Eles não vão longe
⋆
Saí do quarto fungando com a sensação irritante de coceira na garganta pelo patético quase afogamento. Fiquei com preguiça de vestir algo que Alice trouxe, então apenas me enrolei no roupão de um tecido macio e maravilhoso após colocar peças íntimas. No cômodo seguinte da cobertura, Emmett, Alice e Bella estavam curvados sobre um desenho que Alice fazia. Visões. Essas merdas de que ela só vê as pessoas enquanto elas estão em tal caminho não entrou na minha cabeça.
Vai fazer trinta e três horas que estamos com esses Cullens e tudo o que fora dito não passou de trocas de informações. Não gosto desse clima... sério demais para meu gosto. Certo, lembro-me preguiçosamente que estamos sendo caçadas. Ah. Isso é surpreendentemente fácil de se esquecer.
Não viemos para esse oásis para tirar férias e ganhar um bronzeado.
— O que temos?— quero saber. As cabeças se voltam na minha direção sem se demorar.
— Nada relevante— Emmett me respondeu— Apenas James relaxando numa sala escura.
Alice largou seu lápis, frustrada. A vidente segurou a própria cabeça e bufou alto.
— Os rapazes o perderam?— arregalei os olhos. Bella voltou a me olhar e assentiu com os lábios comprimidos. Pisquei rapidamente.— Nosso pai...
— Charlie está seguro, Caterine— Alice afirmou— Mas agora precisava saber onde James está.
— O que os rapazes irão fazer agora?— perguntei. Gostaria de perguntar a Emmett onde estava a parte que Jasper sabia o que estava fazendo, mas me contive. Não sei se Jasper o perdeu porque James simplesmente é muito bom no que faz ou qualquer merda do tipo.
— Edward vai tentar vir até vocês amanhã— disse a vidente— Ele e Jasper vão tomar sua guarda e Emmett e eu tentaremos ir atrás de sua mãe.
— Como Renee chegou a esse assunto?— Perguntei, confusa. Eles se calaram por uns segundos— O que foi que eu perdi?— sibilo.
— Victoria tentou pegar Charlie, mas Esme e Rosalie estavam lá— Bella disse. Meu nervosismo se foi tão rápido quanto veio. Tive que me sentar no braço da poltrona mais próxima á mim para processar melhor— Depois de ver que não poderia chegar até ele, Victoria foi até nossa escola. Provavelmente para pegar o endereço da mamãe e passá-lo para James, mas...
Ela deixa a voz morrer. Mas nem disso temos certeza, completei em pensamentos.
— Eles querem pegar alguém com quem nos importamos para nos atrair— concluí o óbvio. Com Bella, Charlie e Renee seguros minhas preocupações se voltavam para os Black e para Angela. Foram os únicos que me vieram a mente neste momento— Isso nunca vai dar certo— olho nos olhos de Alice, séria— Como duas pessoas vão dividir tanto um grupo de oito?
— Eles não vão longe demais, Cat— Emmett comentou, descrente da minha falta de expectativa sobre suas capacidades. Levantei-me novamente balançando a cabeça e recuei para o quarto. Para evitar pensar demais, deitei a cabeça para dormir, mas assim que me encostei, lembrei que Jasper também pode estar em perigo.
Que esse idiota saiba mesmo o que está fazendo. Odiaria chorar pela sua morte.
⋆
Estava faminta e com sede. Meu corpo não queria relaxar sem ter uma refeição digna. Após algumas horas de confinamento, decido sair da minha bolha para pedir algo para comer. Visto-me com um jeans apertado e uma camiseta de manga curta bem fina e saio do quarto contando dinheiro em minha mão. Planejava sair de perto deles de cabeça baixa só para tomar um ar puro e ver outros rostos, só que Bella me chamou assim que eu envolvi a maçaneta com minha mão. Olhei-a por cima do ombro. No centro da sala, Bella se servia de um puta banquete, coisa que me fez lembrar de "Esqueceram de mim" com um pouquinho de humor. A gente não daria conta disso nem se estivéssemos sem comer há dias.
Com os olhos arregalados, meti o dinheiro no bolso e dei meia volta. Nós nos enchemos muito rápido, mas eu ainda queria sair do confinamento, talvez exatamente porque não podia.
