dificultavam ainda mais a corrida.

— As pessoas desse reino têm um meio próprio de locomoção... — respondeu ele, abrindo um sorrisinho um tanto quanto nostálgico no canto dos lábios ao revelar isso. —... e vocês logo vão descobrir qual é.

Como estavam numa floresta densa, o solo não era muito bom para correr, além do mais, eles precisavam desviar de várias árvores, galhos, plantas e bichos que apareciam pelo caminho – o que só dificultava ainda mais as coisas. Depois de passarem um longo tempo num ritmo rápido, os menos resistentes fisicamente logo começaram a se cansar. Ainda bem que eles não precisariam correr por aquela mata até a capital, pois, com apenas quinze minutos de correria, muitos deles já possuíam semblantes exaustos em suas faces.

— Quanto tempo vai demorar para chegarmos? — indagou Alephe, enquanto limpava o suor da testa com a manga do uniforme. — Não que eu esteja cansado, só estou perguntando por perguntar mesmo...

— Também quero saber! — exigiu Cássia. — ... por curiosidade, claro — mentiu, afinal de contas, assim como o mais novo, ela também parecia igualmente cansada. Se não mais.

— Bom... — iniciou Thomas, ao mesmo tempo em que começava a diminuir os passos até, finalmente, parar. — Chegamos! — declarou, e os companheiros do rapaz começaram a olhar em volta para tentarem saber aonde, exatamente, haviam "chegado".

Após analisarem o ambiente, todos puderam constatar que era impossível ver alguma coisa além de floresta, floresta e mais floresta. Ah, haviam vários bichos estranhos também!

Que maravilha...

Ora, pelo Ômega! Se não havia um vilarejo ou até mesmo uma taverna naquele lugar, como assim eles haviam "chegado"?.

— Será que é uma cidade fantasma? — sugeriu Nicholas, com a intenção de quebrar o silêncio. Entretanto, tal comentário do mesmo fez a Cássia revirar fortemente os olhos e se virar para encarar o Thomas, que tinha um sorrisinho zombeteiro presente nos lábios.

Ele só poderia estar tirando uma com a cara deles.

— Confesse, estamos perdidos, não estamos? — questionou Cássia, fazendo com que todos levem os seus olhares para o garoto, que sorriu ainda mais antes de apontar o dedo para cima. Os olhares dos demais seguiram conforme o Thomas apontou, e, assim que observaram o topo das árvores, a maioria arregalou os olhos ao ver que estavam cercados de vários macacos e esquilos de tamanhos ridiculamente grandes e com... Bom, com vestimentas.

Era difícil dizer se o mais estranho era o tamanho dos bichos ou o fato deles estarem todos uniformizados com a mesma roupa esverdeada que continha o símbolo do reino Bry estampado em seus torsos.

O Thomas deu um rápido assobio, e, graças a isso, uma parte dos macacos pularam com tudo em direção ao solo, causando um certo tremor no local, enquanto os esquilos voadores planaram no ar antes de pousarem calmamente no chão. Não demorou para o Thomas se aproximar dos animais, e, assim que o fez, o mesmo observou cada um deles de maneira firme com os seus olhos violetas. Então, como se estivessem saudando um rei, os animais baixaram as cabeças, deixando os outros ainda mais confusos com aquela situação toda.

Essa havia sido, de longe, a coisa mais estranha que havia acontecido ali.

— Não sabia que você era o rei dos macacos, Thomas! — declarou Nicholas, com os olhos brilhando de admiração.

— E dos esquilos... — completou Arthur.

— Pelo amor do Ômega, o que está acontecendo aqui?! — questionou Cássia, sem conseguir desviar o olhar dos bichos assim que eles ergueram a cabeça novamente. Será que eram animais de verdade?

— Vocês podem escolher um macaco ou um esquilo para levar vocês! — respondeu Thomas, ao mesmo tempo em que alisava a pele de um esquilo que havia se abaixado um pouco para passar a cabeça pelo ombro do rapaz como se estivesse tentando demonstrar a sua afeição pelo mesmo. — Viajar com um esquilo é mais confortável, mas o macaco é mais rápido. No entanto, como queremos descrição, aconselho pegarem um esquilo, pois os macacos podem ser meio barulhentos — explicou, e a maioria piscou algumas vezes antes de irem em direção aos esquilos; exceto o Nicholas, que insistiu em ir num dos macacos com o argumento de que eles eram mais maneiros.

O Alephe até tentou imitar o rapaz, mas a Daphne logo o repreendeu e o mandou ir com um esquilo. Se o mais novo queria segui-los, então que prezasse por sua própria segurança e não fosse tão maluco quanto o Idicholas.

Assim que cada um escolheu um animal, ou melhor, assim que os próprios animais os escolheram – como se tivessem ido para a pessoa que mais haviam gostado ou se identificado – cada um subiu nos bichos, que possuíam um local feito exatamente para eles se sentarem acoplado na vestimenta deles; além de um local para se segurarem. Com todos acomodados, o esquilo do Thomas pegou a dianteira e os outros foram logo atrás.

Dessa forma, os animais começaram a planar ou a pular de galho em galho de uma maneira bastante ágil; o que conferia a eles uma boa velocidade. Se conseguissem manter o ritmo, não demorariam mais que três horas para chegarem na capital do reino Bry. Sem perder o ritmo, os animais seguiram conforme a direção que o esquilo do Thomas seguia, e, assim que todos se acostumaram com os seus bichos, o rapaz fez um sinal para o esquilo do Ryan, fazendo com que o animal se aproximasse e planasse lado a lado com o animal do mesmo.

— Será que agora você pode se explicar? — questionou, e, como o garoto de cabelos platinados não fez nada além de encarar o Thomas com uma certa confusão, o garoto continuou; — O que você e o Diego estavam planejando antes disso acontecer e como você conhece a minha mãe?

Ryan engoliu em seco.

— Além disso, graças ao Yuri e ao James, agora eu já sei que você era do clã da lua... Bom, acho que não existe mais coisas para esconder, ou há?

— Não.

— Ótimo, porque confesso que ainda não confio totalmente em você e...

— Eu era do clã da lua e o Diego do clã do sol... — iniciou, fazendo com que o Thomas se cale para ouvi-lo. — Sou filho de Bryan Luarys, que fazia parte da antiga classe S, e o Diego é filho de Alev Solarys, que possuía praticamente o mesmo nível de poder que o meu pai, porém, ele preferiu continuar liderando o seu clã e recusou o convite de se juntar a classe S. Meu pai fez muita coisa enquanto ajudava as Hopes, mas, quando a Divisão finalmente conseguiu descobrir a identidade de um dos guerreiros de elite, eles começaram a vigiar constantemente o meu pai, que foi o primeiro membro da antiga classe S a decair — ele parou por um momento para respirar fundo, como se estivesse reunindo coragem para continuar falando. — A Divisão encontrou o meu clã, atacou-o, matou grande parte dele e matou a minha mãe na frente do meu pai para que ele se rendesse. Para conseguirem forçar o meu pai a revelar mais informações sobre a classe S, a Divisão me torturou na frente dele. Essa cicatriz abaixo do meu olho foi a primeira coisa que fizeram comigo — revelou, enquanto passava a mão pelo fino risco abaixo do olho, fazendo com que o Thomas o observasse com um certo pesar. — Com quase todo o clã destruído, a esposa morta e tendo o próprio filho feito de refém, o meu pai não teve escolha a não ser se render. Naquele dia, o clã da lua sumiu do mapa. O Alev, pai do Diego, era muito próximo do meu pai, por isso eu e o cabeça de tomate nos conhecemos há um bom tempo e... Enfim, no dia do ataque ao meu clã, o Alev estava presente e acabou sendo capturado também, entretanto, ele falou para o governo que fazia parte da classe S — confessou, fazendo com que o Thomas franzisse o cenho. — Graças a isso, um dos integrantes da antiga classe S está livre das mãos da Divisão até os dias de hoje.

— Você sabe quem é esse membro que se livrou?

— Não — deu de ombros. — Mas espero que ele esteja fazendo alguma coisa.

Thomas assentiu da maneira mais firme que pôde enquanto mantinha o olhar no caminho em sua frente para que não precisasse demonstrar ao rapaz de cabelos platinados o quão abalado ele estava com tudo aquilo. Eram muitas informações para serem absorvidas de uma vez só.

E pensar que, há pouco tempo, ele havia cogitado na hipótese de o Ryan estar ajudando a Divisão... A agência que havia destruído a vida do garoto.

— Sinto muito — murmurou, fazendo com que o Ryan assinta com a cabeça e focasse o olhar adiante.

— Quando eu, o meu pai e o Alev fomos capturados, eles nos levaram para a Divisão e me separaram deles... Só me pegavam quando queriam que o meu pai soltasse alguma informação importante e... Bem, foi assim que consegui todas as cicatrizes que carrego até hoje — revelou, com um certo pesar, e foi possível notar que os olhos do rapaz se encheram de água quando a memória de tudo o que ele passou surgiu em sua mente, todavia, o menino logo esfregou os punhos em suas pálpebras com o intuito de secar qualquer lágrima que pudesse vir a cair. — Foram os cinco piores anos de toda a minha vida.

— Como você conseguiu fugir?

O garoto de cabelos platinados riu pelo nariz.

— Sua mãe.

