(20/09)
"Eu vou indo!".

"Vai com cuidado! E já sabes, se precisares de alguma coisa liga-nos", preocupou-se Freddy.

"Eu sei, eu sei. Até logo!", com uma mochila aos ombros e um sorriso na cara, seguiu o longo caminho para a sua escola.

Ao lá chegar, deparou-se com tudo quase vazio, havia chegado muito cedo, afinal. De qualquer forma, a pequena dirigiu-se para a grande sala, cheia de longos bancos que acompanhavam as, também, longas mesas de madeira com suportes de ferro. Guardou a sua mochila dentro de um cubículo dentro da parede, como uma estante, e sentou-se numa das cadeiras encostada à parede, ficando à espera dos seus amigos. Enquanto isso decidiu refletir sobre coisas que passavam na sua cabeça, e a jogar na sua consolazinha portátil, para tentar fazer com que o tempo passasse mais rápido para si.

Eventualmente começaram a chegar mais pessoas, algumas sendo colegas da Mariana, outras sendo amigas até. A pequena sorriu e saiu do seu canto.

"Madalena!", chamou.

"Oh, olá!", cumprimentou a sua amiga, abraçando-a.

"Estava com tantas saudades tuas! Então, como é que foram as tuas férias?".

"Não foram grande coisa, estive quase sempre em casa", respondeu Madalena, dirigindo-se para uma das mesas separadas. "E as tuas?".

"Por acaso até gostei, passei quase sempre em casa mas às vezes fui passear com a minha mãe!", começou a divagar, "Oh e voltei a jogar Five nights at Freddy's!".

"Oh não... Lá vamos nós", falou num tom mais baixo, rindo de leve.

"Oh vá lá! Os jogos são tão giros e é tão divertido jogar!", protestou num tom de choro falso.

"Eu sei... Mas passaste o verão todo a jogar o DOIS jogos? Só? Eu fartava-me logo", respondeu num tom hesitante.

"Sim mas não foi só isso! Eu conheci pessoas que também jogam o jogo".

"Mas conheceste essas pessoas onde? Não me digas que foi pela internet...".

"Não e sim!".

A rapariga de cabelo comprido havia ficado confusa. "Como assim?".

"Bolas!", entrou em pânico, pensara que metera a pata na poça. "Eu conheci-os pela internet mas a Fátima foi comigo conhecê-los em pessoa.".

"A tua mãe, certo?", Madalena ficou confusa.

"An? Ah sim! A minha mãe sim.", riu nervosa.

"Porque é que não a chamas de "mãe"? É tão estranho ouvir-te a chamá-la pelo nome", questionara.

"Ah é porque eu estou habituada a chamá-la de Fátima, e ela não se importa também então 'né'", respondeu, encolhendo os ombros.

Com a continuação da sua longa conversa, acabou por vir a hora em que as duas se separaram, indo cada uma para a sua respectiva sala, despedindo-se uma da outra antes.

As aulas correram normalmente, com os colegas a matarem saudades uns dos outros, introdução dos novos professores, atividades de volta às aulas e coisas por volta disso.

Durante a hora de almoço, Mariana e o seu grupo de amigos dirigiu-se para a cantina escolar, conversando e contando novidades a meio.

"Já vi que continuas com a tua obsessão por Five Nights at Freddy's, Mariana", um dos seus amigos comentara.

"Oh, mas é claro Afonso! Achas que alguma vez eu vou parar de gostar daquilo?", interrogou-o de forma retórica, soltando um riso a meio.

O seu amigo suspirara. "Não sei não, Mariana, os jogos são engraçados e tudo mas há mais coisas no mundo para além disso".

"Opá, sim, mas é a minha franquia de jogos favorita! Eu duvido muito parar de gostar daquilo no meio do nada".

