Que situação

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Sequer pisquei quando uma sombra negra tão grande quanto Jacob pulou sobre ele. Atacou-o pela direita, tirando-o de cima de nós a força. Bella deixou escapar um grito, mas eu não conseguia emitir um som que fosse.

— Caterine!— Bella gemeu, levando a mão ao braço. Meus olhos se demoraram mais um pouco na briga entre os lobos a poucos metros de nós antes que eu me voltasse para ela. O casaco rosa de Bella estava com um rasgo grande em seu antebraço esquerdo. Arreagalei os olhos e ela mostou a palma da mão direita apenas para que eu visse que estava sangrando. E muito. Eu saí do estupor e engoli o bolo que se formou na minha garganta em um piscar de olhos.

— Tá. Tá— eu me levantei rapidamente, sentindo uma tontura intensa porque minha pressão baixou com o susto e cambaleei um pouco antes de conseguir me focar em minha gêmea. A ajudei a se levantar e ela voltou a pressionar a ferida. Billy Black estava estagnado na porta de sua casa, a face horrorizada e não parecia fazer ideia do que fazer. Será que tudo aconteceu rápido demais? Na minha cabeça durou uma eternidade. nós duas praticamente corremos de volta para casa, ouvindo a luta selvagem entre os lobos, seus rosnados e algo parecido com latido. Empurrei Bella para dentro da casa e olhei por cima do ombro, me apoiando no batente da porta, ainda tonta. Os lobos se atracavam revesando quem ficava por cima, rolando cada vez mais para perto da orla da floresta. Entrei na casa e fechei a porta. Quase desmaiei, minha visão ficou completamente preta e eu só tive a certeza que me apoiei em algo frio e rígido antes de poder me estabilizar. Minha boca ficou seca e meu coração parecia prestes a sair pela garganta.

— Caterine— senti uma mão quente no meu braço e tive que piscar muitas vezes para poder enxergar. Virei minha cabeça na direção da voz de Billy e os pontos pretos foram se dissipando aos poucos. Estou apoiada na pia, aperto o mármore escuro com tanta força que os nós dos meus dedos estavam brancos.— Caterine?— Billy chamou de novo, preocupado. Não respondi, tentando controlar minha respiração. Ok, a realidade foi bem mais assustadora do que eu poderia imaginar. Jake nos culpa? Jake nos culpa por se transformar. Caralho. Caralho.— Bella, tem um kit de primeiros socorros no armário do banheiro— Billy desistiu de mim e indicou para minha irmã. Bella. Bella está ferida, eu preciso me controlar.

— Caterine?— Bella chamou, meio chorosa. Ela deve estar bem ferida, Bella não costuma chorar quando se machuca. Merda, eu não consigo me acalmar. Minha respiração não ficava mais fácil, acho que estou surtando.

— Calma, calma aí— eu pedi— Só um minutinho.— ofeguei. Meu coração bate tão desenfreado que eu estou com medo de ter um ataque cardíaco, coloco a mão no peito como se fosse ajudar alguma coisa— Porra, meu coração— eu gemi, começando a chorar porque estava doendo muito.

— Bella, vá logo pegar o kit— disse Billy, autoritário, tomando o controle da situação— Caterine, olhe para mim.

Eu obedeci, o olhando de canto.

— Você está tendo uma crise de ansiedade, infelizmente eu não posso te ajudar. Você precisa se controlar.

— Eu estou tentando!— falei entre dentes, ríspida.

— Está tudo bem— ele segurou meu pulso com firmeza— Vocês estão seguras agora.

— Eu sei. Eu sei— eu não consegui mais ficar em pé e tive de me ajoelhar ainda com as mãos apertando a pia. Billy passou a mão em meus cabelos e puxou minha cabeça para seu colo.

— Está tudo bem, tudo bem— ele dizia— Você tem o controle— ele dizia. Prestei atenção em suas palavras com todas as minhas forças. Acreditei nele e me abracei nas suas pernas paralisadas.

— Tudo bem. Desculpa.— eu funguei.

— Não tem o que desculpar, está tudo bem, Caterine.— ele exalava calma, controle que eu invejava.— Isso, garota, calma.— ele afagou meus cabelos quando eu estava começando a controlar minha respiração.

— Tá. Tá— eu balancei a cabeça e limpei a garganta, erguendo o rosto. O aperto em meu peito diminuiu consideravelmente e eu já podia parar de tremer. Soltei-me do mais velho e me apoiei na pia para me levantar— Desculpa. Eu perdi o controle— forcei um sorriso, mas não consegui mantê-lo.

— É normal. Principalmente na sua idade— Billy disse, agora com o rosto neutro. Meus olhos varreram o cômodo então me lembrei que minha irmã está ferida.

