🦋 Scars to your beautiful

Depois do meu primeiro beijo com Hope, a nossa relação pareceu estar melhor do que antes. Conversávamos todos os dias nos nossos intervalos no trabalho, adorávamos falar sobre como havia sido nosso dia e ficávamos por horas nos falando por ligação até a hora de ir dormir. Meus amigos diziam que eu era um bobo apaixonado e, de fato, eu era.

— Então... Essa pergunta é de extrema importância. – Hope se endireitou no sofá e olhou fixamente em meus olhos. — Qual é o melhor álbum do Justin Bieber?

— Fácil. – peguei uma jujuba que estava na única tigela que me separava da loira. — Believe.

— Não! – Hope se jogou para trás e seus pés ficaram para cima. — Todo mundo sabe que é Journals. É um fato universal! – exclamou num tom de indignação, porém rindo e eu fiz o mesmo.

Apesar do estilo musical favorito de Hope ser Indie, o seu ídolo era o Justin Bieber e, durante a nossa aproximação, eu comecei a escutar suas músicas apenas para ter mais assunto em nossas conversas. Eu sabia que uma de suas músicas preferidas dele era Heartbreaker e ela chorava sempre que escutava First Dance e One Less Lonely Girl. E, sendo bem sincero? Eu achava aquilo adorável.

— Eu sei, eu tô brincando. – sorri enquanto ela se ajeitava no sofá. — Você já sabe o que vai fazer esse final de semana? – a loira deu de ombros ao ajeitar o casaco de lã que usava.

— Provavelmente eu terei um caso sério com a minha cama e a Netflix. – riu. — A Jade e o Edwin vão pra alguma boate, mas eu não tô afim. Eu só quero ficar um pouco na minha, sem festas e pessoas bêbadas ao meu redor.

— Bom, o que você acha de... – não pude terminar minha frase. Brandon havia chegado com diversas sacolas de compras e as jogou com tudo no chão, nos atrapalhando totalmente.

— Ah! Eu não sabia que tínhamos visitas. – o moreno riu envergonhado ao ver Hope.

— Eu vim passar a tarde aqui. O Zion estava desesperado pela minha companhia, me ligou mais de dez vezes. – os dois riram e eu senti meu rosto queimar de vergonha. Eu não sei se era possível ver o rubor em meu rosto, mas, se fosse, eu havia me entregado.

— A Hope exagera demais. – ri passando a minha destra em minha nuca. — Eu só liguei umas duas, ou três vezes. Foram poucas. – desviei o olhar e pude ver de canto de olho Hope ir até a cozinha para ajudar Brandon a guardar as compras. — Nossa, você trouxe muita coisa dessa vez. – disse ao segui-los e ver o tanto de coisa que estava em cima da bancada. — Hoje nem é dia de fazer a compra do mês.

— Eu sei. Isso são coisas para o jantar de amanhã. – Brandon disse tirando um pote de geleia de morango de dentro de uma sacola.

— E que tipo de jantar você pretende fazer para nós dois? Porque aqui só tem coisa cara.

— Minha namorada vem jantar com a gente amanhã. Eu quero fazer tudo perfeito pra ela. – olhou para mim e eu apenas suspirei.

Eu não queria jantar com Vênus; não queria escutá-la falando do trabalho perfeito e cansativo dela; não queria escutar ter conversas extremamente superficiais e que não contribuiriam em nada durante uma noite inteira.

— Ei Hope, você deveria vir também! – novamente a voz de Arreaga se fez presente e eu olhei para Wright. — Você sabe... Quatro é par. E seria uma boa se você viesse para fazer companhia a minha namorada. Assim ela não vai se sentir tão deslocada. – Vênus se sentir deslocada? O único que se sente deslocado sou eu com a presença dela!

Hope olhou para mim e eu balancei levemente a cabeça em negação, porém ela apenas sorriu antes de voltar seu olhar para Brandon.

— Se não for incômodo para ninguém, eu adoraria. – deu levemente de ombros e sorriu timidamente. Ah, como ficar irritado com aquela falsa ingenuidade?

— Não será. – o moreno sorriu antes de ajeitar seu óculos. — Então te esperamos amanhã às sete.

— Bom, o papo está muito bom, mas eu preciso ir. Se eu tiver um pouco de sorte eu acho que ainda consigo comprar o meu cachorro-quente. – foi em direção a sala e pegou sua bolsa que estava no chão ao lado do sofá e olhou para nós.

— Espera. Eu te levo até lá embaixo. – corri até a porta para acompanhá-la.

— Não precisa. – Hope se virou para mim ao abrir a porta e colocou suas mãos em meu rosto. — Eu te aviso quando chegar em casa. – me deu um selinho e saiu pela porta, onde eu só a vi descer a escada do meu andar.

Ao fechar a porta, olhei seriamente para Brandon que olhava para mim. Ele apenas murmurou um "que foi?" confuso e eu neguei com a cabeça antes de ir para o meu quarto.