Estou irritada com tudo a minha volta. Com o rastreador, com a mulher dele, com o risco que nossos entes queridos estão correndo, tudo porquê eu não ensinei minha gêmea a dizer não. Ou melhor, porque essa desgraçada não aprendeu.
Fiquei em silêncio absoluto, minha carranca deveria estar ainda pior do que eu podia sentir porque nem Emmett tentou falar nada para descontrair.
Não é hora de culpar ninguém mas puta que pariu. Isso poderia ser evitado de tantas maneiras! Escolhi apenas me remoer e olhar para a televisão ligada a minha frente, porém, apesar de amar o poderoso chefão, não consegui me concentrar. Devo estar agindo como um puta pé no saco, mas espalhar gratidão não é algo que eu pratico. Eles estão tentando, mas eu não os agradeci nem por isso. Eu vou, mas só quando a missão estiver concluída.
Quando me empanturrei, encostei no sofá e olhei para o teto reparando pela primeira vez no lustre chiquerrimo pendendo ali. Suspirei, meus dedos estão cobertos de gordura assim como o redor da minha boca já que frango é meu ponto fraco.
— Eu nunca vou conseguir reembolsar vocês por isso— admiti, rompendo o silêncio ensurdecedor.
— Fica tranquila, pequena— Emmett disse, surgindo de sabe-se lá onde, apesar do susto, não olhei para conferir— A gente vai fazer um leilão com vocês na próxima reunião secreta de vampiros— debocha me arrancando um sorrisinho.
— Quem dá mais? Quem dá mais?— gesticulei como se estivesse falando em um microfone preso ao teto, como eles geralmente são em um ringue de luta. Emmett riu, Bella e Alice sopraram risos fracos. Algo no jeito contido de Alice atraiu meu olhar para ela. Pensei em Jasper novamente e voltei a me contrair. Queria não pensar que ele poderia estar preocupado comigo, mas suas atitudes queriam dizer alguma coisa, não é?
Ele odeia a vulnerabilidade que sentiu no momento que me viu, mas para admitir isso teria que dizer que eu sou seu ponto fraco e eu não faço ideia de como me sinto com isso. Ele fica muito irritado, isso é óbvio. Queria conversar com ele, mas as coisas ficam cada vez mais confusas entre nós e, além de não saber o quê eu abordaria, não sei como Jasper iria reagir se eu o perguntasse se também quer me beijar.
Meu Deus, como eu consigo pensar nisso em um momento como esses? Nota mental? Aprender um jeito de me livrar de uma vez por todas dos pensamentos intrusos.
Ajeito-me no sofá e bebo um pouco de suco de abacaxi. Estou tentando não pensar em nada supérfluo quando Alice arfa. E lá vamos nós.
A tarde é quente em Phoenix, sinto como se estivesse sendo cozida e meu corpo todo fica tenso quando Alice começa a rabiscar num papel velozmente sem olhá-lo. O desenho é absurdamente familiar.
— O que isso quer dizer?— pergunto após sentir um arrepio subindo pela minha espinha. Provavelmente as batidas descompassadas do meu coração me denunciaram pois no segundo seguinte os vampiros da sala estavam me fitando com curiosidade. Tentei me controlar, não quero que me vejam como uma medrosa.
— Conhece esse lugar?— Alice perguntou. Virando o desenho para mim na mesa de centro. Inclinei-me na direção do mesmo para ter certeza. Droga, eu tive.
— É um estúdio de balé perto da casa da minha mãe. Desse ângulo parece que estamos olhando da janela— olhei para minha gêmea para que ela confirmasse. Ela desistiu das aulas muito mais rápido que eu então não era de se surpreender que não se lembrasse tão imediatamente quanto eu. Eu gostava muito de balé, mas depois de um incidente aos meus catorze anos, eu perdi o rumo e precisava sair daquele lugar. Eu tinha talento... eu já fui uma garota muito culta e dedicada, mas...
— Perto da mamãe— Bella murmurou em choque, nós nos encaramos, o terror tomando conta de nossos corpos— Ele sabe onde encontrar a mamãe.
O telefone tocou, então tive medo. Fiquei com muito medo.
⋆
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top