Quarenta - FINAL

Áquila iniciou o ataque com uma rajada flamejante. Queimava os olhos só de ver. O fogo abraçou Salieri de todos os lados. Ao mesmo tempo Haaka mirou a carabina e começou a atirar. Me aproximei de Salieri, eu sabia que ele evadiria pela esquerda e assim, quando aconteceu, uma adaga já estava pronta para rasgá-lo de um lado ao outro. Salieri gritou, mas conseguiu também me acertar na cabeça com a parte de trás da lança. Recuei tonto como um bêbado. Depois Salieri deu uma arrancada até Áquila com a ponta da lança apontada até seu pescoço, Áquila defendeu-se com uma espada de fogo. Eles começaram uma batalha solo, uma dança de luzes. Áquila desferiu um ataque até o rosto de Salieri que o queimou parcialmente. Salieri deu um contragolpe mais certeiro, atingindo o antebraço de Áquila. Em seguida o barbarian chutou seu tornozelo, Áquila quase se desequilibrou, mas conseguiu apoiar a espada no chão para não cair, Salieri aproveitou o momento para espeta-lo no estômago, onde já havia um corte em Áquila. Ele não conseguiu cravar a espada muito profundamente, mas conseguiria se Haaka não o tivesse acertado com um tiro explosivo nas costas. Haaka retirou a baioneta da carabina e correu até Salieri que já o aguardava com a lança apontada até ele. Áquila atacou-o por trás desprevenido, provavelmente Salieri deveria ter pensado que o ruivo não teria mais condições de se mover. Então os dois começaram uma luta em conjunto, Haaka com uma ofensiva pela esquerda e Áquila pela direita. Eles tinham um ritmo difícil de seguir com o olho. Mas consegui ver Haaka o acertar nas costas e sendo ferido no rosto, Áquila o acertar de frente e sendo ferido no abdômen. Os ferimentos de Salieri até poderiam ser assustadores se fossem num humano, mas o barbarian parecia ter uma resistência absurda aos golpes. Num determinado momento, Salieri os afastou em alguns passos com chutes e socos, depois, sem ninguém esperar, ele arrancou de sua lança a lâmina presa ao cabo.

— Já cansei dessa briguinha infantil. — ele apertou a lâmina da lança na mão e ela se estilhaçou numa poeira brilhante. A poeira começou a ser absorvida em seu corpo e seus ferimentos curaram.

— Isso é muita apelação! — Áquila balbuciou estupefato.

O corpo de Salieri brilhava como um anjo. Ele começou a levitar como antes e ficou alto o suficiente para iluminar toda a cratera.

— Mantenham a calma, pessoal — chamei a atenção deles — Nós ainda estamos de pé. Vamos atacar ele juntos, ao mesmo tempo.

— É exatamente o que eu estava pensando. — Áquila sorriu.

Salieri revirou os olhos.

— Acho que vou vomitar... Vocês ainda vão continuar com isso? Que desprezível. — corremos até ele. Não conseguiríamos nos aproximar o suficiente até lá em cima para um ataque de perto, por isso lancei adagas, Áquila bolas de fogo e Haaka voltou a atirar com a carabina. Salieri revirou os olhos mais uma vez, esticou os braços e uma energia branca pulsante saiu de seu corpo. Era massiva e repeliu nós três e nossos ataques a dezenas de metros de distância. — Querem saber de uma coisa? — Salieri pairou até nós — Eu não preciso perder tempo aqui com vocês... Sei onde o imperador está. Vou acabar com isso logo de uma vez.

Haaka soltou um riso falso.

— E acha que vamos deixar você passar, seu desgraçado? Não, você vai ficar aqui, ocupado demais lutando com a gente até nós quatro morrermos.

O barbarian arqueou as duas sobrancelhas.

— Por que eu ficaria ocupado lutando contra vocês, sendo que vocês mesmos estarão ocupados lutando entre si? — subitamente ele me encarou, seus olhos estavam vermelhos escarlate.

Num estalo eu já não estava mais no campo de batalha.  