— Merda, Bella!— passei correndo por Billy e me travei na porta do banheiro. Bella havia removido seu casaco e agora estava debruçada na pia, os olhos meio vermelhos e um corte torto que ia do seu cotovelo até as costas da sua mão. Como isso aconteceu? Acho que não poderia adivinhar, mas poderia ter sido pior. Jacob poderia arrancar nossas cabeças com aquela boca enorme.

— Eu tô bem— ela falou em um tom que não convenceria nem a pessoa mais burra do mundo. Olhei a ferida debaixo da corrente de água que caía da torneira da pia e só sabia dizer que ela não parava de sangrar.

— A gente tem que te levar no hospital— suspirei abaixando-me na frente dela para abrir o armário e pegar enfim o kit de primeiros socorros— Você vai levar uns pontos aí.

— Mas e o Jacob...

— Isso não importa agora. Depois a gente... sei lá, a gente dá um jeito— a interrompi e balacei a cabeça. No kit havia as ferramentas necessárias para suturar a ferida de Bella o suficiente até a gente chegar até o hospital. Bella se segurou para não protestar muito enquanto eu envolvia seu braço com gaze e fita, eu não tenho a mínima experiência com isso e nós duas meio que ignoramos minhas mãos trêmulas— Desculpa, porra, isso é culpa minha.

— Nem começa com isso, Caterine— Bella censurou, mais pálida do que de costume, a respiração instável.— Não é culpa sua. Não é culpa nossa, né? Ele só está com raiva— ela balançou a cabeça, ouviu as palavras de Jacob tão bem quanto eu. Evidentemente em negação.

— É. Aposto que com bastante raiva— forço um sorriso e não consigo encará-la de volta. Pego de volta seu casaco do chão e a arrasto para fora do cômodo.

— Como você está, Bella?— Billy pergunta, coloco a mão nas costas de minha gêmea e a mantenho na minha frente, a obrigando a continuar andando.

— Estou bem. Desculpe pelo incômodo, Billy— ela disse, Billy olhou na minha direção e eu apenas concordei com um aceno da cabeça.

— Nós vamos conversar depois— eu digo. É. Teremos muito o que conversar e eu espero ter coragem de encarar Jacob sem estremecer depois dessa.

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— Como isso aconteceu?— Charlie perguntou, pegando o braço enfaixado de Bella para examiná-lo de perto.

— Eu caí na oficina do Jake— Bella respondeu, calmamente, puxando a manga do casaco que eu a dei para esconder a ferida.

— Vocês brigaram?— papai perguntou, preocupado.— Sei que não se falam tem um tempo.

— Nós estamos dando um jeito, mas antes que a gente tivesse muito tempo, eu escorreguei e levei Caterine para o chão junto— Bella mirou meu rosto e Charlie a imitou. Eu estava completamente na minha desde que saímos do hospital. Acabamos de chegar em casa. Bella levou uns catorze pontos no braço e eu estou com uma dor de cabeça latejante. Viemos apenas cumprimentar papai na sala. Eu precisava de um banho quente e de minha cama. Nada mais.

— Vocês estão péssimas— comentou meu velho. Eu dei um sorrisinho de lado e passei os dedos na terra impregnada em minha nuca.

— Puxei você— digo e meu sorriso se alarga quando Charlie levanta as sobrancelhas.— Bella, deixa eu tomar um banho primeiro? Vou ser mais rápida— olho minha sósia. É, estamos bem acabadinhas mesmo. Descabeladas e completamente sujas de lama seca. Eu me sinto um completo lixo.

— Claro— Bella disse com o rosto sereno, exalando calma. Fingi não notar seus olhos em mim o tempo todo, ela que se machuca e eu que fico sob observação? Eu só surtei um pouquinho. Estou perfeitamente bem agora.

Corro para o banheiro e sinto um prazer sem igual quando a água quente leva pelo ralo toda a sujeira de minha pele.

Foi um dia e tanto, devo dizer. Fico parada e me abraço, sozinha no banheiro enquanto a água bate em meu peito e o cômodo pequeno fica abafado, nebuloso. Jake poderia ter nos matado hoje? Ele iria mesmo tão longe, perdido pela raiva que sentia de todos, incluindo de Bella e de mim?

Que situação, é tudo o que consigo pensar, mas não tem como dizer que não procurei por isso, não é mesmo?

Quando finalmente estou na minha cama, sinto o cansaço emocional domar-me, pouco a pouco. Eu tenho tanta coisa pra resolver, ao mesmo tempo que me sinto tão esgotada.

Agora eu sei a verdade por completo, mas isso não melhorou muito minha vida como, no fundo, eu esperava que acontecesse. Pouco antes de adormecer, sinto uma respiração quente perto de meu pescoço e, antes que eu reaja, tudo fica escuro.

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O que está achando, vadia?

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