Eu amo você

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Tá gostando, vagabunda?

CATERINE SWAN

Fecho os olhos e deixo que a água quente molhe meu rosto e traga toda a tranquilidade para o meu ser. Eu só tenho mais uma semana de aula e nem sei como me sinto. Trabalhos, provas, futuro. Me sinto terrivelmente sozinha e vulnerável por longos minutos que fico no chuveiro. Quando saio, passo a mão no espelho para poder enxergar minha cara ali. Meus olhos estão brilhando, parece. Passo a língua nos lábios úmidos e sinto que preciso de algo para relaxar, tirar o peso do peito. Penso então como meu pai disse que chegaria tarde e que Bella foi passar um tempo com Jacob antes de vir para casa e sinto que posso me aproveitar da casa toda para mim.

Enrolo uma toalha nos cabelos e me cubro com o roupão antes de sair descalço pela casa.

Desço as escadas passando a ponta dos dedos no papel de parede claro e só ouço o barulho suave da chuva do lado de fora. Vou direto para a cozinha e pego uma das cadeiras da mesa de jantar para arrastá-la até a porta da geladeira. Como se fôssemos crianças, Charlie tem o costume de tentar esconder as bebidas alcoólicas em lugares altos. Besta, mas fazer o que. Eu que não vou falar para ele mudar de lugar, o que é que eu vou fazer quando não quiser ficar sóbria?

Álcool não é lá meu ponto forte. Normalmente, eu nem gosto, mas já que vou ter um tempo sozinha, quero fazer isso do meu jeito. A forma que eu deveria me acostumar a viver, caso eu não fosse me transformar em vampira. Sozinha e me embebedando no fim do dia para poder dormir.

Eu estou bem. Juro. Não vou encher a cara de barriga vazia porque estou entrando em colapso de vez. Pela primeira vez em dias, eu estou plena e acho que posso levar esse momento como comemoração. Vou me sentar no sofá junto com uma garrafa de uísque. Giro a tampa e a removo, meramente entediada para ir estudar.

É uma comemoração. Eu vou me formar, estou feliz por isso. Tudo está dando certo e as coisas não param de se mover. Não estou nem um pouco assustada sobre como vai ser minha vida de adulta. Trago a boca da garrafa até a minha e tomo um grande gole, infectando-me com a bebida depois de tantas semanas sem beber nada. Minha garganta arde e eu faço cara feia.

Não estou com medo de essa guerra contra um bando de vampiros no auge de sua força dar errado. Tomo mais um gole grande.

Não estou pensando em me tornar vampira só por essa parecer uma rota de fuga mais fácil. Mais um. Não acho que estou falhando no meu trabalho, nem que vou passar raspando na escola, nem que não vou conseguir entrar em nenhuma faculdade porque sou burra demais. Tudo pode dar errado, mas não vai. Está tudo perfeitamente bem e eu não estou enchendo a cara por nenhum motivo ruim ou pessimista.

Não tem porque disso, não é o fim do mundo, minha vida só tá começando. Tá. Tá.

— Preciso comer alguma coisa— determino, falando sozinha. Após apenas dez goles direto na garrafa, quero me previnir de passar mal. Mas estou com preguiça de levantar e bebo e bebo e bebo.

Está tudo bem, por que eu me sinto estranha? Que porra tem de errado comigo? Nós vamos vencer de lavada, eu vou acabar o colégio... por que eu sinto que está faltando algo?

Papai não pode pagar uma faculdade para Bella e eu então meio que isso nem se passa pela minha cabeça no momento. Eu nem sei o que eu quero fazer para o resto da minha vida. Não. Não é isso que está errado também.

Eu me levanto do sofá. É legal ficar só de roupão, mas frio de Forks não permite tal coisa por tempo demais. Subo para o quarto continuando a colocar a garrafa na boca. O gosto fica minimamente mais atraente, mas eu estou longe de estar bêbada. Bem, hoje eu quero ficar bêbada, tem que ter um motivo para isso? Acho que não.

Visto uma calcinha branca fina e uma camiseta roxa de manga longa e um blusão branco por cima. Continuo a deixar as pernas nuas, o importante é cobrir bem o peito e é isso que eu faço. Decido me fechar no quarto e apenas ligo o rádio para procurar algo legal e animado para ouvir. Uma festinha solo não cairia nada mal.

