+8 - Holly Carter - 2016
Nenhum sanatório penitenciário de que já estive cheirava a sexo..
Depois de uma sessão de psicoterapia, voltei para o escritório para finalizar minhas notas. Não reparei no passar do tempo, nem quando Bernard, meu colega de trabalho, arrumou as pastas e desligou o monitor adiante. A aproximação dele também não teria me desconcentrado, se não tivesse reforçado sua presença com uma pergunta.
— Vamos almoçar?
— Preciso terminar essa viagem primeiro, ou eu sairia do trilho... E vou te falar, já não foi tão simples achar a ferrovia.
— Quer ajuda?
— Pode dar sua opinião. — Indiquei minha tela. — Histórico de Sidney Thompson.
— Pensei que Gregory fosse assumir o último transferido.
— Acho que montar a equipe de funcionários tem dado mais trabalho do que ele pensou.
— E aí sobrou pra você.
— Não devo me queixar. A anamnese de Thompson nem foi ruim comparada a de Turner.
— Não os subestime, Holly.
— Não subestimo. Segundo os relatórios da investigação criminal, Sidney Thompson alimentou a esposa com veneno de rato e atirou no próprio cão com uma escopeta. O corpo de Margaret Thompson estava em decomposição quando foi encontrada pela diarista. A bagunça no quarto dava a entender que ele tentou mumificar o cadáver.
— E pelo que sei... ele foi mal-sucedido.
Concordei com o desconforto de Bernard ao completar.
— Sidney Thompson foi julgado por homicídio culposo. Ele não só já tinha entrado no segundo estágio de Alzheimer, como aparentemente também vinha apresentando sinais de psicose há algum tempo. A escopeta foi o que restou de carreira nas Forças Armadas Americanas. Ele serviu na Guerra do Vietnã e se aposentou pouco depois da esposa engravidar da única filha.
— Melissa Thompson, a filha do sargento... Me lembro de ter visto fotos dela nos jornais, em 97. Ela foi sequestrada e brutalmente assassinada aos dez anos de idade.
— E os restos mortais só foram encontrados dez anos depois de desaparecida. Os assassinos não foram pegos. Thompson com certeza tem cicatrizes psicológicas de um militar, que viveu num período de guerra. É quase certo que o caso da filha tenha sido uma ferida que nunca chegou a se fechar.
Os olhos de meu colega expressavam certa distância, obscura o bastante para me preocupar.
— Bernard, você tá bem?
— Sim. Eu só... é que isso é horrível.
Assenti, franzindo levemente o cenho.
— Da minha perspectiva, é improvável que Sidney tenha matado a esposa com alguma noção, embora a mumificação possa ter sido um ato desesperado por um rápido choque de realidade.
— Considerando que, desde que chegou, Thompson vem dizendo a todos que passa por ele que Margaret teve uma reação alérgica por conta de um tempero, você deve ter concluído que a mente dele criou uma versão mais aceitável da história.
— Os detalhes reforçam essa teoria. Ele não tem mais um bom olfato, por isso não notou o odor do cadáver ou das fezes e urina de três dias do cachorro. A diarista disse que o casal costumava deixá-lo no porão quando fazia alguma travessura. Thompson literalmente esqueceu que o cão existia. A negação das perdas é muito profunda, então ele surta quando alguém tenta contar o que aconteceu.
— Aqui vai minha opinião: não conte. Não faça mais do que o induzir a se lembrar da morte de Margaret por ele mesmo, com muita calma.
Concordei com a cabeça. Em seguida, soltei um suspiro devagar e fui trazida de meus pensamentos por uma curiosidade de Bernard.
— Você... perguntou sobre a filha?
— Não me atrevi a levá-la pra terapia logo de cara. Os Thompson foram uma família pequena e, agora, Sidney é o único membro vivo... Sei o que devemos fazer, mas, cá entre nós, se ele se lembrar por algum milagre, vai acabar morrendo, mas não sem nos dar muito trabalho antes. Ele já está velho, não faz sentido ajudarmos a morrer sofrendo.
