[ 001 ] Prophet's Chalice

01. CAPÍTULO UM :
« O CÁLICE DO PROFETA »

09:00 | 26 de março, 2005
10 anos atrás ─ Colorado, Rocky
Mountain National Park

OS PASSOS DE DIANNA vacilaram um pouco, seus pés pequenos e suas pernas curtas não era tão úteis para acompanhar o homem mais velho que dava longa passadas que conseguiam ter um ritmo mais rápido que o dela. Cansada da caminhada exaustiva, a jovem Atkins bufou, quase choramingando ao ter que continuar.

A sua frente, seu pai lançou um sorriso para ela por cima do ombro, seu olhar animado e desinibido não demonstrava qualquer sinal de cansaço. Pelo contrário, ela tinha certeza que ele poderia fazer isso por vários horas se fosse necessário. Dianna, sendo o oposto disso, estava disposta a se jogar no chão no momento em que suas pernas parassem completamente.

Diferente da filha de 16 anos, Harrison não pensava da mesma forma e também não se deixa afetar pela baixa disposição da menina. O sol alto no céu e o som dos pássaros ao redor são a disposição que ele precisava para manter a animosidade.

── Vamos, Anna. Não falta muito. ── Harrison tenta anima-la, disposto a estimula-la para continuar. A garota gemeu, exaurida. ── Não faça corpo mole, querida. Estamos quase lá.

── Pai, estamos caminhando a horas por essa trilha. ── Disse Dianna, ainda lutando para acompanha-lo e levando sua própria garrafa de água aos labios. ── Estou cansada, com sede e com fome. Vários mosquitos me picaram e minhas pernas estão formigando. Se você não parar, vou me jogar no chão e começar a gritar.

── Faça isso e vai ficar gritando no chão sozinha, igual uma maluca. ── Retrucou ele. ── Ninguém vai te ouvir a quilômetros de distância, Anna. Vai apenas se cansar mais.

── Isso é bom. Talvez um urso apareça e me coma. Ser devorada viva parece mais encantador do que continuar seguindo você.

Harrison riu, bem humorado.

── Não há ursos aqui, Dianna. E pare de ser dramática. ── Ele olha por cima do ombro mais uma vez. ── Está sendo tão ruim assim passar um tempo com seu velho pai?

Dianna bufou ao invés de dar o braço a torcer, desviando o olhar e torcendo o nariz, enquanto segurava as alças de sua mochila e mantinha as feições mau humoradas.

Passar um tempo junto de seu pai nunca foi um problema, Dianna gostava bastante de estar perto dele, ── as vezes mais do que gostava de ficar perto da sua mãe ── porém não era dessa maneira que ela esperava que seu final de semana fosse ser.

Quando seu pai a chamou para acampar em uma floresta, Dianna esperava algo menos... Rústico. Uma estadia em uma cabana talvez, sair para pescar, ela estava disposta até a assar marshmellos em uma fogueira mesmo não gostando tanto do gosto. Claramente seu pai pensava de maneira diferente.

Seu plano foi totalmente o oposto do que Dianna esperava, desde o momento em que eles tiveram que montar uma barraca no meio do nada até fazer trilha às 6 horas da manhã porque Harrison acreditava que encontraria os animais que estava procurando, após um homem vender para ele um mapa na estrada que com certeza era falso e fez os dois se perderem 3 vezes.

Dianna não estava interessada em ser a próxima garota desaparecida no meio de uma mata qualquer, tudo porque seu pai era teimoso demais e estava atrás de algo possivelmente infundado. Se ela não dependesse tanto dele, teria voltado sozinha, mas ainda estava ali e continuava o acompanhando pela trilha de cascalho, pisando em folhas e terra seca.

Harrison Atkins era biólogo, mas às vezes gostava de bancar o aventureiro. Ele não tinha aptidão para isso, seu senso de direção não era dos melhores e ele facilmente confiava demais nas pessoas, mas tinha um bom coração e uma determinação invejável. Dianna gostava de ser comparada com ele, mesmo que minimamente. Todos costumavam dizer que ela parecia demais com a mãe, Meredith. Falavam tanto isso que se tornou algo cansativo, repetitivo até. Ela já sabia que as duas eram parecidas, estava claro pelo rosto, o tom dos cabelos, os olhos e a personalidade.

Dianna tinha mais traços de sua mãe do que de seu pai e ela não precisava das pessoas lembrando isso toda a hora. Por isso desejava encontrar um pouquinho dele nela, mesmo que apenas um mísero detalhe. Ela não demonstrava com frequência, seu forte nunca foi demonstrar sentimentos explicitamente, mas se inspirava bastante em Harrison.

Após o divórcio de seus pais, Dianna esperou que eles se afastassem. Todas as suas amigas que tinham pais divorciados compartilhavam esse tipo de experiência, relatavam para ela que raramente viam o pai ou que não gostavam de se encontrar com ele. Dianna ficou com medo do mesmo acontecer com ela. Realmente esperou que Harrison não fosse cumprir com a sua parte, fugindo como era de se esperar da parte de qualquer figura paterna, mas, para a surpresa dela, ele não arrumou uma nova família meses depois da separação e a guarda dela realmente foi compartilhada.

── Sabe, o seu avô não costumava me levar para trilhas como essa quando eu tinha a sua idade. ── Comentou o homem, alguns passos a frente da filha. Dianna sabia que ele estava desacelerando por ela.

── Então é por isso que está me castigando? ── Ela indagou. Harisson lançou um olhar sério para a filha por cima do ombro, em troca Dianna fez uma careta e revirou os olhos.

── O que estou querendo dizer, engraçadinha, é que ele não me levava para viagens como essa pois nunca tinha tempo. ── Harrison explicou. ── E também porque tínhamos poucas coisas em comum. ── Ele murmura essa parte, algo entre uma resmungo e uma reclamação.

