4 - Maldade

  "A maldade bebe a maior parte do veneno que produz!" 



Os três homens chutaram o abdome e rosto de Fabí. No início, ela sentia os chutes, mas após os vários golpes, tudo ficou dormente.

Viu, com o olhar embaçado, os bandidos em uma briga longe dela. Tentou se levantar, mas o corpo não respondeu.

Sentiu-se tirada do chão.

Hope estava na escola aos prantos. Após tentar, sem sucesso, contatar as mães da menina, pois Ângela estava em cirurgia e Fabí impossibilitada, devido ao ataque que sofrera, a professora chamou Caio.

— Ela está assim há um tempo, Caio. — avisou a professora.

O arquiteto estava com a filha soluçando no colo.

— Quero a mamãe! — disse rouca de chorar.

— Obrigado! Vou falar com as mães dela, fique tranquila. — disse e saiu.

Colocou a menina, coçando o olho e ainda soluçando, na cadeirinha do carro.

— Calma, filha!

— Quero a mamãe, papai. — pediu fragilizada.

— Vou levar você até elas, fique calma, está bem? — disse tentando acalmar a filha, que chorava.

Depois de tentar falar com Ângela e Fabí, tentou o celular de Paco, que estava na faculdade, mas atendeu.

— Fabí sempre atende a escola, não entendi por que não atendeu. A Hope está descontrolada.

— Ah, meu Deus! Passa aqui, estou sem carro. Posso acalmá-la e podemos ir ao hospital.

Caio buscou Paco, que pegou a irmã no colo. Depois de um abraço carinhoso e silencioso, a menina se acalmou.

— Mamãe está machucada, quero cuidar dela.

— Vamos falar com ela. Fica tranquila, está bem?

Caio se dirigiu ao Bueno Sanchez. Foram recebidos por Ana Paula, que estava na emergência.

— Tia, minha mãe está podendo nos receber? Ela não atende telefone.

— Fabí deu entrada há pouco tempo, ela foi espancada no estacionamento do Violão. A polícia está aqui esperando que ela acorde.

— Ah, meu Deus! Como foi isso? Foi a tia Denise que a trouxe pra cá? — Paco perguntou, preocupado.

— Foi uma colega advogada. E avisou também que aplicaram alguma coisa nela. Acho que vai precisar do coquetel antirretroviral. A Denise ainda vai depor. A Ângela está em cirurgia, transplante, vai demorar ainda.

— Como ela está? Hope está desesperada. O Caio foi à escola porque ela chorava descontrolada.

— Vem comigo, ela está sendo examinada. — avisou e levou o sobrinho.

Paco viu a mãe na maca, toda machucada, hematomas no abdome e rosto.

Para não deixar a filha sozinha, Caio ficou no hospital.

Após um tempo, Paco voltou.

— Vamos para casa, Sabiá. Você precisa de um banho e comida.

— Quero ver a mamãe!

— Prometo que voltamos daqui a pouco.

Ela tentou protestar, mas foi vencida pelo irmão. Caio levou os dois para casa e esperou por notícias lá.

O celular do arquiteto não parava de tocar.

— Está tudo bem, tio?

— Sim. Eu terminei com a Melinda e ela não para de ligar.

— Achei que iam casar...

— Íamos, mas ela é infantil demais.

Fabí acordou quase dez da noite, abriu os olhos devagar e viu Ângela de um lado e o filho do outro.

— Amor! — chamou num sussurro e tocou na mão da esposa.

— Oi, como se sente? — perguntou e beijou sua mão.

— Zonza.

— Você se lembra do que houve?

— Embaçado, mas lembro. Cadê Hope?

— Dormiu. Avisei à polícia que você só acordaria amanhã, só assim para irem embora.

— Amor, eu fui ao escritório de Melinda, fiquei virada no cão e fui lá. Não posso acusar sem provas, mas acho que isso foi coisa dela.

— Isso é muito grave, Fabí! Vou botar essa mulher na cadeia. — disse nervosa.

— Se acalme! — pediu e fechou os olhos com força.

— Descansa. Vou mandar o Paco para casa e ficar com você aqui.

— Amor, e Felipe?

— Está aqui, vai precisar ficar até amanhã, convulsionou mais cedo.

— Oh, meu pequeno!

Melinda não aguentou e foi até Jacarepaguá procurar Luísa. Foi recebida por Neusa, avó da jovem.

— Ela está dormindo. Você é quem?

— Sou patroa dela. Desculpe a hora, mas ela formava uma equipe de atendimento num buffet meu e estou precisando falar com ela. — mentiu e notou que a mulher não acreditou naquilo.

