🦋 Broken
⚠️ ALERTA GATILHO! ⚠️
antes, eu só queria agradecer aos 638 leituras. sei que demoro a atualizar aqui, mas é porque eu gosto de escrever quando meus ânimos estão a flor da pele rs
como eu não ando bem há semanas, achei que seria uma boa por pra fora tudo através da escrita e é isso
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Semanas e semanas se passaram e eu, sinceramente, estava amando a sensação de ter Hope como namorada. Era tão bom o fato de acordar ao seu lado, contar fofocas, conversar no final do dia sobre o dia exaustivo que tivemos e até mesmo ter sua companhia nas idas a terapia.
Eu sentia que estava vivendo um sonho e, se fosse possível, eu não gostaria de acordar dele. Entretanto, as coisas não acontecem como queremos e eu mal sabia que aquele era apenas o começo da rachadura no meu castelo de faz de conta...
Era um final de semana e estava tudo programado para que Hope viesse para a minha casa. Tínhamos combinado de fazer brownie e assistir Donnie Darko ‒ fazia tempo que minha namorada insistia para que eu visse aquele filme e, depois de tanto adiar, não houve mais escapatória para mim.
Brandon concordou que passaria o final de semana na casa de Vênus para não nos atrapalhar e eu agradeci, dizendo que faria sua marmita da faculdade por uma semana e ele apenas concordou. Depois de um bom tempo eu resolvi sentar e conversar com meu melhor amigo sobre a infeliz briga que tivemos.
Eu coloquei pra fora tudo o que tinha me magoado e os motivos do porquê me magoaram o que ele havia dito e Arrega me entendeu. Disse que realmente tinha vacilado ao dizer aquilo e que Hope era uma garota incrível; ele não deveria ter dito aquilo e falou milhares de vezes que conversaria com Vênus sobre o assunto. Afinal, sua irmã mais velha era a minha namorada, sua amiga e eu era o seu melhor amigo/colega de quarto. Eu sabia que não adiantaria nada conversar com Vee sobre aquele assunto, mas deixei pra lá ‒ afinal, ele era o namorado dela e não eu. Eles que se resolvessem.
Já a minha relação com Vênus continuou monótona. Como fui criado de bons modos, não a tratava mal quando a via, mas também não dava corda. Ainda a achava uma menina fútil ‒ e deveras ela era ‒ onde, pra completar, ainda era a menina mais desprezível do mundo. Vênus sempre tratava Hope como se ela fosse um lixo, como se ela fosse inferior, ou até mesmo um ser de outro mundo. Hope sempre dizia que não se incomodava, que suas palavras não a atingiam, mas eu sabia que era mentira; sempre que Vênus a menosprezava eu via o brilho em seus olhos sumirem e eu me sentia extremamente mal com aquilo. Eu tentava contornar sempre a situação, a colocava num pedestal ‒ mesmo que fosse a coisa mais fácil do mundo fazer aquilo ‒ e mostrava que ela não era nada daquilo, mas eu sabia que as vezes todas as minhas tentativas eram inúteis. Eu já havia percebido que Hope apenas filtrava o negativo para si e era tão triste porque, uma garota tão cheia de alegria, tão cheia de vida, não deveria se enxergar daquela forma porque pessoas infelizes a fizeram se sentir assim.
Os seus pais, apenas vi duas vezes. A loira evitava ao máximo que eu tivesse qualquer contato com eles, porém um dia foi inevitável. Estávamos passeando pela Central Park quando os dois passaram por nós com roupas de ginástica. Ella segurava duas garrafinhas de água enquanto Charles segurava a coleira do cachorro de estimação deles, o Buttercream ‒ nome dado por Vênus. Não teve como ela escapar de seus pais ali, então ela acabou fazendo uma apresentação rápida; seus pais se animaram por saber que eu era o namorado da filha mais velha deles e nos convidaram para um jantar, apenas para nos conhecermos melhor. Eles pareciam simpáticos e eu não conseguia entender o desconforto de Hope, porém eu lembrei de todas as vezes que eles também a colocaram para baixo e resolvi rejeitar educadamente o convite. Mas, antes que eu pudesse, eles apenas confirmaram tudo e disseram que mandariam depois o endereço para Hope. Eu achei que não seria tão ruim assim, ‒ afinal, Brandon também já tinha os conhecido e disse que eles eram gente boa ‒ mas eu estava totalmente enganado.