Era engraçado para Dianna pensar que seu pai e seu avô não tinham nada em comum, quando os dois tinham o mesmo trabalho. Boa parte de sua família paterna se dedicava ao ramo científico, logo eles esperavam que ela fizesse o mesmo e também se dedicasse a ciência. Isso seria possível apenas se ela gostasse de ciência, o que não era o caso e estava longe de ser sua realidade.

── Então eu passei a fazer isso sozinho. ── Continuou Harrison. ── Algumas caminhadas por um parque próximo na nossa antiga casa na Califórnia, viagens para a floresta local. Coisas desse tipo. Passei a colecionar plantas também.

── Mamãe comentou sobre isso uma vez. ── Dianna respondeu. ── Ela disse que você deu um vaso de planta para ela no primeiro encontro de vocês. Muito romântico. ── Ironizou Dianna.

── Eram belas plantas, eu mesmo as cultivei. ── Ele retrucou. ── Achei que daria uma melhor impressão do que buquê de flores.

── Não se dá um vaso de planta pra alguém no seu primeiro encontro, pai.

── Pelo menos funcionou, não? ── Harrison sorriu por cima do ombro.

── Depende do que significa funcionar para você. ── Dianna cruzou os braços. Pisou em um galho enquanto subia uma parte íngreme da trilha.

── Não é porque não estamos mais juntos que não funcionamos, Anna. ── Harrison segura as duas alças de sua mochila com as mãos. ── Tivemos ótimos 25 anos juntos. Não foi ruim. ── Ele dá um singelo sorriso.

Eles estão se aproximando de algo, Dianna nota que a trilha está acabando, mas seu pai não continua por ela. Franzindo o cenho, observa quando Harrison sai do caminho e passa por dentro da mata, afastando alguns arbustos.

Dianna o acompanha sem ter a chance de o perguntar para onde eles realmente estão indo.

── O que eu quero dizer com tudo isso Anna é que, alguns percursos na nossa vida são solitários. Talvez, a maioria deles. ── Os passos dele param e ele deixa que Dianna tome a frente. ── Mas todo o percurso, solitário ou não, acaba tendo um fim que compensa.

Ele está sorrindo quando Dianna passa por ele, ainda confusa. Suas feições mudam quando ela finalmente tem a chance de entender aonde eles estão: o topo de uma das montanhas do parque Nacional do Colorado. Não é de longe a maior, mas a vista realmente compensa.

Dianna aproxima-se da beirada com olhos grandes e uma expressão maravilhada. Eles podiam ver o lago, os pinheiros a distância e até mesmo a cabana da guarda florestal. O sol estava alto no céu, mas a brisa fresca afastava o calor, deixava tudo tão convidativo.

── Sabia que você ia gostar da vista. ── Comenta o homem, assim que para ao lado da filha. ── Sempre foi uma das minhas favoritas.

── Você não me disse que já veio aqui antes. ── Ela retrucou, encarando-o.

── Você nunca perguntou. ── Harrison arqueou uma sobrancelha para Dianna. Desvia o olhar ao revirar os olhos para ele e escutar a risada do homem mais velho ao seu lado. Sua atenção retorna a vista a sua frente. ── Não foi tão ruim assim, foi? A trilha, quero dizer.

── Foi um saco. ── Ela respondeu, sincera. Algo que Dianna normalmente sempre era, uma características que achava ter herdado de sua mãe. ── Mas foi legal fazer isso com você.

Sorrindo, Harrison leva o braço ao ombro da filha, envolvendo-a e a puxando para perto dele. Dianna se acomoda próximo ao lado dele, mais baixa que seu pai, seu ombro se acomoda próximo ao estômago dele, aproveitando para descansar a cabeça na área acima, inclinada levemente para o lado enquanto a mão dele aperta carinhosamente seu ombro em um sinal se conforto.

Os dois observam aquele lugar juntos e em silêncio. Um silêncio pacífico e bem-vindo que se formou, onde apenas estarem ali bastava para dizer tudo. Dianna nunca foi boa com palavras quando o assunto envolvia sentimentos, mas achava que seu pai entendia o quanto ela o amava. Ela realmente esperava que ele entendesse.

DIAS ATUAIS. ──
24 de setembro, 2015
Rio Eufrates, Siria

O barco da expedição partiu da costa em Aleppo, ao norte da Siria. Seguiram pelo rio Eufrates até Abu Kamal, onde o professor Edgar Hawthorne designará ser o local exato do que procurava.

Dianna estava a três dias com eles, desde que desembarcou em Londres para conhecer o senhor Hawthorne pessoalmente e entender as nuances de seu trabalho ── não que ela realmente precisasse disso, Dianna já havia feito uma pesquisa minuciosa sobre Edgar ── e também receber mais informações sobre o que eles fariam na Síria.

Ela deixou New York no dia seguinte a ligação para Jay Sarbth. Comunicou Cleo e pediu para que a amiga passasse a mensagem para sua mãe ── Dianna ainda estava fugindo de Meredith como o diabo fugia da cruz. Cleo disse que ela precisava parar de evitar a mulher e agir como uma filha de verdade, algo que a Atkins apenas ignorou como sempre fazia.

Dianna estava focada em seu trabalho, colocando-o em primeiro lugar, algo que já estava acostumada a fazer. Fingia estar interessada no que Edgar tinha a dizer sobre a expedição, juntava um material falso sobre a dita aventura, enquanto trabalhava no que realmente publicaria de madrugada, durante o tempo livre que tinha no quarto de hotel alugado por Hawthorne. Ela passou noites sentada em sua cama nada aconchegante, escrevendo sobre as histórias que o professor compartilhava com ela e destrinchando alguns argumentos válidos contra elas. Imaginava que aquilo poderia manchar a reputação do homem, mas não estava se importando com as consequências.

