T menos onze

— O que andou aprontando ontem? — indagou Terezinha durante o café da manhã.

— Enfrentei um bandido comum, só isso. Num tava pensano direito... Tive de fugi de qualqué jeito.

— Foi destaque no noticiário, sabia?

— Não quis , mas já tô acostumado.

— Descobriu alguma coisa?

— Não, nada.

— E então, vai continuar dando uma de turista? Onde vai hoje? Catedral? Congresso Nacional?

— Se for pensar assim, acho que vou no Memorial JK. Nunca estive lá, acredita?

— Sim, sei que você não é chegado a museus e coisas do tipo.

Café deu com os ombros. Começou a pensar que poderia estar fazendo uma tolice. Ele nunca fora o tipo de herói que se saia bem como detetive. Ele era apenas bom em socar e apanhar. Se Coffee-Break ainda estivesse vivo... O garoto conseguiria ajudá-lo em sua investigação. Falando sério, aquilo era mais um passeio do que uma investigação.

— Que cara é essa Café?

— Ah, eu num sei o que tô fazeno... Se você tivesse visto o que eu vi... O horror das bombas.

— Bem, faça sua parte. Como disse, todas as agências e outros heróis também estão investigando, não é mesmo?

— É... Você acredita em fantasmas, Teca?

— Que conversa é essa agora, Café?

Café olhou para a imagem de seu irmão cruzando o corredor e depois desaparecendo.

— Não é nada... Besteira. — ele ainda estava na dúvida se estava ficando louco, ou se via fantasmas.

Mais tarde, Café chegou ao Memorial JK usando uma outra imagem holográfica como disfarce. Parecia um turista branquelo, mas com a pele avermelhada de tomar sol. Dizia que era da África do Sul para quem perguntava, pois seu sotaque de Inglês era notável. Aquela construção parecia uma espaçonave e ao entrar rumo ao subterrâneo, no meio de um espelho d'agua, sentiu certo enjoo. Deu uma olhadela nos painéis de fotos, e em alguns objetos. Isso fez com que se lembrasse de sua sala de troféus.

Depois subiu as escadas. Sentiu logo a diferença de ares. A parte do museu também era cheia de painéis e objetos. Logo depois estava a câmara mortuária. Sentiu-se atraído pelo local e fez o sinal da cruz, remontando hábito perdido de sua infância, temendo a possibilidade de encontrar-se com o fantasma de Juscelino. A câmara era escura, mas recebia forte iluminação vermelha do alto, por meio de um painel de mosaico circular. Abaixo dele, o esquife de pedra negro com os restos mortais. Ficou ali, observando por um longo tempo. Era um dia de semana, ainda pela manhã, de modo que havia pouco movimento no local.

Café sentiu um calafrio e a sensação de uma presença atrás de si. De fato, ouviu passos abafados no chão acarpetado.

— Um local lúgubre, não é mesmo? — uma voz falou no pé de seu ouvido.

Café virou-se para encarar um fantasma diferente do que imaginava. Ninguém menos que o falecido Senador Narsei. O herói piscou duas vezes com força, depois mais duas, o que as vezes funcionava para dissipar as visões, mas nada fez nesse caso.

— Ficou sem palavras, Homem-Café? Eu compreendo... Eu mesmo perderia a fala.

— Você tá morto, Narsei. Eu mesmo...

E então, sentiu o toque morno e firme da mão de Narsei contra seu braço. — Está muito enganado, meu caro. Nós dois sobrevivemos àquele fatídico dia, há quatorze anos.

Os olhos de Café se arregalaram. — Foi você! Você que roubou as bombas.

Narsei esboçou um sorriso triunfal. — Ah sim, fomos nós.

Em resposta Café levou as mãos em torno do pescoço do senador segurando-se para não esmagá-lo. A voz de Narsei, no entanto, veio calma e tranquila, como se não estivesse com a traqueia travada.

— Não sabe quanto esperei por esse momento, Homem-Café! — sua boca então se abriu e dela um jato de gás foi direto no rosto do herói. O reflexo de Café para não respirar o gás falhou e o efeito veio fulminante.

Narsei logo chamou em voz alta — Socorro! Este homem está passando mal! Chamem um médico!

Os poucos visitantes que estavam ali por perto se aproximaram. Um casal de homens bem atléticos de mãos dadas, mas vestidos como turistas, logo se prontificou.

— Sou médico.

— E eu enfermeiro.

— Precisamos levá-lo para fora, para tomar um ar.

A dupla carregou Café até o estacionamento. Lá fora, declarou ao segurança — Ele infartou! Precisamos levá-lo a um hospital imediatamente.

Levaram-no então a uma SUV preta. A dupla acomodou-o no espaçoso banco traseiro enquanto Narsei entrou e tomou a posição do motorista.

Deu um sorrisinho e disse — Ótimo trabalho rapazes.  

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