🦋 Worthless

Dois meses se passaram e as coisas com Hope permaneciam na mais perfeita calmaria. A cada dia que passava eu tinha mais certeza de que ela era a mulher da minha vida, tudo o que fazíamos dava certo e, sempre que estávamos juntos, eu torcia para que o tempo passasse mais devagar.

Foi com isso que eu decidi de uma vez por todas pedi-la em namoro. Já havia preparado tudo. Hope tinha me chamado para dormir em sua casa na sexta e, no dia seguinte, combinamos de almoçar fora. Por isso, decidi que faria um jantar no terraço do seu prédio – porque era seu lugar favorito, já que tinha livre acesso ao céu estrelado – só com suas comidas favoritas e a pediria em namoro.

Antes de ir para sua casa, decidi passar no mercado e comprar todos os ingredientes que precisaria para fazer o jantar e, claro, passei no meu apartamento também para trocar de roupa e arrumar minha mochila.

— Nossa, que cheiro bom. O que está fazendo pro jantar? – Brandon indagou ao chegar em casa, porém eu apenas o ignorei e continuei a fazer as almôndegas com macarronada. — Qual é Zion, você não vai voltar a falar comigo nunca?

— Não temos mais o que conversar. – desliguei o fogão e levei a panela para cima da bancada. O garoto riu sem humor ao se aproximar da bancada e colocou sua mochila ali em cima.

— Essa foi a frase mais longa que você me disse há dois meses. – sentou-se no banco e me observou colocar a comida dentro da marmita que eu levaria para a casa de Hope.

— E essa será a última que vai ouvir. – o encarei brevemente antes de voltar os meus afazeres.

— Zion, por favor, eu já te pedi desculpas mil vezes! – Brandon bateu na bancada. — O que você quer que eu faça?

— Eu não quero que você faça nada. – fechei o pote que havia colocado as fatias do bolo red velvet que havia comprado para ser nossa sobremesa. — Não falo com gente que se baseia na opinião de pessoas alheias para ter um julgamento de alguém.

— Pessoas alheias não. Minha namorada. – o encarei seriamente e, ao se dar conta do que havia dito, soltou um pigarro. — Foi mal.

— E outra, você disse que quem faz terapia é maluco. – coloquei as coisas dentro da bolsa. — E nem vem dizer que eu entendi errado porque não tem outra interpretação pra isso. – saí da cozinha.

— Cara, por favor, você precisa me perdoar. – Arreaga se levantou. — Eu tô arrependido de verdade e... Sinto sua falta.

Suspirei pesado enquanto pegava minha mochila que estava no sofá. Eu também sentia falta de Brandon. Éramos amigos desde pequenos e nunca ficamos mais de um dia sem nos falar; o fato era que, eu não estava sem falar com ele apenas porque ele falou aquilo de Hope, eu estava magoado. Nunca na minha vida eu imaginava que Brandon pudesse dizer tais coisas como aquelas e, por um segundo eu pensei que, se ele era capaz de dizer aquilo de outra pessoa, o que ele não seria capaz de falar de mim?

— Olha cara, eu vou dormir fora. Amanhã à noite eu falo com você. – peguei todas as minhas coisas e saí de casa.

Eu estava tão ansioso que sequer havia espaço para sentir fome. A qualquer momento Hope chegaria e eu finalmente a pediria em namoro. Aquela noite tinha que ser perfeita e eu me esforçaria ao máximo para aquilo.

— Zion? O que faz aqui? – me levantei rapidamente da escada assim que eu vi Hope chegar.

A loira segurava sua bolsa de uma forma desleixada, seu cabelo longo e liso estava solto e ela usava um sobretudo por cima de sua blusa de gola alta rosa e sua calça preta. Mesmo evidentemente cansada, ela permanecia linda e com um brilho inexplicável. Afinal, Hope sempre foi assim; sempre teve um brilho e beleza única, porém que ela mesma não via.

— Eu vim dormir aqui, ué. – ri. — Você me convidou. Eu sei que não nos falamos hoje, mas eu achei que, como já estava confirmado, não precisava dizer mais nada. – cocei a nuca.

— Ah, sim, sim. Vamos entrar. – esperei que ela me desse um selinho como cumprimento, porém ela apenas abriu o portão do prédio e entrou.

Quando chegamos em seu apartamento, Hope foi rapidamente em direção a sua cama e jogou sua bolsa ali mesmo, logo se sentando para tirar seus sapatos. Deixei minhas coisas no tapete, ao lado da cama e cruzei os braços ao encará-la. Wright estava quieta demais e, a conhecendo como a conhecia, sabia que tinha algo errado.