Além do dinheiro, Dianna também almejava um prêmio Pulitzer a algum tempo. Ela esteve como jornalista local do The New York Times a algum tempo, pensando em migrar para a reportagem investigativa, mas talvez pudesse concorrer na categoria de Escrita Editorial. Everett sempre elogiava a escrita dela, era a primeira coisa que ele pontuava sempre que lia qualquer artigo que Dianna escrevia. Tudo o que precisava agora era conseguir um trabalho grande o bastante para chamar a atenção.

Não imaginava que seria esse seu trabalho atual, nada muito grandioso poderia vir de acompanhar um velho à beira da morte ou da aposentadoria em uma viagem pela Síria, mas a esperança era a última que morre e Dianna precisava manter a positividade e dedicação. Trabalho era trabalho, afinal. Ainda tinha outros objetivos a cumprir.

Enquanto o barco alugado seguia rio abaixo, Dianna observava a paisagem quase desértica ao redor. Haviam poucas árvores, a maior parte do solo era terra e areia, algumas ruínas antigas poderiam ser vistas a distância. Planícies altas e densas, mas que ainda assim faziam com que ela se recordasse das pequenas viagens que fez com seu pai na juventude.

── Quem é H.A? ── O questionamento que partiu de Jay Sarbth tirou Dianna de seus pensamentos. Ele falava mais alto, tentando fazer-se ser ouvido por conta do som alto do motor do barco.

Os dois estão sentados lado a lado do barco, opostos a Edgar Hawthorne que está na extremidade esquerda, conversando com o guia que os acompanha naquela expedição, Martin Jarnson. Ele é um velho conhecido de Edgar, que mora em uma cidade próxima a algum tempo, atuando como gerente de uma reserva arqueológica.

Dianna encarou Jay e depois desceu o olhar para o que estava em seu colo, o caderno que Sarbth apontava. Seus dedos passaram pela capa de couro marrom do caderno, sentindo a textura familiar sobre os dígitos.

── Harrison Atkins. ── Ela respondeu, voltando-se para ele novamente. ── Era do meu pai. ── Jay assentiu em compreensão. ── Fiquei com o caderno depois que... Meu pai faleceu.

── Sinto muito.

── Tudo bem. Isso já faz algum tempo. ── Dianna comprime os lábios em um sorriso, uma linha fina levemente puxada para cima. Forçado, mas Jay não parece perceber.

── Você se tornou jornalista por causa dele? ── Indagou Jay.

── Ah, não. Meu pai era biólogo e minha mãe trabalhava em um banco. Nenhum dos dois influenciou na minha carreira.

── Então, o que fez você escolher ser jornalista?

── Entrei pro jornal da escola aos 13 anos, percebi que era muito boa em conversar com as pessoas e descobrir coisas e que preferia isso do que matemática. ── Dianna fez Jay rir fracamente com a sua fala. ── Também sempre fui muito boa em redação. No final, eu percebi que gostava bastante desse ramo. Das notícias, das descobertas, de ir atrás da verdade. Se empenhar por algo que realmente vale a pena.

Dianna gostaria de adicionar algo mais altruísta como "pelo bem das pessoas" ou "em busca do direito de todos de saber a verdade", porém sabia que isso não soaria verdadeiro. Nada do que ela fez até ali foi pensando nas outras pessoas, havia um limite até onde ela iria por alguém e deixava sempre essa linha lá embaixo quando envolvia priorizar a si mesma. Não era diferente em relação ao seu trabalho.

Chegar até o posto de uma das melhores jornalista do The New York Times antes dos 30 era algo muito difícil, poucas pessoas tem essa oportunidade e poucas pessoas tinham alguém apostando todas suas fichas nelas para isso. Dianna tinha sorte de ter Everett, ele viu algo nela que nenhuma outra editora viu: o seu sangue frio. Não que Atkins fosse totalmente sem coração, não era do tipo que via prazer na maldade, nem nada do tipo. Ela apenas se importava menos com aquilo que os outros pensavam e sentiam, sabia ser profissional e era rigorosa tanto consigo mesma quanto era com os outros. Era isso que a mantinha nos padrões de seu chefe.

── Uma pergunta, você já pensou em trabalhar com outra coisa antes? ── Jay a questiona. Aquela é a conversa mais longa que os dois tem, os últimos dias não lhes deixou espaço para se conhecerem melhor, tudo o que Dianna sabia era a respeito de Edgar. ── Se por acaso o jornalismo não tivesse dado certo, o que você faria?

A verdade era que Dianna raramente pensava nas possibilidades de algo dar errado, seria algo que apenas serviria para fazer com que duvidasse de si mesma. Aprendeu isso quando era mais nova e começou a deixar de lado os pensamentos negativos. Se ela queria alguma coisa, não importava como, Dianna conseguiria aquilo. Jogando limpo ou não.

── Acho que estaria trabalhando no McDonalds agora. ── Atkins torce o nariz, Jay ri da fala dela mais uma vez e os cantos da boca da mulher sobem levemente para cima. ── Ok, falando sério agora. Minha segunda opção seria ser advogada, como minha mãe queria. ── Dianna não consegue evitar revirar os olhos. ── Mas eu tentaria a biologia antes, mesmo sabendo que falharia. Não daria esse gostinho para ela ainda.

── Mãe difícil? ── Ele indagou com um tom de voz que indicava ser algo familiar para Jay.

── Mais do que difícil. Insuportável. ── Comenta Dianna, desejando revirar os olhos mais uma vez.

