Intuição extraordinária
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Eu praticamente invadi correndo a emergência do hospital. Não tenho muito tempo disponível entre a saída da escola e a hora de ir trabalhar, então teria que ser rápida. Ajeito meus cabelos no rabo de cavalo que está se desmanchando e reparo que vou no salão de beleza esse final de semana.
Procurei por Carlisle, perguntei por ele para as enfermeiras que passavam por mim e a maioria me apontou o escritório do homem. O doutor Cullen estava no meio de uma reunião com sua família, eles disseram, mas eu não me importei em socar a porta e atrapalhar a conversa.
Eu genuinamente detesto hospitais, eles tem uma energia muito carregada e eu sinto que não dá pra respirar direito sempre que estou entre essas paredes. Olho para os lados do corredor enquanto a porta é destrancada e não demoro em me deparar com Rosalie. A personificação da beleza.
Ela me mede de cima a baixo com seus olhos escuros e eu lhe dou um sorriso amarelo. Rosalie apenas assente, inexpressiva e dá um passo para o lado, permitindo minha entrada.
Em contradição com o resto do hospital, e até mesmo com sua casa, o escritório de Carlisle possui certo conforto. Cores quentes, vermelho e marrom são predominantes. A decoração suave que me recorda o estilo dark academia que me deixa bem mais confortável.
Eu respiro fundo e olho o rosto de cada um conforme Rosalie trancava a porta atrás de mim. Eles parecem tensos, talvez eu esteja interrompendo algo mais sério do que imaginava.
— Hã, perdão— parei meu exame quando encontrei Jasper a minha esquerda, sentado em uma poltrona de maneira desleixada e brincando com um cubo mágico nas mãos sem olhá-lo. Ele me deu meio sorriso e eu desviei o olhar para Edward rapidamente, sentindo meu corpo se aquecer.— Aconteceu algo?— perguntei ao telepata.
A família Cullen estava em um meio circulo ao redor de mim. Da direita para a esquerda estava Rosalie, segurando o braço de Emmett, Sabine escorada na parede de braços cruzados, Esme ao lado da mesa que Carlisle estava sentado – a típica posição do chefe, o centro de tudo – , Edward de braços cruzados atrás do pai, Alice perto da ampla janela de cortinas fechadas na parede à esquerda ajeitando um jarro de flores silvestres e meu ex terrivelmente gostoso com os olhos fixos em mim. Não olha, não olha!
Eles relutaram por um momento e eu temi estar invadindo algo pessoal, mas logo Carlisle limpou a garganta atraindo meu olhar para si. Ele apontou a cadeira fina de frente para sua mesa.
— Que bom que apareceu, Caterine, por favor, sente-se.
Eu obedeci, curiosa. Para minha infelicidade ou não, Jasper decidiu me acompanhar e foi para o lado de Edward, fazendo com que ficasse impossível de eu não o ver. O circulo se fechou ao redor da larga mesa do escritório e eu me senti estranhamente prestes a levar uma bronca. Parecia que todos os professores haviam sido chamados para a sala do diretor e eu era a aluna problema. Eu olhei para Jasper esperando receber alguma dica, mas ele não me deu nada.
— Eu fiz alguma coisa?— perguntei embora tivesse certeza que não. Emmett riu à minha direita atraindo meu olhar.
— Falando assim nem parece a garota que no outro dia estava prestes a comer nosso rabo com os cachorros— ele me deu um sorriso largo e eu não contive o meu. Balancei a cabeça.
— Estou em desvantagem aqui.— fingi lhe segredar— Costumo dançar de acordo com a música.
— Estou sabendo— Emmett debochou. Sabine e Esme sorriram me tranquilizando um pouco.
— Você não fez nada de errado, Caterine— Carlisle disse. Me senti errada por não estar o dando a atenção necessária— Mas estamos começando a crer que temos um problema em mãos agora.
Eu realmente não posso demorar aqui, penso. Meu chefe não vai muito com minha cara, aposto que o primeiro deslize que eu cometer serei mandada embora, mas ainda assim tenho minha atenção desviada.
— Que problema?
— Tem algo acontecendo em Seattle.— Jasper respondeu, encostando-se na estante atrás de si e cruzando os braços— Algo grande.
— Os desaparecimentos?— pergunto, é a primeira coisa que me vêm em mente.
Carlisle assentiu.
— Tem a ver— disse o mais velho, passando as mãos em seu jaleco branco como se estivesse tirando a poeira dos braços— Jasper acredita que tem um exército sendo criado lá.
— Um exército...?— sinto os batimentos de meu coração se acelerarem e eu tenho certeza que todos me ouvem muito bem.
— De vampiros recém criados— Edward é quem fala dessa vez, não sei com que calma.
— Como chegou a essa conclusão?— pergunto para Jasper que parece me devorar com o olhar. Meus ombros se encolhem.