— Digo como um ser humano que, às vezes, a cura não é o melhor remédio. Às vezes, a realidade é dura demais.
Por alguma razão a grande empatia de Bernard me surpreendia, mesmo sem esperar que me criticasse.
— Se o paciente estiver bem, ninguém questionará os seus métodos, Holly. Desejo a todos nós boa sorte, porque eles são imprevisíveis. Por isso, merecemos duas horas de almoço. Tem certeza que não quer fazer uma pausa agora?
Meneei a cabeça.
— Vou daqui a pouco.
— Tudo bem. Te vejo mais tarde.
Depois que Bernard saiu, retomei meu foco. Feita apenas uma sessão de terapia, eu não deveria me estender tanto no resultado da psicanálise. No entanto, como não sabia qual de nós continuaria acompanhando o paciente, era preciso ser bem cuidadosa com o diagnóstico.
As palavras no monitor refletiam em meus olhos. As informações pareciam sair da minha mente por telepatia. Eu nem piscava. Meus dedos hiperativos nas teclas seguiam um ritmo que não era o meu. Só notei isso quando fui interrompida por um crepitar vindo do corredor.
A iluminação da sala perdera a potência, porém a tela do computador permanecia com o brilho no máximo. Fumaça entrava pela porta. Apesar de me intrigar, não foi um sentimento tão intenso. Então, me levantei calmamente e fui para o corredor.
O sanatório ainda era o mesmo, só que não havia mais nada além das paredes e seus funcionários. Nus. Era a primeira vez que eu notava a diversidade daqueles homens. Alguns feios, outros bonitos, negros, brancos, pardos, gordos, magricelas ou atlético... Todos vendados e amordaçados no chão. Fitas vermelhas ataram as mãos e formaram um laço a ofertá-los. O mais curioso era que eles pareciam satisfeitos.
Pensei ter pisado numa poça d'água, mas tratava-se de uma rasa inundação. Meu reflexo me revelou também nua, com a pele muito rosada, do jeito que ficava quando eu fazia sexo selvagem. Para completar, havia grandes asas de morcego nas minhas costas, dois pequenos chifres na minha testa e uma cauda de escorpião ligada ao meu cóccix.
Andei até o zelador, Jim Hudson. Embora ele fosse horroroso, a rola não era pequena e ficou ereta no momento em que olhei. Senti vontade de sentar. Meus cabelos, antes bem presos num coque, escorreram numa cascata lisa sobre meus ombros, assim que minha cabeça pendeu para trás.
Senti um enorme prazer enquanto ouvia sons de dor. Olhei para Jim somente depois do orgasmo. Sangue escorria, por conta da venda e da mordaça se transformando em arames farpados. A fita se comprimia nos pulsos dele e cortava-os profundamente. Não me impressionei ou me importei se, no fim, ele estava morto. Passei para o próximo, depois o próximo e o próximo...
O jovenzinho novato, enfermeiro estagiário da manhã, me deixou mais excitada. Infelizmente, não durou quase nada. Havia outro brotinho para experimentar, o recepcionista. Esse foi melhor. Os freelancers fizeram uma diária e tanto. Quem diria que o coroa Miller, e seu sorriso maravilhoso, seria uma perdição maior do que os guardinhas sarados? Mesmo assim, eu queria mais do que ele podia me dar.
Todos acabaram da mesma maneira e eu não estava satisfeita. Causei um tipo de medo misturado ao prazer, uma lucidez broxante para uma fantasia erótica.
Os outros quase viraram fumaça só de pensar no Dr. Gregory Durward. O nível dele era muito mais elevado. Imagine um deus grego moreno, com um pau de dar inveja na concorrência... Decerto, funcionaria como minha recompensa por ter sido uma boa menina. Fiquei hipnotizada antes de tomá-lo para mim.
Deu vontade de brincar com a língua, então chupei Gregory até cansar. Vê-lo persistir duro quase me matou de tesão. O chefe era o mais recíproco. Cada suspiro dele me dizia que o prazer valia a vida. Só faltava sair faísca pelo calor que nossos corpos produziam juntos. Ele não teve um final trágico como os demais.
