Liderança

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A música tocava suave no rádio, o clima surpreendentemente leve entre Bella e eu. Voltando do colégio, não nos concentramos em nada muito além de olhar a paisagem correndo pelas janelas.

Eu deveria estar curiosa. No intervalo, Edward chamou Bella para uma mesa solitária para conversarem. Ela aceitou com relutância, me encarou em questionamento mas eu apenas dei de ombros. Se ela vai perdoar ele ou não, não cabe a mim dar qualquer opinião desde que ela não se perca no caminho.

Acho que ela está esperando eu puxar o assunto, mas eu não quero saber, falando de maneira franca.

— Sabe que eu vou estar com você a todo momento, não é?— ela rompe o silêncio pacífico e eu mantenho os olhos na estrada.

— Sei— eu solto um suspiro cansado. Me irrita ter noção só agora que Victoria não me conhece. É mais provável que ela queira apenas a Bella e, mais uma vez, eu serei o brinde, mas fazer o que? Alguém tem que salvar a pele dessa desmiolada que é minha alma gêmea desde o berço— Mas você vai ficar quietinha enquanto eu lido com as coisas, ok?

— Caterine, você não tem que dar conta de tudo sozinha.

— Eu não estou dando conta de nada— dei uma risada fraca— Os quileutes e os Cullen que estão fazendo o trabalho.

— É, mas quem começou isso foi você. Você é quem está tomando todas as decisões, você sempre faz isso... a gente tem que entrar em um consenso. Dividir a liderança, talvez?— ela pareceu envergonhada por sugerir tal coisa. Franzi a testa, confusa.

— Liderança? Que liderança, Bella?

— Não, tipo, não é que você não está fazendo o necessário ou que esteja faltando qualquer coisa em seu julgamento.... mas eu não quero ficar o tempo todo atrás de você, sabe?

— Como assim atrás de mim?— a olhei com curiosidade. Bella olhava pela janela e se encolheu.

— Você sempre faz de tudo para me proteger— ela resmungou— Quando é que eu vou ter a chance de proteger você?

Eu deixei escapar uma risadinha breve e sem graça.

— Bella, esse não é seu dever.

— E quem disse que é o seu, Caterine?— ela rebateu e eu voltei a guiar o carro com mais atenção, pensativa.

— Eu sou a mais velha.

— Não me venha com essa— Bella bufou. Nós ficamos um tempo em silêncio.

— Por que você acha que eu estou bancando a líder?

— Não é o que eu acho, é o que você faz, naturalmente. Você sempre toma atitude e faz as coisas acontecerem.

— Isso é ruim pra você?— pergunto, com cautela. Dependendo da sua resposta sei que as coisas vão ficar estranhas entre nós porque eu não vou mudar nada.

— Não, claro que não— Bella soa sincera e eu balanço a cabeça, disfarçando meu alívio.— Eu só quero sair do ninho, entende? Estou cansada de ter sempre alguém me salvando— ela desabafou.

— Mas, tipo, nós somos inúteis em uma luta— comento, tentando trazer humor para a nossa conversa.

— É, mas... quando eu falar, gostaria de ser ouvida, entende?— nós nos olhamos. Bella está incrivelmente séria e eu sei que ela aguenta muitas coisas calada, muito mais do que eu— Não quero que você decida tudo por mim, Caterine, eu não sou uma criança.

— Tudo o que eu quero é fazer o melhor para te proteger.

— Acha que eu não quero proteger você também?— ela levanta a sobrancelha e eu comprimo os lábios, virando o rosto de volta para a estrada, estamos chegando em casa.

— Tá bem.— assinto— Não quero que você pense que eu estou te invalidando.

— Eu sei que não está— ela tocou meu ombro e deslizou no banco para ficar mais perto de mim.— Posso mudar de assunto?

— Claro.

— Eu não quero voltar com Edward.— ela admitiu e eu parei o carro um pouco antes da garagem da nossa casa para a olhar. Ok, isso é uma surpresa.

— O que?

— Eu não tenho que voltar com ele, não é?

— Claro que não, Bella, eu só... fiquei meio surpresa. Você não o ama mais?

Bella baixou o olhar para passar as mãos nas suas coxas de maneira ansiosa. Hoje, ela veste preto. Estamos combinando e isso é irritante, mas desisti de comentar logo cedo e não vale a pena tocar no assunto agora.

— Eu o amo, mas... a ferida ainda está aberta— ela sussurrou. Se não tivesse se aproximado, eu não teria escutado.— Sei que você entende.

Eu sorrio.

— Na verdade, eu não sei de nada— admito sem a olhar e puxo o freio de mão desligando o carro em seguida. Nós ficamos paradas por um momento esticado, nada incômodo.

— Como assim?— ela perguntou, sentia seu olhar sobre mim, mas tudo o que eu encarava era o volante na minha frente.

— Não tá doendo tanto quanto eu pensei que seria, sabe?— eu fechei os olhos e respirei fundo— O que eu tenho agora é mais rancor e orgulho ferido. Mas não me dói ele ter ido embora antes.

— Porque ele voltou?

— Talvez— concordo, sem muito ânimo no tom.— O que eles fizeram me deixa zangada, não magoada. Não mais.

— Queria poder dizer o mesmo— ela resmunga e a gente ri, sem nenhum humor.

— Olha, maninha, eu não tenho o que te dizer com relação a Edward— continuo— Isso é entre vocês. Pode amá-lo, mas se não estiver mais apaixonada por ele, é melhor se afastar. E o avise, para que ninguém fique se machucando atoa, porque é óbvio que ele não te superou e tenho minhas dúvidas se o fará tão cedo.

— Eu sei— ela estala a língua e respira fundo— Queria poder seguir meu coração, mas ele não está me dizendo nada.

— Não pensa demais— aconselho— Isso não faz bem para ninguém.

— Olha quem fala.

— Não fode— eu sorrio e balanço a cabeça.

— Cat?— Bella aperta meu ombro com certa força para atrair meu olhar.

— O que foi?— pergunto, Bella me oferece um sorriso doce e então se aproxima e abraça meu pescoço. Eu fico parada por uns segundos, processando. Um sorriso nasce no meu rosto e eu a abraço de volta.

— Eu te amo. Mais do que tudo— ela diz.

— Ah, eu também me amo— respondo e recebo um puxão de cabelo nada amigável.

— Ridícula.

— Eu estou brincando, eu também te amo.

— Eu preciso da sua ajuda para retocar o cabelo— ela pontua e nós nos afastamos do abraço.

— É isso mesmo, Bella patricinha vai continuar?— sequer desfarcei meu ânimo. Bella revirou seus grandes olhos castanhos, mas não conteve o sorriso.

— Vai. E você vai ajudar.

Ergui os punhos no ar e comemorei.

— Isso aí, caralho! Eu vou te montar de novo, sua vadia!

— Não me chama assim.

— Desculpa... vadia.

— Caterine!

— Parei, parei— me rendi e desci da picape antes dela. Tá. Eu não podia perder essa.— Vadia— falei e corri como uma criança para dentro de casa antes que ela me alcançasse. Eu amo minha irmã.

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