— O quê?! — questionou Thomas, finalmente virando o rosto para encarar o Ryan com os seus olhos violetas mais arregalados que nunca. — Como assim?

— Ela me tirou de lá e ficou comigo por alguns meses num esconderijo para tratar as minhas feridas e, como presente de aniversário, ela me deu a liberdade — Thomas franziu o cenho, mostrando que ainda não havia compreendido muito bem o que havia acontecido. — No dia em que a L2 foi atacada, a Dara Brytleofber esperou que os soldados do governo fossem embora e me colocou lá, dizendo que uma hora alguém apareceria para me ajudar e que, quando isso acontecesse, eu não deveria falar que havia saído da Divisão — concluiu, e o Thomas precisou ficar em silêncio por um tempo para digerir tudo.

Sua mãe havia ajudado o Ryan a fugir da Divisão assim como havia feito com ele e com o Thiago anos atrás.

O rapaz sorriu.

— Graças ao Ômega... — sussurrou, ao mesmo tempo em que emitia um suspiro aliviado. — Eu pensei que a minha mãe estivesse... — ele se calou e balançou a cabeça de maneira negativa, em seguida, riu baixinho.

Ryan observou a emoção do amigo em relação ao bem estar da mãe com um sorrisinho no rosto, pois o menino parecia ter ganhado o dia com aquela informação, ainda que tentasse disfarçar a tamanha felicidade que o atingia. O que ele não daria para saber se o seu pai, Bryan, e o seu tio de consideração, Alev, ainda estavam ou não vivos...

— O que você e o Diego planejavam fazer? — perguntou, querendo prosseguir com o assunto para que não acabasse chorando de felicidade. Ryan riu pelo nariz ao perceber isso. — Vocês tinham algum plano, não tinham?

— Sim — respondeu. — Quando o Alev foi capturado junto ao meu pai, o Diego falou que a mãe dele tomou a liderança do clã do sol e o mandou para a K2 com a intenção de que ele ficasse mais forte e conseguisse encontrar a pupila de seu pai. Ela fez isso com o filho porque os líderes dos clãs possuem um espírito que... Bem, você sabe o que é um espírito, não sabe? — Thomas assentiu com a cabeça. — Ótimo. Então, os espíritos são passados de geração em geração para os próximos líderes do clã da lua ou do sol e, para que eu e o Diego consigamos esses espíritos, precisamos encontrar os pupilos dos nossos pais, pois eles estão com esses seres — explicou. — O problema é que as pessoas que estamos procurando não são tão acessíveis, sendo assim, eu e o Diego decidimos que iriamos fazer de tudo para chegarmos na semifinal do exame de prata para conseguirmos falar com eles, mas... Bom, não deu muito certo — deu de ombros, mas era possível notar que o rapaz estava abalado com aquilo. — Como vim da Divisão, eu sei a vontade que eles têm de encontrarem o clã do sol e destruí-lo também, por isso, decidi que eu e o Diego precisávamos manter nosso plano e nossas identidades em segredo, porque, se houvesse algum espião entre nós, com certeza o governo iria querer nos capturar para saber a localização do clã do sol... Eles devem estar se preparando para conseguirem tirar essa informação do Diego — revelou, ao mesmo tempo em que abraçava o próprio corpo como se estivesse conseguindo sentir novamente todas as dores que haviam marcado o seu físico com cicatrizes.

Cicatrizes feitas pela agência que agora estava com a Flora, o Diego, o Eduardo e várias outras crianças que também haviam sido capturadas no dia do ataque.

— Precisamos correr.

Thomas concordou com a cabeça, indicando que entendia a gravidade da situação, e deu duas batidinhas em seu esquilo para que o animal se apressasse. Graças a esse gesto, a velocidade dos animais se elevou um pouco mais – não tanto, afinal de contas, eles não podiam exigir que os bichos corressem com tudo o que tinham. O caminho até a capital era longo.

— Por que você escondeu isso? — perguntou, contudo, antes que o Ryan pudesse tentar se explicar, o rapaz prosseguiu; — Poderíamos ter ajudado vocês... — admitiu, ao mesmo tempo em que abria um sorrisinho carinhoso que foi capaz de fazer o menino de cabelos platinados retribuir aquele gesto, ainda que com uma pequena dose de apreensão.

— Eu não confiava em vocês no início — respondeu, da maneira mais franca que pôde. — A última coisa que eu queria era que a notícia das nossas identidades se espalhasse e... Bem, eu pensei que eu e o Diego conseguiríamos — admitiu, com um certo pesar. — Nós estávamos tão perto de falar com os pupilos de nossos pais...

— Você os viu?

— Sim, eles fazem parte dos dez treinadores de elite.

— E quem são, exatamente?

— Chloe Solarys, primeira cadeira, e Victor Luarys, segunda cadeira.

Thomas arregalou os olhos.

— Agora que você falou, eu acabei de lembrar que o sobrenome deles foi falado no dia em que os apresentaram para nós!

— Pois é — deu de ombros. — Mas isso não valeu de nada... No fim, todo o esforço que eu e o cabeça de tomate fizemos foi vão.

Thomas ficou em silêncio por um curto período de tempo em respeito à dor do companheiro, porém, não demorou muito para o mesmo apoiar a sua mão no ombro do Ryan de um modo mais firme.

— Depois que salvarmos os nossos amigos, nós iremos atrás desses dois! — declarou, fazendo com que o Ryan erga as sobrancelhas; um tanto quanto surpreso com aquilo. — Eu prometo! — garantiu, fazendo com que o garoto de cabelos platinados abra um leve sorriso e assinta com a cabeça.

— Obrigado, Brytleofber.

Assim que o diálogo entre o Thomas e o Ryan chegou ao fim, ambos os garotos voltaram a focar mais na rota que percorriam, pois ainda tinham a esperança de que conseguiriam encontrar alguém conhecido no meio do caminho.

Mesmo que as probabilidades de isso acontecer fossem bem baixas.

Com o passar do tempo, todos foram ficando cada vez mais acostumados com a movimentação de seus animais, e, assim que a Cássia conseguiu fazer com que o seu esquilo se aproximasse do de Daphne, ela ficou encarando a garota da equipe X pelo canto dos olhos por um longo tempo até, finalmente, decidir pigarrear; atitude essa que acabou atraindo a atenção da menina para si.

— Então... — iniciou, enquanto tentava ao máximo esconder o quão desconfortável estava se sentindo por ter que falar o que quer que fosse proferir. — Sabe quando te derrotei nas semifinais? — indagou, fazendo com que a Daphne franza o cenho antes de assentir. — Bom, eu queria te dizer que... Era só um teste e, mesmo sendo importante, eu não queria... Quer dizer, claro que eu desejava ganhar, mas ter feito aquilo não foi a... Enfim! — exclamou, sem saber ao certo como se expressar.

Era incrível como a palavra "desculpe" poderia se tornar algo extremamente difícil de se pronunciar.

Um tanto quanto inconfortável com aquilo, a Cássia se calou por um tempo, à espera de que a Daphne falasse alguma coisa para aliviar um pouco seu encabulamento e cortar aquele clima estanho, porém, para a infelicidade da mesma, tudo o que a Daphne fez foi estreitar um pouco os olhos e abrir um pequeno sorrisinho no canto dos lábios, revelando o seu divertimento com aquela situação toda – não era comum ver a Cássia, integrante da equipe I, tão sem graça assim. Notando a expressão no rosto de sua colega, a garota da A1 jogou seu cabelo trançado para trás e focou em qualquer coisa aleatória que estivesse adiante.

Desculpe — proferiu, mesmo que com uma rapidez maior que o comum.

Daphne riu.

— Tudo bem! — respondeu. — Pra falar a verdade, a culpa de eu ter ficado naquele estado não foi inteiramente sua.

Com a conversa começando a fluir normalmente, a Cássia conseguiu parar de fingir estar concentrada nas árvores e voltou o seu olhar para a companheira ao seu lado.

— Foi o bracelete?

— Sim.

— Ah, entendo... — comentou, levando os olhos até o local onde o adereço da parceira costumava ficar. — Que bom que você finalmente retirou aquela coisa!

— P-Pois é — murmurou, ao mesmo tempo em que abria um sorrisinho fraco e levava os olhos até o local onde o seu antigo adorno costumava ficar. Era impressionante como o seu braço parecia tão vazio sem o bracelete... Parecia que algo vital estava faltando, ainda mais porque aquele objeto havia sido um presente de sua mãe e... A mesma balançou a cabeça de maneira brusca, forçando-se a tirar aqueles pensamentos de sua mente. Não era hora de pensar nessas coisas.

Com o intuito de se distrair, Daphne começou a olhar as paisagens ao seu redor. Por mais que noventa por cento do reino fosse apenas floresta, não dava para negar que ele era bastante belo, além disso, poderiam haver locais onde a mata não era tão densa assim e... A mesma franziu o cenho quando os seus olhos chegaram ao Nicholas, que havia subido ainda mais no macaco que o carregava para conseguir ficar mais perto da orelha do animal.

Pelo Ômega, o que ele estava aprontando?

