6 - Sincronia

"Você toca as cordas do meu coração como um maestro!"



Leonardo arrumou a postura na cadeira e esperou o delegado falar.

— Não vou poder fazer nada por você, Léo.

— Como assim? — indagou preocupado.

— Sua irmã mexeu com gente poderosa, já recebi ordens para não arquivar o caso, ordens de superiores.

— Que merda! Ela me pediu para arrumar os caras e não participar, mas estou precisando de grana e fui pego.

— Vocês levaram uma bela surra de uma só mulher, só isso já derruba um homem de todas as formas. Mas enfim, você precisa ficar aqui. Caso queira 'entregar' sua irmã, mais tarde conversamos. Pode usar o telefone se quiser.

— O meu pai vai me matar, com certeza! — disse pegando o telefone.

Leonardo tinha vinte e três anos de idade, era envolvido com tráfico de drogas, usuário desde os quinze. Fez tratamento, mas ao não ter mais o apoio do pai, passou a vender para manter o vício.

Melinda estava completamente embevecida pela sensação de saborear o gosto de Luísa. Seu foco absoluto naquele instante era dar prazer à morena, o que consequentemente lhe proporcionava também prazer imenso. Estava tão extasiada que se esquecera do resto do mundo, tanto que sequer notou as várias chamadas em seu celular, que estava jogado sobre uma bancada na sala.

Era sempre assim quando estava com Luísa... aquela sensação de plenitude, de querer mais. Jamais sentira aquilo com ninguém, muito menos com Caio, mas mesmo assim, ela não percebia... ou simplesmente não se permitia perceber — devido ao egocentrismo — que amava a faxineira e que um minuto longe dela era a maior tortura de sua vida.

Completamente entregue ao prazer que a jornalista lhe proporcionava, Luísa não conseguia controlar os impulsos involuntários de seu corpo. Segurava os cabelos louros com uma mão enquanto a outra apertava o lençol da cama. Suas reações incentivavam Melinda a explorá-la ainda com mais vontade.

Mergulhada no sexo da morena, Melinda intensificou a carícia com a boca, ao mesmo tempo em que a penetrou suavemente, recebendo em troca um gemido intenso e delicioso de se ouvir. Com a outra mão, apertou as coxas da amada, como se a segurasse para que ela pudesse suportar o que viria a seguir. Sincronizando boca e mão, iniciou movimentos cadenciados que levaram Luísa ao estágio final de seu êxtase.

Luísa gemia e respirava descompassadamente, aproveitando o prazer que lhe fora proporcionado e que se esvaía lentamente.

Melinda sorriu satisfeita ao vê-la daquele jeito, tão linda, o rosto exibindo aquele sorriso de satisfação. Escalou aquele corpo divino distribuindo beijos suaves pelo caminho até chegar em sua boca, que se entreabriu para receber a dela. Beijaram-se apaixonadamente, primeiro em um ritmo lento, mas que logo foi ganhando intensidade novamente.

A morena enroscou as pernas no corpo da jornalista e girou, ficando por cima. Afastou os lábios para encará-la brevemente e viu as chamas naquele olhar escuro, que a devorava, mostrando que queria mais. Voltou a beijá-la com sofreguidão, arrancando gemidos involuntários de prazer. Desceu a boca pelo pescoço e encaixou o sexo no dela.

Ao sentir aquele contato, Melinda revirou os olhos e a abraçou forte. Rebolaram uma contra a outra, os sexos pulsando juntos até que chegassem mais uma vez ao ápice do prazer.

Luísa se deixou largar sobre o corpo da loura, que enquanto tentava recuperar o fôlego, acariciava suas costas suadas. Beijaram-se preguiçosamente.

— Amo teu rosto pós-amor, sabia? Fica levemente vermelho, suado, te deixa mais linda ainda! — disse olhando nos olhos da amada e acariciando seu rosto com o polegar.

— Te amo! — Melinda declarou e a beijou apaixonada.

E adormeceram extasiadas.

Ângela estava terminando uma reunião com os administradores da rede Rei Plaza quando chegou o e-mail de Toledo em seu celular.

— Você pode notar que essa baixa temporada diminuiu... — parou de falar ao ver Ângela sorrindo.

— Ângela? — chamou a secretária.

— Oi, desculpa, só preciso dos relatórios, eu já entendi essa parte, amanhã vejo com o pessoal do marketing o que faremos para a nova temporada. Preciso saber sobre as novas filiais do exterior.

— Os projetos estão bem adiantados, e a inauguração da de Gran Canaria está prevista para daqui três meses.

— Ótimo, quero uma relação dos melhores estagiários!

— Estagiários?

— Sim, quero estar ciente dos melhores. Pode abrir vagas, vou levar uma equipe daqui para Gran Canaria.

— Mas, Ângela, temos uma ótima equipe de profissionais e...