— Eu conheço os sinais. Toda essa destruição, a falta de rastros para a polícia... Tem alguém criando um exército. Deve ser um grupo grande agora, vinte ou mais.
Eu encaro os vampiros ao meu redor, individualmente, eles são fortes pra caralho, juntos mais ainda. Vinte deles...
Penso na parte que não falamos: como eles se alimentam. Se for contar o tanto de tempo que os desaparecimentos começaram, a quantidade de mortos é absurda. Meu Deus.
Sei que nenhum vampiro embicou nessa vida como "vegetariano". Carlisle a exceção, obviamente.
— Por que um exército?— uno as sobrancelhas, sem entender onde eles podem querer chegar.
— Esse é o problema, não sabemos o porquê— Carlisle passou as mãos pelos cabelos loiros, os bagunçando em seu topete. Não preciso ter nenhum dom para ver que ele está nervoso com isso— Mas eles estão chamando atenção demais. Uma hora, não muito distante, os Volturi virão intervir. Isso é contra as regras. A discrição é a lei suprema.
— Seattle é aqui do lado. Se os Volturi vierem, certamente virão visitar Carlisle— Sabine se pronuncia pela primeira vez. Olho para a loira e ela sorri gentilmente para mim. Não me lembrava que sua voz era tão atraente— Não podemos deixar isso acontecer.
— Acha que eles conseguiriam descobrir sobre Bella e eu nessa visita?— pergunto, preocupada.
— É um risco que eu não vou correr.— Jasper anunciou atraindo o holofote.
— Nenhum de nós irá.— Alice corrigiu, ainda muito concentrada naquele bendito vaso de flores.
— Exércitos só tem um propósito— eu balanço a cabeça e começo a tremer a perna— Por que tem um sendo criado logo do nosso lado?
— Era isso que estávamos falando antes de você chegar querendo arrombar a porta, pequena Gollum— Emmett falou. Me voltei para ele, extremamente ofendida.
— Ei!— reclamei apenas recebendo seu riso em resposta— Nossa, cara, essa doeu.
— Não é minha culpa se você tem os mesmos olhos que ele— zombou o muralha.
— Você acabou de me chamar de feia! Tipo, gratuitamente!
— Eu-
— Emmett, não muda o foco— Rosalie interrompeu o namorado.
— Desculpa, minha linda— ele olhou pra ela de um jeito doce que me fez querer vomitar arco-íris. Olhei para Jasper e ele tinha um sorriso discreto nos lábios. Encontro-me incapaz de manter contato visual com ele depois do que fizemos em seu carro.
— Nós somos o único clã aos arredores.— Esme disse, com a face preocupada— Alice ainda não pode ver eles tomando qualquer decisão de nos atacar ou sequer fazer qualquer movimento significativo uma vez que não os conhecemos, mas infelizmente não estamos vendo outro fim para essa história.
— Teremos que ir até eles antes que eles venham até nós.— Rosalie disse e houve uma concordância geral entre os vampiros, eu fiquei quieta e com o olhar desfocado.
Tem algo que eu não estou vendo e nem eles. Afundo-me em pensamentos, juntando tudo que está dando errado em um só monte.
Os desaparecimentos começaram pouco depois do seu acidente, meu pai me disse. Um exército sendo criado, só podem querer puxar briga, mas por que? Os Volturi ainda não sabem sobre Bella e eu. Os Cullen não tiveram muitas desavenças nesse tempo que estiveram longe. Tudo começou depois de James.
— Caterine?— a voz de Jasper me tirou de meu tranze e eu voltei meus olhos para o mesmo— O que está pensando?
Sinto todos os olhos em mim e tento não deixar a timidez me travar, focando-me apenas em Jasper que me encarava com expectativa.
— Os desaparecimentos começaram depois da morte de James.— eu falo com um tom de incerteza. Afundo-me na cadeira dura e apoio o cotovelo no suporte— Vocês foram embora. Victoria começa a tentar nos alcançar mas os lobos impedem, ela...
— Acha que Victoria está por trás disso?— Rosalie indaga, franze a testa me encarando com atenção. Ela está muito perto, mais perto do que costuma ficar, menos de um braço de distância à minha direita.
— Digo... quem mais seria?— eu a olho. Fico um tanto nervosa de falar diretamente com a loira que sempre me desprezou, mas ela parece bem... neutra. Que bom.— Os Volturi são os únicos a se sentirem ameaçados por vocês e eles já devem ter o exército deles. Eles querem derrubar vocês mas não podem fazer isso sem um motivo. E eles não sabem que Bella e eu sabemos sua verdade, não é?
Fico agitada e me levanto da cadeira, começo a andar de um lado para o outro no meio do escritório como se isso fosse me ajudar a pensar melhor.
