Vinte e Sete

O dragão é uma criatura mística, que desperta temor nas pessoas desde a antiguidade. Ser comparado a um dragão era quase como ser comparado a um deus. Como se não bastasse um, estava de frente a quatro deles, sem contar a senhora Rhodes, bem ao centro da mesa. Atrás de onde estavam, havia uma bandeira colossal que cobria quase toda a parede da sala. A face amarela de um dragão traçava-se num fundo verde. Para ajudar em toda aquela aura imponente.

O senhor Dom Sélquis se pôs numa poltrona próxima a ponta da mesa. Me mantive ao centro do arco e o professor Tobias ficou logo atrás. Um sopro fugiu das janelas e me arrepiou a nuca. Enchi o peito com todo o ar que conseguia, depois soltei gradualmente. Pensei nas mil coisas que poderiam dizer a mim. Mantive a face abaixada. Senti seus olhares cortantes me percorrerem, mas não ousei levantar o rosto.

— Enfim desatou-se a aparecer! — estava bem avoado para falar a verdade. Ali eu me concentrava na respiração e o nervosismo fazia-me ranger os dentes. Tanto que levei alguns segundos para dar-me conta que o senhor Tristan já se dirigia a mim. — Pensa que nós não temos compromisso? Ou você agora é Príncipe da Áustria e temos a obrigação de te esperar?

— Eu avisei — escutei a voz do senhor Dom Sélquis.

— Gente? Por favor! — agora um tinido doce me percorreu. Levantei os olhos com curiosidade — O coitado está tremendo de medo, não estão vendo? Sejam mais pacientes e gentis! — meu coração acalentou com a serenidade. Era uma senhorita delicada, de cabelos castanhos, ondulados como os ramos de um maracujazeiro. Quando nos encontramos no olhar, ela sorriu e eu fugi o rosto. Aposto que devo ter ficado vermelho como suco de groselha.

— O importante é que já está aqui, senhor Silvertoch. — a senhora Rhodes disse amigavelmente. — Agora, para não tomar mais o tempo com...

— Com sua licença, senhora Rhodes. — Dom Sélquis a interrompeu. — Mas não acha que deveríamos nos apresentar aqui para o rapaz antes de começarmos. Dado a importância de tudo isso, seria estranho ele escutar o que temos para dizer, a partir de quatro desconhecidos, não acha? — sugeriu.

A senhora Rhodes sorriu e lhe respondeu.

— Eu não vejo problema.

— Ah, agora mais essa! — o senhor Tristan revirou os olhos. — Nós nunca fizemos isso, por que diabos vamos ter que fazer agora? Qual a importância de um classezinha delta qualquer para termos de despender tanto tempo assim com esse tipo de bobagem? Você está fazendo isso por que adora se exibir, não é Sélquis? Poderia apostar que esse garoto vive puxando sua bola.

— É “Dom Sélquis” para você, Tristan. E não, não é por isso. Se você tem uma personalidade tão frágil assim que se incomoda sequer de falar seu nome, então me desculpe, vamos pular as apresentações.

O senhor Tristan abriu a boca. Imaginei que uma resposta no devido tom chegaria, mas não foi o que aconteceu. Ele ficou em silêncio e só depois decidiu o que dizer.

— Que seja! — o senhor Tristan suspirou — Façamos logo isso.

Logo em seguida, o rosto de todos eles se voltaram para a extrema ponta da mesa, como se já estivessem cientes da ordem que aconteceria a apresentação. Eu segui aquela visão e quase desmaiei com vergonha que me enlaçou. Uma mulher alta, com longos fios caramelos como o mel e um rosto exageradamente lindo. Lábios grossos, sobrancelhas finas, definidas, um nariz pequeno e uma pele lisa como veludo. Quem eles encaravam ansiosos era nada mais que a médica responsável por me tratar após o incidente na floresta de Ouro Preto. Aquela que me pegou na excrescência da puberdade. Que vergonha, rezei a Deus que me levasse dali.

Ela sorriu quando suas irises azuis me encontraram. ELA SORRIU, QUE VERGONHA. Por que ela teve que me ver daquele jeito? Inferno! Eu não sou nenhum promíscuo, não sou como meu primo Anthony que gostava de levar deus e o mundo para o quarto dele. Não queria que tivessem essa visão de mim. Engoli seco, certeza que eu já deveria estar encharcado com o nervosismo.