Eu encontro a música do Ricky Martin, Livin' La Vida Loca e começo a dançar, foi o momento perfeito, ela estava apenas começando. Subo na cama e me solto, o rádio no máximo e o álcool deixando meu corpo mais leve, como se eu fosse capaz de qualquer coisa. Fecho os olhos e começo a cantar, até que me divirto e um sorriso me escapa enquanto meu corpo se aquece e minha respiração se torna mais ofegante.

Eu rodei demais e fiquei tonta, tive que me sentar para que minha queda não fosse drástica. Comecei a rir sozinha com a sensação gostosa correndo pelo meu corpo. Deitei-me, esfregando-me no colchão macio como se fosse uma gata manhosa. A música mudou para uma da Shakira com a Beyoncé que eu esqueci o nome e eu senti muito mais pique para dançar. Levantei de novo e fiz como a música me chamava. Movi principalmente os quadris como se fosse uma dançarina do ventre, mas nem de longe possuía muita destreza. Eu ria sozinha e continuava a tomar longos goles da garrafa. Chegou o refrão e eu me lembrei do nome da música, Beautiful liar.

Tirei a toalha dos cabelos e a joguei para a cama, emaranhando os dedos nos fios molhados. Queria dizer que não me assustei quando houve um baque na janela, mas foi exatamente o que aconteceu. Acima da música, o som da chuva se destacou e eu cambaleei para olhar para trás, vendo a janela a aberta e um Jasper molhado da cabeça aos pés passando por ela com um olhar curioso.

— Gatinho!— eu gritei, alegrinha, e fui abraçá-lo. Não me importei de molhar minhas roupas ao fechar os braços em sua cintura, ele tem um cheiro gostoso.

— Caterine?— ele chamou, confuso— Por que está bebendo, minha linda?— quis saber, colocando a mão no meu ombro e me afastando um pouquinho para olhar meu rosto.

— Eu estou comemorando— abri um sorriso largo, ele mediu meu rosto com preocupação, algumas gotas de água deslizaram pelo seu rosto. Céus, como ele é lindo.— Vou me formar em breve, isso exige uma comemoração!

— Está bêbada— ele concluiu. Não acho que foi uma pergunta. Reviro os olhos e me solto dele, entediada.

— Ah, não vem brigar comigo!— cruzei os braços, emburrada.

— Não vou brigar, querida— Jasper suspirou e enfiou os dedos por entre os fios loiros para sacudi-los um pouco— Não tem problema beber, eu acho.

— Que bom— eu sorri e me aproximei dele. Sem nem pensar, segurei seu rosto com as duas mãos e o beijei. Foi apenas um selinho longo até ele me afastar de novo, surpreso.

— O que foi isso?

— Um beijo, bobinho?— sugiro, irônica. Quando eu o olho, um sorriso de idiota cresce em meus lábios e eu me toco...— Era você que estava faltando.— concluo em voz alta e faz todo o sentido. Eu me sinto bem melhor agora que ele está aqui. Hum.

— Do que você está falando?— Jasper franziu a testa, perdidinho.

— Do tempo— falo a primeira coisa que me vem em mente e tento beijá-lo de novo. Jasper recua dois passos para fora de meu alcance e eu me sinto extremamente ofendida pela evidente recusa.— O que foi? Você não quer me beijar?

— Claro que quero, Caterine, mas não com você bêbada, não sei o que você está pensando, se é o que realmente quer.— ele fala como se fosse óbvio.

— Se eu estou tentando é porque quero, duh.— eu dou risada, Jasper olha para cima e coloca as mãos na cintura.

— Tá, não, ok? Não.— ele determina e eu bato o pé, emburrada. As coisas estão girando e eu me sinto terrivelmente tonta mais uma vez.

— Você— eu nem sei o que ia dizer, apenas senti meu estômago roncar alto e Jasper voltou o olhar sério para mim.

— Há quanto tempo você não come?— ele pergunta, dou de ombros.