No momento em que Gregory devia agonizar e morrer, me jogou para debaixo dele, roubando minha posição. Deixei que ele metesse onde quisesse, ainda que bruto daquele jeito, até no cu. A sensação foi dolorosamente ótima. Mesmo de olhos fechados, eu sabia que ele tinha soltado as mãos. Ele mordeu meu indicador quando o aproximei de seu rosto. Então, também não mais de mordaça.
Ele me levou ao ápice que eu buscava, até que passou a, gradativamente, devorar meu prazer. Decidi abrir os olhos e me descobri vendada. Assim que tentei empurrá-lo, percebi minhas mãos atadas. Meus pulsos doíam. Ainda podia arrancar a venda. Ele permitiu.
Com a visão manchada de vermelho, vi uma horrenda criatura alada, de chifres e presas. O ferrão escorpiano vinha por cima do ombro. Vislumbrei o reflexo do meu rosto na água, completamente humano.
Vulnerável...
Sibilar no meu ouvido direito. O couro verde serpenteava ao meu lado. Aquela serpente invadiu minha boca, me sufocando, quando tentei gritar.
No meio daquela angústia, cheguei a ver outra coisa no fim do corredor. Um ser cadavérico, de pele derretida e fumegante, cambaleou até me notar. Estático, me encarou e, no meu piscar de olhos, surgiu na minha frente. Senti que queria me arrastar para o inferno, junto com o demônio dentro de mim.
...
Acordei debruçada na mesa da sala dos doutores, engolindo o grito pelo susto daquele pesadelo. Ofegante, não lembrava de ter caído no sono. Com as costas da mão, limpei a saliva que escapara, numa linha, do canto da boca. A porta fechada diminuía a possibilidade de eu ter sido flagrada de algum jeito. Portanto, apenas peguei minha bolsa e me levantei.
Foi só um sonho. Um sonho macabro, mas só um sonho.
Meus dedos gelaram na maçaneta. A porta estava travada. Depois de forçar o bastante para me apavorar, recorri ao impensado plano B. Bati na porta com emergência complementando minha voz.
— Tem alguém aí fora? Ei?!
Uma sensação fria na boca do estômago quase me fez vomitar. Na última vez que senti aquilo, eu ainda temia monstros debaixo da cama.
Nunca trancávamos aquela porta. Pensando nisso, tentei abrir novamente e quase derrubei o guarda que do outro lado.
— Dra. Carter, o que houve?
— Essa porta maldita emperrou! Ela não deve ser fechada até que a consertem.
Soei um tanto histérica. Isso serviria para disfarçar que cheguei bem perto de chorar. O guarda uniu as sobrancelhas, aparentemente por estranhar a situação e não por notar meu terror.
— Vou dizer pro Patrick relatar o problema ao diretor.
Concordei, ajeitando a bolsa no ombro.
— Por favor.
Senti uma tremenda necessidade de sair correndo do sanatório por um tempo. E, do lado de fora, hesitei diante da fachada. Um arrepio avançou por todo o meu corpo.
Nunca tive um pesadelo tão impressionante assim, horrível demais para contar para alguém. Eu poderia omitir que entendi o que era quase morrer de medo, e que nessa hora não foi urina molhando minha calcinha. Balancei a cabeça, tentando internalizar que eu seria capaz de esquecer aquilo e voltar ao trabalho normalmente.
~~🐍💀 🐍~~
Olá, leitor(a)!
Dedico a fantasia da Dra. Carter a liazinha_sz. Ela foi a primeira leitora a comentar neste conto. 💝
"Chegamos à 1K!🎈"
📌 É estranho e maravilho olhar para esse balãozinho de 1K, principalmente agora que HIPNALE+ está em 14.5K. Não sei o quanto mais vamos crescer, mas quero manter esse primeiro K na memória. Agradeço muito a quem leu, votou e comentou na época, tanto quanto a quem está fazendo isso agora. Você faz cada passo valer a pena. 📌
Tá fácil pegar os easter eggs? Quero ver HIPNALE+ na sua lista de leitura!
Até a próxima 🖤
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