7 - Lego

"Errar não é imaturo, é humano. Persistir no erro não é rebeldia, é tolice!"



Paco estava completamente arrasado, não podia acreditar naquilo. Saiu do mar e viu a mãe a sua espera. Ângela abraçou o filho ignorando seu corpo molhando.

— Ela foi mesquinha, mãe! Simplesmente matou o meu filho.

— Meu amor, você não pode exigir um determinado comportamento das pessoas, você só precisa responder por você. A Vanessa é só uma menina, irresponsável, mas é uma menina.

— Eu sei, mãe! Mas eu não quero olhar na cara dela mais. Eu a amo, mas vou esquecê-la, você vai ver.

— Você não acha que ela precisa de você nessa hora, pra enxergar o erro que cometeu e não repeti-lo?

— Mãe, eu não sou pai dela. Ela vai aprender, com certeza, mas não serei eu quem vai ensinar. Não vou estar com ela quando fizer a próxima idiotice. — disse taxativo e pegou suas roupas dentro do carro.

Ângela entrou no veículo, sabia que Paco tinha razão, mas queria se prender à esperança de que ele era a melhor pessoa para sua irmã.

Laise se emocionou ao ver o desenho do marido feito pela neta. Fabí abraçou a mãe com força.

— Ele continua perto, mãe! E agora cuida também da minha filha.

— Sinto tanto a falta dele! — disse limpando o rosto.

— Você é bonita, devia ter seguido a vida! Meu pai nunca foi ciumento, gostaria de ver a senhora feliz.

— Eu nunca senti vontade, filha! — admitiu e admirou novamente o rosto de Pedro pintado pelas mãos da neta. — Posso ficar com isso?

— Claro!

— Eu vou indo, vou ficar com a Emily hoje, Fernando vai levar Ana Paula pra jantar fora.

— Tudo bem, dê abraço em todo mundo, não lhe levo porque estou sozinha.

Ângela chegou e viu Laise entrando num carro.

— Laise? O que houve? — indagou e viu Paco entrar na casa ignorando tudo ao seu redor.

— Ganhei um presente da Hope — avisou saindo do veículo —, olha só, que lindo! Minha neta é uma artista!

— Que lindo! — Admirou a pintura e encarou a sogra ao perceber seu semblante. — Você está bem? Parece triste.

— Só saudade!

Ângela a abraçou carinhosamente.

— Paco está bem?

— Problemas com a namorada!

Ângela viu Veronica chegando com Naldo e se despediu de Laise, que entrou no carro e foi para a casa do filho.

Veronica olhou nos olhos da patroa e largou a mão de Naldo, que cumprimentou:

— Boa noite, dona Ângela!

— Boa noite! Tudo bem, Veronica?

— Sim, dona Ângela! É... nós...

Fabí foi até o jardim, aproximou-se dos três e olhou nos olhos da esposa, que respirou profundamente.

— Boa noite! — desejou e passou por Fabí, que olhou para os dois e seguiu a médica.

— Oxe, Ângela, não me viu, não?

— Como não, Fabí?

— Olhe só, se você quiser afastar os dois, tudo bem, mas não demite ninguém, por favor.

— Tudo bem. Vou pagar pra ver, ok?

— Ok, agora venha cá, fale comigo direito. — chamou, puxando-a pela cintura e beijando sua boca. — Amo você, sua chata!

Ângela fez apenas uma careta e arrancou um sorriso de Fabí.

— Vamos fazer assim... — disse beijando a amada. — Se der problema, você dá na minha cara!

Ângela riu e escondeu o rosto no ombro da esposa, que mordeu o lábio inferior sorrindo.

— Oxente, você é muito indecente, mulher! Deixe os dois serem felizes um pouquinho, nós tivemos nossa exceção, lembra?

— Tudo bem! Eu te amo!

— Eu te amo mais. Paco passou direto pro quarto, o que houve?

— Vanessa abortou o filho deles!

— Ah, meu pai!

Hope surgiu correndo na escada e pulou no colo de Ângela.

— Meu Deus!

— E sujou a mãe toda! — Fabí disse sorrindo e tirou a menina do colo da loura.

No dia seguinte, Luísa acordou assustada, olhou para a fresta da janela e viu a luz do sol.

— Que droga!

Saiu da cama, correu até a sala, onde sua bolsa estava, e pegou o celular. Havia 36 ligações da avó.

— Oi, vó...

— Luísa, minha filha, eu já estava quase ficando louca, você nunca fez isso... — disse com voz de choro.

— Desculpa, vó. Eu não pude usar o celular e esqueci de avisar que não voltaria pra casa. A senhora está bem?

— Ah, minha filha, agora sim, mas já passei mal duas vezes. Você não dormiu nada, né?