— Ela tomou uns remédios e dormiu. Avisou na agência, avisou em todo lugar que não iria trabalhar hoje, minha senhora.

Melinda respirou fundo, impaciente. Só queria ver Luísa, mas passar por aquela mulher não seria fácil.

— Eu só preciso falar com ela, por dois minutos.

— Eu já disse que ela está dormindo.

A jornalista saiu frustrada, sem dizer mais nada. Luísa não atendia, estava com o celular no modo silencioso.

Neusa sentou no sofá ficou olhando para a TV, mas não conseguiu prestar atenção na programação. Apertou os olhos com os dedos e pegou seu terço ao lado do sofá.

Creio em Deus-Pai, todo poderoso, criador do céu e da terra e em Jesus Cristo seu único filho Nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo... — sussurrou agarrada ao terço, com as duas mãos juntas, apoiando a testa nas pontas dos dedos.

Neusa notou o comportamento diferente da neta quando ela ainda estava no ensino médio, quando foi morar com ela, depois do desencarne de sua mãe.

— Luísa não tem namorado, Neusa? — perguntou uma vizinha, na cozinha de sua casa.

— Ela estuda muito, quer se formar logo.

— Estranho, essa idade é de namorar, estuda, mas sempre tem os namoradinhos.

— Luísa é meu orgulho, vai estudar, se formar, não quer saber de namorado.

— Será que não é sapatão?

Neusa explodiu, bateu um copo na mesa, levantou-se furiosa e expulsou a vizinha de sua casa.

— Saia já da minha casa, sua pervertida. Minha neta não é essa coisa aí, não.

— Como é que você sabe, Neusa? Ela nunca apareceu aqui com homem, não traz mulher porque você é assim, louca. — provocou.

— Sai daqui! — gritou e empurrou a mulher para fora.

A mulher não aceitava nem insinuações, nunca questionou a neta. Luísa sempre deixou claro que queria se formar.

A jovem era focada nos objetivos, mas demonstrou fraqueza para a avó ao chegar em casa chorando.

— Só não fui tão bem numa matéria, mas vou recuperar. Só estou triste porque eu precisava passar. — disse para tranquilizar a avó, que ficou preocupada.

Naquele dia, ela viu Caio pela primeira vez com Melinda, que a tratou como a faxineira que era, na frente do arquiteto, que foi mais gentil que a namorada.

— Nunca mais na sua vida você vai encostar um dedo em mim, Melinda. — disse em lágrimas, quando ficou sozinha com a jornalista na cozinha.

— Do que você está falando, menina?

— Menina não, eu tenho nome.

— Calma! Você está com ciúme do Caio, amor? — perguntou sorrindo tentando brincar com a situação.

— Não, Melinda! Eu estou vendo onde estou. Só isso. — finalizou e desviou do carinho que a loura tentou fazer em seu rosto.

— Por favor, Luísa, para com isso. Nossa relação independe de qualquer coisa. Você sabe que eu te amo, não sabe?

— Não. Desculpa, eu explodi sem razão.

— Que bom que entendeu! Não quero você de biquinho pra mim, a menos que seja pra me beijar. — disse e tentou beijar a jovem, que se esquivou de novo.

— Você não entendeu ainda, né? Eu me desculpei por ter achado que tínhamos, de fato, alguma coisa, mas é tudo jogo seu. Fica com seu bom partido. Estou fora disso.

— Não acredito mesmo, você está com ciúme. Amor, é fofinho isso, mas não confunda as coisas. O que temos é uma coisa o que tenho com Caio é outra, bem diferente.

— Eu sei disso, entendi agora. Ele é o oficial, quem você vai apresentar para o mundo.

— Isso.

— Eu vou indo.

— Espera. Para! Ele não vai dormir aqui, relaxa.

Luísa meneou a cabeça negativamente e olhou em volta, pegou sua bolsa e saiu batendo a porta dos fundos.

Tentou conter as lágrimas de todas as formas, mas foi em vão, foi mais forte que ela. Seguiu direto para casa.

Manteve-se longe de Melinda, evitando encontrá-la por trinta dias, até que a loura a esperou em casa e as duas conversaram. Apaixonada, Luísa acabou cedendo às explicações da patroa.

Meu foco é meu curso. Depois disso, vou me afastar dela pra sempre, já que nunca vai ficar só comigo. — prometeu a si mesma no espelho do banheiro.

Amava a patroa, mas sabia que não podia sucumbir àquele sentimento.

Em outro momento, teria ido ficar com Melinda, mesmo se recuperando da extração do siso, mas queria ficar longe dela. Faltavam apenas dois períodos para terminar o curso, precisava com urgência de um estágio e não ficaria na aba de Melinda e seus caprichos.