— Oi! — sussurrou o garoto, assim que ficou próximo ao ouvido do bicho. — Você me entende? Se sim, vai mais rápido! — pediu, mas o macaco não mudou absolutamente nada do seu modo de se locomover. No entanto, isso ainda não foi capaz de fazer o Nicholas desistir. — Ok, você ganhou! Se você ir mais rápido, eu te dou uma banana e... — o mesmo tentou negociar, mas a palavra "banana" pareceu injetar uma adrenalina enorme no animal, que não demorou mais que dois segundos para acelerar bastante; tanto que o Nicholas precisou se agarrar no bicho para que não viesse a cair. — IRRUUU, MANDA A VER, KING KONG! — gritou, quando o macaco ultrapassou todos os esquilos.

— EI! — foi tudo o que o Thomas conseguiu bradar antes que a visão do Nicholas e de seu macaco sumissem entre as plantas e os galhos daquela floresta.

O macaco não diminuiu o ritmo enquanto pulava de galho em galho numa velocidade grande o bastante para fazer o Nicholas gargalhar de emoção enquanto os seus cabelos dourados balançavam graças a intensidade do vento. Toda aquela rapidez causava um sentimento maravilhoso no rapaz, dando a ele a sensação de estar voando pelo céu, e, com a intenção de querer aproveitar melhor aquilo, o mesmo prontamente ergueu os seus braços para que pudesse sentir o vento percorrer o seu corpo com mais força. Era uma emoção única.

Devido aquela agilidade que o bicho estava percorrendo, não demorou para a floresta densa dar lugar a uma vila bastante bela, onde as casas eram feitas próximas a árvores grandes e de tamanhos e formatos diferentes; conferindo uma beleza élfica aquele local. Também haviam residências e lojas brilhantes e chamativas em cima das próprias árvores, além de pontes belíssimas, espaçosas e bastante iluminadas entre os troncos para que as pessoas pudessem se locomover livremente por ali.

A beleza daquela vila era diferente de tudo o que o Nicholas já havia visto, além de parecer ser bem próspera. Talvez fosse ali onde eles iriam conseguir as máscaras e os mantos que estavam buscando. O garoto sorriu diante da grandeza daquela área, porém, para a surpresa do mesmo, do nada o animal que o carregava simplesmente parou de correr. Como ele não estava esperando por aquilo, o Nicholas, que estava com as mãos estiradas para os lados para conseguir aproveitar o vento, acabou voando para longe do macaco e adentrou na vila de um modo perigosamente veloz; e, para o azar de um pobre velhinho que andava por ali, o rapaz só conseguiu parar de "voar" quando o atingiu com tudo, fazendo com que ambos caíssem no chão.

— A-Ai... — resmungou o idoso.

— D-Desculpe, vovô! — pediu, ao mesmo tempo em que se jogava um pouco para o lado, com o intuito de sair de cima do ancião. Ao fazer esse movimento, o Nicholas gemeu um pouco de dor, mas logo conseguiu fazer força para se sentar sobre o solo. Ainda bem que ele podia contar com a sua invulnerabilidade para amenizar a queda. — Eu não queria te acertar, só estava a fim de pegar algumas máscaras e mantos aqui... Desculpa mais uma vez! — implorou, entretanto, tudo o que o velho conseguiu proferir em resposta foram gemidos aflitos. Será que o pobre homem de idade ficaria bem depois de um impacto tão forte e inesperado como aquele?

— Ele atacou o chefe! — gritou uma mulher, ao mesmo tempo em que desembainhava uma espada que estava presa em sua cintura. Graças ao grito dela, os outros moradores pegaram martelos, foices, bestas, armas e quaisquer outras coisas que tivessem.

Pelo Ômega, que tipo de vila era aquela?

Percebendo que ninguém ali esperaria explicações antes de atacar, o Nicholas se levantou do solo num pulo e se teleportou para o local onde o macaco estava; coisa que deixou a maioria das pessoas com os olhos arregalados. Não era todo dia que eles se encontravam com um estranho que possuía poderes, até porque, mesmo que alguém com poderes visitasse aquela vila, as habilidades especiais dessas pessoas normalmente eram escondidas. Ninguém desejava chamar a atenção do governo.

Assim que Nicholas chegou até o animal, que havia se limitado a permanecer próximo a floresta, o mesmo franziu o cenho ao ver que o macaco estava interessado demais nas lindas flores que se localizavam em uma grande parte daquela área. As mesmas eram tulipas brancas belas e delicadas, porém, assim que o garoto se aproximou mais, ele logo notou que as flores possuíam uma espécie de pedra verde – similar a uma esmeralda – dentro delas.

— Você acha que o perfume disso é mais importante que as nossas vidas? — questionou, ao mesmo tempo em que chegava perto do bicho para tentar afasta-lo daquelas plantas, todavia, assim que os olhos do Nicholas bateram novamente nas flores, uma pontada de interesse o atingiu.

Se o macaco estava tão concentrado em cheirar aquilo, então o perfume daquelas flores deveria ser algo de outro mundo.

Vencido pela curiosidade, o menino acabou se aproximando das belas tulipas brancas para aspirar o perfume de uma que exalava uma pouca quantidade de fumaça verde.

Isso foi o suficiente para fazer o mesmo rir à toa.

De uma hora para a outra, o Nicholas pareceu ter sido levado para outra dimensão. Uma simples cheirada naquela flor exótica havia deixado os pensamentos do rapaz tão confusos, mas, ao mesmo tempo, tão mais leves. As cores ao seu redor pareceram ficar mais nítidas – vibrantes – e um sorrisinho bobo se instalou nos lábios do garoto. Ele sentia que o corpo estava tão leve como uma pena e que os seus movimentos pareciam estar em câmera lenta, porém, de alguma forma, isso era engraçado, pois quando ele tentava focar em se manter firme, o seu cérebro parecia formigar e uma sensação gostosa de arrepio inundava em seu interior.

— Renda-se! — gritou um homem.

O Nicholas nem havia percebido que já estava cercado por toda aquela grande quantidade de aldeões que carregavam vários tipos diferentes de armamento, contudo, agora, ele não sabia direito o porquê, mas só conseguia achar graça da sua situação. Sendo assim, não conseguiu parar de gargalhar mesmo quando uma arma foi apontada para a sua cabeça.

Que tipo de efeito aquela flor havia causado no menino?

— Se eu bater em mim mesmo e sentir dor, eu sou forte ou fraco? — questionou o garoto, com uma aparência pensativa. Ele parecia estar mesmo querendo saber a resposta para aquilo. O rapaz cambaleou um pouco quando emitiu outra risadinha, mas, antes que pudesse cair, acabou sendo amparado pelo macaco atrás de si, que ainda cheirava as flores. Talvez o efeito daquilo não fosse tão forte em animais como era em humanos. — Ah, foi mal aí, cara! — desculpou-se, ao mesmo tempo em que dava leve batidinhas no animal que não dava a mínima para ele. — Eita, há quanto tempo que você não se depila? tá peludão, hein? — riu. — Espera, não me diga que você é um lobisomem! — exclamou, realmente chocado com aquela descoberta. — EU ACHEI UM LOBISOMEM! — declarou, e as pessoas que estavam perto do mesmo abaixaram as armas.

— Ele deve ter cheirado o cristal ópitys — comentou uma das mulheres. — Amarrem-no! Por ora, ele é inofensivo.

Obedecendo a ordem da moça, dois homens se aproximaram do Nicholas e cada um deles segurou num dos braços do menino para que conseguissem carrega-lo para dentro da vila novamente. Os homens levaram o rapaz até uma árvore grande e de aparência grossa e resistente para, em seguida, amarrarem o menino junto a ela com correntes bastante espessas. Para uma pessoa normal, aquilo realmente bastaria para mantê-lo ali, no entanto, no caso do Nicholas, aquilo não era bem um aprisionamento... Bom, na verdade, não seria, contudo, depois dele ter cheirado aquela flor, até mesmo o simples ato de andar se tornava difícil para o garoto.

Talvez aquele não fosse o seu dia de sorte.

Ao terminarem de prender o menino, os homens correram para o local onde o ancião, que havia sido atingido momentos atrás, estava. Não demorou muito para uma multidão de pessoas chegarem perto do velho – e alguns já o analisavam para ver se o mesmo havia se machucado gravemente ou não. Eles pareciam ter um apreço muito grande por aquele senhor.

Enquanto isso, na floresta, os companheiros do Nicholas haviam finalmente conseguido alcançar aquela vila, porém, quando eles viram os aldeões prenderem o seu colega, todos concordaram que não era uma boa ideia entrarem ali de qualquer jeito. Os moradores não pareciam ser tão amigáveis assim. Devido a isso, decidiram se esconder atrás de uma pedra bastante grande que estava ali para tentarem analisar melhor aquela situação.

— Como e por que ele foi parar ali? — indagou Daphne, que, assim como os demais, observava o local com uma certa apreensão. — Eu tenho certeza de que ele deve ter feito alguma coisa errada!

— Vocês têm certeza de que "atrair confusão" não é um dos super poderes dele? — questionou Kal.

— Mas ele está preso com correntes normais, não está? — perguntou Camille, ao mesmo tempo em que franzia o cenho e inclinava a cabeça um pouco para o lado; confusa. — Por que ele não sai? Era só se teleportar ou ficar intangível, não?

— Oh! É mesmo! — exclamou Alephe.

Confusos com aquilo, os companheiros do Nicholas levaram as suas atenções até ele, e, graças a isso, não demoraram a perceber que o garoto estava bastante sorridente e aéreo.