— Dormi, sim, vó. Vou direto para a agência, preciso assinar uma papelada e vou em casa. Até daqui a pouco. — avisou e desligou.

Respirou fundo e fechou os olhos. Foi tomar banho. Aquela era a primeira vez que dormia fora de casa e não devia ter se deixado levar pelo cansaço.

Imersa em seus pensamentos, não notou quando Melinda entrou no banheiro. Ouviu o box abrir e ao se virar viu a loura entra embaixo do chuveiro, já nua, e beijá-la.

— Acho que estou sonhando! Você dormiu comigo. Acordei no seu colo! — disse abraçada a ela.

— É, mas eu preciso ir, preciso passar na agência, vou procurar estágio e não vou estar disponível cem por cento lá. Preciso mudar as coisas.

— Estágio?

— Ahan! — respondeu já beijando a jornalista, que não deixou que a jovem saísse de casa sem repetir o que fizeram na noite anterior.

— Eu te amo!

— Também te amo, Melinda! Mas infelizmente só podemos viver isso aqui dentro, né? E assim, quando o seu noivo viaja. — saiu do banheiro.

— Você fala isso como se pudesse viver isso comigo abertamente, né, Luísa?

— Melinda, eu nunca falei nada com a minha avó sobre você porque não vale a pena.

— Você acabou de dizer que me ama, Luísa, como não valho a pena?

— Caio, faxina... — disse contando nos dedos. — Jacarepaguá, pobreza... acho melhor parar, né? — disse e se vestiu.

— Você nunca se mostrou completamente livre, Luísa.

— O que você quer que eu faça?

Melinda não respondeu, apenas respirou fundo enquanto secava o cabelo com a toalha. Luísa sorriu frustrada.

— Pois é... foi o que eu pensei. Tchau!

Pegou sua bolsa e saiu. Melinda se arrumou e foi procurar seu celular enquanto preparava um café na cafeteira. Viu as chamadas da delegacia e retornou.

— Bom dia, me ligaram desse número.

— Aqui é da delegacia, minha senhora!

— O que houve?

— Qual é o nome da senhora? Preciso verificar, pois o plantão da noite acabou há quarenta minutos...

— Melinda Herchcovitch.

— Ah, sim. Encontrei aqui.

Melinda franziu o cenho, prendeu a respiração e desligou.

— Que droga! — xingou procurando o número do irmão. — Ah, eu vou matar você, Léo! — disse por entre os dentes quando a chamada caiu na caixa de mensagens.

Engoliu uma xícara de café e saiu quase correndo. No carro, ligou para o pai, um coronel aposentado.

— Bom dia, pai! O senhor sabe do Léo?

— Aquele irresponsável foi preso.

— O quê?

— Isso mesmo, só espero que você não tenha nada a ver com isso ou vai se ver comigo.

— O que eu teria, pai? Poxa, só fiquei preocupada.

— Preocupada com o quê? Já andei sabendo que você anda dando dinheiro pra ele, então vá você tirá-lo da cadeia porque eu não vou.

— Tudo bem. Obrigada. — Desligou furiosa e ligou para Antônio. — Antônio, liga para o doutor Marcelo, o Léo foi preso.

— O que houve?

— Só chama o doutor Marcelo, por favor, estou chegando aí e conversamos. — Desligou e foi para a redação da revista.

Recusou uma chamada da delegacia e depois retornou, desligando antes de ser atendida. Precisava ganhar tempo, precisava conversar com o advogado. Fez a mesma coisa de novo e depois ligou para o delegado, amigo seu.

— Melinda Herchcovitch!

— Doutor Silas, o meu irmão está preso, o que houve?

— O que houve foi que recebi ordens para investigar e prender todos os envolvidos naquela sua brincadeirinha.

— Ordens de quem? Solte o meu irmão. Ele é um fraco, se perguntarem, fala sobre mim.

— Melinda, segura a onda. Foi o governador quem ligou pessoalmente, não vão sossegar enquanto não prenderem todos os envolvidos naquele espancamento. Aconselho você a arrumar logo um bom advogado e acabar com isso.

— Você é louco!

Ângela tomava café da manhã com a família quando Joel enviou o e-mail com as informações completas de Luísa. O celular estava sobre a mesa, a médica desbloqueou e leu o conteúdo do arquivo.

— O quê? — Largou a xícara e pegou o aparelho para olhar mais de perto.

— Oxe, largue esse celular!

— Luísa Mendonça é neta da Neusa!

— Ela é namorada da tia Melinda! — Hope disse tomando o leite com achocolatado.

Fabí quase engasgou. Paco olhou para as três respectivamente.

— O que eu perdi?

— Que história é essa, Hope?

— Amor, você não pode ficar contando essas coisas... — Ângela disse e olhou para Fabí.