── Acho que ela se daria super bem com o meu pai, então. ── Ele ajeita os óculos no rosto, utiliza um dedo para retira-los da ponta do nariz.

── Vamos juntar os dois, quem sabe assim eles não enlouquecem juntos e nos deixam em paz? ── Ela sugeriu. Sorrindo, Jay balança a cabeça de um lado ao outro.

── Para a infelicidade da sua mãe, meu pai ainda é casado. ── Responde Jay.

── Uma pena. ── Disse Diana, apresentando uma falsa decepção.

O barco chega até o cáis, próximo a margem do rio. O motor para totalmente, o barqueiro pago por Hawthorne deixa a sua posição, sinalizando a eles que estão finalmente no lugar esperado e eles reúnem suas coisas para sair.

Dianna observa o lugar a sua volta, os arredores da cidade, as casas simples que os cercam e um pouco da vegetação que ainda resta. Abu Kamal é uma cidade localizada na província de Deir-et-Zor, próxima a fronteira com o Iraque. Ela é próspera na agricultura e pecuária, além de guardar muito da história da Alta Mesopotâmia.

Os pescadores nas docas os observam com certa curiosidade, principalmente quando eles saem do barco. Martin e Dianna são os primeiros sair, deixando Jay para ajudar Edgar. Por conta de sua idade mais elevada, o professor utiliza uma bengala. Sua locomoção não é tão rápida, sua coluna é um pouco envergada e várias vezes Dianna se perguntou se ele estava realmente dormindo durante o vôo, pois teve quase certeza de que ele parou de respirar completamente por uns 3 minutos algumas vezes.

Edgar Hawthorne poderia não ser tão velho, mas teve várias complicações de saúde. Ele compartilhou com ela vários de seus problemas ── parte do trabalho que ela também deixaria de fora ── e sua longa história na arqueologia. Dianna fingiu escutar a maior parte, em outros momentos ela ficou pensando onde seria bom para colocar a estante nova que queria comprar e se azul eclesiástico era realmente uma cor que existia (pesquisou na internet mais tarde, antes de dormir, e ficou surpresa por saber que realmente existia um tom de azul com esse nome).

── Eu posso andar sozinho Jay, não há necessidade disso. ── Nas docas de madeira, Martin e Dianna olham para trás, observando a fala ríspida de Edgar. ── Solte-me, você atrapalha mais do que ajuda.

Hawthorne afasta seu braço de seu assistente e caminha sozinho pela prancha de madeira que leva até as docas. Sarbth ainda gagueja algumas palavras para ele, porém tudo o que diz cai em ouvidos surdos.

Aquela não era a primeira vez que Dianna via o professor irritado com seu assistente, Jay era uma pessoa naturalmente desastrada em alguns aspectos. Não muitos. Dianna viu pessoas piores que ele. O problema era que Edgar era um homem detalhista, exigente. Talvez um pouco rigoroso, mas surpreendentemente ponderado em alguns quesitos. Atkins passou bastante tempo analisando a dinâmica dos dois, concentrada em saber detalhadamente onde estava se metendo quando aceitou aquele trabalho.

Ela percebeu que Edgar ás vezes se irritava com Jay, a maioria quando estava sendo tratado como o que era: um idoso que precisava de cuidados.

── Velho teimoso. ── Resmungou Martin, apenas para Dianna ouvir. ── 10 dólares que vamos perde-lo na entrada da tumba.

── 15 que ele cai e quebra o quadril antes de chegar lá. ── Ela retruca, Martin ri fracamente, tentando se conter.

── Fechado.

── Bom, finalmente estamos aqui. ── Animadamente, Edgar Hawthorne abre os braços ao chegar até eles, apresentando o lugar. ── Não é maravilhoso?

Dianna se contêm, decidida a não dizer o que realmente pensa. Sabe que pegaria.

── Esplêndido, eu diria. ── Não há nada ali que a agrade, ela já sente falta do hotel e da sua cama que não era confortável como a da sua casa, mas que serviu brilhantemente durante a noite. ── Não vejo a hora de começarmos essa expedição. ── Dianna sorri falsamente, uma tática convincente que ela já dominou.

── Esse é o espírito, senhorita Atkins. ── Responde Edgar, ele se volta para Martin. ── Onde está o jipe que você alugou, Martin?

── Kirshel disse que estacionou próximo as docas. ── Disse Martin, sinalizando para que todos o acompanhem.

Eles encontram o jipe no lugar indicado pelo amigo de Martin. Um veículo verde e preto que está incrivelmente limpo, porém não parece novo. O guia assume o volante, enquanto Jay senta-se no assento do passageiro ao lado dele e Dianna e Edgar sentam-se atrás.

Partindo das docas, o jipe segue estrada adentrando na cidade Abu Kamal, onde a maioria das casas são de adobe, algumas apenas feitas de tijolos, sem qualquer pintura.

Eles passam desde a parte mais pobre da cidade até aquela que aparentam possuir renda mais alta, porém o estilo não diverge muito daquilo que está se tornando familiar. As pessoas nas ruas, vestidas da cabeça aos pés com panos que cobrem seus corpos, vestimentas características daquela região, os observam enquanto eles passam. O plano do professor Hawthorne não é permanecer ali por muito tempo, o que ele procura permanece fora das regiões da cidade, mais próximo das ruínas que as rodeiam.

O jipe atravessa toda a estrada asfaltada até está em um terreno arenoso, sem casa e prédios ao redor, o que sobra são templos esquecidos, monumentos a muito tempo quebrado e vários e vários quilômetros de areia e rochas.