Agora me via num lugar escuro, frio, carregado por melancolia. Parecia um daqueles sonhos surreais. Encarei o chão, era neve, como aquela que outrora havia visto. Mas aqui tinha uma camada fina e, o solo, feito de pedra. O horizonte era negro e incerto, não me atrevi a caminhar por lá, em vez disso me agachei e toquei no chão. Minha mão se desenhou sobre a neve. Não, aquilo não parecia ser uma ilusão ou um sonho, a sensação fria da neve na mão, a aspereza da pedra abaixo e o ar rarefeito que me sufocava eram sensações expressivas demais.

— É porque você está no âmago de sua mente. — levantei o rosto, uma silhueta caminhava em passos lentos até mim. — Tudo aqui é tão real como no mundo lá fora. — Tinha uma pele bronzeada como castanhas de caju, cabelos curtinhos, negros e lisos. Olhos que eu conhecia bem e uma serenidade familiar no rosto. — Eai Franz? Acho que essa é a primeira vez que nos encontramos, quero dizer, nos encontramos de verdade.  

— Salieri?

— Não, Piatã. O verdadeiro Piatã.

— Mas como isso...  

Ele se aproximou, agachou-se para que seu rosto ficasse na altura do meu, depois sorriu. Só... Sorriu.

E ficou em silêncio.

Depois ele finalmente disse:

— Não era para ser possível, mas eu não posso deixar Salieri destruir o que você está lutando tanto para conseguir.

— Então você existe mesmo?!

— Eu existia... — ele viu minha surpresa e riu — Relaxa, não sou um espírito ou coisa parecida. Quando Salieri tomou meu corpo, um fragmento de minha mente ainda restou. Sou uma pequena vela num castelo escuro e gigantesco, minha luz não é suficiente para iluminar todo o castelo, mas continuo aqui, reluzindo o que eu posso.

— Por que Salieri tomou seu corpo? A história sobre sua vila que ele contou...

— Sim, é quase toda verdade. A diferença é que ninguém apareceu para me salvar. Mas eu entendo o lado dele, seu corpo estava dilacerado e segundos o separavam da morte, ele precisava encontrar um hospedeiro para mantê-lo vivo.

Refleti nisso e meu peito se apertou ainda mais com aquela história. Uma tempestade de neve começou ali no mesmo instante. Estremeci com o frio.

— Calma, Franz! — ele disse — Não esquece que está na sua própria mente. Tudo o que sentir terá consequências aqui. — e a nevasca cessou gradualmente.

Apertei os dentes e levantei mais uma vez o rosto até ele.  

— O que eu preciso fazer para pará-lo?!

— Neste exato momento, Salieri está tentando tomar sua mente. Estou atrasando o processo como posso, só que para realmente vencê-lo aqui, tudo depende de você. Mas creio que você já saiba o que precisa fazer, certo? Você viu o futuro, não viu?  

— Mas eu não vi isso no meu futuro.

— Talvez seja uma benção. Deste modo você terá a chance de descobrir a resposta por conta própria. Mas tudo dependerá de você, Franz, tenha isso em mente. Agora tudo está em suas mãos. Se Salieri conseguir controlar sua mente e escapar, a luta vai acabar, o imperador será morto e você e seus amigos também.

— Depende de mim? Mas o que eu preciso fazer? Me diga logo! — como essas meias palavras me crucificam!

Ele encarou o chão, pensativo.

— Por que ainda tem neve no chão? Lembre-se, estamos na sua mente, por que ainda tem neve em sua mente?  

Sim, pensando bem realmente havia algo de errado naquela paisagem sombria e sufocante. Minha mente estava em conflito. Seria por causa das minhas perdas? Por causa de todas as injustiças?  

— Olhe mais para baixo. — Piatã sussurrou.

Vi a pedra áspera. Encostei novamente a mão nela e senti um choque na espinha. Abri o olho.  

Estava em outro local.  

“Desta vez ficará aí por doze horas... E se reclamar serão mais doze horas!” — era a voz de meu primo Anthony. Estava escuro, não tanto quanto minha própria mente, mas estava escuro. Por lá encontrei caixotes de madeira, ferramentas de jardinagem e teias de aranha. Aquilo era o quarto escuro que eu ficava? Não parecia mais tão assustador quanto antes. Ali dentro havia uma criança agachada e chorando. Seus cabelos eram negros como carvão e tinha uma pele pálida e anêmica.

