25. O som mais lindo!

Eu estava na segunda segunda semana morando na Flórida, consegui um obstetra aqui e comecei o meu pré-natal, eu jamais teria coragem de fazer um aborto e sabia que teria que contar para meu pai uma hora. Só... Não tinha coragem alguma.

Apesar de toda a minha dificuldade eu estava mesmo estudando. Acordava cedo e ia para faculdade onde fazia meu curso, não era um curso superior, estava mais para um cursinho de verão, no entanto teria um peso grande no meu currículo.

Tentei ligar para o meu pai enquanto esperava para fazer o meu primeiro ultrassom. Ele deveria estar em alguma reunião porque não me atendeu. Tentei me distrair com alguma coisa porque eu estava imensamente ansiosa e com medo.

A médica passa uma espécie de gel gelado e grudento na minha barriga, ela fala alguma coisa sobre ouvir o coração do meu bebê e a imagem do Ricardo enche minha mente, meus olhos cheios d'água não me permitem ver a médica. Pisco algumas vezes e lágrimas escorrem  pelo meus olhos.

O som de uma batucada acelerada soa pelo pequeno consultório. Sinto o ar me faltar, o medo me toma por completo. Desespero! Não sei se consigo fazer isso, não posso, simplesmente não consigo ter esse bebê. Não sozinha...

Começo a chorar muito, um soluço chama a atenção da médica que parece surpresa. O exame para mas meu choro continua, não consigo parar de chorar e não sei se um dia vou conseguir parar. Tudo parece estar desabando...

O chão onde costumava pisar parece areia movediça, a lama envolve minhas pernas e meu corpo afunda na podridão. Escuridão... Tudo que vejo e sinto é a escuridão.

...

Entro pelas portas do salão, tremo tanto, estou surpresa por não ter tropeçado nos meus próprios pés. Uma roda com jovens meninas e um rapaz de no máximo dezoito anos está formada. A senhora que está fora da roda se levanta pega uma cadeira as pessoas na roda se reorganizam e eu me sento.

As meninas vão contando como se sentem, o que aconteceu em suas vidas, o rapazinho que descubro ser namorado da menina loira de barrigão conta que seu pai o procurou, ele conta alguns trechos da conversa que teve com pai, relata da dificuldade que tem em compreender o pai, ele foi posto para fora de casa.

Uma mocinha chora dizendo que chegou a ir a clínica para fazer abordo e acabou desistindo. No meu celular uma foto minha ao lado de Ricardo, estamos deitados na cama dele, o lençol que deveria ser verde mas já está quase branco, ele está sorrindo.

Como sinto falta do sorriso dele...

A senhora de nome Astra pergunta de modo suave o meu nome, se estou grávida, alguém pergunta a quanto tempo, o rapazinho pergunta onde o pai do meu bebê e eu me limito a responder um "muito longe".

Conto um pouco sobre o meu bebê, me sinto culpada por desistir dele várias vezes essa semana, choro. Recebo um abraço em grupo e consigo sorrir. No final valeu a pena vir para a terapia em grupo.

...


Estou outra vez diante da doutora para outra ultrassonografia, segundo ela esse é um exame importante. O som do coração batendo ainda me assusta um pouco, mesmo seguindo o conselho das meninas do grupo de apoio e conversando com o volume que cresce no meu ventre eu ainda me sinto tremer.

Perdi alguns exames e consultas importantes, mas tudo vai bem com o bebê. Tenho tomado as vitaminas e ido  todas as terapias, só preciso criar coragem para contar ao meu pai. Ele está sabe que algo está errado, principalmente depois de pagar a conta das minhas consultas.

_Você quer saber o sexo? - a médica pergunta e meu cérebro demora a processar o que ela quis dizer - o sexo do bebê? Quer saber? - aceno com a cabeça sem dizer nada - É uma menina, uma princesinha.

Princesa - Ric me chamava assim algumas vezes e só de me lembrar dele eu tenho vontade de chorar.

_ É a esperança. Filhos são uma benção, a esperança de... - por favor não chora...

Ricardo me contou uma vez sobre sua irmãzinha, ela morreu junto com os pais   um acidente. O sonho dele era ter uma menina um dia, colocar o mesmo nome da irmã. Ele disse que tinha esperanças de ter uma menina, um sonho. Ele era pai e nem sabe.

Contenho o meu choro, prometo ligar para ele e contar sobre o bebê. Eu até desbloqueio o número, até ligo, mas a chamada vai direto para a caixa postal. Talvez eu não devesse contar.

...

Os meus dias passam rápido, o curso termina, eu não volto. Minha barriga está enorme. Já não consigo dirigir direito e tenho ido na maioria dos lugares de ônibus.

Tenho que começar a me preparar para receber meu pedacinho. Hope. Esperança. Esse vai ser o nome da minha filha, Hope. Tenho tido mais coragem desde então, eu tentei contatar Ricardo algumas vezes e contar sobre minha gravidez, mas nunca consegui.

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