— Sei não, desde hoje de manhã?— admito, pensativa. Jasper balançou a cabeça em desaprovação. Ele veio até mim e colocou as mãos na minha cintura, me empurrando para me sentar na cama. Dei um sorriso perverso para o homem mais lindo que essa terra já viu— Oi, vem sempre aqui?

Jasper soprou uma risada fraca e eu me sentei como ele coordenava.

— Fica.— ordenou e então desapareceu. PUF!

— Ah, não— soltei um gemido, minha porta gemeu ao ser aberta— JAZZ!— gritei— Jasper! Ei, ou! JASPER! JAZZZZ...— comecei a rir. Me inclinei tanto para frente que quando pisquei  estava deitada com a cara no chão.— ué, como que isso...?

Desisti de lutar contra a gravidade e fiquei no chão enquanto tudo rodava e rodava. Eu gostava e odiava a sensação na mesma intensidade. Soltei um gemido e procurei pela garrafa. Ela estava tão longe na mesinha de cabeceira perto do rádio que já tocava outra música. Estiquei a mão e a peguei, olha, não tava tão longe! Legal! Peguei a garrafa e tomei mais um pouco de uísque deitada de bruços mesmo. Lembrei de uma mamadeira e comecei a rir.

— Bebezona— zoei eu mesma e a bebida já não ardia tanto.

— Ei, não, não, não!— Jasper retornara tão de repente quanto saiu e a minha mamadeira de álcool foi tirada de mim. Quis chorar.

— Me dá!— choraminguei, rolando para deitar de barriga para cima. Arregalei os olhos, chocada— Caralho, Jazz, você é muito alto.

Ele riu, segurava a forma do bolo de laranja que Bella preparou ontem e um copo grande. Ele colocou minha garrafa na cômoda e o bolo com o copo na mesinha de cabeceira. Jasper abaixou a música e eu o olhei torto.

— Eu estava ouvindo.

— Não perguntei— ele respondeu e abaixou para me pegar no colo. Tentei empurrá-lo, mas não adiantou nada. Fico murcha e triste porque me irrita que ele seja tão mais forte que eu.

— Você é um ridículo— resmunguei.

— Obrigado, minha linda— ele me deitou na cama com cuidado e correu para a minha cômoda, abrindo as gavetas depressa.

— O que que cê tá fazendo?— perguntei de um jeito embolado, mas acho que ele entendeu.

— Procurando uma calça para você.

— Eu não quero usar calça— respondi e ele  me ignorou tirando de uma das gavetas uma calça moletom preta.— Eu não quero calça!— resmunguei.

— Ninguém se importa, querida— ele se sentou perto dos meus pés e eu comecei a lhe chutar.

— Sai, sai, sai, sai!

Jasper segurou meus tornozelos e me imobilizou. O fulminei com o olhar, irritada.

— Deixa eu te colocar essa calça e aí eu deixo você me beijar— ele sugere com um sorriso lindo que amoleceu meu coração de queijo pra manteiga. Parei de lutar. Jasper me vestiu devagarinho e evitou olhar demais para meu corpo, senti seus dedos subindo pelas minhas pernas junto de um arrepio e fiquei maliciosa. Ele me puxou para que eu terminasse o trabalho sozinha e eu sorri o observando.

— Sabe o que seria mais sexy do que colocar a calça em mim?— eu seguro o seu braço para não cair de volta no travesseiro— Se você tirasse ela.

— Ah, jura?— ele perguntou, debochado.

— Jasper, toca em mim de novo— peço, manhosa. Luto para me sentar no seu colo e Jasper coloca as mãos para trás, afundando-as no colchão. Abracei-o e comecei a beijar seu pescoço, acho que Jasper deu uma passada no banheiro para se secar um pouco.

— Toco sim, minha linda, depois que você comer alguma coisa.— ele muda as posições, ficando por cima de mim e faz com que eu o solte, voltando para a posição inicial, sentado aos meus pés. Fiz cara de choro e Jasper me apontou o bolo que estava com uma faca o atravessando.

— Eu não o beijei ainda, você não fez sua parte do acordo— censurei.

— Ah, vai beijar depois que comer.

— Jazz...