— Bem, creio que já nos encontramos antes. — ela disse, para minha infelicidade. — Mas da última vez, não disse o meu nome. Sou Celestia...

— Lady Celestia — Dom Sélquis interrompeu. — Chamamos a maravilhosa senhorita Celestia de Lady Celestia, e isso vale para você também, Franz! Ela é a Dragão Prateada de Cartago, a classe alfa de posição cinco. Então merece o devido respeito. — ele flertava descaradamente com ela. A senhorita Celestia, por sua vez, parecia se divertir com isso.

— Não precisa de toda essa formalidade, Franz. — ela me disse, entre risos. — fique a vontade para me chamar como quiser. — concordei com a cabeça.

— Mesmo você já conhecendo minha fama e a magnificência do meu nome, lhe darei a honra, Franz, de me apresentar novamente. — ele se levantou da cadeira e estufou o peito, ostensivo — Sou o todo respeitável e admirável senhor Dom Sélquis de Álvarez. O Dragão Azul de Cartago, o classe alfa de posição quatro. Aquele que protege os fracos, que salva os oprimidos e que ajuda os necessitados. O homem que ousou um dia desafiar o lendário barbarian Aníbal Barca, um dos mais temíveis irmãos de Salieri, sou o homem que lutou contra...

— Tá bom já deu, agora minha vez! — aquela moça dos cabelos ondulados o interrompeu. Dom Sélquis encarou-a de canto, com certeza estava irritado, mas não disse nada e se sentou. Não sei como consegui segurar a risada. Pelo visto ele não respondia mulheres. Quanto a moça, ela gargalhou e não demorou em prosseguir. — Sou Helena Algarve, acho que você também já me conhece. Porque se o Tobi não te contou que a irmã dele estaria aqui, pode ter certeza que vou puxar esses cabelinhos pretos que ele esconde aí de baixo da cartola. — virei para trás e vi o professor Tobias sorrindo sem graça. Não, ele não me contou. Mas não condenaria o professor falando isso a ela. — Sou conhecida como a Dragão Rosada de Cartago, de posição três entre os classes alfa. Tobi outrora me escreveu sobre você  Franz, eu estava ansiosa para finalmente te ver. — ela apoiou o queixo na mão e sorriu mais largamente.

Finalmente, todos encaravam o senhor Tristan. Ele ficou em silêncio por um instante, até começar a se incomodar com toda a atenção.

— Que foi? Isso é ridículo, sinceramente. — ele suspirou e disse, desanimado, enquanto coçava a barba loura: — Sou Tristan Pendragon, o Dragão Vermelho de Cartago e o classe alfa de posição dois. E só... — ele pausou, até se lembrar de algo. — Ah, uma coisa que vale a pena falar sobre mim, é que eu detesto estorvos — a última palavra ele disse com ênfase. Foi alguma indireta? Que seja... Virei o rosto e esperei pela apresentação do classe alfa de posição um. Apresentação essa que não veio, já que a cadeira ao lado, estava vazia. Fiquei curioso, confuso, talvez mais curioso do que confuso. Era angustiante ficar na minha posição e não entender o que estava acontecendo.

— Bom, com as apresentações encerradas, podemos prosseguir! — a senhora Rhodes iniciou.

— Com licença, senhora Rhodes. — quando me dei conta, estava com a mão direita levantada. O que raios eu estava fazendo? — Onde está o classe alfa de posição um. — Essa minha curiosidade um dia vai me matar.

— E isso é da sua conta desde quando? — por mais que eu até tenha ficado bravo com esse tom impertinente do senhor Tristan, no fundo ele não estava errado. Ainda não entendia por que diabos ousei perguntar isso.

— Ela está numa missão muito importante. Existem coisas que simplesmente não podem ser adiadas por nada nesse mundo. — a senhora Rhodes respondeu sem reservas. Concordei com a cabeça e pedi desculpas pela intromissão. Por fim, fomos direto ao assunto principal do dia, os Estados Unidos. — Imagino que o Senhor Sélquis já tenha lhe contado sobre a missão que queremos lhe encarregar.

— Para ser sincero, me assusta um pouco viajar tão longe. Mas qual seria o motivo?