Com medo que as coisas piorassem, Laura, uma amiga de ambos, meteu-se entre os dois. "O que eu acho que o Afonso está a tentar dizer é que 'tipo' com o passar dos anos podes ir gostando menos ou dando menos atenção a esse tipo de cenas", gesticulava enquanto falava, "'tipo' quando fores mais velha talvez olhes para isso e não dês tanta importância quanto dás agora, 'tás a ver?".

"Sim...". Isso deixara-a pensativa, com receio de que tal coisa que a Laura mencionara.

Foi um dia bastante cansativo, mas pelo menos a Mariana pôde voltar a estar com os seus amigos.

Chegando a casa dirigiu-se logo para os Freddy's para lhes contar o longo porém bom dia que tivera na escola. "Estava com tantas saudades de lá ir!".

"E correu tudo bem?", perguntou Bonnie, olhando para a menina sorridente.

"Sim...", respondeu de forma hesitante.

"'Sim...'?", a coelha estranhara a sua mudança de tom.

"Bem... quando eu e os meus amigos estávamos a ir para o refeitório para almoçar, um deles, que é o Afonso, começou a falar comigo sobre os jogos de F.N.A.F. e que não é por gostar muito agora que vou gostar para sempre e depois a minha amiga Laura concordou e isso deixou-me com um pouco de medo", a pequena começou a soluçar um pouco.

"Com medo de quê?", a coelha perguntou, segurando levemente na sua mão.

"Bem... com medo de parar de gostar de vocês, acho eu", desviou o seu olhar para o vazio, tentando não desatar a chorar.

"Oh Mariana, não comeces a chorar nem te preocupes com isso, pensares no futuro dessa forma não te vai ajudar em nada, e ainda te vai deixar ansiosa. A única coisa que podes fazer agora quanto a isso é aproveitares o tempo que tens para estares connosco, talvez.", Bonnie tentou acalmá-la, fazendo o seu melhor para não ser direta com a sua opinião. Para ela, aquilo que Mariana lhe havia dito pouco sentido fazia, mas mesmo assim, não lhe faria muita diferença caso a jovem perdesse o interesse nela ou no resto do grupo.

Após isto, Chica entrou na clara divisão, alheia à situação que estava a decorrer naquele momento. Mariana, ao ver a sua amiga entrar e questionar o que se passava, larga a coelha roxa e corre para ela, abraçando-a e finalmente derramando as lágrimas que tanto aguardavam sair dos seus acastanhados olhos.

"Mariana?", Chica estava ainda mais confusa, mas agora uma boa quantidade de preocupação adicionara-se também.

A única resposta que obteve da pequena foi um choro ainda mais intenso, fazendo a sua preocupação aumentar. "Bonnie... O que é que se passou?", a galinha retribuiu levemente o abraço, enquanto olhava para Bonnie.

A coelha suspirou, alternando o seu olhar entre a sua amiga e a mesa. "Bem... A Mariana contou-me que hoje na escola os seus colegas tinham-lhe dito que ela pode não gostar assim tanto de Five Nights at Freddy's daqui a uns anos, e acho que foi isso que a deixou mal...".

 A sua amiga olhou-a num tom levemente severo. "Bonnie...", suspirou, revirando os olhos de volta para a criança de pele levemente morena. Ajoelhando-se perante Mariana, com cautela, diz-lhe, com um tom mais doce e suave, "Querida, não ligues a coisas desse tipo, tens de te focar na escola agora! E aproveitares também o tempo que tens para fazer o que te deixa mais feliz na tua vida de momento, como estares connosco e com os teus amigos da escola.".

"Foi o que lhe disse... mais ou menos", murmurou a coelha.

"Ora,", começou Chica, "Mariana porque é que não vais para o teu quarto um pouco? Se quiseres vou ter contigo daqui a nada e fazemos algo juntas!".

"Hm... Sim, pode ser...", o seu humor começara a melhorar um pouco, limpando as lágrimas que ainda lhe escorriam na cara.

