Não desgosto de você
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A entrevista da minha vida não durou mais do que dez minutos. Repentinamente eu ouço que irei começar na segunda e tandam, estou empregada num mercado meia boca perto da escola. Vai ser bom, até que eu gosto de limpar e organizar as coisas. Serei treinada e posicionada, obviamente, mas não acredito que vai ser um troço de sete cabeças.
Falando em troço de sete cabeças... ensinar Bella a ser uma vadia cruel é uma missão impossível. Minha irmã não machucaria nem os sentimentos de uma planta e eu não sei como mudar a essência de seu ser altruísta. Ela se irrita quando eu coloco pressão ou tento mudar seu estilo, pense numa aluna teimosa! Mesmo que ela não tenha concordado em participar do meu projeto, isso é só um detalhe. Ela vai querer. Em algum momento...
Nota mental: não dar nenhuma cor de destaque para ela. Tentei transformá-la numa princesinha, mas ela se acha uma porca quando a visto de rosa.
— Você tem que achar outra cor, porque o preto já é meu, maninha— alego. Tudo bem que eu também fico maravilhosa de vermelho, mas não posso dominar tudo.
— Cinza?
— Não.
— Amarelo?— é a próxima projeção. Minha mente me traz os tons mais feios da cor à mente e eu faço uma careta.
— Muito fora da caixinha.
— Verde?
— Quer se camuflar, querida?
— Vermelho?
— Sexy e ousada, eu aprovo.
— Não. Azul?
— Por que não vermelho?
— Não quero parecer sexy nem ousada.
— Minha querida, nós viemos trazer uma mudança pra você, se não quisesse isso não tivesse vindo!
— Você que me arrastou até aqui, Heather!— ela estreita os olhos cor de chocolate e eu estalo a língua, acenando com a mão.
— Não se apega aos detalhes.
Fizemos compras no final de semana torrando a grana que Bella guardara para seu carro já que tínhamos nossa picape agora. Eu adoraria ver Bella de vermelho, mas a maior parte foi azul e branco, o máximo que consegui fazer ela comprar em vermelho foi uma regatinha que ela jamais usaria, mas como ficou bem nela, ficaria bem em mim. Só ganhei nesse final de semana, mas ainda tinha mais uma coisa na minha mente; o trabalho de filosofia.
Eu vou ter que falar com o senhor fujão de um jeito ou de outro e terá que ser nesta segunda. No momento, é domingo à tarde, acabamos de voltar de Port Angeles e eu estou me livrando das roupas da minha irmã que eu mais abomino.
— Posso fazer o mesmo com as suas?— pergunta ela raivosa por eu estar passando a tesoura numa de suas calças mais antigas.
— Se você chegar perto do meu guarda roupa, eu viro filha única. E talvez uma fugitiva procurada— sorrio sem a olhar, dando um puxão no tecido, como calça já passara da época, mas um short!? Ah, eu sou brilhante, ficou perfeito!
— Não, você não teria tantos escrúpulos para ser uma assassina e é narcisista demais para machucar alguém que tem sua cara— ela resmunga dobrando as roupas novas e as colocando na cama. Dou risada.
— A língua afiada a madame tem, mas tá no alvo errado— a lanço uma piscadela— Por que não testa no tal Cullen amanhã? Quando estiver montada para a batalha, que tal?
— Eu não quero brigar com ninguém, Caterine.
— Ele não foi esquisitão contigo? Você devia...
— Eu não vou fazer nada— ela me interrompe. Suspiro e decido deixar isso de lado, se ela não quer, que assim seja.
— Está bem então, só eu vou causar amanhã— dou um sorriso no meio da minha carranca e examino meu mais novo short.
— Por que vai causar?
— O loirinho gostosinho.— ela une as sobrancelhas para mim— O Hale, inteligência!— dou de ombros, sentada no chão, pego outra peça de roupa para examinar— Deve ser de família ser estranho, ele é todo rude comigo e não que eu me importe, mas infelizmente ele tem o tema do meu trabalho em mãos, eu preciso saber qual é.
— O trabalho é em dupla. Não é seu trabalho pra fazer sozinha.
— Eu vou fazer sozinha e explicar para o professor, ora!— falo como se fosse óbvio. Realmente é— Quem ficará sem nota é o Hale. Desde que não sejam oitenta páginas manuscritas, ficarei bem. Tudo numa boa.