— O imperador fará uma visita ao país em poucos dias. Haverá uma exposição internacional que comemorará o centenário da independência deles. Os Estados Unidos estará aberto para o mundo inteiro e o imperador estará presente. Sua missão será escoltá-lo. — a senhora Rhodes concluiu.

— Dado ao último atentado — o senhor Dom Sélquis prosseguiu. — a senhora Rhodes e nós, tememos pela vida dele.

Acenei com a cabeça, pensei se já estava na hora de dizer alguma coisa, não queria parecer indelicado e interromper algum deles. Então assim eu fiz logo.

— Perdão, mas, por que eu? Não seria mais fácil algum dos senhores escoltarem o imperador pessoalmente? Afinal de contas, é do próprio imperador de quem estamos falando!

— O imperador se recusa a aceitar nossa escolta. — o senhor Tristan disse, ao passo que batia impacientemente os dedos na mesa — ele crê que as missões que estamos trabalhando atualmente são excepcionalmente mais importantes. O que não é mentira. Nossas missões são para proteger toda a humanidade, não um homem só. — pensei que ele estivesse resmungando a si mesmo, nesse final.

— A segurança do imperador influencia na segurança da nação! — o senhor Dom Sélquis o disciplinou. Tristan revirou os olhos. — Enfim Franz, a ideia inicial do imperador é que nem mesmo houvesse escolta de comunas. Apenas sua escolta pessoal feita por espiões individuais não ligados à nenhuma comuna, mas insistimos tanto que ele acabou cedendo e aceitou que alguns classes delta fossem enviados.

— Classes delta?! — exclamei surpreso.

— Sim, ele pediu que fosse enviados especificamente a classe mais baixa de agentes, para diminuir o mínimo possível a segurança da nação. Ele também falou de você.

Arregalei os olhos. Desde quando me tornei famoso para o imperador? O Senhor Dom Sélquis não tardou em responder:

— Ele soube que foi você que identificou o inimigo lá no Theatro e evitou que uma tragédia maior acontecesse. É claro, todos nós classes alfa provavelmente conseguiríamos nos salvar da explosão, mas as pessoas mais comuns que estavam lá, os funcionários, os escravos e o próprio imperador, provavelmente não. Seria um desastre terrível. Você salvou o imperador, Franz. — Eu engoli o que não tinha para engolir. Levantei o queixo e deixei um leve, um sutil sorriso orgulhoso desenhar-se na boca. Tenho a impressão que Tristan virou o rosto para o lado com um tanto de desgosto — o seu medo te permite ver o futuro, não é? Com esse poder, você vai conseguir proteger o imperador instintivamente.

— Eu entendo... — refleti em silêncio por um instante. Agora estava em êxtase, havia sido reconhecido pelo próprio imperador, o próprio imperador. Eu sei, pode até parecer um tanto contraditório, já que sempre achei imerecida a ideia da existência da monarquia, por si só. Contudo, que raios de diferença minha filosofia social iria fazer ali? Afinal de contas, isso já era um passo importante para recuperar minhas terras, não? — Só mais uma coisa. — prossegui — Não seria mais fácil cancelar a viagem? Se o imperador corre risco de sofrer um atentado, por que permanecer com isso?

— Nós já lhe fizemos essa proposta, — desta vez, a senhora Rhodes quem respondeu — Mas o senhor Imperador insiste em ir. Ele está ansioso para conhecer que tipo de inovações serão apresentadas nessa exposição. Ele crê com veemência que irão contribuir para o desenvolvimento do país, por isso deseja ir ver pessoalmente. — sinceramente, achava uma besteira sem tamanha o imperador se arriscar dessa forma. E ele se esquecia que não estava arriscando apenas a sua vida mas de todos próximos a ele e até dos agentes que iriam lhe guarnecer, mas, um lacaio como eu não tinha escolha em meio a engrenagens tão grandes que carregavam esse sistema.

— Suponhamos que eu aceite e vá proteger o imperador. Que tipo de inimigos esperamos encontrar?

— Salieri — Helena, de repente, respondeu incisivamente. — Ele é o inimigo que está a espreita. Ele quem busca tomar a vida do imperador. — respondeu com a voz tensa. Ao que parece, eu poderia supor que o irmão não era o único com histórias a se contar sobre Salieri.  

Salieri...