No dia seguinte, Fabí recebeu liberação médica e foi levada para casa por Ângela. Pediu para falar com o delegado que estava cuidando de seu caso.

— Tem certeza? Não prefere descansar um pouco?

— Preciso, amor. Eu lembro bem do rosto de um deles, e eles precisam saber disso.

E assim foi feito, Fabí deu seu depoimento e descreveu o agressor, que foi revelado por ela.

— Você tem certeza? Afinal foi espancada e perdeu a consciência.

— Eu me lembro com detalhes do rosto do bandido que matou o meu pai e isso tem mais de vinte anos. — gabou-se melancólica, olhando nos olhos do homem.

O retrato falado chegou para o delegado e ele o analisou por uns instantes.

— Doutor, com licença, as imagens do estacionamento chegaram.

— Ah, sim, obrigado. A dona Fabiana está dando sua versão no ocorrido.

Fabí respirou fundo e sentiu a mão de Ângela apertar a sua, para que se acalmasse.

Quando o policial entregou o pendrive com as imagens e saiu, Fabí aproximou o rosto na direção do delegado e o encarou.

— Eu estou contando a minha versão? Eu sou a vítima dessa porcaria, estou contanto o que houve de fato, não é uma versão de uma coisa com vários ângulos, não.

— Acalme-se, dona Fabiana, nós vamos analisar as imagens.

— É doutora Fabiana para o senhor! — Levantou-se e saiu, levando Ângela.

O delegado bufou e conectou o dispositivo no computador. O rosto do agressor que Fabí descrevera aparecia nitidamente.

O homem analisava as imagens e franzia o cenho. Chamou o policial, que logo entrou na sala.

— Você viu isso?

— Vi, sim, doutor.

— Essas mulheres estão aprendendo isso aonde?

Ficou impressionado, Bia derrubou os três homens usando kung fu. Colocou Fabí dentro do carro e saiu dali. Os homens saíram do local com dificuldade e entraram na van branca, antes que chegasse mais alguém no estacionamento.

— O que é isso? — disse e pegou o desenho.

— A descrição que a 'doutora' Fabiana deu de um deles.

— Mas esse é o... — cortou-se e olhou para o delegado.

— Esse mesmo. Preciso comparar os depoimentos das duas. — pegou os depoimentos e leu: — Olha só, a Beatriz Maldonado menciona Melinda Herchcovitch. Já a Fabiana não falou nada. O que considerar?

— Não há o que considerar, né, doutor? São depoimentos de duas pessoas, precisam ser distintos.

Fabí estava entrando em casa quando seu celular tocou, era Bia.

— Está melhor? Me avisaram que você esteve na delegacia e que saiu putaça de lá. O que houve?

— Criatura, você soube até disso?

— Faço muitos contatos nesses lugares. No meu depoimento, eu mencionei a Melinda, por causa do ocorrido com a Hope. Meu contato está dizendo que estão querendo abafar o caso pela fama dela, revista poderosa.

— Ah, mas não vão abafar mesmo.

— Não deixa. Vamos até o fim do mundo com isso, aquela lá acha que é dona do mundo porque tem um veículo forte para derrubar até a polícia.

— Eu derrubo aquele prédio antes. — disse sorrindo. — Obrigada, minha linda! Vou ver o que fazer aqui e te mantenho informada, se é que precisa, né? — Desligou e olhou para Ângela.

— O que houve?

— Segundo Bia, estão querendo abafar o caso, Melinda é poderosa e tal.

— Você não falou nada dela no seu depoimento, porque que só o da Bia seria suficiente para abafar caso? Com certeza, ele descobriu alguma coisa nas imagens. Enfim, vou usar o 'meu' poder se esse caso for realmente abafado.

— Eita! — Fabí brincou orgulhosa e subiu para o quarto com a esposa. — Estou ficando sonolenta, vou descansar um pouco!

Paco entrou com a irmã, que correu ao quarto e pulou na cama.

— Filha! — Ângela repreendeu e tirou a menina da cama. — Banho e depois pode vir.

Hope sorriu e beijou a médica, que a levou para o banheiro.

— Mamãe, sabia que a Teresa nasceu de novo? Ela nasceu na casa do Elijah. Ele pode trazer ela aqui hoje?

— Pode sim.

Paco passou pela mãe correndo.

— Ei, o que é isso? O que houve?

— Vanessa está perdendo o bebê, mãe. Estou indo lá... — avisou e saiu correndo.


  ∞  


Música:

Now We Are Free - Lisa Gerrard e Hans Zimmer

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