— Quando você contou sua história a Salieri, eu também escutei. — Piatã surgiu detrás de mim do nada. — Por que não está com medo agora, Franz? Você não temia tanto este quarto?

— Ele não me parece tão ameaçador.

— Ele não é mais uma ameaça, não é?

Outro choque me atingiu. Levantei o rosto e agora estava próximo a uma porta grande de carvalho. Estava de dia. Olhei para o lado e vi aquele garotinho ali perto da porta também. Seus olhos estavam marejados e ele encarava furiosamente alguém. Era um tribunal e o juiz a sua frente era o destino de seus olhos.

— Isso te diz alguma coisa? — Piatã pergunta.

— Por que estou tendo estas visões?

— Então ainda não entendeu?

— Tem coisas que eu não gosto de relembrar.

— Bem, neste caso vamos para a próxima.

Subitamente me vi num campo aberto. O sol já deitava-se no horizonte e uma luz laranja e acalentadora iluminava tudo. Aquele garoto estava lá de novo. Desta vez com a mão esticada e uma luva de outono vestindo-a, ele abria e fechava o punho desesperadamente. Então um homem chegou e recostou a mão em seu ombro.

Minha mente pesou em ver seu rosto.

— Neste dia — iniciei — Eu estava sem mais esperanças de conseguir ativar o meu poder... Não me lembro de ficar tão desesperado. Mas o professor Tobias estava lá, para me dar esperanças. — suspirei — E foi só o que ele tem feito desde então. Me dar esperanças.

— E por que está decepcionado? No final não é disso que você precisa? Esperança? Afinal, que outra coisa nesse mundo pode vencer o medo do futuro senão a esperança?

Meu olho se arregalou. Devaneei um pouco e depois sorri. Sorri aberta e genuinamente. Era como se aquele sorriso me trouxesse toda a paz que eu procurava.

— É por isso que tive estas visões, não é? Todas essas vezes eu deixei me dominar pelo meu medo do futuro. Esse medo é a neve que ainda cobre minha mente.

Piatã sorriu.

— E o que você vai fazer agora?

— Vou derretê-la... — lembrei do professor — Vou derretê-la com esperança. É o que o professor Tobias iria desejar. — começou sutil, com uma lágrima despretensiosa fugindo-me. Logo, comecei a chorar. Desta vez a represa rompeu-se completamente. Um choro silencioso, mas não era aflitivo. Na verdade, parecia que eu estava me desvencilhando de cordas que amarravam-se em meu braço. Caí no chão e segui chorando. Piatã agachou-se mais uma vez até mim.

— A neve está derretendo. — sussurrou e sorriu — Com isso Salieri não deve mais conseguir entrar aqui. Só que ainda não acabou Franz, a luta final começa agora! — com o olho encharcado, encontrei seu rosto mais uma vez. A pele escura de Piatã brilhava como o sol. Seu corpo desintegrava-se em faíscas de luz. — Faça o que precisa fazer e, boa sorte. Minha vela continuará acesa por você!

Minha visão estava turva e meu corpo enfraquecido, mas aos poucos conseguia enxergar as coisas a minha volta. Lá encontrei Áquila e Haaka me encarando perplexos. Retornei ao campo de batalha.

— Franz, você tá bem? — Áquila perguntou.

— O quê? — refleti. Provavelmente enquanto viajava nessa odisseia pela mente, meu corpo deve ter ficado ocioso do lado de fora — Sim, agora eu estou.  

Salieri bufou, parecia impaciente.

— Piatã... Aquele pirralho de merda continua me atrapalhando. — estalou a língua — Tudo bem, vou acabar com isso eu mesmo. É um desperdício de poder, mas que seja... — a aura luminosa em volta do seu corpo intensificou-se. Ardia o olho e queimava a pele.  

— Vamos logo, temos que atacar ele em conjunto agora! — Áquila exclamou. Contudo, dei um passo a sua frente e estendi o braço impedindo-o.  

