Vai andando

Buzinas na frente de nossa casa me despertaram bruscamente.

Fui dormir tarde noite passada, me remoendo sobre coisas que não deveria então não me surpreendi ao ver que já passava do meio dia ao mirar o relógio em minha mesa de cabeceira. Soltei um gemido e afundei o rosto no travesseiro, preguiçosa. Se for o Edward, eu juro que jogarei um balde de água quente nele!

As vozes abafadas no andar de baixo eram indistinguiveis, só que a que mais se parecia com a de meu pai estava contente demais para o meu gosto. Não acho que ele iria se dirigir de tal forma para o namorado tão recente de Bella. Se é que ela não cancelou o encontro de famílias mesmo após eu ter dito que era burrice.

Após muito enrolar, finalmente decido ir ver quem são as visitas. Minha cama estava gostosa demais, assim que me levantei parecia que tinha um ímã muito forte querendo me puxar de volta. Cambaleei para o banheiro e dei uma arrumada básica na aparência antes de descer com passos relutantes pelo menos até a metade da escada, que foi quando ouvi meu pai falando.

— Jake, vá acordar Caterine!— disse meu velho. Um sorriso brotou em meu rosto e eu saltitei para a vista de todos. Jacob e Billy Black estavam com meu pai na sala. O mais novo aparentemente tinha acabado de se levantar da poltrona e sorriu ao me ver, veio me prender num abraço caloroso que eu retribuí sem hesitar. Não gosto do abraço de todo mundo, mas gosto do Jake.

Meus pais não sabem abraçar, ou me sufocam ou não me seguram o suficiente, minha irmã dificilmente o faz, então não posso dizer que tenho muitos exemplos para comparar. Só posso dizer que quando Jacob te abraça, é porque ele realmente quer.

— Pensei que vocês nunca mais fossem vir nos ver— digo ao me soltar de Jacob. Foco meus olhos nos escuros de Billy.

— Não viemos por você, garota— ele corta minha onda— Viemos pela sua TV.

— Sai da minha casa.— aponto para a porta, forçando seriedade. Nós nos encaramos longamente desta forma até eu romper em risos— Mas vai ter que ir andando.

— Mas que garota filha da...

— Ei!— Charlie interrompe o amigo, o tom alto de um xerife— Na minha casa não.

Não precisa ser nenhum gênio para ver que Bella levou para frente a ideia de sair com Edward. Ninguém merece, mas eu não sou a mãe dela, ela que se vira com as consequências caso isso dê errado. Eu sou o tipo de vadia chata que no final de tudo ainda fala "eu te avisei". É um impulso, não consigo conter. É cedo demais para essa merda, mas claro, por que ela ouviria os conselhos da irmã minutos mais velha? Tenho que ensinar essa garota a dizer não, mas já tento há anos sem obter nenhum sucesso. É de dar desânimo.

Coloco um pouco de limão no peixe porque ando precisando de algo mais amargo do que o gosto que eu tenho na boca desde o corte indireto que Jasper me deu na sexta feira.

As expectativas eram unicamente minhas, então não tem porque ficar aborrecida com ele. Somos amigos. Amigos que flertam.

Que se dane, eu estou sim, muito chateada.

Jacob e Billy saíram há pouco, acabou de escurecer e papai e eu jantamos a espera do retorno de minha irmã. Sem conseguir conter o pessimismo, penso em tudo que pode dar errado em uma casa cheia de vampiros com uma humana terrivelmente estabanada. Será que ela está morta a essa altura e estão apenas tentando esconder o corpo? Só de pensar, fico colérica. Ok, talvez não tenha sido bom deixar Bella só, nessas circunstâncias. Não é só um namorinho ansioso, o cara é um vampiro e o sangue dela é como uma droga feita especialmente para ele. Quanto tempo ele aguentaria se a visse cortar o dedo?

Estou fervilhando, mas tento não demonstrar o que por si só dá errado.

Charlie me olha de maneira indiscreta por cima do jornal e cerra os olhos.

— O que há?— pergunta, rompendo o silêncio torturante da noite.

— Hm?— o olho diretamente, fingindo que acabei de sair do meu mundinho embora estivesse prestando atenção nele há tanto tempo quanto ele estava prestando atenção em mim.

— Está com as sobrancelhas franzidas— ele gesticulou, apontando para minha cara de um jeito desajeitado e levemente cômico— O que está te preocupando?

— Nada.

— Fale a verdade, Caterine.

Soltei um suspiro arrastado largando o garfo no prato e murchei por completo.

— Bella não falou que horas voltaria?— perguntei. Evitamos o assunto delicadamente enquanto os Black estavam aqui devido à sua rivalidade natural para com os Cullen. Para meu pai uma coisa completamente idiota. Para Billy, bem... eles devem ter alguma história, coisa que eu tentaria descobrir mais a fundo, mais tarde. Ainda nem comecei minha investigação sobre os lobos, e não pretendo demorar demais.

A tarde fora descontraída em grande parte, me incomodei só algumas vezes com alguns olhares sérios que Billy me lançava, mas virei um satélite de Jacob impedindo que o homem me fizesse as indagações que pretendia fazer com seu olhar.

É, ele definitivamente sabe o que os Cullen são.

— Não disse— ele bufou— Mas, para mim, estão atrasados.

— Gostou do que viu?— me referi à Edward.

— Não tirei nenhuma conclusão ainda. Mas como os pais desse rapaz são bons, imagino que ele deve ter algo de bom também.— resmungou. Dei de ombros sem saber o que responder— O que você acha de Edward?

— Ele é bacaninha— faço bico, voltando a brincar com a comida, cutucando-a com o garfo.

— Come, Caterine.

— Sim, senhor— obedeço porque não estou no clima de implicar. Não por isso.

— O que "bacaninha" quer dizer?

— Não quer dizer babaquinha— rebato. Ok, talvez eu possa implicar um pouco. Meu pai revira os olhos e eu dou um sorrisinho mastigando do peixe empanado. Até que mandei bem, para um primeiro prato sem supervisão.

— Você tá bem?— ele questiona, subitamente.

— Por que não estaria?— franzo o cenho confusa com sua fala. Ele me encara como se estivesse algo que eu não via e apenas balançou a cabeça. Não justificou nada. Lutando contra meus instintos, ignorei sem perguntar o que ele queria dizer.

Está tão evidente assim? A vergonha se emaranhou nas minhas entranhas e não quer mais me largar, acho que é isso que ele vê.

A mudança foi completamente repentina no ar quanto ouvimos um carro frear com tudo na frente de casa. Portas bateram e as vozes elevadas indicavam uma discussão acalorada. Meu pai e eu ficamos tensos.

— Mas o que é isso?— meu pai se levanta no momento que Bella atravessa a porta da frente.

— Me esquece, Edward!— gritou ela, bateu a porta na cara do moreno antes que ele completasse sua sentença ou sua súplica para que ela esperasse. Bella subiu as escadas como um furacão.

Fiquei sentada na cadeira, tentando processar, não podia imaginar um motivo que fosse para que Bella batesse com a porta na cara de seu amado Edward.

Mas que.... porra que aconteceu?

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