— Eu sei, Roberto! Tenho consciência do que é preciso, mas preciso de sangue novo. — Apertou os olhos com os dedos, demonstrando cansaço. — Enfim, treinaremos uma equipe aqui e os melhores irão para as filiais do exterior. Haverá promoções, mas haverá ocupação de cargos importantes por novos funcionários.

— Acho um tanto arriscado, Ângela! — disse Rita, administradora da filial de Búzios.

— Eu quero conversar com cada um que for se sobressaindo.

— Será uma espécie de concurso?

— Não diria concurso, mas será parecido, pois os melhores vão para o exterior, já contratados. Rita, se você puder ficar à frente disso, agradeço. Apresente um projeto amanhã, as três, ok?

— Ok. — Rita concordou e anotou o pedido num tablet.

Ângela se levantou, pegou suas coisas e olhou para todos.

— Obrigada. Boa noite. Com licença.

Saiu ligando para Toledo, que atendeu na primeira chamada.

— Boa noite, doutora Ângela!

— Boa noite, Toledo! Você tem alguma informação sobre essa Luísa? Onde trabalha, só estudar não me ajudou muito.

— Envio completo amanhã pelo e-mail. Mas ela mora com a avó em Jacarepaguá, faz faxina para pagar a faculdade.

— Obrigada, Toledo. Espero pelo seu e-mail. Boa noite! — despediu-se e entrou em seu carro.

Seu celular tocou logo que ela saiu da garagem. atendeu pelo bluetooth do carro.

— Oi, amor!

— Oi, você já está vindo?

— O que houve?

— Saudade! — disse e sorriu. — Preciso que traga o Paco da casa do seu pai, parece que houve um problema lá, ele saiu sem carro, e Madruga levou Veronica pra jantar fora.

— Por que foram jantar fora?

— Ah, amor, até quem não mora aqui sabe que eles estão em love, né? — respondeu e notou o silêncio da esposa. — Eu incentivei o Naldo a chamá-la pra sair.

Ângela respirou fundo, foi ouvida por Fabí.

— Fabí, eu não quero esse relacionamento. Gosto dos dois e não aceito relacionamento entre funcionários.

— Oxe, Ângela, pare com isso. São de confiança, estão conosco há anos. Foi algo natural, não acho justo que sejamos prejudicados por causa de regras.

— Não são regras, Fabiana. Eu conheço muito bem o ser humano, nada profissional quando envolve emoção.

— Se eu não contasse, você não saberia!

— Eu saberia quando desse problema, Fabí! — Entrou na rua do condomínio onde o pai morava. — Conversamos quando eu chegar aí. Beijo.

Fabí olhou para o celular e franziu as sobrancelhas. Estava com Felipe no colo, enquanto Hope pintava no chão.

— Sua mãe é muito chata, muito implacável. — disse para o menino, que sorriu. — Você me entende, né? — disse provocando o riso dele.

— Mamãe, sabia que o Felipe não precisou de mágica hoje?

— Como?

— Quando você fica com ele, ele não sente tanta dor. Ele sente mais quando fica sozinho.

— Não me acostumo nunca com essa tua inteligência de gente grande.

— Eu sou grande!

— Enorme.

Sorrindo, a menina se levantou e mostrou o desenho. Fabí engoliu saliva com os olhos marejados.

— Quem é esse, filha?

— Meu amigo! — respondeu indiferente e abriu outro pote de tinta.

— Como assim, Hope? — perguntou novamente e colocou Felipe no carrinho.

— Meu amigo, mamãe! Não devo falar com estranhos, mas ele é bonzinho. O João me empurrou hoje do brinquedo e ele me segurou.

Em lágrimas, Fabí pegou o celular e ligou para a mãe, abraçou a filha.

— Oi, mãe, você pode vir aqui em casa?

— Claro, filha. O que houve?

— Preciso que veja uma coisa!

Fabí respirou fundo e sorrindo, abraçou a filha novamente.

— Eu amo tanto você, filha! Amanhã, vou à escola. Esse João não vai mais tocar em você.

— Sou forte, mamãe! Ele não vai mais fazer nada.

— Você que pensa, amor!

Ângela entrou na casa do pai e foi recebida por Marilia, que estava com um semblante fechado.

— Oi, Ângela!

— Oi, Marilia, o que houve? — disse beijando-a no rosto.

Clovis saiu da biblioteca e acenou para a filha, que o cumprimentou e entrou no cômodo.

Paco estava sentado numa poltrona com a cabeça apoiada nas mãos.

— Filho?

Ele a abraçou em lágrimas.

— Meu filho, o que aconteceu?

— Me tira daqui, mãe! Por favor!

Ângela apenas saiu segurando a mão do filho, que soluçava.

— Filha, ele estava fora de si!

— Depois conversamos, papai! — disse séria, e saiu daquela casa.

Clovis passou as mãos no rosto. Marilia chegou perto dele.

— Calma, ela não vai entender!

— Eu conheço a minha filha, Marilia.

Vanessa desceu a escada e foi à cozinha, não falou com os pais, na volta tinha um copo d'água na mão.