Mais que o comum.

— Será que deram alguma coisa pra ele? — sugeriu Daphne, ao mesmo tempo em que começava a olhar em volta para tentar achar algo suspeito.

— Pelo visto nós não vamos conseguir arranjar as máscaras ou os mantos por aqui... — murmurou Cássia, soltando um longo suspiro. — Mas que belo lugar você escolheu pra nos trazer, hein, Thomas!

— O Nicholas deve ter feito alguma coisa... — assegurou. — ... as pessoas dessa vila não o atacariam sem motivo!

— Ora, e como é que você sab...

— O que é aquilo?! — exclamou Daphne, interrompendo uma possível discussão entre Thomas e Cássia. — O macaco que estava com o Nicholas está cheirando um cristal ópitys? — indagou, fazendo com que a atenção de seus amigos seja guiada até o animal. — O cristal ópitys é uma droga bastante rara que só é encontrada nesse reino! Ela é famosa por conseguir alterar a percepção da realidade, de relaxar e causar uma sensação prazerosa em quem a cheira, mas isso dura pouco tempo. Se quebrarmos o cristal, a fumaça dele, além de produzir esses efeitos que falei, também pode ser capaz de apagar um ser humano se usada na quantidade certa, além disso, é ótimo para fazer analgésicos e vários outros tipos interessantes de medicamentos!

Uou — elogiou Alephe. — Você entende mesmo sobre drogas, hein...

— Eu já vi a imagem dessa flor num dos livros que eu li — explicou.

— Se a fumaça dessa coisa pode apagar um ser humano, a chance de eles terem uma arma feita disso é grande, não é? — sugeriu Kal, fazendo com que a maioria erguesse as sobrancelhas.

Será que os moradores haviam usado essa arma contra o Nicholas?

Inquietos com essa possibilidade, os olhares deles rapidamente voltaram a ir em direção ao companheiro, que, a essa altura, já estava começando a tomar consciência da realidade outra vez.

— exprimiu, quando se deu conta de que estava acorrentado a uma árvore. — Como foi que isso aconteceu? Será que eu dormi e não notei? — perguntou para si próprio, enquanto franzia o cenho. — É, acho que misturar manga com leite realmente não dá certo! Eu pensei que era só besteira, mas pelo visto é verdad...

— Você tem poderes, não é? — indagou uma voz feminina.

O Nicholas franziu ainda mais o cenho quando olhou o local ao redor de si e não encontrou a possível portadora daquele timbre.

Será que os efeitos da droga ainda não tinham passado?

— Você por um acaso é um fantasma?

— Isso seria legal, mas não, não sou — a dona da voz respondeu, juntamente a uma risadinha. — Estou aqui em cima! — disse, e, assim que o garoto olhou para um dos galhos da árvore, ele finalmente pôde ver a portadora daquele timbre. Uma menininha de, no máximo, sete anos. — E aí, tem ou não?

— Sim, e sou bem forte! — respondeu, e tudo o que a jovenzinha fez foi erguer uma das sobrancelhas como se estivesse dizendo "se é tão forte como diz, então por que não sai daí?". O Nicholas pareceu notar esse julgamento da pequena, pois logo emitiu uma risadinha. — Não precisa acreditar se não quiser, mas é a verdade! — afirmou.

A jovem estreitou um pouco os olhos perante o comentário dele e, em seguida, começou a descer da árvore para que pudesse encarar melhor o rosto do rapaz. Quando chegou ao chão, a mesma cruzou os braços e ajeitou a sua postura, dando a entender que estava tentando causar um certo medo no Nicholas, que apenas abriu um sorrisinho perante a atitude da mais nova de querer impor respeito.

— Por que você atacou o velhot... Digo, o chefe da minha vila?

— Foi sem querer, eu caí do meu macaco — respondeu, ao mesmo tempo em que apontava com o queixo na direção em que o bicho estava. A garotinha se virou para observar se a fala dele era mesmo verdadeira e, assim que viu o animal cheirando as flores, ela assentiu com a cabeça. — Além disso, o chefe da sua vila é um velhinho bem resistente, olha lá! — apontou com o queixo para o local onde o senhor estava. — Ele já está andando normalmente e... Bom, eu não me surpreenderia se ele desse uma pirueta só pra mostrar pra toda aquela gente que ele está bem e que não precisa daquela preocupação toda!

A menina riu.

— Pois é! — concordou. — Ele era um dos melhores guerreiros daqui, é por isso que...

De repente, um roncar de estômago ecoou, fazendo com que a menina se calasse e corasse de vergonha quando os olhos do Nicholas saíram do ancião e voltaram para ela.

— Isso foi um ronco de fome?

— Guerreiros não sentem fome! — exclamou, enquanto cruzava os braços com mais força e erguia a cabeça com a intenção de mostrar que estava falando a verdade. — E um dia eu serei uma guerreira bem forte... e uma curandeira também! Então não, eu definitivamente não sinto fome!

— Todo mundo sente fome! — rebateu o Nicholas, num tom mais alto, e, por conta do volume mais elevado de sua voz, a menininha acabou se encolhendo um pouco; mostrando-se receosa. — Eu tenho comida aqui no meu cinto... — revelou, suavizando novamente o seu timbre devido ao assombro da garotinha. — Eles me fizeram cruzar os braços antes de me acorrentarem, mas você ainda consegue pegar — disse, e a jovem estreitou os olhos enquanto se aproximava mais do menino. — Está nesse bolsinho da esquerda — alertou, quando a garotinha já estava perto o bastante dele. Ela não demorou para se aproximar do local indicado e, assim que abriu o compartimento do cinto do rapaz, a visão das várias CEMs coloridas fez os olhos da pequena se arregalarem. — Meus amigos que fizeram. As que eu faço está no bolso do lado, mas acho que você não ia gostar muito...

— Você chama isso de comida? — indagou, enquanto pegava uma das CEM. — Isso parece uma bola de chiclete!

— É uma comida que apenas guerreiros podem comer! — alegou, fazendo com que os olhinhos da garota brilhassem de admiração. — Isso é uma comida feita especialmente para missões. Prova uma aí.

A menina umedeceu os lábios, mostrando-se ansiosa para experimentar aquilo.

— I-Isso não está envenenado não, né?

— Quem é o idiota que colocaria veneno na comida? — questionou. — Se fizer isso não dá pra comer, ué!

— É verdade... — comentou, mas, mesmo assim, ela ainda analisou a pequena bolinha por alguns longos segundos antes de leva-la à boca, todavia, após dar a primeira mordida, a menina não conseguiu conter um leve gemido. — Que gostoso! — declarou, abrindo um largo sorriso que logo foi retribuído pelo Nicholas.

— Mas vem cá, a sua vila é bem bonita, além disso, parece ser tão rica... Por que você estava com fome? — questionou, e o semblante da jovem ficou um pouco cabisbaixo.

— É que... — ela parou de falar para que pudesse soltar um longo suspiro e, antes de prosseguir, a mesma se aproximou do cinto do Nicholas outra vez e pegou mais duas CEMs antes de fechar o compartimento do rapaz. — Bom, nós costumávamos ser prósperos mesmo, mas, há uns cinco meses, um animal bastante perigoso surgiu por essa área e isso acabou afugentando todos os macacos e os esquilos daqui! Quando eles aparecem, é só um ou dois, mas nunca têm coragem de seguir até a capital pelo caminho mais curto... Aliás, deve ter sido por isso que o seu macaco te derrubou — explicou, e os olhos do Nicholas seguiram em direção ao animal que antes o carregava. O bicho parecia ter enjoado das flores e, no momento, estava tirando um cochilo. — Como não conseguimos nos deslocar até a capital, não conseguimos dinheiro. A nossa principal fonte de grana são os cristais ópitys, mas eles não duram muito, por isso, mesmo que tentemos seguir para a capital por uma rota mais longa, não adianta muita coisa, pois as plantas estragam. Como não conseguimos ir por outra direção, os guerreiros do nosso clã estão tentando lutar contra o animal que está assustando os macacos e os esquilos, mas até agora não conseguimos nada... — revelou, ao mesmo tempo em que soltava outro longo suspiro. — Tentamos vender a flor para as vilas mais próximas da nossa, mas o lucro que conseguimos não é o bastante. Se continuarmos assim, acho que não seremos mais uma vila tão bonita... muito menos próspera.

— Vocês comercializam o que?

— O cristalzinho.

— O que é isso?

— A flor que você cheirou antes... — deu de ombros. — Ela é difícil de se achar, mas nós temos muitas aqui. Ela faz vários medicamentos excelentes e... Bom, também tem gente que compra só pra cheirar mesmo. O nome real dela é cristal ópitys, mas a maioria costuma chamar de cristalzinho mesmo.

— É uma flor bem perigosa! — murmurou.

— Mais ou menos... — riu. — É graças a ela que os curandeiros da nossa vila são um dos melhores! Somos uma vila de curandeiros e guerreiros e, um dia, conseguiremos lutar pelo propósito Bry! — declarou, com um largo sorriso.

— E o que é o "propósito Bry"?

— Não sei, é o que os adultos costumam dizer — confessou, fazendo com que o Nicholas gargalhasse e, consequentemente, fizesse com que ela sorrisse também. — Você parece ser legal, não acho que deveria estar preso aí. Qual o seu nome?

