Invasor

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Eu não podia ficar a eternidade sem falar com meu próprio pai, mas no segundo dia o ignorando, meio que isso não me pareceu muito difícil. Eu me fechei completamente depois que saímos da casa dos Cullen. Humilhada e com altos pensamentos suicidas, concentrei-me apenas na escola e no trabalho. Foi meio fácil me esquecer do mundo, mas Jasper também não veio falar comigo e eu comecei a dar falta. Irritava-me com muita facilidade a forma como eu sentia falta dele e como eu não conseguia controlar isso. Por mais que esteja morrendo de vergonha, por mais que fique nervosa só de pensar em ver ele de novo, é tudo o que eu queria. E eu o odeio porque o amo demais e esse sentimento é tão irritante, tão insuportável!

Sacudo a cabeça e apenas leio a maldita questão mais uma vez. Se eu não tivesse sido uma aluna muito boa nos meses que os Cullen tivessem ido embora, agora, com toda a certeza, eu estaria mais do que fodida para acompanhar todas as matérias. O drama do mundo dos vampiros ocupa muito minha cabeça, mas eu me sinto menos burra ao receber um B+ ou até mesmo um A. Não me perdi completamente, afinal.

O trabalho é difícil.

Parece que todo mundo está estressado comigo e os sentimentos ruins retornam, o pessimismo faz seu peso nos meus ombros e, no fim do dia, quando arrasto os pés para me deitar de bruços na minha cama, eu só quero que Jasper apareça. Não quero ele por perto porque preciso falar com ele, nada de desabafos. Mas eu preciso da sua presença viciante que me enche de serotonina. Evitando pensar em tudo, eu apenas adormeço.

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Sinto um aperto no meu peito tão intenso que me deixa apavorada, mas tampouco posso me mexer. Minha respiração fica dificultada e eu sinto perfeitamente que estou dividida entre a consciência e a inconsciência, não consigo abrir os olhos. A sensação de medo domina todo meu corpo e eu estremeço quando dedos gelados tocam meu rosto, deslizando pela minha bochecha até o meu queixo. Não há nada de bom aqui. O clima está pesado demais e eu tenho vontade de chorar porque eu sinto que James voltou do inferno para me ver.

Pode ser fácil esconder a maior parte do tempo, mas aquele cara me assustou pra caralho. Ele me assombra e eu fico tremendo só de lembrar como foi quando seus braços se fecharam ao meu redor.

— Para— consegui dizer, ainda sem abrir os olhos, tentei afastar o toque do meu rosto.

Sem poder esperar, a mão gelada envolveu meu pescoço e me afundou na cama me arrancando o fôlego. Arregalei os olhos, desesperada e me deparei com um completo estranho. Apenas familiar por aqueles olhos raivosos de demônio. Ele pareceu tão confuso quanto eu ao me olhar nos olhos. Tem um vampiro na minha casa. Soltei um gemido esguelado e tentei o empurrar, não tinha oxigênio algum no meu corpo, eu precisava que ele me soltasse.

— Quem é você?— ele perguntou, confuso. Meus olhos transbordavam e eu comecei a espernear, ele apertava meu pescoço com firmeza e eu tive medo de morrer. Sua atenção foi desviada e, tão rápido quanto apareceu, ele sumiu pela minha janela aberta. Debrucei-me para fora da cama e tossi em busca de fôlego. Minha porta se escancarou violentamente e Jasper estava ali, irado. Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto, eu estava bêbada de sono e assustada pra caralho, mas Jasper não demorou a sumir também, muito provavelmente indo atrás do meu invasor.

Edward apareceu quando meu choro se intensificou com uma dor no pescoço.

— Caterine! Você está bem?— ele correu para mim e se sentou na minha cama, ergueu meu queixo para olhar meu pescoço e fez careta ao me puxar para seus braços. Eu comecei a entrar em pânico embora tivesse plena consciência de que estava segura agora.

— O que foi isso?— perguntei, rouca, Edward passou a mão na minha cabeça, tentando me acalmar— O que foi isso, porra!?— eu repetia, chorando e me encolhendo para perto dele.

— Tá tudo bem, desculpa, tá tudo bem.

Eu podia estar morta agora. Aquele cara podia ter me matado enquanto eu dormia, mas não. Ele me confundiu com Bella? Que porra foi essa?

— Meu Deus— eu solucei segurando meu próprio pescoço como que para me proteger. Edward praticamente me ninou.

— Desculpa, viemos o mais rápido que pudemos.— ele dizia.

— Meu Deus.— foi tudo o que eu consegui dizer. Tudo o que consegui processar.

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Alice passou mais maquiagem no meu pescoço e Bella me observava com apreensão. Roía as unhas sem parar, andando de um lado para o outro no meio da sala.