O restaurante não era lá aquelas coisas, mas também não era um restaurante que eu estava acostumado a ir. Quando eu cheguei lá com Hope, seus pais estavam extremamente arrumados para apenas um jantar enquanto Hope usava apenas uma calça jeans com um moletom e eu não estava diferente. O olhar de reprovação de ambos para a sua filha e os sorrisos forçados eram perceptíveis e aquilo me incomodava bastante. Vez ou outra Ella soltava comentários ácidos para Hope, ou "críticas construtivas"; minha namorada era o tempo todo comparada com Vênus e eu já estava achando aquilo muito cansativo.
A gota pra mim foi quando Ella perguntou porque Hope não tentava parecer mais com a sua irmã, tanto na vestimenta como nos modos ao se portar na mesa. Charles não ficou para trás, disse que estava feliz por ela estar finalmente namorando e que eu era muito bonito. Mas muito bonito para ela e que eu combinaria mais com Vênus, inclusive já conseguia nos ver modelando para uma capa de revista famosa, já que eu parecia muito um modelo. Hope estava cansada. Ela não falava mais o que pensava, ou dava um basta naquele show de horrores. Ela estava tão cansada que não tinha mais forças nem para acabar com aquilo, então eu tive que fazer por ela.
Pedi licença para ir ao banheiro e liguei para Austin ‒ que não demorou a atender. Expliquei que o jantar estava sendo uma merda e que ele precisava nos tirar daquela. Meu amigo prontamente concordou e, depois de três minutos que eu havia voltado para a mesa, ele ligou. Ele inventou que Payton havia comido nozes, que ele era alérgico e precisava urgentemente de nós para levá-lo ao hospital. Quando fui perguntado aos meus sogros quem eram Austin e Payton, inventei que Austin era meu irmão e Payton seu filho. Charles perguntou se era realmente importante nossa presença, se a esposa de Austin não podia ajudá-los e eu disse que não porque a mãe de Payton havia morrido ‒ e eu pedi mil vezes desculpas em minha mente por ter matado a mãe do meu amigo apenas para escapar de um jantar ruim.
Ella e Charles então nos deixaram partir e pediram para Hope avisá-los caso as coisas se complicassem. No carro de volta para casa, Hope agradeceu diversas vezes por aquilo e eu finalmente pude ver seu brilho de volta. Vênus e seus pais sugavam toda a sua energia, toda a sua felicidade e, depois daquele dia, eu prometi a mim mesmo que jamais deixaria alguém tirar o brilho de Hope e, se fosse preciso, a afastaria de todos que fizessem isso ‒ uma pena que eu não podia afastar ela dela mesma...
Finalmente os dias frios deram um descanso e essa semana o calor havia marcado presença em Nova York. Quando Hope chegou, pude ver gotas de suor em sua testa e não consegui entender o porquê ela havia saído de casa com aquele enorme casaco preto que ela tanto amava. Emprestei uma toalha e ela foi correndo tomar um banho.
Decidi esperá-la sair do banheiro para começarmos a fazer nosso brownie e, enquanto isso, fui até o meu quarto para pegar o carregador do meu celular. Eu me assustei quando a vi entrar no quarto somente de toalha, nunca a vi assim e, pelo jeito ela também se assustou porque não esperava me ver ali.
— Eu... Esqueci de pegar a minha roupa. ‒ coçou a cabeça.
— Eu saio pra você se trocar, não tem problema. Só vim pegar meu carregador. ‒ rapidamente olhei para baixo, na intenção de não deixá-la desconfortável.
— Não. ‒ a loira me segurou pelo braço, impedindo que eu me movesse. — Você... Pode ficar. ‒ a encarei surpreso. Eu nunca a forcei, sempre esperei que o momento certo chegasse, visto que eu sempre percebi que ela se sentia desconfortável ainda. Não esperava que a primeira vez seria daquela forma.
Entretanto, assim que olhei para seus braços, entendi o motivo dela se sentir desconfortável comigo. Todas aquelas cicatrizes ‒ a grande maioria recente ‒ e seu pulso vermelho, sendo completamente destoante do resto do seu corpo pálido, me fizeram vê-la com outros olhos. E, ao perceber que eu havia visto, Hope rapidamente soltou meu braço e se virou de costas para mim.
— Eu... Nunca quis que me vissem. ‒ a escutei fungar. — Essas cicatrizes... Não são bonitas, não são sexy.
— Tudo em você é sexy, Hope. ‒ coloquei minhas mãos em seus ombros. — Você é perfeita.
— Nunca deixei que ninguém visse por medo de ser julgada. As pessoas não entendem que se cortar não é algo para chamar atenção e que depressão não é bobeira. ‒ sentou-se na beira da cama e começou a passar sua destra em suas cicatrizes do seu pulso esquerdo. — Nem a Jade e o Ed sabem disso, como eu disse, eles são apenas amigos de festas.