— Nicholas. E o seu? — a garota jogou outra CEM na boca antes de responder.

— Y...

— YRENE! — gritou uma mulher, fazendo com que a menina dê um pulo de susto antes de se afastar do Nicholas, que franziu o cenho enquanto observava a moça que havia berrado se aproximar deles. Assim que a mais velha os alcançou, ela rapidamente pegou a CEM que estava na mão da mais nova. — E se isto estiver envenenado?! Cuspa logo! — ordenou, e a garotinha, ainda que a contra gosto, obedeceu a senhora e cuspiu o pouco que ainda tinha em sua boca. — Eu já disse que você não pode aceitar nada de estranhos! — reclamou, ao mesmo tempo em que olhava com uma certa confusão para a bolinha avermelhada que havia pegado para, por conseguinte, guardá-la no bolso. — Vou ter que analisar isso mais tarde, vai que tem algum ingrediente desconhecido que te faça mal e...

Para o alívio da pequena Yrene, as queixas da mulher não duraram muito, pois, quando um grande alvoroço se formou no meio da vila, a atenção de ambas se virou para a multidão. Os guerreiros que haviam ido enfrentar o animal haviam chegado. Sem pensar duas vezes, a mais velha pegou a mão de Yrene e as duas correram até os homens e as mulheres que estavam feridos para que pudessem tentar ajuda-los de alguma forma.

O Nicholas, que havia sido deixado para trás, até tentou se mexer para ver o que estava acontecendo, porém, como as correntes o prendiam muito bem e a confusão estava ocorrendo atrás da árvore em que ele estava, o mesmo apenas bufou e desistiu de tentar ver para onde as moças haviam ido. Sem muito o que fazer, o rapaz começou a observar a beleza daquela vila com uma certa atenção para, em seguida, levar os seus olhos até o bicho que antes o carregava.

Se um animal selvagem estava impedindo que todos os macacos e os esquilos pegassem a rota mais curta até a capital, provavelmente aquele problema iria atingir ele e os seus amigos também.

O rapaz mordeu os lábios, um tanto quanto pensativo.

— Esse é o garoto com poderes que os aldeões estão falando — disse o ancião, assim que se aproximou do menino juntamente a um homem alto. Não dava para ver como o homem ao lado do velho era, pois ele usava uma armadura que não deixava nem um mísero pedaço de pele exposta. A armadura prateada dele era brilhante e imponente, além disso, uma espada grande estava presa às costas do guerreiro, que observava fixamente o rosto admirado do Nicholas pela estreita abertura de seu elmo – feita apenas para que o mesmo pudesse enxergar. — O que você acha?

— Disseram que ganharíamos uma boa recompensa se o levássemos para a Divisão... — comentou o homem, que possuía uma voz grossa e intimidadora – que só se intensificava devido ao eco do elmo. — ... parece que eles pagam bem quando entregamos um "inumano" — prosseguiu.

Talvez fosse só impressão, mas, de acordo com o tom de voz daquele homem, era possível notar que ele não era muito conivente com aquela ideia.

— Vocês poderiam ir para a Divisão pelo lado contrário ao do animal — comentou o ancião, que observava o Nicholas com uma certa atenção. Parecia que ele estava esperando que o mais novo dissesse alguma coisa. — Se fizermos isso, conseguiremos dinheiro e poderemos nos manter por mais um tempo, pois...

— Se eu acabar com o animal que está atrapalhando vocês, eu posso ficar livre? — questionou o menino, e esse comentário fez o mais velho sorrir. Era como se ele já estivesse esperando por isso. Ao contrário do ancião, a risada que o guerreiro emitiu foi de escárnio; e ele o fez com tanta intensidade que a sua cabeça até se inclinou para trás. — Isso é um sim?

O homem retirou o elmo.

— Somos uma vila de guerreiros e, mesmo assim, não conseguimos nos livrar daquele bicho... — o Nicholas ergueu as sobrancelhas ao ver uma cicatriz profunda no lado esquerdo do rosto do guerreiro. A marca começava na testa, passava pelo maxilar, e descia até o pescoço dele – provavelmente ela iria até o peito ou, quem sabe, até o final da barriga, porém, devido a armadura, o Nicholas não pôde ver até onde aquilo iria. — ... então por que você conseguiria?

— Você é muito maneiro — declarou, com um sorriso admirado nos lábios.

O homem semicerrou os olhos acastanhados.

— Admita, você só quer que o soltemos daí, não é?

— Claro que não! — garantiu, chegando a fazer o guerreio erguer uma das sobrancelhas devido a firmeza presente no tom do mais novo. — Eu quero fazer isso para ajudar vocês e por que eu também quero ir para a capital o mais rápido possível. Os meus amigos estão lá.

O guerreiro deu uma leve risada irônica antes de observar o chefe de sua vila, como se quisesse ver se o mais velho acreditava naquilo, contudo, assim que o idoso balançou a cabeça de maneira positiva e bateu sua bengala duas vezes no chão, o homem arregalou os olhos.

— É sério?!

O ancião sorriu, antes de bater a bengala contra o solo novamente.

— É sério o que? — perguntou Nicholas, com o cenho franzido, e tal indagação fez com que o guerreiro levasse os seus olhos em direção ao mesmo para, então, analisa-lo de maneira demorada e cautelosa antes de, enfim, revirar os olhos e suspirar demoradamente

— Ok, criança, se você não morrer, poderá sim ser livre.

— Jura?! — exclamou, alargando ainda mais o sorriso após o guerreiro concordar com a cabeça. — Então está combinado! — afirmou, ao mesmo tempo em que ficou com a parte superior do corpo intangível e, graças a isso, ele se libertou com uma facilidade tão grande das correntes que o rapaz de armadura não conseguiu disfarçar a sua surpresa. — E aí, vamos? — perguntou, fazendo com que o ancião desse uma risadinha, alisasse a barba grande em seu queixo e desse algumas batidinhas no ombro do guerreiro.

— Boa sorte! — desejou ao homem, que apenas lançou um olhar ameaçador para o mais velho, pois o mesmo ainda ria.

— Enfim, vamos logo par...

— Ah, eu esqueci de falar uma coisa! — declarou Nicholas, interrompendo a fala do guerreiro. — Eu tenho uns amigos que estarão vindo a qualquer momento, então, por favor, não acorrentem eles — pediu, e o ancião deu outra risada antes de assentir com a cabeça.

Por falar nos companheiros do garoto, todos eles ainda se mantinham escondidos na floresta e, assim que eles viram o Nicholas seguir um dos guerreiros para outra parte da mata, nenhum conseguiu esconder a confusão que os atingiu.

— O que está acontecendo? — questionou Ryan. — Primeiro acorrentam ele, e, agora, levam ele pra dentro da floresta!

— Será que vão matar ele ali? É mais fácil de esconder o corpo...

— Kal! — repreendeu-o a Ária, e o menino apenas ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Talvez ele deva ter feito algum tipo de acordo para soltarem ele — sugeriu Arthur, que observava a vila com uma certa dose de desconfiança. — Mas nunca se sabe...

— Será que vocês podem parar de pensar assim?! — pediu Camille, apreensiva.

— Fica tranquila, não é fácil matar o Idicholas!

— Pois é, eu mesmo já tentei várias vezes e nunca consegui — comentou Thomas, e, por conta desse comentário, todos acabaram levando os seus olhares até o mesmo; surpresos. — Foi numa época complicada da minha vida... — explicou-se, dando uma risadinha um tanto quanto encabulada.

Após a fala do garoto, a maioria se calou e voltou a observar a vila outra vez. O Nicholas e o homem grande de armadura já tinham saído, deixando os vários guerreiros feridos aos cuidados dos curandeiros daquela área. Eles trabalhavam bem, mas a quantidade de machucados parecia ser maior que a de médicos e isso fez com que a Daphne mordesse os lábios; inquieta.

— Ah, o que eu estou fazendo? — indagou ela, e tal comentário fez com que seus companheiros levassem as suas atenções para a mesma. — Eu posso ajuda-los! — alegou, e, sem pensar duas vezes, ela se levantou para, em seguida, começar a ir em direção a vila. Alguns, como a Ária, a Camille e o Alephe, até tentaram impedi-la, porém, a garota conseguiu ser mais rápida que eles. — O-Oi! — proclamou, enquanto ainda se dirigia até o local onde os guerreiros caídos estavam. Ao vê-la, uma parte dos aldeões se levantaram e logo ficaram em posição de combate; mostrando-se preparados para proteger os seus, caso a menina tentasse feri-los. Ela ergueu as mãos para mostrar que não planejava fazer nada de ruim. — Eu sou amiga do Idi... Digo, do menino que estava aqui. Tenho poderes de cura e posso ajudar os que estão machucados! — revelou.

A princípio, a maioria se mostrou hesitante perante as palavras da moça, pois não sabiam se aquilo era verdade ou não. No entanto, antes que eles pudessem fazer alguma coisa, o ancião da vila deu um passo a frente e bateu a sua bengala acinzentada duas vezes no chão – aquele cajado era diferente de um comum; não seria tão surpreendente assim se houvesse alguma lâmina escondida dentro dele.

