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CATERINE SWAN
Casa é um lugar que deveria ser considerado um lar, mas eu olho para as paredes que bem conheço e não me sinto na minha casa. Ela foi invadida, perdeu toda a aura, o equilíbrio. Não há sinal de arrombamento na porta, James fora quase cirúrgico, aparentemente. Após quase duas horas de demora até chegar na casa de nossa mãe e despistar os Cullen no aeroporto, o mundo parece ter desacelerado.
Sinto-me em um filme, estou me movimentando com pressa demais, as coisas ao meu redor não passam de borrões, vultos assombrosos. A nossa casa em Phoenix é térrea, a porta de entrada fica no meio da divisa da cozinha com a sala, por isso, assim que entramos, completamente afobadas, podemos ver a caligrafia de um estranho no quadro branco acima do balcão da divisa, geralmente mamãe o usa para marcar números de telefone, se obrigar a lembrar o que tinha que fazer em tal dia. A caneta vermelha foi um toque especial, imagino. Vocês sabem onde ir, dizia. Sabemos? Como caralhos sabemos?
Estou ofegante e com calor, meu peito sobe desce e eu sinto gotas de suor na minha testa e no meio dos meus seios. Estava a beira de uma crise de ansiedade, quis desesperadamente chorar, peguei o primeiro vaso com flores de plástico que alcancei e o arremessei no chão. Cacos de porcelana barata se espalharam por todos os cantos. Eu sei que vandalismo é inútil, mas era isso ou socar a parede e eu não quero meu pulso doendo. Rá, que ironia. Eu vou me jogar de cabeça no precipício e me importei com a porra de uma unha quebrada. Eu devia me socar, quem sabe isso não ajuda?
— Caterine— Bella chamou em meio meu surto de já-deu-tudo-errado. A olhei enfiando as mãos nos cabelos, puxando-os. Eu quero minha mãe, eu choramingava, lá no fundo. Ela apontou para a mesa de jantar e eu segui a reta do seu indicador trêmulo. Os sapatinhos rosa de balé pareceram brilhar mais do que ouro posicionados no centro da mesa marrom e retângular.
Tive um clique.
Claro que eles não deviam estar ali, era nossa segunda mensagem. O estúdio. Foi como se gelo tivesse sido injetado em minha nuca e se espalhou rapidamente pelo meu tronco como uma infecção. Agarrei o pulso de Bella antes que ela saísse e a puxei para perto com força. Ela estava assustada, mas funcionava bem.
— Não ouse morrer hoje— foi quase como se eu implorasse, soei raivosa mas sei que ela entendeu perfeitamente. Bella apenas sacudiu a cabeça em negação e nós voltamos a correr. Deus parecia ter nos abandonado, mas eu acho que ele nunca esteve comigo mesmo. Como se fôssemos as únicas pessoas na face da terra, só havia nós na rua. Duas adolescentes descabeladas e com olheiras, transpirando e com os olhos bem abertos, preparando-se para o terror. O barulho de nossa corrida fazia eco. Tênis finos batiam no asfalto, era a única coisa que eu ouvia além da minha própria pulsação. O estúdio era a metros da nossa casa, quando eu era menor, ia lá sempre depois da escola. Um espaço um tanto maior que uma quadra de escola. Não havia cadeados prendendo a porta do estúdio então nós nos jogamos contra ela. Estar na sombra teria sido um alívio em qualquer outro dia. O lugar parecia terrivelmente vazio. Freei a corrida e agarrei o braço de minha sósia a obrigando a parar também.— Tem algo errado— murmurei, sem conseguir controlar minha respiração ofegante. Não estou mais acostumada com o calor. Correr nesse tempo é péssimo.
— Bella? Bella?— era a voz da nossa mãe, mas...
Bella tentou se soltar de mim imediatamente, mas a prendi, tentando raciocinar.
— Caterine!— Bella gritou comigo, torcendo o pulso para se soltar. Então, mamãe riu. Nós olhamos na direção da porta ao longe, horrorizadas. Ali era a sala que a professora guardava a TV.
— Ah, aí está você— a voz de Renee ecoava, de repente muito mais descontraída. Meus olhos se encheram de lágrimas e nós nos aproximamos daquela porta escura entreaberta. Em um minuto, minha mão alcançou a maçaneta fria e eu abri a porta me deparando com a luz fraca da TV virada para a parede. Senti como se tivesse levado um soco no estômago, mas o alívio também me permitiu respirar bem. Levei a mão para a barriga e suspirei.
— Ela não tá aqui— afirmei em voz alta e o pensamento realmente se solidificou— Ela não está— olhei para minha sósia e palmas repentinas me fizeram dar um pulo de susto. Nos viramos para trás e então eu o vi, muito mais.... simples do que o que eu tinha imaginado. James não era muito alto, os cabelos num tom escuro de loiro, roupas completamente comuns, sem calçados. Ele não é tão bonito quanto eu pensei que seria. Parece apenas um homem de vinte e três padrão, cara de quem sai por aí para fumar uma maconha com uns amigos. Ele batia palmas para nós, franzi a testa, confusa.— Você mentiu.
— Sua mãe não tinha que se meter nisso, não é?— questionou. Meu corpo parecia eletrificado, quis me aproximar dele para lhe dar um belo soco no nariz, mas era mais provável que eu acabasse me fodendo mais rápido ainda.
— Não, não tinha— Bella concordou. Me senti muito desconfortável por ela estar aqui e me movi para ficar na frente de minha cópia, protetoramente. James diminuiu a distância entre nós em uma batida de coração. Sequer pisquei e de repente ele estava a um metro de distância. Segurei Bella atrás de mim e estufei o peito.