── Acho que agora é um ótimo momento para retornamos com nossa entrevista, professor. ── Comenta Dianna, posicionando o gravador no colo e abrindo seu caderno. Edgar volta-se para ela, parecendo concordar com a sugestão. ── Não lhe perguntei de maneira aprofundada antes, quando o senhor me falou sobre sua pesquisa em busca desse... suposto "coração dourado de Bagdá". ── Hawthorne assentiu. ── Mas o que exatamente lhe impulsionou a procurar esse exato artefato? Por que ele como seu último trabalho?

── Esse trabalho veio até mim em um momento de desespero, senhorita Atkins. ── Responde o professor, apoiando as duas mãos na bengala, mesmo estando dentro do jipe, e se inclinando um pouco para frente. ── Havia entrado em uma grande monotonia em minha vida, onde tudo que poderia fazer era dar aulas e orientar Jay. Fazia muito tempo que eu não deixava os Londres para algo e já vinha a muito tempo pensando em... Encerrar com meus trabalhos, mas não queria fazer isso de qualquer maneira. Não, eu queria que fosse algo... Grandioso. Da mesma forma que iniciei nesse ramo, era assim que eu queria que terminasse.

Dianna faz algumas anotações em seu caderno enquanto fala, alguns detalhes em relação a postura de Edgar, formula alguma pergunta através de algo que ele acabou de dizer, mas logo a descarta, rabiscando a mesma com o lápis.

── Durante uma viagem pelo Líbano, para um Congresso, eu tive a oportunidade de finalmente explorar o lugar e conheci pessoas maravilhosas. Também me aventurei por alguns lugares e descobri algumas histórias interessantes. ── Continuou ele. ── Isso me fez desejar reviver um antigo trabalho que engavetei quando não consegui progredir por mais de 2 meses. Um trabalho que poderia mudar todo o ramo da história. Nada jamais visto.

Deixando a bengala entre ele e Dianna, Edgar retira um papel do bolso. É de um material antigo, áspero e rasgado nas bordas. Anteriormente, Dianna havia visto alguns papéis que o professor e seu assistente lhe apresentaram sobre o trabalho. Eles mantiveram certa confidencialidade no início, quando os três apenas estavam discutindo os termos e quanto ela ganharia ao ajuda-los.

Depois apresentaram alguns mapas da Síria, explicaram o percurso que planejavam fazer, a história por trás daquilo que procuravam e alguns achados antigos pertencentes a Edgar que os levava a crer que a localidade do artefato era na Síria. Dianna não entendeu a maior parte do que eles diziam, mas fingiu entender apenas para poder continuar naquela jornada. Nada do que eles tinham a oferecer lhe interessava ── talvez apenas a comida de graça e a chance de conseguir atingir seus objetivos as custas de sabotar o deles. Ela ainda estava decidindo se a viagem para Síria compensava em algo.

Edgar desdobra o papel, apresentando uma imagem para Dianna. Era um desenho feito com carvão, traços marcados detalhavam o que parecia ser a entrada de uma tumba.

── Foi no Líbano que encontrei os primeiros materiais da minha pesquisa, durante uma escavação com meu antigo professor. ── Disse ele. ── Lá eu encontrei essa imagem, um desenho antigo de uma caverna, mas que não era de nenhum lugar conhecido pelos libaneses. Percebi que me era familiar, algo que já havia visto antes e me recordei dessa minha aventura inacabada onde achei pinturas como essa. ── Edgar sorri. ── Naquele momento, percebi que algo estava me chamando para terminar o que havia começado.

── Então... Tudo isso por causa de um desenho? ── Dianna arqueou uma sobrancelha, as palavras dele não haviam a convencido. ── Um desenho que você encontrou por acaso e que te fez lembrar de algo do passado.

── Não é qualquer desenho, senhorita Atkins. ── Retrucou Hawthorne. ── Ele carrega marcas do passado. ── O homem apontou com o indicador para o papel. Até onde Dianna sabia, ele poderia ter encontrado aquilo em uma loja de 1,99 ou feito alguns de seus netos pintar. ── É uma relíquia, e quis ser encontrada por mim.

── Destino, sério? ── Incrédula, Atkins o questiona. O sorriso dele treme um pouco e Dianna percebe que está saindo do personagem, ela precisa se conter. ── Desculpa, senhor Hawthorne. Não sou do tipo credúla, não acredito em forças místicas ou destino. Minha forma de pensar segue a linha do "ver para crer".

Edgar ri anasalado.

── Tudo bem, eu também não acreditava em destino quando tinha sua idade. ── Ele respondeu, dobrando o papel novamente e o guardou no bolso da camisa branca. ── Mas você logo verá a magnitude desse trabalho, senhorita Atkins. A muito desse mundo que olhos humanos nenhum seriam capazes de explicar, e creio que estamos perto de algo assim.

O ânimo e a positividade do professor poderiam ser bem visto pelas outras pessoas, mas era apenas irritante para Dianna. O melhor que pode fazer naquele momento, é forçar um sorriso e desligar a gravação por um tempo.

Ela adiciona algumas anotações no caderno enquanto o jipe continua, escutando uma breve conversa entre Jay e Martin sobre a Síria. Seu olhar se direciona para a paisagem em alguns momentos, observando os pedaços de terra pelo qual eles passam durante a viagem um tanto longa até o lugar que Edgar marcou no mapa.

O que deveria ter demorado alguns minutos, na verdade se tornou em uma procura de algumas horas. O papel que o professor Hawthorne tinha, junto com outros três, deveria direciona-lo para a entrada exata da tumba. Porém, veja bem, passaram-se mais de 40 anos desde que aquele artefato fora escondido pelos sirios, antes que pudesse ser roubado por exércitos inimigos. Edgar havia contado uma longa história sobre a tal joia conhecida como "coração de Bagdá", antes pertencente ao Iraque, mas agora um tesouro perdido nas tumbas da Síria. Porém Dianna não prestou atenção ── ela tinha tudo gravado, afinal. Não precisava se preocupar tanto assim com tudo que ele tinha para dizer.