Como, após as duas batidas, os moradores baixaram a guarda, Daphne entendeu aquilo como um "pode vir"; e foi exatamente isso o que ela fez. Ao chegar perto dos caídos, a garota se abaixou ao lado de um deles e pôs a sua mão próxima ao corpo da pessoa, fazendo com que a sua luz esverdeada fluísse pelo físico da mulher. Quando a ferida exposta que estava na barriga da moça foi cicatrizando até, finalmente, sumir, os aldeões arregalaram os olhos e sorriram.

— Obrigada — sussurrou a guerreira, assim que obteve alívio.

— Não precisa agradecer — respondeu Daphne, que já começava a se aproximar de outra pessoa.

— Você tem mais companheiros, não tem? — indagou o chefe da vila, e a menina assentiu enquanto colocava a mão próxima ao corpo de um homem inconsciente. — O garoto de antes me contou que tinha uns amigos dele vindo pra cá. Onde eles estão? Quero dizer que são bem vindos!

A garota sorriu.

— Obrigada! Estávamos receosos em vir porque vocês não pareciam ser tão... Hã... Ah, receptivos — expôs, com um sorrisinho amarelo, e, em seguida, virou-se em direção a pedra em que os seus amigos estavam para fazer um sinal para que eles viessem.

— Desculpe pelos nossos modos, nós estamos passando por uma situação complicada ultimamente... Algumas vilas próximas a nossa estão tentando nos derrubar, são poucas as que ainda gostam de nós — explicou o mais velho, enquanto se virava para encarar os jovens que estavam saindo detrás de uma grande pedra.

Assim que o mais velho vê os companheiros de Daphne se aproximarem, os olhos dele rapidamente focam no Thomas, que logo desvia o olhar e finge não perceber o semblante surpreso que se estampou na face do chefe.

Brytleofber — sussurrou, de maneira inaudível.

— É ali! — declarou o guerreiro, assim que chegou a poucos metros de uma caverna de pedra. A entrada dela era enorme, porém o interior da mesma era tão escuro que não dava para ver nada, nem mesmo quando o Nicholas estreitou os olhos, com a intenção de se forçar a visualizar qualquer coisa no interior daquela gruta sinistra. — Há vários cristais de ópitys lá dentro, então, quando você entrar mais, as luzes verdes que eles emitem irão te ajudar a enxergar melhor.

— Que bom, eu não tenho poder de ver no escuro.

O guerreiro deu uma risadinha contida.

— Aquele animal deveria estar na floresta bestial, que é o lar de criaturas estranhas como essa... Não faço a menor ideia de como ele veio parar aqui — comentou, enquanto observava o Nicholas com uma certa preocupação; talvez tenha sido pelo fato de que, na concepção do guerreiro, o rapazinho era novo demais para morrer. — Tente não ir para o mundo dos mortos mais cedo.

— Relaxa, eu já estou acostumado com coisas tentando me matar, além disso, antes de te encontrar, eu estava justamente indo atrás de uma grande confusão com a Divisão — os olhos do mais velho se arregalaram devido ao espanto. — Eles vão se arrepender de terem capturado os meus amigos e... Espera, eu podia ter contado isso? — questionou, ao mesmo tempo em que se virava para encarar o homem, e, quando viu o semblante surpreso no rosto dele, o menino deu uma risadinha amarela. — Eita... Pra vocês, eles são os mocinhos, não é? — o homem não teve tempo de responder. — Deixa eu sair logo daqui antes que eu estrague tudo... Tchau! — proclamou, virando-se na direção da caverna para, por conseguinte, correr para dentro dela.

Pelo menos aquela conversa havia lhe dado gás para adentrar naquele lugar sem se preocupar com a escuridão.

O guerreiro que havia sido deixado para trás ficou boquiaberto por longos minutos. Estava em estado de choque. Ele nunca iria imaginar que o objetivo do garoto fosse enfrentar a Divisão, a agência mais poderosa de Envyr! Por Bry, será que existia algum meio mais fácil de correr atrás da sua própria morte se não aquele? O menino só poderia estar louco!

Enquanto esses pensamentos rondavam a sua mente, o homem levou a mão até a cicatriz presente no lado esquerdo de seu rosto para, em seguida, erguer a cabeça e encarar a entrada da caverna que o Nicholas havia passado há pouco tempo.

— Esse moleque é mais interessante do que eu imaginava.

Do lado de dentro da gruta, o garoto não demorou a conseguir chegar até a metade dela, pois, finalmente, as luzes esverdeadas emitidas pelos cristais de ópitys presentes nas tulipas brancas começaram a aparecer, dando a ele uma visão do ambiente. A iluminação era fraca, pois a quantidade de flores era bem pequena, todavia, pelo que o garoto conseguia ver, não havia nada muito extraordinário ali dentro, apenas as paredes de pedra, algumas rochas grandes que dificultavam um pouco a caminhada e umas espadas e armas espalhadas pelo chão – provavelmente deixadas pelos guerreiros.

Como nenhum animal selvagem apareceu, o rapaz continuou adentrando ainda mais naquele espaço que não parecia ter fim. Até onde será que aquela caverna iria? Como não fazia ideia, ele apenas prosseguiu andando até alcançar um local que estava repleto daquelas tulipas brancas. O mesmo sorriu. A grande quantidade de flores que surgiram clareava bem o local, chegando a conferir um clima místico àquele ambiente – graças ao verde esmeralda que se misturava ao tom preto. Como a junção daquelas cores tornavam o espaço bastante belo, o menino parou de andar um pouco para observar a área por mais tempo. Àquela altura, não havia mais armas pelo solo, e a quantidade de rochas também havia diminuído drasticamente, pois só haviam duas – ainda que de tamanhos grandes. Ele voltou o olhar para as dezenas de flores presentes no chão.

— É melhor que não cheirar isso, se não v... — ele se calou ao sentir um arrepio percorrer o seu corpo.

Um leve vento o havia atingido.

Como o rapaz estava um pouco longe da entrada da caverna, era estranho sentir aquela brisa, sendo assim, a única forma dele ter sentido isso seria se outra pessoa estivesse respirando atrás de si. Ou um animal. O mesmo prendeu a respiração e começou a se virar vagarosamente; e, assim que o Nicholas pôde observar a criatura que estava atrás de si, os seus olhos se arregalaram em uma mistura de assombro e fascínio.

O bicho selvagem no qual todos estavam falando tanto era, na verdade, um lobo, contudo, aquele não era nem um pouco comum. Um lobo normal deveria ter, mais ou menos, cento e sessenta centímetros de comprimento e uma altura de oitenta e cinco centímetros, no máximo, mas a criatura que estava praticamente face a face com o Nicholas deveria ter, pelo menos, o triplo daquelas dimensões; e a beleza do animal era tão grande quanto a sua altura. Os pelos negros do lobo eram grossos e brilhantes, e os olhos turquesa do animal eram intensos. Além dos olhos, a bela criatura também tinha pontos turquesas – como se fossem partes tingidas em seu pelo – um pouco acima dos olhos e em suas enormes asas.

A imponência do lobo era tão grande que o Nicholas só conseguiu parar de admira-lo quando um rosnado foi emitido pelo bicho, fazendo com que o garoto se lembrasse que a letalidade daquele animal não era baixa.

Uou... — sussurrou, abrindo um sorrisinho no canto dos lábios.

O lobo encarava fixamente os olhos âmbar do Nicholas, como se estivesse esperando para ver se o menino iria fazer algum movimento brusco que indicasse que ele iria atacar. Notando isso, o garoto levou a sua mão até o seu cinto com uma calma fatal, pois não queria, de maneira alguma, assustar aquele animal, porque isso com certeza instigaria o bicho a ataca-lo.

— Eu tenho uma coisinha pra você — murmurou, e o lobo continuou imóvel enquanto analisava cada movimento do jovem. — Aqui! — disse, ao conseguir retirar uma CEM grande do seu bolso. Com certeza era uma das invenções dele. — É feita de peixe cru! Achei que poderia fazer algo interessante com o cheiro disso, mas isso não vem ao caso agora... Bom, como eu não sei direito o que vocês, lobos, comem, isso é a coisa mais agradável que eu tenho pra te oferecer no momento. Eu acho. Quer?

O Nicholas esticou a sua mão com todo o cuidado e paciência até ficar a poucos centímetros de distância da boca do animal, que inclinou lentamente a cabeça para o lado, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo ali. O lobo se aproximou um pouco daquela CEM com um tom meio bege e a cheirou. Como o animal ficou por um bom tempo ali, o Nicholas presumiu que a CEM havia sido do agrado da criatura, por isso, ele sorriu. Parece que havia conseguido fazer um novo amigo!

Ou não.

De repente, o lobo dobrou o focinho, como se estivesse forçando a si mesmo a recusar aquela comida, e, em seguida, abriu a boca e avançou com tudo no Nicholas, que, rapidamente, ficou com o corpo intangível para não ser atingido pelo ataque inesperado. Como o bicho havia passado direto pelo rapaz, o lobo continuou andando até, enfim, bater a cabeça com tudo na parede da caverna, fazendo com que a mesma trema bruscamente e faça com que o Nicholas chegasse até mesmo a se desequilibrar.

— Ah, qual é?! — reclamou, quando o lobo voltou a encara-lo com o focinho contorcido de raiva e os dentes afiados à mostra. — Pensei que você tivesse gostado! O que houve? Enjoou de comer peixe, foi?

