CHAPTER FIFTEEN
Acordei no meio da noite, como tinha acordado todos os dias nas últimas semanas. O peito apertado e suor frio escorrendo pelo meu rosto mesmo na noite gelada.
O jantar se revirou em meu estômago e corri para o banheiro apenas para vomitar tudo o que havia — tentado — comer no dia anterior. Eu devia ter perdido bastante peso, pois minhas roupas estavam folgadas e meu rosto vazio. Meu pai havia reparado, e por Deus! Até o idiota do Peter me perguntou se estava tudo bem. Ele com certeza não parecia tão abalado, ou se estava não demonstrara.
A verdade é que depois daquele dia, depois de quase morrer, algo tinha sido levado de mim.
Eu não conseguia lembrar dos meus sonhos e sabia que todas as noites eram como uma maldita tortura. Em parte ficava feliz por não lembrar do que quer que seja os terrores que me fazem revirar na cama e vomitar as tripas todas as noites. Talvez não saber seja a única coisa que esteja me mantendo sã.
Silenciosamente voltei para a cama depois de dar descarga na privada e escovar os dentes. O peito pesado doía e pus a mão sobre ele tentando controlar minha respiração como o professor de educação física tinha ensinado tantas vezes. Xinguei baixinho quando não funcionou e abri a janela do quarto esperando que algum tipo de ar puro pudesse lavar aquele sentimento.
Me revirei na cama até o amanhecer e olheiras profundas preenchiam meus olhos no dia seguinte.
𖤍
Quando aulas acabaram naquela tarde pedi para Ellie e Tyler me esperarem do lado de fora e fui pegar as atividades e conteúdos na sala dos professores. O cheiro de café e a TV baixa passando o jornal da tarde me trazem memórias desconfortáveis que tento tirar da minha cabeça o mais rápido possível.
— Aqui está. — O professor de história me entrega a lista, a última que eu precisava. — Te darei duas semanas para acompanhar seus amigos. Acha que consegue?
— É mais que suficiente, obrigada senhor Jaevis. — Com um leve aceno de cabeça saí da sala. Os corredores estão vazios e apenas o barulho do zelador passando pano em uma das salas ecoa no enorme prédio.
Fui até o banheiro feminino e tirei os band-aids lavando o rosto com cuidado. Apliquei a pomada que recebi mais cedo com cuidado. A ponta de meus dedos deslizando sobre a pele avermelhada com os fios negros e molhados de meu cabelo colados na testa. Encarei o espelho vendo meu rosto pálido. Minhas mãos tremiam e a sensação de terror percorreu meu corpo mais uma vez.
Não tinha parado para pensar tanto no assunto desde que acordei, mas a lembrança daquelas sete cabeças decapitadas flutuando na água ainda estavam frescas nas memória. Crianças, havia cabeças de crianças.
Uma ânsia subiu pelo meu pescoço e corri para vomitar todo o meu lanche. O cheiro azedo e o a sensação de antes me deixando cada vez mais enjoada. E lembrei da pixação mais uma vez. "Quantos você quase matou?". Eu não havia me preocupado muito com isso antes de invadir o museu para salvar a Megan, mas provavelmente eles teriam assassinado todos ali se o Homem-Aranha não tivesse vindo nos ajudar. Ouvi, ainda no hospital, que a vítima que tinha sido liberada foi instruída por aqueles monstros a dizer que caso alguém tentasse algo, eles matariam todos os reféns. Obviamente, eles não transmitiram isso pelo rádio, porque ninguém fora da polícia seria burro o suficiente para tentar algo. Isso é, tirando eu e Peter.
Raiva e frustração subiram pela minha garganta, mas dessa vez não foi em forma de vômito. Meus pelos se arrepiaram e senti uma descarga elétrica correr pelas minhas veias. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto tremores e soluços inundaram o banheiro. Levantei ainda tonta até fui até o espelho vendo meu estado deplorável.
Eu odiava essa visão, odiava ser assim, odiava tentar ser forte e não conseguir, odiava a garotinha assustada dentro de mim que gritava por ajuda.
Uma vez. Uma dor aguda passou pela minha cabeça como uma faca afiada. Gemi de dor me apoiando no balcão de mármore.
Duas vezes. A lâmina voltou furando meu crânio mais uma vez. Gritei secando meus pulmões.
Três vezes. Caí no chão.
Quatro vezes. Minha consciência oscilou entre o real e o vazio e me contorci no piso gelado.
Cinco vezes.
Seis vezes
Sete vezes.
Na oitava, senti a mesma corrente elétrica de antes, dessa vez inundando minha cabeça e forçando meus olhos a se abrirem.
Senti meu corpo subitamente melhorar e me pus de pé, encarando o espelho mais uma vez. Porém não foi os pontos sangrando ou minha boca pálida que me assustou, mas o brilho azul que vinha dos meus olhos naturalmente castanhos. Minhas mãos tremulas cobertas por uma nuvem cintilante de azul.
Gritei, mas dessa vez não de dor, e sim medo. Medo de mim mesma. E caí de supetão para trás não reconhecendo a figura refletida. Meu peito subindo e descendo rápido demais.
Os espelhos a minha frente quebraram, se partindo em pedaços que voaram em minha direção, rápido demais para que eu pudesse me proteger. Mas nada veio, não senti a dor de morrer cortada em mil pedacinhos. Abri meus olhos novamente vendo os cacos suspensos no ar cobertos pelo mesmo poder azul das minhas mãos.
E ao invés de me sentir aliviada, senti mais medo. Minhas pernas e mãos trêmulas me arrastaram para fora do banheiro quando de repente todo o prédio começou a tremer, lascas de forro caindo do teto e as paredes criando rachaduras enorme.
O que porra estava acontecendo?!
— Amber?! CORRA! — Uma voz masculina gritou. Mãos fortes agarraram meus braços e me puxaram. Percebi que o brilho em minhas mãos sumiram, mas ainda sentia que meus olhos estavam naquela cor azul delirante.
Os fios castanhos voando a medida que eu corria segurando a mão de sabe-se lá quem. Talvez eu o reconhecesse se estivesse mais lúcida, porém a única coisa que eu conseguia fazer agora era correr e desviar dos pedaços de concreto.
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