Apenas 1 hora depois Martin estacionou o jipe em frente as colinas que ele deveriam subir. Dianna estava exausta e com fome, colocou um óculos de sol para cobrir os olhos e disfarçar o mau humor ── ela não respondia por seus atos quando estava com fome ── e seguiu o pequeno grupo pelo caminho rochoso. Dessa vez, quem ajudava o professor era Martin. Edgar havia se irritado com Jay novamente e se desfez da ajuda de seu assistente.

── Barrinha de cereal? ── Jay oferece para Dianna um pacote fechado enquanto eles sobem a colina. Sarbth carrega tanto sua bolsa quanto a de Edgar e mastiga um pedaço do cereal. Ela aceita.

── Obrigada. ── Ela agradece, segundo o pequeno pacote e abrindo-o. Deve ajudar a disfarçar a fome enquanto aquele trabalho não termina e Dianna pode finalmente descansa, enquanto fala mal com todo o prazer no mundo de Edgar Hawthorne. ── Posso te fazer uma pergunta?

── Claro. ── Responde Jay com o cenho franzido. Ele e a jornalista estão alguns passos atrás de Martin e Edgar. Nenhum dos quatro faz aquele percurso rápido.

── Por que você deixa que ele te trate dessa maneira? ── Questiona Dianna, mordendo um pedaço da barra de cereal de chocolate. O sabor a agrada, mas ela não sabe dizer se é pelo fato de estar com fome ou por ser algo realmente bom.

── Que jeito?

── Como você fosse um estagiário. ── Ela responde, arqueando uma única sobrancelha por trás dos óculos. Jay dá um sorriso tímido. ── Desculpa, mas você é o assistente de pesquisa dele. Não a empregada.

── Isso é... Ele não me trata tão mal assim, senhorita Atkins. ── Jay coça o lado da bochecha, em cima da barba por fazer.

── Quer dizer, eu já vi pessoas tratadas pior? Sim, com certeza. Mas ele não parece valorizar o seu trabalho ou a sua dedicação, muito menos a sua ajuda.

── Não é assim, o professor Hawthorne é apenas... um pouco impaciente. Presumo que seja por conta da idade avançada, não é algo que me irrite, sinceramente. ── Comenta Jay, ajeitando os óculos no rosto. ── Ele é um ótimo professor, me deu ótimas oportunidades de crescer. Sou muito grato por trabalhar com ele. Não teria chegado tão longe sem o Edgar.

── Não acha que está se subestimando demais sua própria capacidade?

── Não é por questão de capacidade, senhorita Atkins. O ramo da pesquisa, da ciência, arqueologia... seja o que for, é por si só um meio complicado. Poucas instituições querem dar chance para um jovem filho de pais indianos que entrou pra faculdade graças a uma bolsa de estudos. ── Ele explica. ── Eu posso ser bom no que faço, mas não estou dentro do padrão deles. Nunca estive.

Dianna solta um murmúrio baixo em concordância, assentindo. Pensou que não sabia de tudo, afinal. Talvez Jay estivesse realmente conformado com o lugar em que estava, talvez fosse melhor do que nada para ele.

── Só estou dizendo que, durante os dias que eu estive com vocês, percebi que ele tira um pouco dos seus créditos. ── Ela comenta. ── Você também contribuiu pra essa "descoberta", mas tenho certeza que o Edgar nem deve te mencionar e, se fizer, vai ser em letras bem miúdas.

── Isso não é sobre mim, é sobre ele. ── Retruca Jay. ── Eu não tenho relevância para esse artigo. Você não precisa saber nada sobre mim para escrevê-lo.

── Sou eu quem está escrevendo, logo sou eu quem escolhe o que é relevante ou não. ── Retorquiu Dianna. ── E se Edgar não concordar com o que for escrito, ele que procure outra jornalista ou que escreva o próprio trabalho.

── Não tem necessidade de entrar em conflito com o professor por conta disso, senhorita Atkins.

── É a minha forma de trabalhar, se desagradar a ele, não deveria ter me escolhido pra isso. ── Disse ela. ── A propósito, ainda não entendi porque vocês me escolheram.

── Pensei que fosse óbvio. Você é uma estrela em ascensão. ── Jay franze o cenho.

Edgar havia apresentado seus motivos antes, assim que eles conversaram pela primeira vez. Porém a conversa não foi tão explicativa quanto Dianna esperava. O professor disse apenas que gostou das matérias dela e a enxergou como uma "igual", alguém que via o mundo como ele ── Atkins ainda não havia entendido essa última parte, então tentou ignorar ── e por isso desejava que fosse Dianna quem escrevesse sobre sua última expedição.

Mesmo assim, ela ainda pensava muito no que realmente motivou Edgar Hawthorne a escolhe-la para um trabalho tão importante. Era por vingança pelo o que ela escreveu sobre Richard Croft? Ou ele queria provar que ela estava errada em seus pontos sobre a arqueologia fajuta que eles faziam?

Era realmente curioso e Dianna sabia que Jay acabaria entregando as respostas que ela procurava.

── Sim, isso eu sei. A questão é que... Meu artigo sobre Richard Croft, ele não desagradou o senhor Hawthorne de alguma forma? Pensei que ele e o lorde Croft fossem amigos.

── Na verdade, eles nunca foram. ── Respondeu Jay. ── Os dois estudaram juntos, mas... ── Sarbth suspirou, olhou para frente para checar se Edgar não estava ouvindo e depois se voltou para Dianna novamente. ── Não diga que eu te disse isso, ok? Edgar nunca gostou do Richard. Ele sempre tinha reclamações sobre o lorde Croft, seja por conta das conquistas de Richard ou pelas histórias que ele criava. O professor não o tolerava. Apenas fingia.