— Me desculpa— Alice resmungou de novo— Estávamos com os lobos, treinando.

— Eu já entendi, está tudo bem— eu disse, sem muita firmeza. O medo passou... mais ou menos. Só quero saber de uma coisa agora— Onde está Jasper?

Ninguém me respondeu. Tudo o que sabiam era que Jasper foi atrás do invasor junto de Emmett e Embry Call.

— Isso não vai acontecer de novo, Caterine— Carlisle disse, parecia muito preocupado, ergui as mãos para que Alice parasse e precisei de um momento para me recuperar. Foi só um momento tenso, eu não quero que se preocupem comigo.

Ou melhor, não preciso que me sufoquem agora.

— Tudo bem— eu repeti e passei a língua nos lábios— Eu estou bem.

— Não acham que isso é um sinal?— Bella perguntou, abrindo o bico pela primeira vez desde que chegamos na casa dos Cullen.

Tem muita gente aqui. Seth, Leah, Rosalie, Esme, Edward, Alice, Sabine, Carlisle, Jacob, Sam.... Todos aqui apenas para ver como eu estou. Agora todos olhando para Bella, confusos. Ela está muito tensa, muito séria.

— Precisamos nos transformar— ela continuou— Precisamos nos proteger de alguma forma.

— Bella, agora não...— Sabine começa.

— Não, não!— Bella balança a cabeça com a voz embargada— Vocês precisam transformar a gente, é óbvio que não vão dar conta disso para sempre.— ela apontou para mim, nervosa— Minha irmã precisa ser transformada, eu preciso dela segura, Carlisle— ela encara o doutor e caminha até ele com um olhar suplicante, logo do meu lado.

— Bella, para— eu peço, atraindo o olhar da minha sósia— Eles já estão fazendo o que podem, isso só atrapalharia.

— Era pra ser eu!— ela elevou o tom de voz, seus olhos transbordavam em lágrimas— Você quase morre de novo e é tudo minha culpa! Eu só preciso de você segura!— ela grita— Para de fazer isso...— Bella não aguenta e se retira do cômodo cobrindo a boca. Sai em passos apressados e bate a porta com força. Eu baixo o olhar, não é como se eu quisesse ficar correndo esse risco de vida constantemente. Eu entendo ela, também me sentiria muito mal se isso estivesse acontecendo com ela e eu não pudesse fazer nada para impedir.

— Eu vou falar com ela— Edward resmungou e foi atrás da minha irmã resmungando um "com licença". Os lobos estavam parados no canto da sala, desconfortáveis.

— Vou ver se consigo alcançar Embry— Sam anunciou e veio para o meu lado, tocar meu ombro com sua mão absurdamente quente— Que bom que está bem— ele disse, e eu esbocei um sorriso fraco de agradecimento— Leah, venha comigo— ele ordenou e a garota me lançou uma última encarada antes de sair sem falar nada. Ela é a mais veloz da alcateia, é tudo o que eu sei. Seth se aproxima com a carinha preocupada e se senta do meu lado. Jacob o imita e se senta do outro. Os garotos me prendem em um abraço e eu perco o fôlego pela sua força. Eles estão muito sérios e não deram um pio ainda.

— Eu estou bem, gente— eu disse, empurrando as palavras para fora. Eles não disseram nada, apenas continuaram me apertando, se é que dá para considerar isso um abraço.

— O rastro se perdeu— Alice disse, mal humorada. A olhei, confusa e tentando me desvencilhar dos mais novos.

— Ei, eu estou bem— passei a mão na cabeça deles e busquei por fôlego.

— Eu vou matar ele— Seth disse em sua voz de criança e eu me preocupei.

— Seth, não....— me interrompi quando a porta se abriu de novo e Jasper e Emmett apareceram, sérios e completamente insatisfeitos. Olhei para Jasper com nervosismo e ele avançou para mim sem nem hesitar. Em uma batida de coração, eu senti seu abraço rígido e ainda mais limitante que o dos lobos. Jasper fechou os braços na minha cintura e beijou meu pescoço como nunca tinha feito antes. Fiquei completamente desnorteada por uns momentos e apenas retribui. Fiquei puta por ele ter ido direto atrás do invasor, mas aposto que faria o mesmo no seu lugar, antes de qualquer coisa. Me permiti relaxar no seu abraço e me senti cem por cento segura, carregada. Era disso que eu precisava. Fechei os olhos e me aproveitei da sensação. Jasper me cheirou como se eu fosse uma carreira de cocaína e eu estremeci até os ossos.

— Isso não vai acontecer nunca mais com você, meu amor— ele sussurrou contra minha pele— Nunca mais. Eu não vou deixar.

Sem nem hesitar, eu confiei que ele nunca mais deixaria eu sentir medo. Acho que Jasper nunca foi tão sincero quanto agora.

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