— Você quem sabe— Bella sorriu e balançou a cabeça— Vai fazer o quê? Arrancar da mão dele?
— Se for preciso— sorrio, segunda-feira Jasper Hale não conseguirá fugir de mim.
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Chegamos um pouquinho mais cedo para a aula pela manhã exatamente para aquilo. Eu olho para o outro lado do estacionamento e lá estavam eles. Saio da picape antes de Bella e já parto para cima dos Cullen. Jasper conversava com duas loiras que eu ainda não sabia diferenciar já que elas pareciam ter a mesma fuça só diferenciando a altura. Eu me aproximo e antes que eu esteja a dois metros deles, os três olharam na minha direção. São anjos encarnados prestando atenção em mim, tanta beleza de uma vez só me deixou desconcentrada por uns segundos e eu quase perdi o controle das pernas.
Tudo numa boa, tudo sob controle. Eu respiro fundo.
— Eu preciso falar contigo— falo encarando Jasper, o loiro na carranca de sempre ajeita a mochila no ombro e se levanta do capô do carro. As loiras se entreolham. Uma sorri timidamente para mim, a outra nem olha na minha cara e elas se retiram sem dizer uma palavra. Jasper não se aproxima, estamos a uns sete passos de distância.
— Pode falar, senhorita— ele disse calmamente, eu estranho a sua educação, mas não me deixo abalar.
— Olha, eu sei que você não gosta de mim por algum motivo e eu realmente não me importo, mas eu preciso mesmo que você supere isso porque infelizmente para nós dois, somos uma dupla e eu preciso que você me fale pelo menos o tema do nosso trabalho de filosofia porque se você não for fazer, eu...
— Eu já fiz o trabalho— ele me interrompe bem no meio do meu discurso. Eu vim treinando no carro, cara.
— O... o que?— eu bato com a língua nos dentes e sacudo a cabeça— Você fez o trabalho?
— Uhum— ele assente piscando uma vez. Dou um passo na sua direção, ele tira a mochila do ombro e a abre, pega uma pasta transparente e passa para mim, eu a pego e abro olhando as folhas.
— Você escreveu isso tudo?— tem umas cinco páginas! Isso sem falar na letra impecável e constante.
— Gosto de filosofia— ele respondeu sem emoção na voz. Volto á capa, meu nome estava ali, acima do seu. Foi como se tivesse levado um murro no estômago. Eu estava espancando um inocente.
— Você... eu... nem fiz nada— o olho novamente. Jasper dá de ombros colocando a mochila de volta onde estava.
— Não precisou.
— Como achou tanta coisa?
— Internet, livros.
— Passou o final de semana pesquisando?— pergunto franzindo a testa. Ele quase sorri, cerrando os olhos.
— Não precisei de tanto.
Fiquei sem palavras, apenas o encarei boquiaberta, estava prontíssima para lhe descer o cacete e ele fez tudo — aparentemente — perfeitamente.
— Obrigada, Hale— resmunguei, Jasper assentiu cerrando os dentes um momento. O sinal tocou e uma brisa fria nos abraçou, era um convite claro para entrarmos.
— Somos uma dupla.— ele falou o óbvio, sem se mexer. A maré de alunos passava por nós e estes nos olhavam, curiosos.
— Ok, hã, eu meio que fiquei mal agora.— admiti colocando o cabelo atrás da orelha, envergonhada como se tivesse empurrado uma velhinha escada abaixo.
— Acho que sei disso— o canto direito de seu lábio sobe, um sorrisinho puxado, breve— Mas por que?
— Eu estava pronta para falar que não faria o mesmo se fosse o contrário... na verdade, eu ia te xingar muito agora.
— Tudo bem.
— Tudo bem?
— É, tudo bem.
— Cara, eu não te entendo.— falo balançando a cabeça, ele dá uma risada nasal. Sério, ele já é sexy com a cara amarrada, sorrindo então eu poderia ficar excitada se ele estivesse flertando comigo, o que definitivamente não é o caso.
— Se você fosse a única...— ele começa a se afastar e eu o deixo ir voltando a olhar para o trabalho em minhas mãos. Essa não deve ser a letra dele, é muito perfeita, meu Deus— Ah, e Caterine— ele me chama e eu olho na sua direção novamente, o loiro me encara por cima do ombro e faz careta— Eu não... desgosto de você, por sinal. Só é melhor pra você manter distância.
E então ele foi embora enquanto eu tentava processar aquilo.
O que isso quer dizer?
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