── Entendi. ── Dianna assentiu, contendo-se em relação aquela descoberta. Ela cumprime os lábios em uma linha fina.

── O professor gostou bastante do seu trabalho sobre o lorde Richard. ── Disse Jay. ── Achou que você era a pessoa certa por pensar como ele. ── Atkins segura sua vontade de rir. ── Sabe que Richard Croft tem uma filha, certo?

── A tal da Laura?

── Lara. Lara Croft. ── Corrige Jay. ── Você não citou ela no artigo. Não falou com ela sobre?

Dianna nega.

── Ela é meio... Reclusa e inacessível. Possivelmente doida igual o pai. ── Comenta a loira. ── Eu tentei entrar em contato com ela para fazer algumas perguntas, mas ela nunca estava no país. Pra mim isso era só desculpa pra não falar comigo. Sinceramente, nem estava fazendo questão.

── Bom, o senhor Hawthorne também tentou falar com ela durante uma época. ── Sarbth disse. ── Queria fazer algumas negociações com ela em relação aos negócios do lorde Croft. As filiações, possivelmente comprar a mansão deles... Ela mandou ele ir se foder.

── Eu disse que ela era possivelmente doida igual o pai. ── Dianna comenta, adornando um pequeno sorriso em seus lábios. ── Por isso que eu entrei em contato com o tio dela. Ele foi mais acessível e me passou tudo que eu precisava.

O tio de Lara, Atlas de Mornay, foi a fonte que Dianna utilizou para seu arquivo. Atlas era o irmão mais velho da mãe da garota, Amelia, falecida anos antes de Richard, e ele tinha muito a dizer sobre o cunhado. Atlas fez questão de deixar claro o quanto a família dele desaprovou aquele casamento e o quanto eles detestavam o lorde Croft. Sendo assim, se tornou incrivelmente fácil para Dianna reunir o material necessário para sua matéria.

Atlas compartilhou com ela que sua irmã Amelia foi arranjada para se casar com o conde de Farringdon, anos atrás. A família dele sempre acreditou que status era tudo e essa união os favoreceria bastante, porém as coisas não saíram como o planejado pois ela começou um relacionamento com Richard Croft.

Croft, apesar de possuir o título de Lorde, foi desprezado por Atlas e seus pais. Ele tentou dissuadi-la a acabar com esse relacionamento, pois a reputação dos Crofts havia manchado o nome de sua família, mas Amélia nunca os escutou. Ele ficou ainda mais irritado quando Amelia anunciou que estava rompendo seu noivado com o conde de Farringdon para se casar com Richard. Amelia chegou a se afastar totalmente de sua família, construi do a sua própria com o lorde Croft.

Depois que ela faleceu, anos mais tarde, após eles terem construído uma vida juntos, Atlas enviou uma carta contundente ao cunhado, culpando-o pelo falecimento de sua irmã e dizendo-lhe de maneira não tão sutil que deveria tirar a própria vida. Ainda tentando apaziguar a situação, Richard Croft nomeou Atlas como executor da propriedade Croft.

Após o falecimento do cunhado, Mornay assumiu o controle da propriedade Croft junto com Anna Miller, segunda esposa de Richard, mas os dois detiveram o controle até a maioridade de Lara. Atlas ainda tem o objetivo de conseguir o controle total de tudo, pois a mulher não fez questão de assumir o controle do patrimônio, nem entregá-lo ao tio.

── Esse é o lugar. ── Anunciou o professor, assim que eles alcançaram a entrada da tumba. Ele estava sorrindo. A entrada em que estavam era idêntica ao desenho no papel. ── Deve estar escuro lá dentro. Jay, entregue as lanternas.

── Claro, senhor. ── Disse o assistente. Sarbth retira da bolsa de coro três lanternas e entrega uma para cada um. Após isso, ele pega uma para si mesmo.

── Como não sabemos o que podemos encontrar lá dentro, recomendo que todo mundo fique por perto. ── Disse Martin, um pouco autoritário. ── Não se desviem do caminho, não se afastem e não se percam.

Eles assentiram.

Martin entrou primeiro, seguido de Edgar e Dianna, deixando por fim Jay. Eles passaram por um caminho estreito, um buraco em uma parede de tijolos que se tornou a entrada da tumba. Em seguida, estavam seguindo por uma descida escura, que era iluminada unicamente pelas luzes das lanternas.

Dianna odiou mais ainda aquela viagem quando teve que desviar de teias de aranhas. Ela parecia ser a única que não estava achando aquilo divertido. Os três homens estavam conversando, compartilhando curiosidades e histórias e ela desejava apenas ir embora.

Eles passaram por alguns caminhos sinuosos, encontraram esqueletos pelo caminho e Dianna pode ou não ter ficado apavorada por conta disso. Martin brincou sobre haver armadilhas e ela ficou quase paranóica, olhando para todos os lados o tempo todo, preocupada em ativar um alçapão no chão que a levaria para várias estacas ou para uma câmara de água que a manteria presa até que morresse afogada.

Seus medos foram todos infundados pois nada disso aconteceu. A maior tortura que Dianna teve durante aquele percurso foi escutar o professor falando sobre a arquitetura da tumba e ter que gravar tudo isso como se fosse mesmo colocar aquilo na matéria. As prateleiras naquela tumba também estava vazias, não havia nada deixado para trás. Nem mesmo uma relíquia se quer.

── Deve haver algo mais a frente. ── Comentou Edgar, desejando manter a esperança. ── Estamos perto, eu sei disso.