— Hope, eu seria a última pessoa a te julgar. ‒ balancei a cabeça em negação. — Eu não sou ninguém pra isso e entendo a sua dor. Você está tão machucada por dentro que só quer uma forma de parar com essa dor, mesmo que seja se machucando... ‒ seus olhos azuis aos poucos foram ficando vermelhos. — Eu entendo cada momento de impotência sua, cada fraqueza, cada medo e cada dor. Mas você não pode se entregar pra ela. Eu estou aqui, estou aqui por você Hope.
— Eu não queria fazer isso, eu juro. ‒ sua voz saiu falha. — Mas eu faço desde quando era adolescente e até hoje não consigo parar. Eu procurei ajuda porque tinha uma senhora no meu trabalho que eu cuidava e... Um dia ela viu. ‒ seus lábios comprimiram, numa tentativa de engolir o choro. — Ela me amava tanto, tinha tanto carinho por mim, e pediu pra eu não fazer aquilo comigo mesma porque ela precisava de mim. Foi aí que eu decidi procurar ajuda, comecei a tomar remédios e... Por um tempo eu estive bem. Mas a morte dela, a forma que eu percebi que eu estava sozinha agora que ela tinha ido embora... Eu estava sozinha, Zion. Sozinha com uma família que nunca gostou de mim e com meus piores pensamentos. Eu não parei com o tratamento, mas a recaída foi grande.
— Hope...
— É horrível não conseguir ter forças pra levantar da cama, comer, ou sequer tomar banho. Eu me esforço todos os dias e, depois que eu te conheci, sinto que você me deu um pouco mais de esperança. Você é o meu motivo de ainda não acabar com tudo, Zion. ‒ uma lágrima desceu em sua bochecha.
— A minha mãe também tinha depressão. ‒ me aproximei mais da garota e toquei em seus pulsos, porém não tirei meu olhar do dela. — Ela não se machucava, nem nada, mas tinha dias que eram difíceis. O meu pai trabalhava e eu ficava a maior parte do tempo com ela, fazendo de tudo pra animá-la e, mesmo quando ela só queria ficar debaixo das cobertas, eu ficava com ela. Acredite, parecia ser pouco, mas era muito pra ela. ‒ dessa vez, os meus olhos que começaram a marejar. — Ela sempre dizia: "um dia de cada vez" porque, pra ela, cada dia em que ela acordava com vida, era um grande começo. Só que um dia, teve uma festa na casa de um amigo meu da escola. Eu perguntei se podia ir, se ela ficaria bem e ela disse que estava tudo bem, eu podia ir. Eu não queria, mas fui porque eu queria me divertir um pouco, quase nunca saía de casa.
Fechei os olhos e suspirei fundo. Voltar aquele assunto, era como voltar novamente para aquele dia. Me doía ainda e eu pensava tantas formas de reverter aquilo. Eu sabia que poderia fazer algo, mas eu não fiz.
— Quando eu cheguei, o meu pai ainda não estava em casa e eu achei que minha mãe estivesse dormindo. Ela não estava. ‒ ri fraco, mas para evitar que eu começasse a chorar. — Quando eu entrei no quarto, eu a vi, deitada e com vários remédios jogados em cima da cama. A minha mãe teve uma crise, eu não estava lá e ela se matou. Eu perdi a minha mãe por causa da depressão e eu fiquei tão mal, me senti tão culpado... Depois desse dia eu comecei a ter ansiedade e crises. Eu estou bem agora, mas eu nunca vou me culpar pelo que aconteceu. Então, acredite em mim Hope, eu sei que as coisas parecem ser difíceis, mas eu estou aqui por você e pra você. Eu posso não sentir, mas eu entendo a sua dor.
— Zion... ‒ Hope não conseguiu se conter. Desabou em lágrimas e me abraçou fortemente. — Eu não sei por quanto tempo vou aguentar.
— Ei, ei. Olha pra mim. ‒ a afastei um pouco de mim e segurei em seu rosto. — Abaixo do seu ouvido, seu pulso. Coloque a mão. ‒ assim ela fez. — Cada vez que seu pulso bater, grave essas palavras na sua mente: eu amo muito você e te valorizo muito. Eu não vou desistir de você, por favor, não desista de si mesma.
Hope nada disse, apenas me abraçou novamente e eu sabia que ela só precisava daquele abraço. Eu não sabia por quanto ela aguentaria, eu não esperava que fosse muito, nem que fosse pouco, mas eu estava ali por ela. E eu só queria que ela soubesse daquilo.
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https://youtu.be/YXI4223m_qI
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