Salieri, Salieri, eu já estava exausto de escutar esse nome! Esse monstro maldito que apareceu como uma montanha no meu caminho, o desgraçado que me arrancou lágrimas e me causou a mais profunda dor por tirar meus amigos. Nós, os calouros da comuna de Cartago, a família do professor Tobias, Apolo e agora até mesmo o imperador, Salieri insistia em flagelar nossas vidas. Era como Anthony, o desgraçado do Anthony, que eu tanto odiava. Mataria os dois se eu tivesse a chance.

— Então eu aceito. — respondi, numa voz levemente temperada com aspereza — Mais do que proteger o imperador, também tenho meus acertos com Salieri.

Foi então que o senhor Tristan estalando a língua, roubou minha atenção. Ele bufou e ergueu uma sobrancelha, senti que em desafio.

— Um garoto como você se crê mesmo a altura de enfrentar Salieri? Por acaso, tem alguma noção de quantas pessoas este demônio chegou a tomar a vida? De classes acima da sua, pessoas infinitamente mais poderosas. — por que ele estava me falando isso? Sim, eu sei o quanto aquele desgraçado era poderoso, eu vi seu poder, o senti perfurar meu olho. Vi rasgar o pescoço de Nestor e empalar o peito de Ária. Vi o estado deplorável em que deixou cativo Apolo. Vi como ele colocou as mãos em nossas vidas a pouco tempo, então sim, eu sabia da droga de poder que esse desgraçado tinha. Mas, mesmo assim, eu não poderia esquecê-lo. — Não, um garoto largado como você, jamais entenderia. Falta-lhe disciplina, nunca se tornará mais do que um classe delta com este tipo de atitude. — ele concluiu.

— Com todo o respeito senhor, mas o que diz ao senhor que eu não conheço o poder de Salieri? Por acaso o senhor me conhece de verdade? O Senhor está falando a verdade sobre mim, ou está falando o que acha que é verdade sobre mim? — acredito que eu tenha dito dum modo um pouco mais impertinente do que eu planejava. Tanto que, nos primeiros segundos, o senhor Tristan ficou estarrecido. Aproveitei o momento para respirar fundo e me preparar para receber as consequências do que ousei proferir.

— Não seja insolente, deveria dar-lhe uma bofetada por isso. — ele me encarava com severidade. Dei um passo para trás. Senti Tobias recostar a mão em meu ombro.

— Não, o senhor não fará isso, senhor Pendragon. — o professor disse. — Franz está certo, o senhor não conhece o meu aluno, não sabe metade do que nós passamos. — encontrei seus olhos, eles fitavam o classe alfa intrépidos, não piscavam nem desviavam seja para a direita ou esquerda. O professor Tobias sempre teve tremenda reverência pelos Dragões Lendários de Cartago, eu diria que até medo deles. Contudo, sabia também que sua vida estava dedicada em defender seus alunos, no caso, eu, seu primeiro e único aluno e enfrentaria deuses e dragões se assim tivesse que fazer por isso. Uma pausa pairou entre nós, um longo e interminável silêncio. Vi o senhor Dom Sélquis entediado, reclinado na cadeira, Helena, a irmã de Tobias, segurando os lábios para não desengatar a gargalhada, a senhora Rhodes, apenas observando como um falcão voraz e sábio e Tristan retribuindo-lhe uma feição de assombrar a alma. — Se, por ventura, Salieri der o rosto — o professor enfim quebrou o silêncio —, então eu pessoalmente lidarei com ele, mesmo que custe minha vida.

— Este compromisso é seu. — Tristan frisou. — Se não cumprir e o imperador morrer, você, assim como Franz, serão uma desonra para a Comuna de Cartago.

— Pois que assim aconteça.

Mais alguns detalhes ínfimos sobre a viagem foram destacados. Anotei na cabeça o que eventualmente se fizesse importante. De qualquer forma, deste modo, em meio as fumaças sepulcrais vaporizadas das auras arrebatadoras dos dragões, a reunião com o conselho cessou-se.

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Deram-me poucos dias para arrumar as malas. De início fiquei receoso de descontinuar temporariamente o trabalho no jornal — e isso me levou seriamente a discutir a possibilidade de recusar essa missão. Tinha aluguel para pagar, caixotes a se abrir, papéis a se escrever e rascunhos a se copiar. Eu precisava iniciar os trabalhos o quanto antes, caso contrário, o lucro não me veria tão cedo. Sabe-se lá quanto tempo ficaria fora do país, quanto prejuízo não traria de volta comigo. Mas Dom Sélquis, como o bom capitalista que era, também sabia disso.