— Você deve ser a Caterine— ele sorriu, seus olhos estão assustadoramente escuros, só que, mesmo assim, James parece perfeitamente sob controle— Acho que você não...
— Deveria estar aqui— o interrompi— É, estou sabendo, todos já me disseram isso.— resmunguei. James sorriu gentilmente.
— Sabe, Caterine, na verdade estou muito grato por você estar aqui. Foi a cereja do bolo— ele passou a mão a centímetros do meu rosto, como se eu fosse uma peça delicada demais para encostar. Fulminei-o com o olhar e ele baixou a mão— Acredito que isso vai deixá-los muito irritados. Eles vão se vingar, não é?— perguntou, esperançoso.
— Esperamos que não— Bella respondeu, tentou sair de minha sombra, mas fiquei me metendo entre os dois o tempo todo. Os olhos negros de James acompanhavam nossos mínimos movimentos. Eu quero ser vingada, porra, quero muito que os Cullen matem esse filho da puta por me matar.
— É uma pena— James balançou a cabeça lentamente, fazendo-se de desapontado— Nossas esperanças se diferem. Vejam bem, estou meio desapontado que tenha sido tão fácil. Esperava um desafio maior, mas no fim só precisei de sorte e blefe— ele riu de escárnio— Importam-se se eu deixar uma cartinha de despedida para seus donos? Não quero que eles percam nada— ele passou para dentro da salinha rapidamente voltando para nossa frente. Franzi a testa para a luz vermelha brilhando na câmera de vídeo em suas mãos.
Esse... sádico doente do caralho! Ele quer nos filmar enquanto nos tortura. Senti tanta repulsa que acreditei que vomitaria, mas não como nada tem bastante tempo.
— Não é nada pessoal, não me levem a mal— ele dizia, praticamente enfiando a câmera na minha cara— Você— ele olhou para Bella por cima do meu ombro— estava no lugar errado, na hora errada. E você— seus olhos voltaram a se aprofundar nos meus— Não deveria se meter onde não é chamada.
— Sou muito curiosa— dou de ombros, James deu um sorrisinho. Não consegui manter o joguinho de quem pisca primeiro e baixei o olhar— Você tem que matar a gente agora?
— Ah, querida— ele falou docemente como se fosse uma ofensa eu querer um papo sério e objetivo— Está nos planos, mas não se preocupe. Prometo que vocês nem sentirão nada.
— E... e se eu tiver uma ideia melhor?— começo, pensativa.
Se os Cullen estiverem afim de nos salvar mesmo após termos escolhido a morte iminente, talvez só precisem de tempo. Por favor, nos ajude.
— Oh, você tem uma ideia melhor?— ele levantou as sobrancelhas, debochado. Ele estava querendo me fazer parecer burra, mas não me permiti abalar.
— Você gosta de brincar, não é? A gente pode dar um jeito de alongar essa caçada— obrigo-me a olhar nos olhos da morte e mentir. Eu vou mentir porque essa é a melhor coisa que eu faço.
— Estou ouvindo, Caterine. Me convença a não atravessar seu peito— ele apertou o indicador contra meu coração— com minha mão.
Engoli em seco.
— Vamos fazer um acordo— meus olhos lacrimejaram, mas não me importei em ter controle sobre isso agora. Talvez ele goste mais de mim se eu mostrar que tenho medo dele.
— Caterine— Bella apertou meu ombro, sem saber onde eu queria chegar. Só queria que James tirasse a porra da câmera da minha cara, mas no fim não me importava se os Cullen se magoariam com o que eu dissesse nessa hora de desespero.
— A Bella pelos Cullen— proponho, Bella protesta, mas eu a belisco com força para que ela se cale. James tomou um semblante sério pela primeira vez, momentaneamente incrédulo e surpreso.
— Entregaria os Cullen para salvar sua irmã?— perguntou.
— Sem nem hesitar— uma lágrima desceu solitária pela minha bochecha esquerda. Minha voz não foi alta, mas foi firme. O rosto de James se iluminou.
— Por isso você não foi chamada para ver o jogo— comentou James, seu rosto se iluminou.
— Nunca gostei de baseball— levantei as sobrancelhas forçando um sorriso que não consegui manter— Bella fica segura. Intocável. Depois eu te falo tudo o que você quiser sobre os Cullen.
— Não— Bella se agita— Caterine, para. Eu não vou sair de perto de você.
— Você conhece bem os Cullen?— James perguntou-me desconfiado. Ignorou Bella tanto quanto eu.
— Como a palma da minha mão— nunca menti com tanta firmeza. Seria a verdade naquele momento. O dedo rígido e gelado de James ainda estava no meu peito. Ele me assusta, me intimida, quer mostrar que está prestando atenção nas batidas do meu coração. Ele supostamente deveria saber que eu estou mentindo, mas o teste de polígrafo sequer é aceito em um julgamento. Não muda nada, meu coração está a toda desde que chegamos aqui.
— Quer brincar de Deus, senhorita?— perguntou, sorrindo de ladino. Mantive-me neutra, olhando meu reflexo tenso nos seus olhos.
— Se for preciso, pela minha família, eu faço qualquer coisa— balancei a cabeça e finalmente olhei para a câmera na mão de meu ceifador— Desculpa— disse com a voz chorosa. Espero que eles não me odeiem demais. Espero que entendam o meu lado quando Bella lhes contar o que aconteceu.
Espero que Jasper não me odeie.
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