── Ou talvez você apenas tenha se enganado, professor. ── Retrucou Dianna, seguindo-os por um corredor que ela tinha quase certeza que eles já haviam passado. Aquela tumba não era grande, Atkins sabia que eles estavam andando em círculos. ── Sabe, isso acontece. É normal. Talvez nem exista esse tal coração dourado.

── Ele existe, senhorita Atkins. Ele está aqui em algum lugar, apenas muito bem escondido. ── Edgar passou a tentar pressionar as paredes, procurando por algo que poderia leva-los para uma câmara secreta ou lhes ditar o caminho.

Dianna revirou os olhos, impaciente. Havia um limite para quantas futilidades ela poderia aguentar e aquele trabalho estava começando a ultrpassa-lo.

Ela suspirou, frustrada e apenas observou enquanto os homens seguiam a ideia de Hawthorne. Eles conversavam sobre os papéis, procuravam caminhos onde nada havia e eles permaneciam no meio de um corredor de pedras vazio, após terem passado pelo centro da crípta que estava com um caixão aberto e vazio. O ombro de Dianna apenas tocou um tijolo e o objeto afundou. Ela se assustou quando a parede atrás dela passou a se abrir, fazendo com que a conversa entre os três parasse.

── Meu Deus. ── Ela exclamou, observando quando a verdadeira crípta era revelada. Edgar Hawthorne se aproximou dela.

── Parabéns, senhorita Atkins. Você acabou de descobrir o caminho para a verdadeira crípta. ── Ele sorriu e mancou com sua bengala na frente dela.

Os quatro entraram na área circular, encontrando mais um caixão de pedra no centro. Dianna observou as pinturas na parede, enquanto Jay e Martin empurravam o tampo do caixão. Havia alguns desenhos que Dianna não entendia. Pessoas reverenciando um homem, um exército desconhecido que o perseguia... Algumas partes dos murais estavam faltando, quebradas pelo tempo.

Edgar se aproximou do círculo assim que o tampo de pedra foi ao chão com um barulho alto. Atkins voltou-se para os três e observou enquanto o professor retirava uma caixa de dentro do caixão. Havia expectativa no olhar dele, que se desfez assim que ele abriu a caixa.

── Não é o que procuramos. ── Anunciou Jay.

── O que é? ── Indagou Dianna, aproximando-se dos homens.

── Apenas uma taça velha. ── Comentou Martin, desprezando o objeto. Edgar segurou o cálice na mão. O objeto estava sujo, velho, não parecia ser o tipo de relíquia valiosa.

── Um cálice antigo. Nas laterais está gravado "O cálice do profeta". ── Corrigiu Edgar, analisando o artefato com os óculos que mantém pendurados em volta do pescoço e torcendo o nariz quando percebe algo. ── Não é valioso. Possivelmente falso.

── Mas tudo aqui não é antigo e velho? ── Questionou Dianna, cruzando os braços. ── Deve haver algum motivo pelo qual deixaram essa coisa tão bem guardada.

── Pode ter sido colocada apenas para enganar as pessoas. ── Disse Jay. ── Talvez o coração estivesse aqui antes, mas alguém já o pegou. E quem fez isso colocou esse cálice no lugar.

── Não. ── Exclamou Edgar, colocando o cálice de volta na caixa com um baque alto. ── Ainda está aqui. Eu sei disso.

── Senhor Hawthorne, apenas considere-

── Cale a boca, Jay. Você não sabe de nada! ── Rudemente, Edgar gritou com o assistente. Ele fechou a caixa e a entregou para Martin. ── Seu pessimismo é tão irritante quanto sua incompetencia. Ainda temos muito o que fazer, muito o que procurar e não voltarei para casa até encontrar!

Edgar desce da elevação circular, seguindo pelo caminho o qual eles entraram. Jay o segue como um cachorrinho perdido.

── Toma. ── Martin entrega a caixa para Dianna. ── Fica com isso.

── E o que eu vou fazer com essa coisa velha? ── Perguntou a mulher.

── Sei lá. Guardar de lembrança? ── Martin deu de ombros com as mãos nos bolsos da calça. ── Tenho certeza que o professor não vai se importar se você levar isso pra casa.

Enquanto Martin saía, Dianna segura a caixa em suas mãos, sem conseguir respondê-lo.

Ela abre a caixa novamente quando é deixada sozinha. O cálice ainda está lá dentro. Ela pressupõe que a cor dele seja prata, mas não obtém certeza por conta da sujeira. Há também alguns desenhos em torno, parecidos com aqueles que Dianna viu mas paredes.

Realmente não parece ser valioso, mas talvez ela consiga limpar e vender no eBay por um valor considerável, a ideia parece boa. Analisa o objeto por um tempo, percebendo os detalhes e depois os ignorando. Fecha a caixa, soltando um suspiro cansado e frustrado, pensando no quanto que se arrepende de estar ali, fazendo aquela viagem e aturando um professor egocêntrico.

Dianna bufou, mantendo apenas um pensamento em mente quando deixava crípta ainda segurando aquela caixa: felizmente, essa seria a última vez que ela aceitaria um trabalho como esse.

AUTHOR'S NOTE: Finalmente, depois de muita luta e 7k de palavras escrito, saiu o cap. 1 de HG e vocês tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais da Dianna. Não vale nada, mas eu amo demais essa trambiqueira <3

── Gostaria de adicionar que fiz umas mudanças na idade da Lara. Aqui ela tem 26 anos, assim como a Dianna. Achei que ficaria melhor do que seguir a idade certa da personagem durante o Shadow of The Tomb Raider (se eu não me engano, é 22 anos).

── Consequentemente trago algumas mudanças em outros detalhes dos jogos também, mas não são nada demais. Enfim, espero que vocês tenham gostado do capítulo 1. No próximo finalmente devemos ter nossa Larinha aparecendo e eu estou muito ansiosa por isso hehehe

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top