"Então vai que eu vou falar um pouco com a Bonnie, a sós", levantou-se, deixando também a pequena passar para o corredor, dirigiu-se ao banco mais próximo da sua amiga sentando-se nele, suspirando e encarando-a um pouco. "Bonnie, nós-".

"Eu sei, Chica, eu sei.", interrompeu, "Nós temos que olhar por ela e agir como figura parental, etc., etc., mas eu não sei sempre o que dizer, ela entrou aqui a falar do seu dia e como estava com saudades de lá estar e passado um pouco parece que tinha mudado de humor como se tivesse clicado num botão! Eu não estava à espera de ter de lhe ajudar com qualquer tipo de problema.".

A robô amarela ouviu atentamente o desabafo da sua amiga, suavizando a sua expressão após o seu diálogo. "Bem, é normal não saberes sempre o que dizer, mas tens de ter cuidado na mesma, a Mariana ainda é nova e bastante sensível. Nós, sendo aqueles que ela pede ajuda, temos de tentar o nosso melhor para não a deixar mal, foi por isso que a Dimicatio nos pediu para olhar por ela".

Enquanto falava, Foxy entrou na cozinha, dirigindo-se a um armário com snacks e tirando um pacote de bolachas com chocolate. "Essa também não podia vir olhar pela mais nova, não, tínhamos de vir nós", comentou, amargamente.

"Foxy, por favor, não comeces a ser mauzinho outra vez", Chica fixou os seus olhos no seu companheiro.

"Mas eu não estou a ser mauzinho, Lass, estou só a dizer que ela podia vir para cá e assumir a sua responsabilidade como irmã mais velha invés de virmos todos para cá e servirmos como pais para a miúda. Nós não somos família dela, somos só uns bando de conhecidos que ficam na casa dela porque nos mandaram fazê-lo.", dirigira-se para a porta, encaminhando-se já para a divisão onde estava antes.

A galinha suspirou, usando a sua mão como apoio para a cabeça.

"Ele tem razão Chica... Nós estamos praticamente a servir como pais para ela, deviam ser eles a tomar conta dela, não nós. Nós somos animatrónicos de um restaurante, não máquinas maternais.".

"Eu sei que ele tem... Mas a miúda não tem culpa, mesmo ela dizer que foi escolha dela vir para cá, nós temos que cuidar dela para poder ter uma boa adolescência.".

O clima ficara tenso.

"A adolescência que não tivemos, Susie...".

"Bonnie...", a sua amiga olhara-lhe, boquiaberta.

"Tu sabes que é verdade.", desviou o seu olhar para qualquer outra coisa presente naquela divisão, tentando ignorar a tensão presente e persistente.

"Eu vou ter com a Mariana...", Chica levantou-se, dirigindo-se para o quarto da menina. 

O clima havia ficado um pouco pesado.

(21/09)

"Mariana!", chamou o Afonso, chegando à escola.

"Oh, olá Afonso!", saudou-o, o resto fazendo exatamente o mesmo.

"Olá. Olha, não quero que dês muita importância ao que disse ontem, não era para pensares tanto nisso.", explicou.

"Não te preocupes, está tudo bem! Eu fiquei um pouco aborrecida mas depois não liguei muito a isso.", a rapariga sorriu, deixando o seu amigo descansado. "A Laura também falou comigo sobre isso quando chegou, não precisas de pensar nisso agora.".

Decidiram ficar a conversar com o resto e esperar pelo início das aulas.

Os dias seguintes foram de bastante calma, com a Mariana a ir diariamente às aulas, aproveitando para conviver com os seus amigos e colegas, e em casa passando o seu tempo a estudar, desenhar e conversar com os seus responsáveis.

Porém, também se encontrava com os seus amigos fora da escola. Numa das saídas, Marta decidiu ir à casa da sua amiga mais cedo, visto que ambas moravam perto uma da outra, e acabou por descobrir aquilo que nunca lhe passara pela cabeça.