— Eu estava com medo... — iniciei — Tinha medo de que desse errado. Mas agora eu percebo que não importa o que pode acontecer, mas o que eu preciso fazer.

— Franz...

— E eu preciso fazer isso. Preciso mostrar o poder de meu medo.

— O quê? — Salieri resolveu parar o ataque para gargalhar — O poder de seu medo? O que esse poder inútil pode fazer? Confesso que Tobias até tinha alguma coisa pra mostrar, mas você... Você é só um pirralhinho assustado que não sabe o seu lugar.

— Sim, o professor é infinitamente melhor do que eu. Ele é a pessoa mais poderosa que já conheci, mais gentil e mais sábia. E é por isso que me orgulho tanto de utilizar este golpe que ele mesmo me ensinou. — deixei as duas mãos bem abertas, depois uni os polegares, fazendo-os se abraçarem até formar uma borboleta com as mãos. Finalmente abaixei todos os quatro últimos dedos, deixando levantado somente o indicador. Estava na hora, não importava se seria arriscado, pouco ou muito eficaz, o atingiria ou não. O que realmente importava é a derrota de Salieri. Meu medo do futuro enrijeceu meus músculos até aquele instante, mas isso tinha que acabar. — Invocação de Outono, delta.  

Meu corpo esquentou, esquentou e esquentou mais. Minha cabeça fervia e meu sangue queimava em brasas. De repente, de minha luva uma energia dourada transbordou. Ela seguiu como um feixe até o céu, assim como foi quando o professor Tobias utilizou este ataque. A noite virou dia e o céu parecia mergulhar num paraíso divino de luz. Depois, um arco brilhante surgiu em minhas mãos. Nunca havia pegado num arco antes em toda minha vida, mas estranhamente eu sabia a forma como usá-lo. Havia uma flecha, uma única flecha apenas. Era larga, pontiaguda e pesada. Só me restava uma opção ali, atirá-la. Preparei o arco, estiquei a flecha em sua corda e aproximei-a de meus olhos para mirar.  

Depois lancei.

A flecha riscou o ar, delineou o céu e seguiu até Salieri.

— Uma flecha? Só uma flecha? Está zombando de mim por acaso? — ele utilizou sua repulsão mais uma vez e afastou a todos nós sem dificuldades, exceto a flecha. Ficou perplexo por um segundo mas agiu no outro. Iniciou atirando um raio luminoso até ela. Ele esticou os lábios, orgulhoso, já que parecia ter acertado sem dificuldade, contudo quando olhou em volta Salieri notou que a flecha agora vinha de outra direção. Ele seguiu atirando os mesmos raios, um atrás do outro, eram feixes de luz vibrantes, de queimar as retinas, por isso nem olhávamos direito. Toda vez que um deles acertava a flecha, ela reaparecia numa direção totalmente diferente, quase como se o destino se moldasse a trajetória que a flecha precisava fazer. Ele atirou outro raio, outro raio, outro raio, outro e outro. Começou a gritar desesperado e seguiu atirando. Num momento a flecha estava num lado, depois em outro e, deste modo, ela se aproximava dele. O poder se mostrou claro, era uma invocação de um futuro imutável, a flecha o atingiria independente do que ele fizesse. O futuro nunca iria mudar. E assim, ela o atingiu.

Salieri caiu.

Primeiro nós três, Haaka, Áquila e eu nos entreolhamos estupefatos, não sabíamos ao certo o que fazer. Então decidi ir até o corpo de Salieri. De longe percebi que ele ainda respirava, por isso me aproximei com cautela. E não deu outra. Ele se levantou com as forças que lhe restavam e correu segurando uma das adagas que restavam no chão. Mas ele era lento. Segurei seu braço sem dificuldade. Ele deveria estar queimando de raiva, não tinha dúvidas. Seu rosto era um delator. Depois, essa raiva ainda presa nele transformou-se em tristeza. Fiquei surpreso. Salieri começou a chorar. “Eu só queria mostrar para ela que também sou um bom filho.” — Ele disse. Apertei seu braço com raiva.

