Já se esqueceu de mim?
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Já pensei muitas vezes em como seria a minha morte. Algo patético, talvez. Mas sempre possível. Realista.
Uma queda na escada, no banheiro. Até mesmo um tropeço no tapete da sala. Uma explosão porque o gás vazou. Acidentes acontecem. Atropelada. Resisti a um assalto. Pulei do topo do prédio para saber como seria a sensação. Mil e um cenários que acabariam com minha história.
Nunca pensei que viraria janta de um vampiro, um ser que nem deveria existir nesse universo, mas existe. Eu tinha decisões a fazer. Foder com tudo e contar para Alice que Bella faria uma merda colossal ou me manter calada e observar tudo dar errado como uma espectadora qualquer? Mas e minha mãe? O que aconteceria com ela se eu abrisse a boca? E se eu não abrisse?
Respirei fundo e desci do carro. O aeroporto era longe de casa. Nós temos que ir pra casa.
Voltando horas e horas no tempo, as coisas foram de mal a pior.
Começando pela ligação de Edward. Ele falou pouco com Alice e avisou Bella que viria no dia seguinte já que não tinham passagens para este mesmo dia. Aventurei-me em pensar que Jasper perguntara por mim quando Bella disse "sim, ela está bem também".
Mas nenhum de nós tentou pegar o telefone para termos uma conversa digna. Nem que fosse só papo furado.
No anoitecer, outra visão, esta ainda mais ameaçadora da proximidade dos nossos inimigos. James estava na casa de nossa mãe procurando algo. Procurando por ela. A preocupação me deixou agitada. Nem nós sabíamos onde minha mãe estava, corríamos o risco de James a encontrar primeiro ainda por cima! Ele é a porra de um rastreador, achar as pessoas é seu dom. Meu coração ficou tão acelerado que acreditei piamente que sairia pela minha boca. Não tinha como sequer pregar os olhos nesta noite que se passou. O futuro nunca foi tão assustador. A noite durara uma eternidade e nós não tínhamos nenhuma novidade, o completo breu diante de nossos olhos.
Mas então, a ligação desesperada dela veio pela manhã. Renee chamava por Bella pois fora Bella quem havia pedido para ela ligar de volta no número de Alice. A vidente nos passou o telefone e Bella tomou a frente de me arrastar para o quarto para que pudéssemos acalmar nossa mãe juntas. Arranquei o celular da mão de Bella porque precisava ter o controle de alguma coisa e então congelei. Estava consolando minha mãe, estranhando a voz dela, seu eco.
— Parece que o colégio de Forks não protege muito bem os arquivos de seus alunos como deveria.
A voz era estranha, masculina e suave. Até simpática, ouso dizer.
— Quem é você?— perguntei num murmúrio. Eu já sabia a porra da resposta.
— Ah, já se esqueceu de mim, Bella?— ele parecia magoado de maneira teatral. Completamente debochada.
— Não é a Bella— minha voz não saía alta, eu simplesmente não era capaz de elevar o tom. Bella olhou para mim já entendendo tudo. Compartilhamos o choque, seus olhos castanhos brilharam e ela levou a mão ao peito. Tive que me apoiar nela, minhas pernas travaram de um jeito esquisito e eu fiquei com medo de desabar.
— Hmm, espera, eu acho que ouvi seu nome aquela noite.... Caterine, não é?— ele falava como se fosse meu amigo. Seu cinismo só me deixou mais nervosa.
— Cadê minha mãe?— sibilei, a raiva foi enchendo meu peito, tremia da cabeça aos pés.
— Acalme-se, minha querida.— ele disse, tão solidário e atencioso que me fez parecer desnecessariamente grosseira— Eu estou apenas começando.
Ele nos queria no lugar dela. Se a troca aconteceria ou não estava nas nossas mãos. Mas quem não se entregaria no lugar da própria mãe? Nós não temos escolha. Ele nos quer e ele vai ter. Não sei para onde estamos indo, não tinha paciência para lidar com James, e apesar de Bella estar meio chorosa, ela tinha controle o suficiente para dialogar com aquele filho da puta. Eu dependo dela e ela não vai para porra de lugar nenhum sem mim.
Uma vez que cravo meus dedos em sua pele, vi que ela foi ficando vermelha, mas nossa tensão era justificável, então os vampiros conosco não ficaram se repetindo.
Se fosse só minha vida em risco, eu faria isso. Mas só de pensar em Bella no centro de tudo tenho vontade de chorar. Eu não sou uma boa irmã e não terei tempo de reparar isso.
Eu só espero não sofrer muito.
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JASPER HALE
Olho para a janela, a visão do céu nessa altitude deveria me confortar. Não estou conseguindo me concentrar. Respiro fundo e admito a contragosto que essa sensação desconfortável na boca do estômago é preocupação. Uma mistura com culpa. Eu fracassei e agora alguém vai ter que pagar.
— Para.— Edward sibila sentado do meu lado. Ignoro todos meus pensamentos pessimistas.— Você se importa com ela.
Cala a boca, pensei. Fechei os olhos tentando manter a calma.
— Por que mais estaria se sentindo tão culpado? Você gosta dela.
— Para.— o olho de soslaio, com raiva. Edward transparece uma tranquilidade a qual ele está longe de sentir.
— Não vamos perdê-las— continua, com falsa esperança. Reviro os olhos e o ignoro. Que idiotice. Eu só...— Não quer que ela se machuque— meu irmão completou meus pensamentos. Tirei o cinto e me levantei. Saí de perto dele e fui me enfiar no banheiro. Um cubículo apertado, claro e bem refrigerado, olhei-me no espelho e me apoiei na pia. Não é que eu me importo com Caterine, mas também não vejo motivo para ela se ferir nisso tudo.
Não quero que ela morra. Não quero ter que me importar caso ela morra. Não consigo visualizá-la, não consigo pensar nela, mas ainda assim seu nome não sai da minha mente. Como se fosse capaz de sentir o gosto na ponta da língua.
Preciso falar com ela. Não sei sobre o quê ou porquê, mas preciso. Quero ouvir alguma de suas gracinhas, quero que ela sorria para mim. Nossa última conversa fora patética. Ela está com raiva de mim? Eu sei que sim. A magoei e fosse de propósito ou não, tinha acontecido. Pego o celular, mas no segundo que olho para as teclas, lembro-me de onde estou. Já estou a caminho, vou poder falar tudo o que desejo pessoalmente, seja lá o que isso significa.
Estou chegando, vai ficar tudo bem. Podemos nos acertar. Podemos... que merda eu deveria fazer? Esqueci do que é certo ou errado. Nunca soube lidar com meus sentimentos. Por que ela tinha que me perguntar aquilo?
O turbilhão de pensamentos era completamente incoerente. Fechei os olhos e respirei fundo mais um vez. Eu tenho todo o controle, eu vou dar um jeito. Volto a encarar meu reflexo. Eu não sou de perder. James não vai escapar de mim de novo e eu juro por Deus que vou acabar com a vida maldita dele se chegar perto de Caterine.
Eu não me importo com ela, mas eu vou fazer de tudo para proteger ela.
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