— É Victoria.— eu falo, cada segundo mais convicta— Talvez ela estivesse vigiando quando vocês foram embora. Alice não viu porque só vê os planos que estão para serem concretizados ou sei lá, talvez os lobos já estivessem na história a essa altura do campeonato, bloqueando sua visão— aponto para a vidente que para o que está fazendo para me dar tanta atenção quanto toda sua família. Mordo o lábio com força e penso antes de falar. Quando eu penso demais e tenho que me expressar as coisas se misturam de um jeito que só eu entendo e eu quero falar de um jeito que eles me entendam.
Paro de andar e começo a visualizar.
— Vocês foram e ela pensou que conseguiria se vingar— eu dito meus pensamentos olhando para todos os lados possíveis menos para os rostos daqueles que estavam me ouvindo— Ela atacou e foi interceptada por um lobo. Teve que fugir, mas voltou, mas aí ela viu a matilha crescendo conforme ela mais tentava invadir o território e percebeu que não daria conta deles sozinha....
— Ela tem um instinto de autopreservação bem sensível. Talvez seja o dom dela que a ajuda a escapar do mais improvável— Edward comentou. Eu assenti fitando o chão.
— Me parece um bom motivo para criar um exército, sabe, dizimar os lobos— Emmett balançou a cabeça e Rosalie concordou com ele.
— Ela quer nos dividir— Jasper disse, pensativo. Eu olhei para ele, nem reparei que havia começado a roer a unha, mas parei rapidamente quando nossos olhos se encontraram— Nos distrair.
— Como assim, Jazz?— perguntou Esme.
— Pense um pouco— Jasper disse, tão relutante quanto eu em transmitir sua linha de raciocínio em ordem— Ela está criando um exército descontrolado de um lado e está nos cutucando constantemente do outro. Ela quer que a gente dê conta do exército, para dar uma volta maior, enquanto isso, para chegar até as garotas.— ele parou um momento, nós esperamos pacientemente— Ela sabe que tem uma parte de Forks que os lobos não passam. Nosso território no tratado. Para nós darmos conta daquele monte de recém criados, teríamos que ir todos. As garotas ficariam vulneráveis e ela teria o caminho livre. Uma vez que voltamos a morar aqui, os quileutes não podem entrar nas nossas terras nem nós nas deles. Ela acha que nós daremos prioridade para o exército já que nunca é bom chamar a atenção dos Volturi....
— Vadia esperta!— Sabine elogiou com entusiasmo e todos nós a encaramos confusos por ela quebrar o clima tenso. Ela arregalou os olhos contendo o sorriso— Eu... eu estava falando de Caterine.
Todos olharam para mim e eu fiquei constrangida.
— Por que eu?
— Você resolveu o mistério que oito vampiros com pensamento mais rápido do que um humano estavam batendo a cabeça para entender— Alice elogiou, ela sorriu docemente para mim e se aproximou em passos lentos, medindo-me com os olhos cerrados e brilhantes. Ela está linda, como de costume. Usa um vestido amarelo que é justo no peito e na cintura, saia rodada na altura dos joelhos e jaqueta de couro preta. Botas de coturno... cara, eu estou precisando de umas roupas novas— Tem uma intuição extraordinária, Caterine. Aposto como seria uma vampira de talento excepcional.
— Ah, não, eu não fiz nada— dou um sorriso torto. Eu? Vampira de talento excepcional?
.... nunca tinha pensado nisso.
— Recentemente parece que você que está fazendo tudo.— Rosalie disse, a olhei com receio de levar uma repreensão, mas ela sorriu para mim. Bem mínimo, mas era alguma coisa entre nós— Admiro quem tenta resolver as coisas. Você não é tão ruim assim.
Uau. Uau. Eu vou chorar de emoção. Estou sonhando?
— Me belisca?— peço para Alice e ela não hesita em obedecer, beliscando A MINHA BOCHECHA— Au!— levo a mão ao rosto, indignada, doeu— Minha bochecha não, mulher!
— Desculpa, olha como eu sou desastrada— Alice deu um sorriso malicioso— Jasper, vem dar um beijo para sarar.
Emmett, Sabine e Edward desataram a rir. Senti meu rosto queimar. Pisquei e Jasper estava ao lado de Alice, menos de um metro de distância de mim. Arregalei os olhos, o censurando e ele deu um sorriso lindo para mim. Tinha algo diferente no seu olhar que mexeu de maneira diferente com meu coração.
— Minha garota esperta, estou orgulhoso.— ele disse, segurou meu pulso o afastando do meu rosto e se aproximou para me dar um beijo na bochecha. Meu estômago se embrulha e eu posso jurar que estou para ter um AVC.
Eu me sinto tão bem comigo mesma. Mesmo que as notícias não sejam nada boas, todos parecem admirados comigo. É bom ver que não estou decepcionando ninguém. Espero continuar assim.
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