— Você pisou em cima de centenas de vidas para atingir seu objetivo. — peguei meu saxo com a outra mão. — E agora, sua punição chegou. — cerrei os dentes e também minha mão sobre o cabo da faca. Num só golpe, rápido e preciso, rasguei seu peito profundamente. Salieri caiu de novo, só que desta vez, para não se levantar mais.

O que ele trouxe a todas aquelas pessoas enfim chegou a ele, a vida saiu de seus olhos.

Soltei um grito em seguida. Um brado efervescente e um tanto libertador. Paz saía de minha garganta, uma refrescante e confortadora paz. Por um instante me lembrei de quando Nestor também gritou assim. Segui gritando então Áquila e Haaka me abraçaram. A voz cessou e o grito se transformou em choro.

Sim, acabou.

————||————

Áquila estava ajoelhado ao lado do professor Tobias. O corpo do professor descansava com serenidade. Sua pele era umedecida pelas lágrimas do jovem ruivo.

— Professor... — ele lamentou — Eu queria continuar aprendendo tanta coisa com o senhor ainda. Por que o senhor teve que... — Haaka e eu nos entreolhamos aflitos. — Professor — Áquila voltou a lamentar — Por que o senhor precisou morrer!

Então houve um suspiro e um estalar de língua.

— Eu não estou morto, seu idiota. Pode falar mais baixo Áquila? — olhamos para o lado, lá estava o suposto fantasma. Mas não parecia um fantasma, só um professor todo arrebentado, deitado cheio de preguiça debaixo das estrelas — Não tô aguentando de dor de cabeça.

Áquila ficou atônito. Haaka quase gargalhou.

— O senhor... O que raios aconteceu? O senhor deveria estar morto!

— Era isso que você queria?

— Não! — ele gritou — Quero dizer, eu pensava que estava morto! — depois o ruivo nos encarou com revolta — Por que estão com essa cara? Vocês sabiam?

— Mas é claro! — Haaka debochou — O professor já usou esse truque do clone para escapar da morte uma vez, não lembra?

— Se até Haaka que é um tapado percebeu, então você precisa treinar mais sua percepção, Áquila. — o professor disse. — Amanhã cedinho vamos começar seu treinamento.

— Não me compare com este vira-lata, professor! Eu só não percebi porque acho que me entupi demais de carne podre com Ketchup, isso tá afetando meu raciocínio.

Haaka não gostou nem um pouco de ser chamado de vira-lata, daí, como já era esperado, começaram a discutir. Eu me aproximei do professor Tobias, finalmente. Ele não me viu já que seguia mantendo os olhos fechados, mas percebeu minha presença e sorriu.

— Então é isso... Acabou.

— Acabou, professor. Pelo menos uma parte acabou. — me sentei ali perto dele. Soltei um suspiro de alívio.

— E tudo graças a você, Franz. — ele pôs a mão no bolso e retirou a moeda que lhe entreguei. No cordão que se enrolava nela, havia um pequeno pontinho verde preso. Frágil, singelo e desinteressante, havia ali o trevo de quatro-folhas.  

— Eu diria que foi sorte.

— Talvez. Se Salieri percebesse que eu estava vivo, ele com certeza não deixaria o trabalho incompleto. — o trevo desfarelou-se naquele instante, tornou-se uma poeira esverdeada que foi levada pelo vento — Mas essa sorte veio de você — comecei a refletir nisso, assistindo a valsa das estrelas. — Obrigado, Franz. — eu não disse nada, mas também não precisava, o professor sabia o que eu estava pensando, incrivelmente ele sempre sabia. — Sabe, confesso que eu me sentia como você em relação a Salieri.

— Sério? O senhor? E por que nunca disse?

— Eu decidi esconder, afinal eu tinha que ser o professor racional e firme que você precisava ter. Mas agora me sinto em paz, uma leve e singela paz. Obrigado mais uma vez Franz, obrigado.

Olhei para minha luva, a luva de Nestor. — Essa era a vontade dele. — Logo notei algo diferente na parte da frente. A inscrição delta havia sumido e dado lugar a letra “gama”. Sim, o caminho para chegar a classe alfa já estava sendo escrito, e eu, como Franz Silvertoch, descendente da milenar casa Silverock de ealdormans do antigo Reino da Mércia, não desviaria deste caminho.

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