Eram sete e dez quando Hope chegou, como de costume, um pouco atrasada. A loira tinha seu cabelo solto e totalmente liso; sua maquiagem era quase imperceptível, sendo possível notar apenas seu rímel e iluminador; seu vestido branco de manga longa batia acima do joelho e seu coturno preto a deixavam poucos centímetros acima de sua real altura.

— Eu sei que estou dez minutos atrasada. – disse assim que entrou. — Mas a minha desculpa é que é muito difícil escolher um bom vinho para um jantar formal. – levou a garrafa de vinho com um laço vermelho de enfeite para a cozinha e colocou em cima da bancada, logo se virando para mim. — E também porque eu não estou num bom dia. Fiquei horas pra me arrumar e não sinto que estou boa o suficiente.

— Hope... – me aproximei dela e a beijei. — Você está perfeita. – a encarei fixamente nos olhos e, mesmo que eu soubesse que ela não acreditava naquilo, Hope sorriu de canto.

Eu sabia que Hope não se achava bonita, mas fazia um esforço para se ver como realmente era. Ela queria ser bonita, mesmo já sendo e vivia idolatrando as modelos que passavam na tevê, desejando ser igual a elas. Eu fazia de tudo para que ela visse que era mil vezes melhor do que aquelas modelos, que ela tinha uma luz que ofuscava qualquer um ao seu redor, mas as suas inseguranças sempre falavam mais alto.

— Cadê o Brandon? – indagou ao mudar de assunto e apoiou seu corpo sobre a bancada atrás de si.

— Foi buscar a namorada dele na estação. O motorista dela só pôde a deixar até lá e eles vão ter que vir de táxi, não prestei muita atenção. – fiz careta e ela riu. — Mas agora eu tenho que arrumar a mesa e, como você já chegou, poderia me ajudar.

— Poxa, você pediu com tanto jeitinho que me deu vontade de ajudar. – brincou e eu ri.

Hope me ajudou a colocar a tigela de salada, os pratos, talheres, copos e o restante em cima da mesa. O jantar seria risoto de shitake e eu esperava que estivesse bom. Brandon não é muito bom na cozinha e eu ainda tive que ajudá-lo.

Assim que terminamos de arrumar a mesa Brandon entrou e sua risada se fez presente no ambiente. Vee estava logo atrás e, mesmo que eu não pudesse vê-la, sabia que sua roupa era preta.

— Ah! Vocês já arrumaram tudo. Que bom. – meu amigo sorriu ao ver a pequena mesa que no dia a dia era apenas usada de enfeite, já que nem comíamos ali.

— Hope? – Vênus olhou surpresa para a loira que ajeitava o jarro de flores que estava no centro da mesa e a loira se virou com um enorme sorriso no rosto, porém, assim que a viu, seu sorriso se desfez na hora.

— Vênus? – seu tom foi frio e, por um segundo, me deu calafrios.

— Hã... Vocês se conhecem? – Brandon riu parecendo não ter percebido a tensão que havia acabado de se formar ali.

— Sim. – Vênus cruzou os braços e olhou para o enorme salto alto que usava. — Ela é a minha irmã mais velha que eu mencionei algumas vezes... – tornou a olhar para Hope que também a encarava de braços cruzados.

Então aquela era a irmã que ofuscava Hope em tudo? Bom, agora que elas estavam juntas, reparando bem, elas de fato tinham algumas pequenas semelhanças. Mas eu tenho certeza que se ambas tivessem mencionado o nome uma da outra já teríamos ligado os pontos faz tempo.

— Zion, pode vir comigo por um instante? – Brandon chamou a minha atenção e eu apenas assenti com a cabeça, logo o seguindo para a cozinha.

Mesmo que a cozinha fosse americana, fomos para a janela que era a área mais distante que havia de onde as garotas estavam e Arreaga apoiou seu corpo contra o batente da janela, logo cruzando os braços e eu fiquei à sua frente.

— Eu não sei se esse jantar será uma boa. – mordeu os lábios de forma apreensiva. — A Vênus me contou algumas coisas da Hope. Sabia que ela foi embora de casa porque brigou com os pais? Ela estava errada e mesmo assim não admitiu o próprio erro.

— A Hope não me fala muito sobre a família dela, mas eu tenho certeza que ela não foi embora por isso. – neguei com a cabeça. — Brandon, qual é, você conhece a Hope tanto quanto eu. Você agora vai deixar de acreditar nela apenas porque a sua namorada contou outra versão?

— Não é isso, Zion. – nosso tom de voz era baixo e calmo, porém nossos ânimos não estavam tão calmos assim. — Mas eu também não posso dar o ar de dúvida a Vênus. Ela é minha namorada. E não se esquece que a Hope faz terapia. Talvez ela seja mesmo maluca. – deu de ombros e eu ri sem humor, não acreditando que meu melhor amigo havia dito aquilo.