Em resposta à pergunta do menino, o animal começou a bater as suas enormes asas e avançou de novo em direção ao mesmo, que, sem perder tempo, fechou o punho e uma aura azul escura logo surgiu ali, indicando que aquela área de seu corpo havia se tornado invulnerável. Para não receber a investida do bicho, as outras partes do físico do Nicholas ficaram intangíveis, e, assim que o lobo passou por ele, o Nicholas se teleportou para perto de uma das asas da criatura para soca-la com o seu punho mais resistente. Ao receber o ataque, o animal se desequilibrou e atingiu a parede da caverna com tudo outra vez.

Esse impacto pareceu ser mais potente que o anterior, pois o Nicholas precisou se abaixar para não cair. Enquanto isso, as pedras que compunham a caverna iam se desprendendo umas das outras e caindo no solo.

— Que cabeça dura é essa?! — indagou, quando o lobo se virou de volta para o rapaz como se nada demais houvesse acontecido. — Você é muito resistente, deve ter sido por isso que os guerreiros daquela vila não conseguiram te vencer.

Incomodado com a presença do garoto, o lobo resolveu dar um rosnado alto para, em seguida, abrir as suas asas novamente e, por conseguinte, começou a bate-las com uma grande força; atitude essa que acabou fazendo com que o mesmo saísse do chão. Uma vez no ar, as partes turquesas do pelo do bicho começaram a brilhar fortemente antes dele ir com tudo rumo ao Nicholas, que, dessa vez, decidiu se teleportar para perto de uma das rochas que estavam no solo daquele ambiente. Como o rapaz havia saído da sua área de ataque, o lobo acabou batendo contra a parede da caverna outra vez, no entanto, esse novo impacto se mostrou bem mais potente que os anteriores, pois gerou um tremor enorme e fez com que as pedras daquele lugar começassem a cair sem cessar.

Não iria demorar muito para a caverna desabar.

— Por que você está tão irritado assim? Parece até que está com fome... — resmungou Nicholas, estranhando o comportamento do bicho. — Desse jeito eu vou te vencer sem nem ter feito esforço, além disso, a caverna vai ser destruída e... — o mesmo se interrompeu. — O que é isso? — sussurrou, ao mesmo tempo em que virava a cabeça em direção a uma das rochas que estava ao seu lado há algum tempo. Ele franziu o cenho, mostrando-se confuso, e se aproximou daquele objeto para ver o que poderia estar fazendo aqueles baixos e repetitivos sons agudos. — Mas isso... — o rapaz arregalou os olhos antes de virar o rosto rumo ao lobo, que, no momento, desviava de algumas pedras que caíam no local onde ele estava. — Você é mãe? — perguntou, para, em seguida, voltar a encarar os cinco filhotinhos que choravam por conta dos tremores e dos barulhos das pedras caindo contra o chão.

Era surpreendente ver que um lobo tão enorme gerava filhos tão pequenos quanto a mão de uma pessoa.

Sem pensar duas vezes, o Nicholas se aproximou dos pequenos e os pegou no colo, com a intenção de protege-los das pedras que caíam perto deles, no entanto, quando o lobo, ou melhor, a loba viu aquilo, o focinho da mesma se contorceu de raiva. Ver as suas crias sendo pegas por aquele garoto não a havia agradado nem um pouco, principalmente porque os mesmos estavam chorando. Com o intuito de salvar seus filhotes, ela avançou para cima do Nicholas sem se importar de ser atingida pelas pedras no meio do caminho, todavia, assim que ela estava próxima do menino, ele ficou intangível outra vez – para evitar de levar um golpe – e isso acabou fazendo com que o animal batesse na parede novamente.

— PARE! — gritou, quando a loba se virou para encara-lo. Os olhos turquesa do animal estavam penetrados nos olhos cor de mel do rapaz, que a observava com uma firmeza e intensidade gritantes. — Terminaremos a nossa luta depois! — ordenou, e, por mais incrível e impossível que aquilo fosse, a loba continuou apenas o encarando como se estivesse entendendo cada palavra que saía da boca dele. Sem esperar algum sinal do animal, o Nicholas se teleportou para as costas do bicho e se acomodou ali com os filhotes da mesma, que até chegou a se debater um pouco para tira-lo de cima dela, no entanto, quando o barulho do choro de suas crias se elevou, a loba parou de se chacoalhar. — Voe! — mandou, mas a loba não se moveu. Ela não parecia ter confiança em deixar os seus filhotes na mão do Nicholas.

Do lado de fora daquele ambiente, o guerreiro observava a caverna ir se desmoronando aos poucos. O homem sabia que o covil não iria aguentar por muito tempo e, pelo semblante inquieto do mesmo, era possível perceber que ele estava se segurando para não entrar ali dentro em busca do menino.

Que tipo de guerreiro deixaria uma criança para trás?

Ele xingou em voz baixa, ao mesmo tempo em que desembainhava a larga espada que estava em suas costas. Se aquela caverna fosse desmoronar e matar o garoto, então que o matasse também, afinal, o desconhecido animal selvagem estava atrapalhando a sua vila, sendo assim, ele precisava ter feito parte, ainda que minimamente, do abate do bicho!

— Por Bry! — sussurrou, apertando com força o cabo da espada antes de erguer a sua cabeça, entretanto, ao fazer esse último movimento, os seus olhos puderam detectar o momento exato em que um vulto negro saiu de dentro da caverna antes da entrada dela desmoronar por completo. — Mas o que foi q...

— IRRAAAA!

Alguém gritou, e quando o mesmo ergueu a cabeça para tentar identificar o dono daquele timbre, os seus olhos arregalaram ao ver o rapaz em cima do lobo. Assim que o animal pousou, o chão tremeu um pouco, e o guerreiro precisou se segurar em uma das árvores para não cair.

— M-Mas... C-Como?! — balbuciou.

Estava espantado demais para conseguir proferir uma frase inteira.

O jovem ainda gargalhava de emoção quando desceu das costas do animal com os cinco filhotes do mesmo no braço. Os pequenos estavam comendo algum tipo de bolinha bege que fedia a peixe cru e, assim que os mesmos terminaram de mastiga-la, eles passaram suas cabeças pelo peito do rapaz como se estivessem tentando demonstrar sua afeição por ele, que ria perante aquilo. O lobo enorme observou a cena por um tempo, porém, de repente, a cabeça dele foi se aproximando do Nicholas, que estava de costas, e o guerreiro prontamente ergueu a espada, afinal de contas, com certeza aquele animal maligno estava planejando atacar o menino de surpresa e... e...

O lobo o lambeu.

Quê?!

— Você tem cabeçadas fortes! — comentou o Nicholas, virando-se para a loba. — Vamos lutar de novo outro dia, será divertido! — afirmou, e o bicho emitiu um som parecido com um rosnado, mas que possuía um timbre bem mais suave.

Perante aquilo, o guerreiro abaixou a espada, em choque, enquanto via o jovem dar uma bolinha bege à loba, que nem mesmo se deu o trabalho de cheirar o alimento antes de abrir a boca para devora-lo.

A comida realmente poderia criar laços fortes.

— Essa foi a última! — revelou o garoto, com um sorriso, e então, finalmente, virou-se para o guerreiro. — Dá pra acreditar que essa lobinha aqui só estava afastando os bichos da floresta e atacando vocês para proteger os filhotes?

— Ah... — foi tudo o que o homem conseguiu dizer em resposta, antes do garoto se virar novamente para o animal e sorrir. Em resposta a ação do jovem, os belos olhos turquesa da loba se fecharam e o guerreiro poderia jurar que aquele animal estava sorrindo de volta para o menino.

Assim que o Nicholas e o guerreiro chegaram com aquele lobo enorme na vila, a maioria dos cidadãos, a princípio, fugiram de medo; com exceção de Yrene. Quando o Nicholas disse que o animal era dócil, ela foi a primeira dentre todos a ir averiguar isso, e, quando conseguiu fazer carinho na loba, um sorriso se formou não só em seus lábios, mas no do restante dos aldeões também. A época de desesperança e medo havia acabado. Não demorou para os filhotes de lobo seguirem até as crianças do vilarejo e, em menos de minutos, todos já estavam brincando juntos enquanto os adultos admiravam a loba que antes os atacavam, mas que, agora, possuía um semblante bastante manso.

— Ela é bem mais rápida que os macacos ou os esquilos! — proclamou o garoto, para os demais moradores que haviam se aglomerado ao redor da loba. E pensar que, há alguns minutos, aquele mesmo bicho – que agora parecia ser a criatura mais amável do país de Envyr – havia deixado grande parte dos guerreiros feridos. — E, para deixar claro, ela só estava lutando com vocês para proteger os filhotinhos, então não a culpem por nada... Se prometerem cuidar bem dela, acho que a Lydia poderia ajudar vocês no comércio e até mesmo na proteção dessa área.

— Lydia? — indagou Daphne, chegando mais perto do parceiro.

Como os curandeiros daquela vila a haviam auxiliado, o tratamento dos feridos acabou sendo um trabalho bem rápido, afinal, a mesma só teve que se preocupar com os que possuíam machucados mais graves. Assim que o trabalho terminou, todos os lutadores foram levados para as suas residências para descansarem, e, assim que o chefe da vila estava agradecendo à Daphne e aos seus companheiros pela ajuda, o Nicholas chegou.