— Estou voltando amanhã para os Estados Unidos. — avisou e subiu para o quarto.

Clovis sentia um imenso nó na garganta, queria chorar, mas estava decepcionado demais.

Ângela parou na praia e esperou o filho se acalmar. Paco olhou para o mar e saiu do carro. A médica deixou o veículo quando viu o filho tirar a roupa.

Havia algumas pessoas ali, nos quiosques e no calçadão, mas o jovem correu para a água usando apenas cueca.

Chegou ao hospital cedo naquele dia, Vanessa estava de saída. Clovis foi ao quarto e saiu junto com a filha e o músico.

Calada, Vanessa permaneceu assim até chegar em casa, mas em momento algum soltou a mão de Paco, que foi com ela no banco detrás do carro de Clovis, que também estava em silêncio.

A estudante levou o namorado para o quarto, e Clovis foi descansar, passara a noite no hospital.

— Eu vou ter que voltar pra América. Preciso concluir os estudos. — disse no colo do músico.

— Quando pretende ir? — perguntou num sussurro.

— Logo, essa semana ainda. Acho que sábado. Não posso mais faltar aula.

— Vou morrer de saudade de você! Mas vou te visitar mês que vem...

— Eu te amo! — disse olhando nos olhos dele. — Não se esquece disso.

— Nem você! Também te amo. Eu sei que na hora certa o nosso filho vai voltar.

— É, na hora certa.

Conversaram, tocaram violão, tiveram um dia divertido. Vanessa já estava melhor. Desceram para jantar.

— Vocês conversaram, filha? — Clovis perguntou quando Paco pediu licença para atender celular.

— Sim. — disse sem olhar para o pai.

— Vanessa?

— Me deixa em paz, pai! Que droga!

— Fala direito comigo, menina, sou seu pai! Não te dei essa educação, não.

— Você não me deu educação nenhuma, não venha com o seu falso moralismo pra cima de mim.

— Vanessa! — Marilia censurou a filha. — Chega!

— Mãe, ele está me pressionando! Não pode me cobrar nada, sempre foi ausente. Desde que eu era criança lá na favela. Viemos pra cá e continuamos sozinhas.

— Filha, por favor!

— Pai, esse seus olhos tristes não me comovem. Você não vai me induzir a fazer o que eu não quero.

— Só perguntei se você falou com o seu namorado! Deixa de ser insolente, menina!

Paco voltou à sala de cenho franzido.

— O que houve, gente?

— Nada... — avisou e saiu.

Marilia olhou para a filha e seguiu o marido. Vanessa não encarou Paco, que ficou onde estava esperando que ela dissesse o que tinha havido ali.

— Amor!

Ela saiu correndo e subiu para o quarto. Paco bateu à porta e entrou.

Sentou na cama e esperou a namorada sair do banheiro. Vanessa saiu com os olhos vermelhos.

— Ei, calma! O seu pai não quer que volte para os Estados Unidos, é isso?

— Não. Por favor, me perdoa, amor!

Ele afastou-se para observá-la e notou suas lágrimas.

— O que aconteceu, Vanessa?

Ela apenas sentou chorando na cama. Paco deduziu o que estava acontecendo.

— Não! — disse em tom baixo.

— Amor! — chamou e tentou tocar no rosto dele.

— Não! — aumentou o tom de voz e se esquivou das mãos dela. — Não me toca! — gritou e ao se afastar esbarrou em uma estante de vidro.

Naquele momento Clovis entrou no quarto.

— Venha comigo, Paco! — Tentou tirar o jovem dali e ele o impediu de segurá-lo.

— Me larga! Fala comigo, Vanessa! Ou vou embora e nunca mais olho na sua cara.

— Venha, Paco! — chamou novamente sem sucesso e saiu.

— Fala, caramba! — gritou novamente.

— Eu não queria filho, Paco! — respondeu gritando. — Nunca quis. Foi um erro, você sabia.

— Se não fosse o seu pai, eu ficaria sem saber disso, né? Eu sou um otário, Vanessa! Aliás, eu fui um otário. Nunca mais na sua vida você terá a chance de me fazer de idiota de novo. Você mentiu, foi mesquinha.

— É a minha vida, Paco!

— Era a nossa vida! A decisão foi sua de não ter o filho, mas a decepção de você ter escondido algo tão importante é toda minha. Eu vou lidar com isso, sozinho.

— Por favor, Paco! Eu fiz isso por nós...

— Cala a boca, garota!

O segurança entrou e tirou Paco do quarto. Marilia ligou para Fabí.

— Fabí, você pode vir buscar o Paco? Ele está nervoso e não acho que seja interessante mandar embora sozinho.

— Oxe, o que houve, Marilia?

— Brigou com Vanessa!

— Tudo bem, vou ver onde Ângela está. Obrigada!

O segurança colocou Paco dentro da biblioteca, e Clovis fechou a porta.

— Filho!

— Ela matou o meu filho, vô! — disse em lágrimas.                          



Música:

Grade 8 - Ed Sheeran

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