— Você está dizendo que ela é maluca porque faz terapia? – franzi o cenho. — Então eu também sou maluco?

— Zion, você entendeu errado. Não foi isso que eu quis dizer. – Brandon parou de se apoiar no batente e eu dei um passo para trás.

— Mas foi isso que pareceu. – foi a única que disse antes de voltar para a mesa. Vênus e Hope estavam sentadas uma de frente para outra, mas sem conversar. — Hope, se você quiser eu te levo pra casa. Não quero que se sinta desconfortável com algo e...

— Não precisa. Eu quero ficar. – Hope olhou para mim e sorriu sem mostrar os dentes. — Faz tempo que eu não janto com a minha irmãzinha e quatro é par, não é Brandon? – olhou para o moreno que, eu sequer havia notado a presença, se sentava ao lado de sua namorada.

— Hã... Sim, sim. Vamos comer logo antes que a comida esfrie, comida gelada não é legal. – deu uma risada fraca pegando o seu prato de cima da mesa.

Antes de me sentar ao lado de Hope, olhei para ela e vi que a garota havia trincado os dentes e eu sabia que ela não estava confortável com aquela situação, entretanto, eu também sabia que não podia fazer nada a respeito. Ela continuaria ali naquela mesa fingindo que estava tudo bem, como de costume.

Por mais que Brandon e eu tentássemos o jantar foi um completo desastre e o prato principal foi uma enorme torta de climão. As conversas sempre eram monótonas e Vênus sempre evitava falar diretamente com Hope, o que era recíproco.

— Eu espero que vocês gostem de torta de morango. Eu fiz com o Zion. – Brandon disse ao colocar o prato com a torta em cima da mesa.

— Meu amor, eu já comi demais. Você sabe, modelos não comem muito. – Vee riu.

— Mas você não comeu muito no jantar. – tentei não parecer indignado com aquilo, mas eu estava. — Muito menos você, Hope. – olhei para a loira ao meu lado.

— A nossa mãe sempre disse que a beleza é dor. E há beleza em tudo, Zion. – seu sorriso não parecia verdadeiro, parecia cansado. — O que é um pouco de fome? Nós poderíamos ir um pouco mais além. – deu de ombros.

— A diferença é que eu realmente fui. Por isso sou uma modelo renomada enquanto a Hope é... – Vênus riu e balançou a cabeça confusa. — Você é o que mesmo, irmãzinha?

— Eu não sou perfeita como você, Vênus. Mas também não sou vazia como você. – Hope a encarou friamente enquanto a morena tinha um sorriso debochado em seu rosto.

— É por isso que nossos pais preferem a mim. Você não é nada além de um fardo para nós. – cuspiu aquelas palavras duras como se não houvesse peso algum para ela. — E se morresse, não faria a menor falta para nós.

Hope fechou os punhos com força e eu pensei que ela fosse partir para cima de sua irmã naquele momento, porém ela apenas se levantou e correu para o meu quarto. Olhei para Brandon que parecia sem saber o que fazer e me levantei sem dizer uma palavra, indo atrás de Hope.

— Ei, você tá legal? Aquilo que a Vênus falou na mesa... – fechei a porta atrás de mim e fui interrompido na mesma hora.

— Ela está certa. – a garota estava virada de costas para mim, abraçando a si mesma e olhando para a janela. — Eu sou um fardo para eles, sempre fui. Eu não sou famosa, sou um problema ambulante, não chego aos pés da minha irmã... Eu não mereço estar aqui.

— Ei, ei, não fale isso. – me aproximei dela e a virei para que me olhasse. — Você tem que entender que é linda do jeito que é e não tem que mudar nada. O seu jeito, aparência, nada. – a encarei fixamente nos olhos, porém Hope riu sem humor.

— Talvez eu não seja boa o suficiente.

— Sim, você é. Não diga isso. – franzi o cenho.

— Não... Talvez eu não seja.

— Você é! – um silêncio se formou entre nós enquanto encarava fixamente aquele par de olhos azuis.

— Zion, por que insiste tanto? Eu não mereço metade do que faz por mim. Por que insiste tanto em mim? – sua voz estava embargada, porém eu não via lágrimas. Hope era forte. Forte até certo ponto.

Ela não via que era perfeita, não entendia que valia a pena. Eu queria fazê-la entender que eu insistia nela porque ela mesmo não fazia, eu tentava lutar por ela e por mim. Ela era minha alegria, minha força e minha paz; eu apenas queria ser o mesmo para ela, queria mostrá-la que após uma tempestade vinha sempre o arco-íris. Mas eu falhei.

Entretanto, antes de falhar, antes de estar perto de falhar, eu a beijei. Beijei para que ela entendesse nas entrelinhas que eu precisava dela, precisava dela ali comigo e naquele momento ela entendeu. Mas Hope também precisava dela mesma e ela não queria estar ali.

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https://youtu.be/-otRJlruqK4

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