— Hope, vamos escovar os dentes, eu levo você pra escola hoje... — chamou Paco.

— Obrigada, filho! — Ângela agradeceu e olhou para Fabí.

— Ok, pode começar a falar. O que está aprontando?

— Eu pedi um dossiê da Melinda e...

— Você o quê? Oxente, mas parece uma mafiosa mesmo! Por que isso?

— Porque ninguém machuca quem eu amo e fica impune, Fabí! Só por isso. E se ela não for presa por lesão corporal vai carregar no mínimo um processo nas costas.

— O que a neta de Neusa tem a ver com isso?

— A Hope respondeu!

— Você vai...?

— Não, amor, por favor, jamais faria isso! É uma boa menina! Esforçada, já tenho planos pra ela. — disse sorrindo.

— Que planos, Ângela?

Ângela apenas sorriu.

Hope entrou na sala de aula e foi empurrada por João.

— Você não tem que estudar mais aqui, garota!

Elijah colocou seus óculos sobre a mesa e foi para cima do colega, que se defendeu. Num abraço agressivo, João acertou o rosto do menino e mordeu seu ombro.

A professora entrou correndo e separou os dois.

— Me larga, seu idiota! — João gritou quando foi segurado por um colega.

— João, venha comigo!

— Não vou. A Hope quem começou, ela quem tem que ir.

— Os três vão sair da sala agora.

— Ele me empurrou sem eu fazer nada, professora! — disse e notou que Elijah segurava o próprio ombro.

— Venham, os três! — acenou para a ajudante e saiu da sala.

Hope pegou sua mochila e o celular, ligou para a mãe e teve o aparelho tirado de suas mãos pelo colega revoltado.

— O que é isso, João?

— Ela disse que sou assassino e vou matar ela!

Hope puxou Elijah, que tinha lágrimas nos olhos, puxou a manga do uniforme e expôs a marca vermelha dos dentes de João, que empurrou a professora e correu para o pátio do colégio.

— Venham, vou levar você para a enfermaria. Hope, volte para a sala.

— Vou ficar com o Elijah!

— Para a sala agora, Hope! — ordenou pausadamente olhando nos olhos da menina.

— Vou ficar com o Elijah! — repetiu categórica.

A professora levou os dois para uma sala onde uma jovem usando jaleco branco os recebeu.

— Bom dia, tão cedo e vocês dois já aqui de novo! — disse e se agachou, viu a boca de Elijah sangrando. — E você, Hope, onde tem dodói?

— Não me machuquei dessa vez, Sandra.

Sandra entrou numa sala para buscar medicamentos e curativos. Hope passou uma mão na outra e se concentrou.

— Fica quietinho, já, já para de doer, tá bom? — avisou e tocou no ombro do garoto por alguns segundos.

— Obrigado.

— Vamos ver esse dodói!

A diretora chegou à sala:

— Hope, sua mãe veio buscar você! Por causa da sua rebeldia, você vai para outra escola.

— Minha o quê?

— Rebeldia, você briga muito. Venha...

A menina seguiu a diretora e correu ao ver Ângela.

— O que houve, meu amor?

— João me empurrou de novo e bateu no Elijah. Não falei nada com ele, mamãe, eu juro. — explicou preocupada.

— A gente conversa depois Tatiane!

— Ângela, podemos conversar agora? Ninguém sabe realmente o que houve na sala...

— Por que ninguém sabe realmente o que houve? Me disseram que havia duas professoras na sala. Um garoto maior do que ela a empurra e ninguém sabe realmente o que houve?

Elijah saiu da enfermaria e foi, junto com Sandra, até onde as três estavam.

— O João empurrou a Hope na hora que ela entrou na sala, ela nem viu ele, eu fui bater nele porque ele é covarde.

— Me desculpe, Ângela! O João será suspenso, mas peço que deixe a Hope assistir aula. Vou conversar com os pais do João e ver o que está acontecendo.

— Não posso sair dessa escola, mamãe!

— Tudo bem, filha, mas se houver outro problema vamos para outra escola, ok?

— Ok.

— Vá para a sala, vou conversar com a diretora! Comporte-se! — Deu um beijo na filha e seguiu Tatiane.

João botou fogo na sala da diretora, que o deixou lá esperando quando viu Ângela chegar.                                        


Música:

Lego House - Ed Sheeran


______________________________

linierfarias Feliz aniversário, neguinha! 

Que seus desejos se realizem na mesma velocidade com que você os sonha. Que seu futuro seja construído como uma casa de lego, da forma que você quiser montar e desmontar quando não se sentir mais à vontade, porque a vida é pra ser assim, livre e simples. Um encaixe perfeito entre risos de conquistas e lágrimas de felicidade. Você merece tudo de bom. 

Muito obrigada!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top