— É o nome dela — respondeu ele, com um sorrisinho no canto dos lábios. — Se fosse um homem, eu teria colocado Scott.

— Hã? — exprimiu Camille, aproximando-se de ambos. — Por que?

— Ah, isso é nome de lobisomem e coisas assim, não é?

— De onde você tirou isso, Idicholas?

— Sei lá, devo ter visto em algum lugar — deu de ombros.

Os moradores daquela vila, que até então ainda estavam um pouco receosos com a presença daquele bicho, acabaram ficando mais tranquilos quando a loba, ou melhor, a Lydia se aproximou deles, acomodou-se sobre o solo e abaixou um pouco a cabeça, como se estivesse pedindo perdão por tê-los atacado.

— Esse é um animal bem raro — comentou Thomas, que se aproximou do Nicholas juntamente com os seus outros companheiros. Graças ao seu comentário, o velho chefe da vila ergueu uma das sobrancelhas; mostrando-se interessado nas palavras do rapaz. — A família real desse reino costuma usá-los em batalhas, pois esse ser é o animal representante de Bry. Cada reino tem um animal que o simboliza, porém, infelizmente, ou esses animais estão extintos ou escondidos... Como essa loba não tem nenhum símbolo do reino tatuado nela, então a família real não pode toma-la de vocês e... Bem, eu os aconselho a não vende-la nem por um milhão de dytreais — revelou, e os aldeões arregalaram os olhos; surpresos com a raridade do animal que estava diante deles.

Ainda bem que não haviam conseguido mata-lo.

— Se não me engano, vocês estão atrás de máscaras e mantos, estou certo? — questionou o chefe daquele vilarejo, e todos rapidamente concordaram com a cabeça. — Como vocês nos ajudaram, agora iremos retribuir! — declarou, ao mesmo tempo em que fazia um sinal com a cabeça para algumas pessoas que estavam ao seu lado, e elas logo saíram dali para pegarem os objetos que a equipe X e os seus companheiros necessitavam.

Assim que o povo voltou, trouxeram elmos pretos que cobriam boa parte do rosto – deixando apenas os olhos e a boca de fora – e mantos com capuzes desse mesmo tom que iam até a altura do tornozelo. Se pusessem uma armadura, ficariam parecendo aqueles mesmos guerreiros que aparecem em filmes de televisão.

— Não somos uma vila guerreira à toa! — comentou o homem que havia levado o Nicholas até a floresta, ao ver o semblante surpreso dos mais novos. — Boa sorte no objetivo de vocês, pessoal.

Os mesmos assentiram com a cabeça, em agradecimento.

Assim que os elmos e os mantos foram entregues, a multidão de pessoas que estava aglomerada ali começou a se dissipar mais, e, quando isso aconteceu, o chefe da vila aproveitou a oportunidade para chegar mais perto do Thomas, que baixou o olhar ao perceber a aproximação do homem.

O menino estava tentando não manter contato visual com o ancião desde o início.

— Eu sei quem você é — sussurrou, fazendo com que o rapaz engolisse em seco. — Que bom que está bem e que voltou para cá. Ainda espero pelo dia em que estarás pronto para o propósito Bry.

— Eu não quero, eu não me identifico com esse reino!

O idoso sorriu.

— Você não se identifica com os que governam esse reino. Não culpe a terra pelos idiotas que a governam, tenho certeza de que você a ama tanto quanto eu e que deseja vê-la prosperar.

O Thomas ergueu o olhar para encarar o chefe da vila pela primeira vez desde a sua chegada, mas, ao ver a intensidade na qual o mais velho o encarava, o rapaz logo desviou o olhar outra vez e deu as costas para o homem.

— Tenho uma dívida com você — proclamou o guerreiro para o Nicholas, enquanto observava as crianças se divertirem com os filhotes da loba, que estava deitada recebendo a atenção dos adultos. — Obrigado.

— Você não roubou comida minha para ficar em dívida — respondeu, com um sorriso. — Mas quando vocês estiverem cheios de grana e com comida, não esqueçam de me chamar... A propósito, eu amo pudim.

O homem riu.

— Pode deixar... Hã, qual o seu nome?

— Nicholas Whit... Ou melhor, só Nicholas mesmo.

— Obrigado outra vez, guerreiro Nicholas — o rapaz sorriu perante o elogio. — E a você também, curandeira — prosseguiu, olhando para a Daphne, que deu uma risadinha e assentiu. — A todos! — concluiu, levando sua atenção aos demais, que sorriram.

— Voltem para nos visitar, prometo que seremos mais hospitaleiros! — declarou Yrene.

— Com certeza vou voltar! — afirmou Alephe, e isso fez com que a Daphne erguesse uma das sobrancelhas antes de encarar o mais novo, que ainda sorria para a pequena garota de pele amendoada, cabelos loiros e lisos que ficavam na altura do queixo e olhos amarelados bastante penetrantes.

— Adeus! — disse Thomas, sem ousar olhar para o chefe da vila quando deu as costas para seguir até os esquilos que já circulavam por aquele ambiente – afinal, agora, a Lydia não dava mais indício de que iria ataca-los, sendo assim, os animais voltaram a circular livremente.

Os aldeões ainda acenavam para os jovens quando eles subiram em seus bichos, e, assim que começaram a andar novamente rumo a capital, o Nicholas retirou alguns cristais de ópitys que havia pegado daquela vila de dentro do seu cinto.

— Ah, você pegou! — proferiu Daphne, ao mesmo tempo em que se inclinava um pouco para fazer com que o seu esquilo se aproximasse do macaco do seu companheiro. — Isso ia dar ótimos medicamentos!

— Nem vem! — exclamou, escondendo os cristais atrás de si. — Eu vou colocar eles dentro de uma CEM e usar como um ataque alucinante ou algo assim, isso deixa as pessoas doidonas!

— Ah, vamos, os medicamentos também serão uteis! — insistiu, enquanto se esticava para tentar alcançar os pequenos cristais esverdeados.

O garoto os afastou ainda mais, e não conteve um sorrisinho devido ao esforço que a sua parceira estava fazendo para chegar perto dos objetos e, consequentemente, de si.

— As minhas CEMs também serão úteis — rebateu. — Além disso, por que você não pegou um pouco pra voc...

— Ah!

Quando o esquilo de Daphne pousou sobre o galho, o leve impacto fez com que a mesma, que não se segurava direito, se desequilibrasse. Antes que ela pudesse cair, o Nicholas agarrou o braço da garota e a puxou para perto, fazendo com que a parte superior do corpo da mesma caísse sobre ele. Devido à proximidade de ambos, o rosto de Daphne corou de maneira instantânea enquanto os seus olhos esverdeados encaravam o penetrante tom mel que se destacava belamente na íris do companheiro.

— Tudo bem aí? — questionou Thomas, conseguindo disfarçar muito bem um sorrisinho que insistia em se formar no canto de seus lábios.

Os dois não haviam percebido que todos haviam parado de seguir em frente para ver se estava tudo ok com eles.

— S-Sim! — assegurou Daphne, ao mesmo tempo em que saía de perto do seu colega.

Assim que ela se segurou firmemente em seu esquilo, todos os animais voltaram a andar, e a garota fez questão de ficar encarando a paisagem que ficava do lado contrário aos de seus amigos, porque não queria revelar o seu rosto corado para ninguém.

— Ei...

— O que foi, Idicholas? — perguntou, sem se virar para observa-lo.

— Não vou dar mais que isso... — comentou, colocando os cristais de ópitys no colo dela, já que a mesma ainda não tinha dado o menor indício de que iria encara-lo. No entanto, ao sentir algo em suas pernas, o olhar dela seguiu até aquele local. — Não adianta insistir.

— Obrigada — murmurou ela, que ainda conseguiu observar, ainda que rapidamente, o atraente sorriso do rapaz quando o olhou pelo canto de seus olhos.

O resto do caminho foi um pouco longo, e, no fim, eles acabaram levando um certo tempo a mais para chegarem até a capital porque, no meio do percurso, ficaram tentando ver se conseguiam encontrar algum aliado – sem sucesso. O anoitecer já estava próximo quando cada um desceu do animal que os carregava para analisar a imponente fortaleza de pedras pretas com detalhes roxos brilhantes que já estava ao alcance de seus olhos. Com a noite chegando, as partes púrpuras daquela construção emitiam uma luz forte que só deixava aquela fortificação ainda mais extraordinária. Assim que atravessassem o mercado onde a classe alta costumava fazer compras e, em seguida, as belas mansões da alta sociedade, o enorme castelo de estilo medieval do reino Bry seria, enfim, alcançado.

E então, seria a hora de invadi-lo.

E aí gente, tudo bem?
Estou passando no final do capítulo pra lembrar vocês de deixarem uma estrela ☆ e um comentário dizendo o que vocês acharam ♡
Digam aí, acham que esse plano deles de tentarem salvar os amigos vai dar ruim ou vai dar muuuito ruim? KKKKKKKKK Bom, vamos torcer para geral ficar vivo, não é? :)
Bom, em relação a Lydia, eu vou deixar aqui em baixo a imagem que usei para pegar as características dela:

Esse desenho ficou lindo, não é? Eu achei no pinterest e era exatamente da mesma forma que eu gostaria que a Lydia fosse!
Por hoje foi isso :) Um grande abraço e até breve! 🖤

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