Dois contos de réis. Sim, por incrível que pareça esse era o valor da missão. É claro que o dinheiro seria dividido entre todos os agentes que iriam trabalhar nela. Ainda assim, mesmo que comigo estivessem dez outros agentes, se a missão fosse cumprida com êxito o valor já seria suficiente para cobrir pelo menos um ano inteiro de aluguel e ainda sobraria.  

“Um bom homem de negócios não deixa passar uma única oportunidade sequer” — O senhor Dom era tão persuasivo quanto era arrogante.

Eu lembro que pensava nisso a medida que meu corpo sacudia como uma sacola de batatas ali, aconchegado acima da mula. Senti a umidade do mar soprar no meu rosto. O burburinho dos marinheiros e o rugido das ondas se quebrando quase me dava nostalgia.

— Esse é o navio? — perguntei ao professor Tobias. Estiquei a aba do chapéu para frente dos olhos, o sol como sempre naquela cidade estava insuportável.

— É, parece incrível, né?

Apertei os olhos para tentar ver melhor, o sol insistia em passar pelo chapéu.

— É... Para ser sincero imaginava algo maior. Afinal de contas, o imperador em pessoa irá viajar nele. — Era um navio grande sim, não gigante, mas grande. Umas cinco ou seis velas bem altas, uma chaminé, e um convés espaçoso. Seria uma viagem confortável, mas não acho que digna do imperador e de toda a sua corte.

— Acha que o próprio imperador exigiu essa simplicidade? — quase não escutei a voz morna de Apolo logo atrás de mim. — Talvez ele não seja um homem extravagante.

— Monarcas são extravagantes por natureza.

— Franz, Franz, lá vai você de novo medir as pessoas com sua própria régua. — curvei o pescoço para o lado. Fiquei surpreso.

— Piatã? O que faz aqui? — apertamos os braços um do outro e vi sua preguicinha esticar o pescoço para cima de seu ombro, afim de encontrar meu rosto. Ela sorriu despretensiosamente e aproveitei para alisar seus pelos.

— Nós também vamos com vocês! — respondeu

— Como assim? Do nada?

Repentinamente, a temperatura, que já estava quente, senti aumentar. Pus a mão na testa, retirei-a ensopada e áspera. Parecia que eu caía dentro da boca de um vulcão. Contudo, estranhamente esse era um calor familiar. Sim, ficou claro quando vi uma sombra emergir ao lado de Piatã. Levantei os olhos. Lá estava ele, o curupira dos fios flamejantes. Me encarava animado, sorridente e arteiro com aqueles olhos escarlates como rubi. O que ele fazia lá? Também participaria da missão? Se bem que era mesmo a cara de Áquila fazer essas coisas.

— Eu já falei com Pedrinho — Áquila iniciou. Lembro de ter pensado quem raios deveria ser esse tal Pedrinho. — Ele não se importou em deixar mais gente vir, desde que fossem classe delta. — deixar? Esse Pedrinho era o imperador que ele estava falando, oras! Desde quando ele tinha tamanha intimidade com ele? Áquila de repente virou-se para trás e disse: — Ela também vai com a gente. — inclinei o corpo e vi Elizabeth. Ela permanecia sem dizer uma única palavra, somente sorriu graciosamente.

— Mas por que vocês resolveram vir? — perguntei.

— Para conhecer outro país, é claro! Quem perderia essa chance?! — Áquila respondeu.

— Todo mundo sabe que apenas os classes alfa são enviados para missões em outros países. — Piatã complementou — Isso nunca vai voltar a acontecer de novo! — Por fim, nós três nos abraçamos naquele júbilo. Eu estava com medo sim, mas seria uma aventura, uma épica como aquelas que lia nos livros.

Dali, um grito do além chamou-nos a atenção. O imperador chegava junto a sua companhia nesta viagem. Com ele se via sua esposa Tereza Cristina, alguns de seus criados atrás e alguns nobres ao seu lado. E foi aí que meu júbilo cessou. Entre estes nobres, encontrei o rosto amargurado e soturno de meu Tio George.

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