— Vamos, meu amor, vamos fazer o que você quiser depois que você comer.— ele disse naquele tom sexy que eu adoro. Dei um sorriso bobo e peguei a bendita forma. Nós já havíamos começado a comer esse bolo ontem então meio que só resta um terço. Posso comer isso sozinha e, ao perceber meu nível de fome, vi que queria comer aquilo sozinha. Eu me sento como um índio, coloco a forma no meu colo e começo a devorar o bolo, quebrando-o com as mãos mesmo e enchendo a boca. A sujeira vai se espalhando e Jasper desliza para perto de mim, jogando os farelos do meu blusão de volta para a forma.

— Senrri fua falva— falei de boca cheia. Jasper me olhou com as sobrancelhas unidas como se eu tivesse falado em outra língua.

— Que?

Cobri a boca com a mão e terminei de mastigar, engolindo o bolo mais gostoso do mundo que não precisa nem de cobertura ou recheio.

— Senti sua falta— repeti e estiquei a mão para pegar o copo na mesinha de cabeceira. Leite. Ah. Tomei longos goles do copo até ele ficar na metade. Voltei a devorar o bolo.

— Nós nos vimos ontem.— Jasper comentou.

— E daí?— voltei a olhá-lo, ele estava sorrindo e meu estômago se encheu de borboletas. Eu sorri de volta e balancei a cabeça— Você sabe que é um gato.

— Gosto de te ouvir falar.— ele levantou a sobrancelha e tirou alguns fios de cabelo da frente do meu rosto. Puxei seu pulso com a mão livre e apoiei o rosto na sua palma.

— E bem gostoso. Eu poderia perfeitamente te chu— o polegar de Jasper veio silenciar meus lábios. Ele sorria abertamente, do jeitinho que eu adoro.

— Acho que vai se arrepender de falar isso quando ficar sóbria.— disse. Eu recuei, escapando de sua mão e tomei mais leite.

— Eu só ia dizer que....

— Olha, Caterine, acho que Bella chegou— ele me interrompeu e eu dei de ombros. Estendi-lhe a forma e o copo.

— Esconde— ordenei. Jasper riu e balançou a cabeça apenas colocando a louça no chão perto do pé da cama. Voltei para cima dele porque precisava ficar abraçada a ele por mais que sua roupa estivesse úmida. Tornei a apertar as coxas nos seus quadris e escondi o rosto na curva do seu pescoço. Estava um pouco ofegante pela forma afobada que comi.

— Ei, está tudo bem com você?— ele perguntou contra meus cabelos molhados e eu só queria juntar mais nossos corpos.

— Tô sim. Você vai ficar aqui.

— Caterine, eu não...

— Shhh— sibilei, carente e o apertando— me abraça, meu bem— pedi em um sussurro. Jasper não demorou a retribuir e eu me senti tão bem. Comecei a ficar com sono, tamanha era a sensação de conforto— Você mentiu— acusei.

— Menti— ele concordou sem hesitar e eu sorri. Acho que ele está usando seu dom para me acalmar, mas não tenho certeza como tive em todas as outras vezes. Vai ver ele pode fazer isso sem ter que usar nada sobrenatural.

— Você é idiotinha, mas eu amo você— murmurei e soltei um bocejo, cansada. Jasper ficou rígido por um minuto longo, mas eu não me importei.

— Caterine?— ele chamou, confuso. Eu só quero que ele se deite para que eu deite por cima.

— Deita— mandei tentando empurrá-lo. Afastei-me para ter mais facilidade em me mover e empurrei seu peito com força.— Deita!— Jasper continuou impassível.

— O que você disse?

— Deita— repeti o óbvio. Jasper piscou rapidamente e sua expressão ficou dividida entre estar incrédulo e muito, muito contente— Jazz— choraminguei e ele começou a se mover sob mim, Jasper me carregou com facilidade e se deitou, não demorei em me esparramar pelo seu peito. Jasper colocou a mão na minha cabeça e afagou meus cabelos carinhosamente. Fechei os olhos mais do que pronta para começar a roncar.— Perfeito— sussurrei.

— Eu também te amo— ele disse e eu fiz careta.

— Fica quieto.— mandei.

— O que você quiser, meu amor.

— Obrigada, lindo, te amo.

E então eu apaguei.

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