— Não vai me dizer o que tem de errado hoje?

— Não é nada demais. – se levantou para retirar seu sobretudo e eu ri fraco.

— Hope, por favor, eu te conheço. – me aproximei da loira. — Anda, me diz o que aconteceu.

— Eu só acordei... Meio pensativa hoje. – olhou para o chão e colocou as mãos em meus braços antes de ir para a cozinha. — Sabe, eu me sinto esgotada, sozinha e cansada. – abriu a geladeira para pegar sua garrafa d'água. — Cansada de ter amigos que só ligam quando vão pra festas, mas quando eu realmente preciso não estão disponíveis; cansada de ter uma irmã mais nova egocêntrica e fútil, e cansada de pais que sequer lembram que eu existo. Com tudo isso eu só tenho mais confirmação ainda de que eu não faço falta alguma pra ninguém.

— De novo essa história? – joguei minhas mãos pro ar e me sentei na cama.

— Eu te disse que não era nada demais. – dei um gole em sua água ao dar levemente de ombros.

— Não, não é isso. – me levantei. — É só que... Se você conversasse mais comigo, talvez não se sentiria mais sozinha. Poxa, Hope, sabe que eu tô aqui pra tudo. Por que ainda insiste em enxergar o vazio?

— Eu insisto? – a loira se colocou na frente da cozinha e cruzou os braços. — Você acha que eu gosto de me sentir assim o tempo todo? Acha que eu gosto de... – seus olhos marejaram. — Acho que eu gosto de desejar morrer todos os dias?

— E você acha que eu gosto de te ver assim? Acha que eu gosto de escutar você dizendo que não faria falta, ou que queria morrer? – me exaltei.

— Talvez se você me passasse um pouco mais de confiança eu não seria assim! – bateu os pés.

— Eu não te passo confiança?

— Você nunca me diz o que pensa, nunca me diz algo sobre o seu passado! Como eu vou confiar em alguém que não fala de si mesmo?

— Agora a culpa é minha? – ri sem humor. — Eu não falo nada porque você não pergunta. E como eu vou falar se você sempre tá chateada por problemas seus?

— Se você não insistisse tanto eu não falaria de mim o tempo todo!

— Quer saber de uma coisa? Eu vou embora. – peguei minha mochila e fui em direção a porta. — Não vale a pena dizer milhões de coisas pra você, se só o negativo entra na sua cabeça. Você gosta de ser sozinha. – fechei a porta com tudo e fui até o elevador. Pelo jeito eu estraguei a noite perfeita.

Quando o dia amanheceu eu já estava de pé. Não consegui dormir de jeito nenhum por causa da discussão que tive com Hope. No calor do momento acabei dizendo que ela gostava de ser sozinha e fiquei remoendo aquilo a noite toda.

Por isso, às sete da manhã eu já estava parado em frente ao seu prédio segurando um buquê de flores. Peguei meu celular e disquei o seu número, onde, depois de quatro chamadas, finalmente fui atendido.

— Zion? – sua voz estava fanha.

— Eu preciso de você. – fechei os olhos. — Pode ficar por mim? – um silêncio breve se formou durante a ligação e eu a escutei fungar. — Poderia... Descer rapidinho?

— Só um minuto. – encerrou a ligação e eu me sentei no degrau da escada.

Após três minutos o portão se abriu e eu me levantei para ver Hope. A garota tinha olheiras e seus olhos vermelhos. Ela usava um enorme casaco e seu cabelo estava preso de qualquer jeito.

— Eu sinto muito por ontem, eu não queria dizer aquelas coisas. Eu... – não pude terminar de falar, a loira me abraçou fortemente e eu apenas retribui.

— Eu que sinto muito. Eu estava num mal dia e acabei descontando em você, me perdoa. – olhou para mim e seus olhos azuis se tornaram mais evidentes pelas lágrimas.

— Só se você me perdoar. – ela riu secando as lágrimas.

— O que você falou no telefone... Pedindo pra eu ficar por você, me pegou numa boa hora.

— Eu quero que você fique comigo, Hope Wright. Quero estar com você nos seus bons e maus momentos, quero estar do seu lado pra que você nunca se sinta sozinha. – lhe entreguei o buquê. — Quer namorar comigo?

— Sim! Sim! Mil vezes sim! – me abraçou novamente e nos beijamos. — Você é tudo pra mim, Zion Kuwonu. – sorriu dando um leve toque em meu nariz.

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https://youtu.be/FNTiFQO8h5w

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